O drama das brasileiras que sofrem com violênciabetsport 360maridos estrangeiros na Europa:betsport 360

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Legenda da foto, Estudo mostra que 536 mulheres foram agredidas fisicamente por hora com socos, empurrões ou chutes no ano passado

Segundo dados do Itamaraty repassados à BBC News Brasil,betsport 360janeirobetsport 3602019 até novembrobetsport 3602020 foram relatados 213 episódiosbetsport 360violência doméstica e tráficobetsport 360seres humanos com vítimas brasileiras no exterior. O número verdadeiro pode ser maior, pois há subnotificaçãobetsport 360casos dessa natureza.

A cada ano, 50 mil mulheres são assassinadas no mundo, vítimasbetsport 360violência doméstica. Isso representa aproximadamente uma morte a cada dez minutosbetsport 360acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU).

Mundialmente, mais da metade dessas vítimas (58%) é morta por homens próximos, como pais, irmãos ou parceiros. Os maridos e ex-companheiros são os principais assassinos e respondem por 1betsport 360cada 3 mortes.

Parceiros do mal

Os dados revelam que justamente no núcleo no qual as mulheres deveriam ser mais protegidas é onde acabam por sofrer as violações.

A enfermeira Elaine* sabe bem disso. Ela sobreviveu à violência psicológica e às agressões físicas do ex-marido suíço. Ele era ciumento e a forçava a comer após as brigas como um gestobetsport 360paz.

"Ele se desculpava me empanturrandobetsport 360comida. Cheguei a comer uma barrabetsport 360500gbetsport 360chocolate por dia. Só no café da manhã eu engolia (...) maisbetsport 3601 litrobetsport 360sucobetsport 360laranja", recorda.

"Depoisbetsport 360cinco anosbetsport 360casada eu pesava 120kg, quando o meu normal era 65Kg. Era tanto ressentimento, que eu gerei uma segunda pessoa dentrobetsport 360mim", relembra Elaine.

Quando a brasileira decidiu fazer uma cirurgia bariátrica,betsport 360reduçãobetsport 360estômago, teve que agirbetsport 360segredo porque o ex era contra. A independência dela gerou fúria nele. O casal buscou aconselhamento, masbetsport 360novembrobetsport 3602013 Elaine* desistiu quando, alémbetsport 360sofrer agressões psicológicas, apanhou duas vezes.

A enfermeira saiu da casa escoltada pela polícia suíça, que a ajudou a recolher os pertences. A carioca sumiu da vida do ex para salvar a própria vida com dieta e exercícios.

Sete anos depois, 60kg mais magra e esbanjando saúde, Elaine sente que deu a volta por cima. Oficializou o divórcio, fez cirurgias plásticas, dois cursos profissionalizantesbetsport 360enfermagem e terapia.

"Reconquistei a minha autoestima, a independência financeira e psicológica. Pago as minhas contas, gostobetsport 360namorar, viajo e sou muito bem resolvida".

A reportagem tentou contatar o ex-marido, mas não obteve retorno até a publicação. Em documentos, cuja autenticidade foi confirmada pela polícia, consta que a brasileira sofreu agressõesbetsport 360casa.

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Legenda da foto, Por ano, 50 mil mulheres são assassinadas no mundo, vítimasbetsport 360violência doméstica

Imigrantes vulneráveis

Nem todas as históriasbetsport 360violência doméstica tem um finalbetsport 360superação como abetsport 360Elaine. Brasileirasbetsport 360relacionamentos com estrangeiros se enquadrambetsport 360um grupo particularmente vulnerável e desfavorecido no exterior.

A jornalista e autora Liliana Tinoco Bäckert relatou casos objetosbetsport 360sua pesquisa no livro Amores Internacionais: Casei com um Estrangeiro e Agora.

"A brasileira ao emigrar perde toda uma redebetsport 360proteção que ela tem no seu país, nabetsport 360comunidade", diz Bäckert.

"Quando ela perde essa redebetsport 360contatos, ela está exposta porque não tem pra quem pedir socorro. Ela não conhece as regras, não sabe se existe uma delegacia da mulher, uma casabetsport 360proteção", acrescenta.

Responsáveis por auxiliar os brasileiros no exterior, as representações consulares são recorrentemente confrontadas com casosbetsport 360imigrantes aflitas, que desconhecem seus direitos.

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Legenda da foto, Mulheres na Espanha simulam cadáveresbetsport 360protesto contra as taxas altasbetsport 360feminicídio

Segundo dados do Itamaraty,betsport 360janeirobetsport 3602019 até novembrobetsport 3602020 foram relatados oficialmente 213 episódiosbetsport 360violência doméstica e tráficobetsport 360seres humanos com vítimas brasileiras no exterior.

Katrina* é uma das vítimas que preferiu não denunciar o ex e, portanto, não entrou para as estatísticas. Alémbetsport 360ter sido chantageada e agredida, ela sofreu um tipo peculiarbetsport 360violência psicológica: "Doxing", que é um crime praticado online.

"Doxing" ocorre quando alguém publica na internet informações pessoaisbetsport 360terceiros com intenção maliciosa, normalmente insinuando que a dita pessoa está solicitando sexo. Trata-sebetsport 360uma violação ao direito à privacidade.

O ex divulgou o endereço, telefone e fotos pessoais dela numa rede social. "Todo dia apareciam homens estranhos no portão da minha casa, perguntado se eu era prostituta. Ele escrevia para eles no chat, se fazendo passar por mim (...). Aí tirava fotos da conversa e mandava para as esposas esperando que elas fossem lá me bater", relembra.

A potiguar Katrina teve um longo históricobetsport 360idas e vindas com o companheiro abusivo, mas só tomou coragem para finalmente abandonar o relacionamento quando foi pressionada por ele a se prostituir. "Ele disse que não queria mulher encostada na casa dele."

Ela conheceu um novo companheiro e com a ajuda dele conseguiu se afastar do ex. Atualmente, já falando o idioma alemão, é mãebetsport 360um bebê do segundo marido e diz ter finalmente conquistado a paz familiar que sempre sonhou.

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Legenda da foto, Desde janeirobetsport 3602019, foram notificados 213 casosbetsport 360violência doméstica e tráficobetsport 360seres humanos com vítimas brasileiras no exterior

Não são raros os casosbetsport 360que companheiros europeus tentam forçar esposas brasileiras a se prostituir. Operando há 15 anos no continente, a ONG Projeto Resgate ajuda na repatriaçãobetsport 360vítimasbetsport 360violência e tráficobetsport 360seres humanos e já atendeu maisbetsport 3602.000 casos, 178 somente no último ano.

O coordenador do projeto, pastor Marco Auréliobetsport 360Souza, explica que já viu muitos casosbetsport 360que o marido é o opressor e a exploração acontecebetsport 360maneira "caseira", sem ter uma máfia envolvida.

"Os aliciadores são homens comuns, que se aproveitam dos sonhos, da fantasia, da ilusão e da paixão delas. Primeiro parecem um príncipe encantado, montado no cavalo branco. A jovem acredita, vai e se casa. Chegando na Europa descobre que se casou com o cavalo e não com o príncipe", lamenta.

Além da violência a privação

Colaboradora da Projeto Resgatebetsport 360Zurique e acostumada a lidar com os processosbetsport 360divórciobetsport 360mulheres brasileiras, a advogada Fernanda Pontes explica que a faltabetsport 360conhecimento dos seus direitos por parte das vítimas resultabetsport 360situaçõesbetsport 360abuso, inclusive econômico.

"Além da agressão física, sexual e psicológica, a opressão econômica também pode caracterizar violência doméstica, pois com ela o agressor priva ou restringe a vítima dabetsport 360liberdade e do seu convívio social", explica.

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Legenda da foto, Segundo especialistas, mulheres nem sempre conseguem identificar sinais iniciaisbetsport 360abuso doméstico

"Infelizmente, esse tipobetsport 360violência pode não ser identificada inicialmente pela vítima. Muitas vezes o agente a proíbebetsport 360trabalhar,betsport 360forma a impossibilitarbetsport 360independência financeira, ou simplesmente "confisca" o seu salário. Nesse tipobetsport 360violência, o agressor tem o intuitobetsport 360ser o único detentor do poder econômico da relação", explica.

Ariadne*, paulista formadabetsport 360Relações Públicas, foi casada com um rico financista suíço e sofreu violência psicológica e econômica. Apesarbetsport 360eles terem uma filha juntos, o marido não a deixava estudar, nem ter acesso ao dinheiro da família, ocultando o patrimônio.

"Ele só me dava 200 francos por mês para fazer as compras do supermercado. Tive que usar dinheirobetsport 360economias que eu trouxe do Brasil para comprar roupabetsport 360inverno pra mim", recorda.

Foi com a ajuda da advogada Fernanda que Ariadne conseguiu se divorciar, mas não obteve pensão coerente com seu nível educacional. O juiz ainda negou a ela a liberdadebetsport 360poder voltar ao Brasil, onde esperava retomar a bem-sucedida carreira corporativa. O regimebetsport 360guarda compartilhada a impedebetsport 360sair da Suíça sem a permissão do ex-marido.

Como às vezes o ex-marido atrasa a pensão, ela precisa fazer bicosbetsport 360faxineira para sobreviver. Apesar da nova realidade profissional, Ariadne não desiste. "Estou fazendo cursos e vou me reposicionar", planeja.

Dependência e vulnerabilidade

Valentina Volpe, especialista baseadabetsport 360Bangcoc atuando no programa das Nações Unidas que lida com migração e violência contra as mulheres, aponta semelhanças nas experiências que estrangeirasbetsport 360todos os níveis sociais e educacionais compartilham.

Sejam documentadas (na condiçãobetsport 360esposas) ou indocumentadas (como trabalhadoras informais), mulheres imigrantes sofrem com o isolamento que experimentam longebetsport 360suas culturas.

"Para muitas delas essa é a maior questão, que elas não têm uma estrutura socialbetsport 360apoio. Basicamente não sabem onde pedir por ajuda. Não tem maneirasbetsport 360comparar o que é normal, o que deveria ser feito, qual é a lei, como podem ser protegidas", afirma.

Crédito, Acervo pessoal

Legenda da foto, Katrina* foi vítimabetsport 360doxing quando o ex divulgou seu endereço, telefone e fotos pessoais na internet

Inkeri Von Hase, especialista da ONU para políticas focadas na migração, concorda que mulheres imigrantes estão igualmente vulneráveis.

"Muitas vezes são as desigualdades profundamente arraigadas que motivam as mulheres a deixarem seus países (...) Elas tentam escapar relaçõesbetsport 360abuso quando deixam os seus paísesbetsport 360origem, mas acabam se encontrando muito mais suscetíveis à violência, especialmente se não estão documentadas", pondera Von Hase.

Segundo Von Hase, as políticas migratórias restritivasbetsport 360muitos casos deixam as mulheres condicionalmente dependentes dos maridos e deveriam ser liberalizadas.

"Muitas vezes se uma mulher imigra pelo marido, o direito delabetsport 360permanecer no local depende do tipobetsport 360permissãobetsport 360residência dele. Se há abuso nessa relação, é muito improvável que a mulher busque ajuda ou abandone essa relação abusiva, porque ela sabe que isso pode resultarbetsport 360ela ser deportada", diz Von Hase.

"A mulher imigrante não encontra ajuda porque não tem os mesmos direitos das cidadãs na prática. Se ela tem filhos com o marido, ela não consegue simplesmente deixá-lo. Essa mulher se submete a muitas coisas porque não tem como ir embora. Ela está praticamente amarrada a esse homem, enquanto não obtiver a própria independência financeira", conclui Liliana Tinoco Bäckert.

*Os nomes das entrevistadas foram alterados a fimbetsport 360evitar que elas fossem identificadas.

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