'Eu e minha filhajogo de desenhar17 anos fomos internadas com covid-19. Sou hipertensa e sobrevivi. Ela era saudável, mas morreu':jogo de desenhar

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Germaine e Kamilly foram internadas juntas com covid-19; enquanto mãe, que é hipertensa, se recuperou, a filha apresentou quadro grave da doença e morreu

Kamilly fez partejogo de desenharum grupo pequenojogo de desenharmeio à pandemia do novo coronavírus: ojogo de desenharjovens saudáveis com complicações gravesjogo de desenhardecorrência da covid-19.

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Legenda da foto, Kamilly Ribeiro,jogo de desenhar17 anos, não tinha comorbidades. A jovem era estudiosa, iria prestar Enem neste ano e sonhavajogo de desenharcursar medicina

Estudos apontam que os pacientes sem comorbidades e com menosjogo de desenhar50 anos correspondem a menosjogo de desenhar1% das pessoasjogo de desenharestado gravejogo de desenhardecorrência do Sars-Cov-2, nome oficial do novo coronavírus. Quanto mais jovem, menos chancesjogo de desenharapresentar complicações.

"Os médicos ficaram surpresos com o caso da minha filha. Não sabiam mais o que fazer, porque ela não tinha nenhum problemajogo de desenharsaúde antes. Infelizmente, é algo difíciljogo de desenharentender", declara Germaine.

Os casos mais graves comumente acometem pessoas idosas ou com doenças pré-existentes, como hipertensão, diabetes, cardiopatias, entre outras.

Histórias como ajogo de desenharKamilly, segundo estudos ainda incipientes, podem ser explicadas por particularidades genéticas que influenciam o modo como o coronavírus afeta o organismo do paciente.

"O nosso sistema imunológico é o responsável por definir se vamos responder bem ou não ao Sars-Cov-2. Geralmente, esse sistema está afetadojogo de desenharpessoas com comorbidades ou idosas, por isso estão nos gruposjogo de desenharrisco. Masjogo de desenharalguns casos raros, o sistema imunológico tem uma falha pontual crítica mesmo sem comorbidades conhecidas e, por isso, a pessoa acaba desenvolvendo um quadro grave ou até morrendojogo de desenhardecorrência do coronavírus", diz o médico infectologista Alexandre Naime, chefejogo de desenharInfectologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp),jogo de desenharBotucatu (SP).

Os sintomas iniciais

No iníciojogo de desenharmarço, Germaine acompanhava diariamente o pai,jogo de desenhar71 anos,jogo de desenharum hospital público da Baixada Fluminense. O idoso havia sofrido um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e estava internado. "A minha mãe também é idosa e meu irmão não mora no Riojogo de desenharJaneiro. Então, eu era a única pessoa que poderia acompanhá-lo", diz a donajogo de desenharcasa.

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Legenda da foto, Paisjogo de desenharKamilly tentam recomeçar a vida após perder a filha mais velha para a covid-19

Kamilly ficavajogo de desenharcasa para cuidar do irmão mais novo,jogo de desenhartrês anos. A jovem também passava parte dos dias se dedicando aos estudos e sonhavajogo de desenharcursar Medicina.

Por volta do fim da segunda semanajogo de desenharmarço, Germaine começou a apresentar problemasjogo de desenharsaúde. "Tive arrepios pelo corpo, tremedeira, calafrios e febre", diz. Ela foi a uma unidadejogo de desenharsaúde da região, passou por exames e foi diagnosticada com pneumonia. "Disseram que não era coronavírus e sequer fizeram testes. Como ainda era algo novo, eu não tinha muita informação sobre o assunto e fui para casa", detalha.

O primeiro caso do novo coronavírusjogo de desenharDuquejogo de desenharCaxias foi confirmadojogo de desenhar23jogo de desenharmarço. Hoje, o município tem o segundo maior númerojogo de desenharmortos no Riojogo de desenharJaneiro, atrás apenas da capital. Até o momento, são maisjogo de desenhar185 óbitos por covid-19 na cidade.

Enquanto tomava os medicamentos para a suposta pneumonia, Germaine ficoujogo de desenharrepousojogo de desenharcasa. Kamilly ajudava a mãe o dia inteiro. A adolescente reclamavajogo de desenhardores nas costas, mas não demonstrava preocupação com o problema. "Depois, ela começou a tossir e teve muita febre. Com o passar dos dias, a situação foi piorando. Demos medicamentos para gripe para ela, mas nada melhorava", relata a donajogo de desenharcasa.

Em 23jogo de desenharmarço, Kamilly foi a um postojogo de desenharsaúde junto com o pai, o barbeiro José Antônio dos Santos. Na unidade, passou por raio-X, que mostrou que o pulmão dela estava comprometido e tinha aspecto semelhante aojogo de desenharpacientes com a covid-19. Os médicos logo pediram que a jovem fosse isolada e permanecesse no hospital. Germaine, que estavajogo de desenharcasa, foi ao hospital para levar roupas para a filha e a equipe médica também a examinou — o marido dela e o filho caçula não apresentaram sintomas.

"Quando viram meu pulmão, notaram que estava comprometido com o dela. Nós duas fomos colocadasjogo de desenharum quartojogo de desenharisolamento", relata.

A donajogo de desenharcasa critica o atendimento que recebeu nos primeiros dias. "Parecia que tinham medojogo de desenharficar perto da gente, mesmo com os equipamentosjogo de desenharproteção. Nós chamávamos e ninguém nos atendia. Deveriam ter mais empatia."

Posteriormente, mãe e filha foram levadas para o Hospital Moacyr do Carmo, onde permaneceram isoladas. As duas receberam o mesmo tratamento, que incluiu cloroquina.

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Legenda da foto, A adolescente junto com o irmão caçula,jogo de desenhartrês anos, e a mãe

Eleitorajogo de desenharJair Bolsonaro, Germaine afirma não ter opinião formada sobre a decisão do presidentejogo de desenhardeterminar que o Ministério da Saúde oriente o uso da cloroquinajogo de desenharpacientes com a covid-19. "Não sou médica, nem pesquisadora, então não posso dizer. Quem precisa definir isso são os cientistas. Apesarjogo de desenharter votado no Bolsonaro, há muitas coisas que ele diz e eu não concordo", declara.

"Mas não gosto quando dizem que minha filha morreu mesmo usando cloroquina. Eu também usei e sobrevivi. Não dá para falar que foi o medicamento que me salvou, nem que a prejudicou. Penso que devemos seguir o que dizem os estudiosos da área", diz Germaine.

Recentemente, a Organização Mundialjogo de desenharSaúde (OMS) suspendeu os estudos com a cloroquinajogo de desenharpacientes com a covid-19, após diversas pesquisas apontarem riscos no uso do medicamento. Apesar disso, o Ministério da Saúde informou que continuará recomendando o remédio, ao menos por enquanto.

O agravamentojogo de desenharjovens saudáveis

Enquanto Germaine apresentava melhora, Kamilly piorava. "Ela tinha muita faltajogo de desenharar. Me desesperei quando a minha filha começou a vomitar sangue. Eu chamava por ela, mas ela não respondia. Comecei a bater no vidro do quarto para chamar os médicos", relata a mãe. A adolescente foi levada para a Unidadejogo de desenharTerapia Intensiva (UTI), onde foi intubada. "Vi a minha filha pela última vez quando a levaram para a UTI. Não imaginava que aquele seria o nosso último momento", diz.

Os médicos que acompanharam a adolescente não esperavam que ela fosse ter um quadro tão grave, segundo Germaine. "Frequentemente, me perguntavam se ela tinha alguma comorbidade e eu sempre respondia que não. Fizeram vários examesjogo de desenharsangue nela e nenhum apontou qualquer doença pré-existente", relata.

A donajogo de desenharcasa conta que os profissionais que acompanharam a adolescente não souberam explicar os motivos que levaram Kamilly a apresentar quadro extremamente grave da covid-19.

Os estudos iniciais apontam que as mortesjogo de desenharjovens saudáveis por covid-19 podem estar relacionadas, principalmente, à predisposição genética.

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Legenda da foto, Germaine junto com Kamilly, na época com sete anos: últimos momentosjogo de desenharmãe e filha juntas foramjogo de desenharisolamentojogo de desenharhospital

"Pode haver casosjogo de desenharpessoas com susceptibilidade genética a infecções pontuais. Todos nascemos com um código genético, o DNA, que traz um roteirojogo de desenharrespostas a diferentes estímulos, tanto bons quanto ruins na vida. Isso define se o organismo da pessoa vai ou não ter uma resposta a determinados patógenos", explica o infectologista Alexandre Naime.

O médico pontua que há casosjogo de desenharjovens saudáveis que morrem por influenza ou outras enfermidades que raramente afetam os mais novos. "Tudo depende da sequência genética da pessoa. Nisso está codificado quais respostas ela terájogo de desenhartermosjogo de desenharanticorpos e ação celular quando for exposta a diversos patógenos. São códigos que nascem com a pessoa e são chamadosjogo de desenharmemória imunológica."

Pesquisadores estudam quais outros pontos, além da predisposição genética, podem fazer com que o Sars-Cov-2 afete gravemente alguns jovens saudáveis. Tais estudos são importantes também para ajudar na descobertajogo de desenharnovos tratamentos para a covid-19.

Sem despedidas

Apesarjogo de desenharser hipertensa, Germaine teve uma boa recuperação e recebeu alta hospitalar sete dias após ser internada. Isoladajogo de desenharcasa, ela passava os dias preocupada com a filha.

Nos primeiros dias intubada, Kamilly apresentou melhora e respondeu bem aos medicamentos. Em seus últimos dias, porém, a adolescente piorou. Em 14jogo de desenharabril, após 20 dias internada, Kamilly não resistiu. Na certidãojogo de desenharóbito da jovem consta que ela teve choque séptico, pneumonia e infecção por covid-19 — o exame da jovem, feito logo após a internação, ficou pronto enquanto ela estava intubada.

"Quando me contaram que ela morreu, eu comecei a chorar e a gritar desesperada. A minha filha só tinha 17 anos. Como pode, né? Ela era saudável. Eu achava que eu, hipertensa, tinha mais chancesjogo de desenharmorrer que ela. Eu senti um vazio muito grande. A morte dela me trouxe uma sensaçãojogo de desenharimpotência diante da vida. A gente não tem controlejogo de desenharnada", desabafa Germaine.

Dias antes, a donajogo de desenharcasa tevejogo de desenharlidar com outra perda: a morte do pai,jogo de desenhar2jogo de desenharabril,jogo de desenhardecorrência do AVC que sofrera no início do ano.

A donajogo de desenharcasa não participou da cerimôniajogo de desenhardespedida do pai, assim como também não conseguiu se despedir da filha. Ela ainda apresentava sintomas da covid-19 e foi orientada a permanecer isoladajogo de desenharcasa.

Evangélica, Germaine revela que se apegou à religião para lidar com a saudade constante da filha. "Cheguei a questionar Deus, mas agora acredito que a morte da Kamilly foi uma vontade dele. Ele queria a minha filha por perto. Ela sempre foi muito religiosa e era muito querida na igreja. Acredito que agora ela está ao lado dele ejogo de desenharum lugar melhor", declara.

Recuperada da covid-19, a donajogo de desenharcasa tenta retomar a vida. "Às vezes ainda tenho uma crisejogo de desenharchoro. Nós estamos sofrendo muito. Precisamos seguirjogo de desenharfrente, mas está sendo muito difícil. A morte dela foi uma tristeza enorme. A gente tinha esperançajogo de desenharque ela voltaria para casa", diz.

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