Huawei, Trump, Bolsonaro e China: o que o Brasil tem a ganhar e perder se ceder aos EUA no 5G?:globoesporte flamengo

Logo da Huaweigloboesporte flamengoparedegloboesporte flamengoaeroporto na China

Crédito, Reuters

Legenda da foto, A Huawei é a maior fornecedoragloboesporte flamengoequipamentos para redesgloboesporte flamengotelecomunicação do mundo

globoesporte flamengo Em meio a tantos acontecimentos neste ano pode até ser difícilgloboesporte flamengose perceber, mas os governosgloboesporte flamengodiversos países — entre eles o Brasil — estãogloboesporte flamengomeio a discussões e decisões que vão revolucionar a forma como as pessoas trabalham, se relacionam e vivem.

Trata-se da implementação da tecnologiagloboesporte flamengoquinta geraçãogloboesporte flamengotelecomunicações (5G). À primeira vista, o 5G é apenas uma atualização dos sistemasgloboesporte flamengo4G já existentes no Brasil — o usogloboesporte flamengofrequênciasgloboesporte flamengorádio outorgadas pelo governo a operadorasgloboesporte flamengotelefonia móvel para transmissãogloboesporte flamengodados digitais.

Mas na prática o 5G será muito mais do que isso. A velocidade esperada nas conexões é da ordemgloboesporte flamengo10 a 20 vezes maior do que a tecnologia do 4G. Esse saltogloboesporte flamengoeficiência permitirá mudanças drásticas na forma como a sociedade funciona.

Um exemplo, entre centenasgloboesporte flamengopossibilidades, é o desenvolvimentogloboesporte flamengocarros autônomos — guiados por robôs e sem motoristas — que é uma das maiores apostas da indústria automotiva para o futuro.

A tecnologia 5G permitiria interligar os carrosgloboesporte flamengorede, organizando todo o tráfegogloboesporte flamengoveículosgloboesporte flamengoforma segura e sem a necessidadegloboesporte flamengomotoristas para tomarem decisões.

Pressão sobre o Brasil

Em qualquer cenário, as decisões sobre um leilão dessa magnitude — que será o maior já realizado no Brasil e um dos maiores do mundo — já seriam polêmicas e difíceis.

Mas para piorar, o Brasil terá que decidir sobre como implementar o 5Ggloboesporte flamengomeio a uma das disputas mais acirradas da guerra comercial entre Estados Unidos e China.

O governo do presidente Jair Bolsonaro vem sendo pressionado pelas duas superpotências mundiais. O presidente americano, Donald Trump, chegou a falar abertamente,globoesporte flamengojulho, que estágloboesporte flamengocampanha contra os chineses na questão.

O centro da disputa é uma empresa chinesa, a Huawei, que é hoje líder global na tecnologia 5G.

O mercadogloboesporte flamengotelecomunicações brasileiro é dominado por quatro operadoras gigantes (Vivo, Claro, TIM e Oi) que oferecem serviçosgloboesporte flamengocelular aos brasileiros. Mas por trás desses serviços, há uma redegloboesporte flamengoequipamentos tecnológicos que são fornecidos às operadoras por apenas três empresas: a sueca Ericsson, a finlandesa Nokia e a Huawei. No Brasil, comogloboesporte flamengodiversos países do mundo, a redegloboesporte flamengo4G conta com tecnologia destas três empresas.

Mas nos últimos anos os EUA iniciaram uma ofensiva contra a Huawei, que segundo os americanos representa um perigogloboesporte flamengosegurança nacional aos países que comprarem seus equipamentos.

A acusação é baseada na seguinte lógica: se toda a sociedade estiver interconectada usando equipamentogloboesporte flamengouma empresa chinesa — o que incluiria sistemasgloboesporte flamengotrânsito,globoesporte flamengocomunicação ou até mesmogloboesporte flamengoeletrodomésticos "inteligentes" dentro dos nossos lares — todos nós estaríamos vulneráveis a espionagem pelo governo da China.

A Huawei é uma empresa privada, mas uma leigloboesporte flamengosegurança aprovada pela Chinagloboesporte flamengo2017 permite,globoesporte flamengotese, que o governogloboesporte flamengoPequim exija dadosgloboesporte flamengocompanhias privadas, caso a necessidade seja classificada como importante para soberania chinesa.

Os americanos querem que o Brasil adote uma licitação que exclua o usogloboesporte flamengoequipamentos da Huawei por parte das operadoras — algo que já foi adotadogloboesporte flamengooutros países do mundo, como Reino Unido, Japão e Austrália.

A China nega todas as acusações e diz que o único interesse dos EUA é minar o crescimento tecnológico chinês, que vem fazendo face aos americanos.

Ambos os lados da disputa sugerem que o Brasil poderia ser vítimagloboesporte flamengosançõesgloboesporte flamengoum lado ougloboesporte flamengobenesses do outro, dependendogloboesporte flamengocomo o país decidir se posicionar.

Bolsonaro e Paulo Guedes receberam o assessorgloboesporte flamengosegurança dos EUA, Robert O'Brien

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Bolsonaro e Paulo Guedes receberam o assessorgloboesporte flamengosegurança dos EUA, Robert O'Brien, esta semana

O Brasil pretende realizar a licitação do 5Ggloboesporte flamengomaio do próximo ano. E o presidente Jair Bolsonaro declarou esta semana que será ele quem decidirá sobre a questão da Huawei e "ponto final".

Mas o que o Brasil tem a ganhar ou a perder, caso ceda às pressões americanas?

Ganhar

Até agora, o principal incentivo para banir a Huawei é o alinhamento com os EUA.

Também está subentendido que junto com esse alinhamento poderia vir algum tipogloboesporte flamengoganho financeiro na relação bilateral.

Na terça-feira, autoridades brasileiras receberam uma delegação do governo americanogloboesporte flamengoBrasília para assinaturagloboesporte flamengouma cartagloboesporte flamengointenções na qual o EximBank, o Bancogloboesporte flamengoExportação e Importação dos Estados Unidos, sinaliza que poderá investir maisgloboesporte flamengoR$ 5 bilhõesgloboesporte flamengoprojetosgloboesporte flamengodiversas áreas — "especialmentegloboesporte flamengotelecomunicações", segundo um comunicado do governo americano.

Outras duas coisas chamaram atenção no evento. Primeiro a presença do assessorgloboesporte flamengoSegurança Nacional dos EUA, Robert O'Brein,globoesporte flamengoBrasília,globoesporte flamengoum evento que deveria ser apenas,globoesporte flamengotese, entre autoridades do setor econômico e financeiro.

Outro ponto foi o discurso do ministro da Economia, Paulo Guedes, na cerimônia da assinatura dos acordos. Após frisar que o Brasil comercializa tanto com EUA como com a China, o ministro fez menção direta à preocupação com segurança: "Então nós sabemos quem são nossos parceiros geopolíticos e, ao mesmo tempo, praticamos comércio com todo mundo. A nossa aproximação com os americanos foi sempre, está sendo, com base não sógloboesporte flamengoresultado econômico, mas tambémgloboesporte flamengosegurança".

Em outro eventogloboesporte flamengoBrasília esta semana, o assessor econômico da Casa Branca, Larry Kudlow, disse que Washington "encoraja o Brasil a observar a China com atençãogloboesporte flamengorelação a todo tipogloboesporte flamengotecnologia,globoesporte flamengotelefonia egloboesporte flamengo5G".

Presidente da Huawei no Brasilgloboesporte flamengoencontro com Bolsonaro

Crédito, Presidência da República

Legenda da foto, Executivos da Huawei se encontraram com Bolsonaro no ano passado

Os americanos não fazem nenhuma sugestão explícita sobre apoio financeiro ao Brasil caso Brasília opte por banir a Huawei dagloboesporte flamengoredegloboesporte flamengo5G.

Masgloboesporte flamengofevereiro deste ano, o vice-presidente americano, Mike Pence, sugeriu que a questão Huawei pode trazer prejuízos econômicos aos que tomarem posições contrárias a Washington.

Naquela ocasião, o Reino Unido havia anunciado que seguiria trabalhando com a Huawei na adoção do 5G. Pence disse que a Casa Branca estava "profundamente desapontada" com a decisão britânica, e lembrou que EUA e Reino Unido estavamgloboesporte flamengoviasgloboesporte flamengocomeçar negociações para um tratadogloboesporte flamengolivre comércio, agora que os britânicos deixaram a União Europeia.

Perguntado sobre se a questão da Huawei colocaria um fim nessas negociações, Pence respondeu: "Veremos".

Em julho, o Reino Unido acabou revertendogloboesporte flamengodecisão, o que agradou os americanos. Não só a Huawei será banida da redegloboesporte flamengo5G, como o país prometeu retirar todos os equipamentos da gigante chinesagloboesporte flamengosua redegloboesporte flamengotelecomunicações até 2027.

Existe também uma grande incógnita sobre o futuro da guerra comercial entre EUA e a China que só começará a se resolver após novembro. Até agora a briga contra a Huawei tem sido uma bandeira do presidente Donald Trump. Mas analistas não têm clareza sobre como Joe Biden se posicionariagloboesporte flamengorelação à Huawei caso ele vença as eleiçõesgloboesporte flamengonovembro, já que o democrata não sinalizou qual égloboesporte flamengoposiçãogloboesporte flamengorelação ao tema.

Outro ganho potencial para o Brasil, caso venha a concordar com a posição americana, seriagloboesporte flamengorelação à segurança nacional — caso as preocupações levantadas pelas agênciasgloboesporte flamengointeligência sejam acertadas.

Os EUA não são os únicos países a banir o equipamento Huawei. A preocupação com os equipamentos chineses surgiu primeirogloboesporte flamengo2018globoesporte flamengoum relatório da "Five Eyes" — uma aliança entre as agênciasgloboesporte flamengointeligênciagloboesporte flamengoAustrália, Canadá, Reino Unido, Nova Zelância e EUA.

Desde então, diversos países seguiram as recomendaçõesgloboesporte flamengonão trabalhar com a Huawei. É o casogloboesporte flamengoAustrália, Nova Zelândia, Reino Unido, Japão, Estados Unidos, Itália, França, República Tcheca, Polônia, Estônia, Romênia, Dinamarca, Letônia e Grécia. A Alemanha e a Índia também estariam considerando seguir o mesmo caminho. E a Suécia (país da Ericsson, rival direta da Huawei) anunciou esta semana que também vai banir a empresa chinesa dagloboesporte flamengoredegloboesporte flamengo5G.

Nesta semana, um novo relatório feito por um comitê do Parlamento britânico sugeriu que existe "claro indíciogloboesporte flamengoconluio" entre a Huawei e o "aparato do Partido Comunista chinês". A Huawei criticou as conclusões do relatório britânico.

Perder

Mas tomar uma atitude contra a Huawei — mesmo agradando Washington — também trará prejuízos para o Brasil.

O mais evidente deles é o prejuízo econômico. O Brasil já está atrasado no leilãogloboesporte flamengosua rede 5G. O atraso foi provocado por um problema técnico — algumas das frequências que serão colocadasgloboesporte flamengoleilão são as mesmasgloboesporte flamengoantenas parabólicas, o que gerou um impasse entre empresasgloboesporte flamengotelevisão e telefonia.

Banir a Huawei da rede — ou retirá-la completamente, como os britânicos pretendem fazer — custaria tempo e dinheiro. Não há estimativas para o caso brasileiro, mas no Reino Unido um estudo indica que o banimento à Huawei poderá retardar a implementação do 5Ggloboesporte flamengoaté três anos, com custo superior a 18 bilhõesgloboesporte flamengolibras (maisgloboesporte flamengoR$ 130 bilhões).

Nesta semana, o presidente da Huawei no Brasil, Sun Baochang, disse ao jornal Folhagloboesporte flamengoS. Paulo que os operadores teriam que pagar mais para substituir seus equipamentos, caso o Brasil opte por banir a empresa chinesa, e que esses custos seriam repassados aos consumidores.

Esse atraso também retardaria a competitividade da economia brasileira, já que indústrias e empresas ficariam para trásgloboesporte flamengorelação aos demais países que já teriam o 5G. O Brasil é o quinto maior mercadogloboesporte flamengotelecomunicações do mundo, e dados oficiais mostram que há 231 milhõesgloboesporte flamengocelulares no pais — ou 94 celulares para cada 100 brasileiros.

Existe também o riscogloboesporte flamengoo Brasil desagradar — e até mesmo receber retaliações — da China com a decisão.

A embaixada chinesagloboesporte flamengoBrasília emitiu um comunicado esta semana condenando as declarações feitas por autoridades americanasgloboesporte flamengovisita ao Brasil.

"Recentemente, um pequeno númerogloboesporte flamengopolíticos americanos, desprezando os fatos e forjando uma sériegloboesporte flamengomentiras, vem lançando ataques difamatórios contra o 5G da Huawei. Tem utilizado o podergloboesporte flamengoestado para impedir as operações legítimas das empresas chinesasgloboesporte flamengoalta tecnologia, abusando no pretextogloboesporte flamengosegurança nacional", diz a nota.

A embaixada chinesa também destacou a importância das relações econômicas.

"A China tem sido o maior parceiro comercial do Brasil por 11 anos seguidos. É a maior fontegloboesporte flamengosuperávit comercial e um dos principais investidores do Brasil. (...) Temos a certezagloboesporte flamengoque as nossas relações não serão desviadas do trilhogloboesporte flamengodesenvolvimento saudável e estável por qualquer interferência externa."

A China é hoje a principal fontegloboesporte flamengosuperávit comercial do Brasil no mundo, com saldo positivogloboesporte flamengoUS$ 3,2 bilhões até julho. Já com os Estados Unidos, o Brasil acumula um deficit comercialgloboesporte flamengoUS$ 3,1 bilhões até julho.

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