Vacina contra covid-19: como os países estão usando militares para planejar logística:freecasino

Crédito, Marcelo Camargo/Ag. Brasil

Legenda da foto, General Pazuello chegou ao Ministério da Saúdefreecasinoabril, quando a pasta era comandada por Nelson Teich, na posiçãofreecasinosecretário-executivo

Não há um cronograma concretofreecasinovacinação — segundo Pazuello, porque nenhuma vacina foi aprovada ainda pela Anvisa — e, até o momento, a previsão éfreecasinocoberturafreecasino25% da população do país, cercafreecasino50 milhõesfreecasinobrasileiros, incluídos na primeira fase.

Há também um temorfreecasinoque possam faltar insumos como agulhas e seringas — o processofreecasinolicitação para compra desses materiais foi aberto apenas nesta quarta.

Mundo afora, dezenasfreecasinopaíses vinham há meses se preparando para o momentofreecasinoque as vacinas fossemfreecasinofato aprovadas. Alguns deles, inclusive, contam com a experiência dos militares na áreafreecasinologística para planejar a distribuição — é o casofreecasinoEstados Unidos, Alemanha, Portugal e Suíça, entre outros.

Soldados também ajudam a rastrear contatos e realizar testes

Nos EUA, o chefefreecasinooperações da força-tarefa lançadafreecasinomaio para desenvolver, produzir e distribuir a vacina — a Operação Warp Speed — é um general: Gustave Perna.

O diretorfreecasinoSuprimentos, Produção e Distribuição, porfreecasinovez, é um tenente-general aposentado, Paul Ostrowski.

Os militares têm trabalhado nos bastidores, a partir das diretrizes apontadas pelas autoridadesfreecasinosaúde, especialmente na aquisiçãofreecasinoinsumos — agulhas, seringas, swabs, curativos, gelo seco — e no planejamento da distribuição, conforme detalhou o vice-chefefreecasinogabinete para políticas do departamentofreecasinoSaúde e Serviços Humanos, Paulo Mango,freecasinouma teleconferênciafreecasinooutubro.

"Nós temos os maiores especialistasfreecasinologística no DepartamentofreecasinoDefesa trabalhandofreecasinoconjunto com o CDC (CentrofreecasinoControle e PrevençãofreecasinoDoenças) para dar as diretrizesfreecasinotodo detalhe logístico que você possa imaginar", disse, conforme noticiado pela pasta.

Os EUA, país com maior númerofreecasinomortos por covid-19 no mundo, começaram a vacinarfreecasinopopulação nesta semana.

Crédito, Chris Kleponis/EPA

Legenda da foto, General Gustave Perna, à frente da Operation Warp Speed: Defesa trabalhafreecasinoconjunto com o CDC, agência americanafreecasinopesquisafreecasinosaúde pública

Na Alemanha, os militares estão envolvidos na força-tarefa para tentar conter a pandemia desde o início e,freecasinoacordo com o governo, também devem participar do planejamento do programafreecasinovacinação, que começa no próximo dia 27freecasinodezembro.

Hoje, cercafreecasino6 mil soldados têm auxiliadofreecasinotarefas administrativas, trabalhado no rastreamentofreecasinocontatos, realizado testes diagnósticosfreecasinoaeroportos.

Em Portugal, militares também têm sido usados para reforçar o rastreamentofreecasinocontatos — uma das estratégias apontadas pela OMS (Organização MundialfreecasinoSaúde) como fundamentais para desacelerar a curvafreecasinoinfecção.

Como a covid-19 é transmissível mesmo por aqueles que não apresentam sintomas — ou seja, quem nem sabe que está doente pode estar contaminando outras pessoas —, uma políticafreecasinotestagemfreecasinomassa e rastreamento dos casos positivos, para que estes sejam isolados, é fundamental para dificultar a disseminação do novo coronavírus.

Conforme o plano divulgado pelo governo português no dia 4freecasinodezembro, as Forças Armadas também auxiliarão no desenvolvimento da operação logística que distribuirá as vacinas.

Militares brasileiros

Os militares brasileiros também têm sido usados nas ações do governofreecasinocombate à pandemia. Segundo um balanço divulgadofreecasinojunho pelo ministro da Defesa, Fernando Azevedo, a atuação teve início com a operação que repatrioufreecasinofevereiro os brasileirosfreecasinoWuhan, na China.

Segundo ele, até o meio do ano haviam sido mobilizados 34 mil homens e mulheres das Forças Armadasfreecasinoações que envolveram a entregafreecasinomaterial efreecasinocestasfreecasinomantimentosfreecasinoáreas remotas, transportefreecasinoinsumos, campanhasfreecasinoconscientização e desinfecçãofreecasinolocais públicos.

Ainda conforme o balanço, a Operação Covid-19 conta com um centrofreecasinooperações conjuntas para coordenar e planejar o emprego das Forças Armadas no combate à pandemia.

O uso dos militares, entretanto, não impediu que o país chegasse à posiçãofreecasinosegundo país com maior númerofreecasinomortes, superior a 182 mil.

Crédito, Isac Nóbrega/PR

Legenda da foto, Previsão para início da vacinação no Brasil é fevereirofreecasino2021

Desafio logístico global

Na solenidadefreecasinoque divulgou o programa, na quarta, o ministro Pazuello pediu que os brasileiros não se preocupassem com a questão logística.

"A logística é simples. Apesarfreecasinoo nosso país ser deste tamanho, temos estrutura, temos companhias aéreas, Força Aérea Brasileira, temos toda a estrutura já planejada e pronta."

O professor Hani Mahmassani, diretor do Transportation Center da Northwestern University, pondera, contudo, que a vacinação contra a covid-19 é um grande desafio logísticofreecasinotodo o planeta.

"Ao contráriofreecasinooutros episódios,freecasinoque houve desenvolvimento da vacina primeiro efreecasinoadministração depois, desta vez tudo acontece ao mesmo tempo, as etapas se sobrepõem", destaca.

Além disso, acrescenta, alguns imunizantes requerem condições especiaisfreecasinoarmazenamento. A vacina da Pfizer, por exemplo, são conservadas a 70ºC negativos, o que requer um planejamento minuciosofreecasinoseu transporte e estoque.

"Gelo seco virou uma commodity valorizada", brinca.

No caso específico dos EUA, que não conta com um sistema públicofreecasinosaúde como o Brasil, uma parte do processo está sob responsabilidade dos Estados e municípios, que estão usandofreecasinohospitais e farmácias a centros comunitários e tendas improvisadas como locaisfreecasinovacinação.

A distribuição pelo país, tambémfreecasinoproporções continentais, está sendo feitafreecasinoparceria com empresas como UPS e Fedex.

Para o especialistafreecasinologística, um bom indicadorfreecasinocomo o programafreecasinoimunização vai se desenrolar é a forma como o país lidou com a questão dos testes diagnósticos ou mesmo os equipamentosfreecasinoproteção individual.

No início, eles eram escassosfreecasinotodo o planeta. À medida que o tempo foi passando, alguns países conseguiram encontrar caminhos para solucionar esses gargalos.

É o caso dos EUA, diz ele. A restrição na capacidadefreecasinoprocessamento dos testes, contudo, segue sendo um problema e mantém o ritmofreecasinonovos diagnósticos aquém do desejável.

No Brasil, que segue testando menos que o recomendável pela OMS, soube-sefreecasinonovembro que 6,8 milhõesfreecasinotestes diagnósticos para covid-19 com vencimentofreecasinodezembro não haviam sido distribuídos, estavam estocados no Ministério da Saúde. Alguns dias depois, a Anvisa estendeu por quatro meses o prazofreecasinovalidade.

Crédito, Bryan Woolston/Reuters

Legenda da foto, Processofreecasinolicitação para comprafreecasinoseringas e agulhas foi aberto apenas nesta quarta (16) pela Ministério da Saúde

'Seleçãofreecasinocraques sem técnico'

O médico sanitarista Adriano Massuda, professor da FGV-Saúde, um centrofreecasinoestudosfreecasinoplanejamento e gestãofreecasinosaúde, acrescenta ainda como um precedente negativo a ineficiência do governo federal na centralização da comprafreecasinoprodutos essenciais, como respiradores.

"O Brasil tem um poderfreecasinocompra enorme (a nível federal), que não foi usado."

Como resultado, muitos Estados e municípios tentaram negociar por conta própria, alguns ensaiando consórcios regionais, como no caso do Nordeste.

"Isso provoca inflação a nível local, municípios competindo entre si", acrescenta.

Uma das razões para os problemasfreecasinogestão no Ministério da Saúde, emfreecasinoavaliação, é o processofreecasino"militarização" pelo qual a pasta vem passando, com a substituiçãofreecasinoquadros técnicos por militares sem experiência no planejamento ou execuçãofreecasinopolíticas públicasfreecasinosaúde.

"Isso tem afetado vários programas, inclusive o Programa NacionalfreecasinoImunização. Os programas estão perdendo capacidade operacional", diz ele, relembrando o caso recente envolvendo testes para diagnósticofreecasinoHIV.

O Ministério da Saúde deixou vencer o contrato da empresa que realizava examesfreecasinogenotipagem no SUS, usadosfreecasinodiagnósticosfreecasinoHIV e hepatites virais, e os procedimentos na rede pública foram suspensos, com expectativafreecasinoretomadafreecasinojaneiro, após conclusão da nova licitação.

Massuda, que foi secretário-executivo substituto no Ministério da Saúde entre 2011 e 2012 e secretáriofreecasinoCiência, Tecnologia e Insumos Estratégicosfreecasino2015, ressalta que os militares foram usados recorrentemente no passadofreecasinocampanhasfreecasinoimunização no país, mas como um "braço operacional", atendendo áreasfreecasinodifícil acesso, por exemplo.

Agora, assumiram a coordenação, sem, entretanto, terem dimensão da complexidade do sistemafreecasinosaúde. A logística à qual estão habituados, ele acrescenta, é bem diferente.

O especialista lembra que o Brasil tem a vantagemfreecasinoter um sistemafreecasinosaúde descentralizado, no nível dos municípios, que permitiu uma "enorme capilarização da infraestrutura assistencial" e abriu espaço para o país atingisse uma ampla cobertura vacinal, uma das maiores do mundo.

"A gente tem uma infraestrutura que já deveria ter sido utilizada para ações preventivas (para evitar o aumento exponencialfreecasinocasos)", afirma.

"São 260 mil agentes comunitáriosfreecasinosaúde, maisfreecasino40 mil equipesfreecasinosaúde da família. É como se fosse uma seleção com os melhores craques, mas com técnicos que não sabem organizar o time", compara.

Para além do desafio logístico, há uma última — porém imprescindível — etapafreecasinoque a atuação do ministério também deixa a desejar: convencer as pessoas da importância da vacina. Nesse caso, diz ele, o governo erra ao dar ênfase a supostos tratamentos precoces sem evidência científicafreecasinoeficácia; ao não passar uma mensagem clara à população sobre a imunização.

Crédito, Altemar Alcantara/Semcom

Legenda da foto, Vantagens que o SUS confere ao Brasil não foram bem aproveitadas pelo governo no combate à pandemia, diz especialista

Um governofreecasinomilitares

O antropólogo Piero Leirner, que estuda os militares desde os anos 1990, concorda que a logística dos quartéis é bastante diferente daquela necessária para coordenar um sistemafreecasinosaúde.

Durante a formação,freecasinomaneira geral, os militares brasileiros aprendem sobre a logística aplicada a fins militares, "voltada para ideia do que deveria ser a proteção do território", por exemplo.

Para ele, parte da resposta ineficiente do governo à pandemia se deve também à crença entre a alta cúpula do Exércitofreecasinoque o uso da cloroquina seriafreecasinofato um caminho para a solução.

"Eles estavam apostando as fichas nisso, tanto que o Exército começou a produzir cloroquinafreecasinomassa", diz o professor UFSCar (Universidade FederalfreecasinoSão Carlos) e autorfreecasinoO Brasil no Espectrofreecasinouma Guerra Híbrida, lançadofreecasinosetembro, que analisa a relação dos militares com a política nos últimos anos.

O pesquisador chama atenção ainda para o fatofreecasinoque a "militarização" do ministério da Saúde não é um caso isolado no governo. Conforme o TCU (TribunalfreecasinoContas da União), o totalfreecasinomilitares da ativa e da reservafreecasinocargos civis no governo dobrou na gestão Bolsonaro — até julho, eram maisfreecasino6 mil, segundo a instituição.

Segundo Leirner, os militares aos poucos ganham "controle das informações do Estado e dos orçamentos", e o fazem por meiofreecasinouma "abordagem indireta", que tenta preservar a imagem das Forças Armadas e poupá-lasfreecasinocríticas.

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