'ArgenChina': por que a China desbancou Brasil como maior parceiro comercial da Argentina:blazer de jogo
No mesmo período, a Argentina importou mais do Brasil do que da China, mas os chineses encerraram o mês com saldo positivoblazer de jogoUS$ 98 milhões no comércio bilateral, enquanto que o Brasil teve déficitblazer de jogoUS$ 132 milhões.
Mas como a China conseguiu desbancar o Brasil como maior parceiro comercial da Argentina?
A pandemia do coronavírus, que desacelerou e até mesmo paralisou a indústria, é um dos principais motivos que explicam essa mudança, dizem especialistas ouvidos pela BBC News Brasil.
O setor industrial, especialmente o segmento automotivo, representa pelo menos 40% do intercâmbio comercial entre Brasil e Argentina.
Por outro lado, a produção e exportaçãoblazer de jogogrãos não sofreu o mesmo impacto e continua sendo o pilar das exportações da Argentina eblazer de jogooutros países da região para a China.
Ainda assim, apesar das circunstâncias atuais, não há dúvidablazer de jogoque Argentina e China vêm consolidando seus laços, ao passo que as relações do país vizinho com o Brasil vivem um esfriamento, acrescentam os especialistas.
'ArgenChina'
A aproximação da Argentina com a China vai além do comércio.
Exemplos disso são um observatório espacial chinês para missões à Lua, instalado na província argentinablazer de jogoNeuquén, na Patagônia, no sul do país, e a produção chinesablazer de jogoporcosblazer de jogogrande escala na Argentina, para consumo na China.
Tamanha a importância da China para a Argentina que a revista Notícias,blazer de jogoBuenos Aires, ilustrou emblazer de jogocapa uma reportagem com o título "ArgenChina (unindo os nomes dos dois países), as novas relações carnais" (a expressão antes era usada para definir a aproximação da Argentina com os Estados Unidos). Nela, o presidente Alberto Fernández aparece, numa fotomontagem, usando um chapéu chinês.
Enquanto isso, a relação comercial entre Argentina e Brasil vem minguando. O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, nunca falou com o presidente argentino, Alberto Fernández, desdeblazer de jogoposse, há oito meses — um fato inédito na relação entre os dois paísesblazer de jogo35 anos.
O silêncio entre os líderes gerou especulações sobre até que ponto esse distanciamento político, somado à nova ondablazer de jogoqueixas contra barreiras comercias argentinas aos produtos brasileiros, podem estar prejudicando as relações entre os dois vizinhos.
"A relação com a China tem que ser vista sob vários ângulos. Econômico, político, estratégico. Fica a impressão que diante das característicasblazer de jogoBolsonaro, a China poderia estar buscando um segundo ator na região", diz o professorblazer de jogorelações econômicas internacionais Raúl Ochoa, da Universidade Nacionalblazer de jogoTresblazer de jogoFebrero (UNTREF),blazer de jogoBuenos Aires, à BBC News Brasil.
Segundo ele, o Brasil poderia ter sido o território natural, por suas dimensões, para a produçãoblazer de jogoporcos que a China hoje planeja desenvolver na Argentina.
"Claramente, a China não quer ficar centralizada num só país", diz Ochoa.
Marcelo Elizondo, da consultoria DNI, vai além, e diz que a China não estáblazer de jogoolho apenas na Argentina como alternativa ao Brasil "porque precisablazer de jogotodos, desde os minérios do Peru aos peixes do Chile, por exemplo".
Sem dilema
A China é o principal parceiro comercial do Brasil. Na pandemia, autoridades do Brasil fizeram críticas aos chineses, levando opositores do governo a criticarem a posturablazer de jogo"alinhamento" ao discurso do presidente Donald Trump, como afirmou um ex-ministro brasileiro das Relações Exteriores, que falou sob condição do anonimato.
Em um encontro recente, promovido pela organização empresarial americana Council of Americas, Sérgio Amaral, ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos, disse que, por suas dimensões e interesses próprios, o Brasil "não pode cair no dilemablazer de jogoter que escolher entre a China e os Estados Unidos e deve se relacionar com os dois".
Segundo dados e previsões da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal), divulgados no inícioblazer de jogoagosto, as exportações regionais para a China devem ter uma queda, neste ano, muito menor do que a para os Estados Unidos e dentro da própria região. Enquanto para os EUA, a retração prevista éblazer de jogo32% e para a região,blazer de jogo28%, para a China, o índice seriablazer de jogo"apenas 4%", destacou a Cepal.
'Temporária'
"O que está acontecendo é conjuntural. Grande parte do comércio entre o Brasil e a Argentina é baseadoblazer de jogoautomóveis. Este setor, que representa cercablazer de jogo40% da balança comercial entre os dois países, esteve praticamente parado, aqui na Argentina, como medidablazer de jogoprevenção (nas fábricas) contra o coronavírus. À medida que as atividades sejam retomadas, a participação do Brasil como parceiro comercial vai se recuperar", diz Eva Bamio, da consultoria econômica Abeceb.
Na avaliaçãoblazer de jogoElizondo, apesar da pandemia, as exportações primárias (não industriais) estão aumentandoblazer de jogomaneira geral e têm como principal destino a Ásia.
"As pessoas continuam comprando alimentos, mas deixaramblazer de jogocomprar automóveis, por exemplo. Outro motivo é que a recuperação das economias asiáticas foi mais rápida. E o mesmo não ocorre com o Brasil e também com a Argentina. Mas acho que a China passar o Brasil é algo temporário", diz Elizondo.
Bamio observou ainda que os insumos médicos enviados pela China à Argentina (alémblazer de jogooutros países da América Latina) também pesaram nos resultados da balança comercial.
"A China foi o primeiro país a ter o coronavírus e a fechar seu comércio no início do ano, mas, a partir dablazer de jogoreabertura, esse quadro mudou, ela voltou a receber importações e o fato refletiu também nas exportações da Argentina", diz Bamio.
O gigante asiático passou a ganhar destaque na pautablazer de jogoexportações da Argentina — e outros países da América Latina — com o ciclo das commodities, como observa o economista Santiago Taboada, da consultoria OJF&Associados.
"Em termos anuais, o Brasil continua sendo o principal parceiro comercial da Argentina, mas essa posição dependerá do que acontecerá com as duas economias neste ano", ressalva Taboada.
Além da indústria automotiva, que não produziu um único automóvelblazer de jogoabril — na primeira etapa da quarentena nacional —, a Argentina fabrica insumos ligados a este e outros setores que também estiveram paralisados, como oblazer de jogoplásticos.
Desvalorização do real
Outro fator apontado para a perdablazer de jogoespaço do Brasil para a China no comércio argentino foi a desvalorização do real, assinala o economista Matías Rajnerman, da consultoria Ecolatina, fundada pelo ex-ministro da Economia do país, Roberto Lavagna.
"O impacto da covid-19 na atividade do gigante da América do Sul e a desvalorizaçãoblazer de jogosua moeda, que passoublazer de jogocercablazer de jogoR$ 4 (em relação ao dólar), no fimblazer de jogo2019, para R$ 5,6 atualmente (+30%), contrastaram com a recuperação, mesmo que fraca, do país mais populoso do mundo (a China)", destaca.
A relação entre os dois países costuma ser pontuada ainda pelas críticas, do lado brasileiro, principalmente, contra as medidas que dificultam a fluidez dos desembarquesblazer de jogoprodutos brasileiros na Argentina. Na semana passada, entretanto, após se reunir com o presidente Bolsonaro,blazer de jogoBrasília, o novo embaixador da Argentina no país, Daniel Scioli, disse,blazer de jogoentrevista ao jornal La Nación,blazer de jogoBuenos Aires, que "esse assunto já foi resolvido".
Quando questionado sobre a queda no comércio bilateralblazer de jogocercablazer de jogo30%, Scioli disse que vai trabalhar para que "o incremento do comércio sejablazer de jogoforma sustentávelblazer de jogoquantidade eblazer de jogoqualidade".
Exploração aeroespacial
Há poucos dias, a Argentina ratificou um acordo assinadoblazer de jogo2014, durante o governo da ex-presidente Cristina Kirchner, para a instalaçãoblazer de jogouma "estação terrestreblazer de jogoseguimento, comando e aquisiçãoblazer de jogodados", na provínciablazer de jogoNeuquén, "para as missões chinesasblazer de jogoexploração interplanetária no marco do Programa Chinêsblazer de jogoExploração da Lua".
Os dois países dizem querer trabalhar juntos para o desenvolvimentoblazer de jogotecnologia espacial, com fins pacíficos e benefícios mútuos.
No mês passado, a Conae informou que participa da missão chinesa que lançou uma sonda a Marteblazer de jogojulho, da baseblazer de jogoHainan, no sul do país asiático.
Central nuclear
Em entrevista à BBC News Brasil, o ex-embaixador da Argentina na China, Diego Guelar, contou que a Argentina e a China fizeram um acordo para a construçãoblazer de jogouma central nuclear na provínciablazer de jogoBuenos Aires que envolverá cercablazer de jogoUS$ 8 bilhõesblazer de jogoinvestimentos chineses.
Com essa base nuclear, os dois países pretendem gerar energia para a Argentina e vender produtos ligados ao setor para a América Latina. Procurado, o Ministério da Produção, responsável pelo setor, não respondeu às perguntas da BBC News Brasil até o fechamento dessa reportagem.
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