Avanço da soja cria 'cemitériog bet apostacolmeias' no interior do Pará:g bet aposta

Crédito, Gabriel Siqueira/BBC

Legenda da foto, Produçãog bet apostaabelhas sem ferrão despencou na regiãog bet apostaBelterra e se tornou economicamente insustentável

Conhecedor dos nomes científicos e principais hábitos das abelhas, o ex-produtor diz que as chamadasg bet apostacanudo (ou tucano) eram campeãsg bet apostaprodutividade.

"Produziamg bet aposta5 a 6 kg, por caixa. Mas, atualmente, a produçãog bet apostacada uma não rende nem meio quilo", calcula, relacionando esse declínio à expansão gradativa da soja nas últimas duas décadas na região.

E acrescenta que o agronegócio mudou o comportamento e a dinâmicag bet apostareprodução desses polinizadores. "Quantas vezes encontramos caixas completamente vazias ou enxames mortos." Assim, o sonhog bet apostamanter essa atividade comercial ruiu completamente depoisg bet aposta40 anos.

Com cercag bet aposta100 caixas que restaram na chácara, João do Mel admite que naquele “cemitériog bet apostacolmeias” jaz a meliponicultura como atividadeg bet apostareconhecida importância socioeconômica e ambiental.

Crédito, Gabriel Siqueira/BBC

Legenda da foto, Colmeiag bet apostaabelha nativa sem ferrão na Chácara João do Mel,g bet apostaBelterra

As pequenas quantidadesg bet apostaabelhas que resistem precisam se alimentar do próprio mel produzido nas últimas colmeias que ele mantém somente para nutri-las. "Se tirar o mel o enxame se acaba", explica, acrescentando que além da redução da quantidadeg bet apostaáreasg bet apostaflorestas e, consequentemente, das floradas das quais dependem esses e outros polinizadores, a situação piora na temporadag bet apostachuvas intensas na Amazônia.

Como outro reflexo do desequilíbrio ecológico regional, o ex-produtor menciona que não faltam, ainda, as investidasg bet apostatamanduás que, ao farejarem a presençag bet apostaabelhas, muitas vezes rompem as tampas das caixasg bet apostabusca das colmeias que restam.

Com olhos marejados e voz embargada, ele diz ainda estar sentindo o impacto emocional pelo extermínio das abelhas nag bet apostapropriedade e nasg bet apostaoutros produtores da região.

Argumenta, ainda, que o fracasso dessa prática tradicionalmente vinculada à cultura indígena, à agricultura familiar e à agroecologia representa um sinalg bet apostarisco, principalmente à segurança alimentar, embora o problema seja pouco percebido por grande parte da sociedade.

"O agronegócio chegou como uma bomba atômica a Belterra e o seu impacto foi violento", opina João do Mel. "O agrotóxico pulverizado nos plantiosg bet apostasoja se dispersa no vento e na chuva, afetando toda a cidade."

Ele diz que os efeitos podem atingir até mesmo as árvores mais altas, cujas floradas são buscadas pelas abelhas sem ferrão. Ele se queixa da faltag bet apostafiscalização ao uso desses produtos químicos e diz que são cada vez mais comuns os casosg bet apostacâncer na região, doença praticamente inexistente antes da expansão dessa cultura agrícola.

O ex-produtor afirma que enquanto a agricultura familiar é benéfica à presençag bet apostaabelhas, as monoculturas,g bet apostaforma geral, contribuem para ampliar a perdag bet apostahabitat.

Em um passeio com a reportagem pela chácara, João do Mel fala das conexões entre fauna e flora. "A cotia passou por aqui. Veio comer tucumã", explica mostrando as marcas das patas do animal deixadas na terra molhada e aponta para o pég bet apostacarregado, com muitos frutos já caídos pelo chão.

Crédito, Elizabeth Oliveira

Legenda da foto, João do Mel com tucumã nas mãos: produtor se dedicou à produçãog bet apostamel por maisg bet aposta40 anos

Apaixonado por música e poesia, ele gostag bet apostacriar inspirado nas dinâmicas da natureza. "A ecologia perdeu seu lugar. Lutar para quê, se a vida é matar ou morrer?". dizg bet apostaO lamento do João do Mel, poema que tem despertado o interesseg bet apostaestudiosos e outros profissionais atentos ao que acontece na região.

Filhog bet apostapais que vieram do Ceará para trabalhar no fracassado polo da borracha da Amazônia e se radicaramg bet apostaBelterra, ele deixa escapar alguns sinaisg bet apostaforça e esperança.

Quando reconheceu a impossibilidadeg bet apostatirar o sustento da produçãog bet apostamel, João do Mel passou a produzir móveis e peças decorativas com restosg bet apostamadeirag bet apostauma oficina que instalou na chácara. Agora se considera artesão. Também está prestes a ser pai e, ao falar sobre o filho que deve nascerg bet apostameados do ano, sorri.

Mas desanima quando indagado sobre as expectativas para o desenvolvimento da cidade que será a terra do seu filho: "Não vejo futuro nenhumg bet apostaBelterra", afirma. E se tivesse que dar um conselho para quem deseja se dedicar à meliponicultura na região? "Eu não aconselharia. É prejuízo na certa. Muitas abelhas já foram extintas e outras serão brevemente."

Os Jandaíras contra a extinção

Em outra áreag bet aposta16 hectaresg bet apostafloresta conservada, o pastor José Batista Ferreira, 57 anos, também tenta livrar as abelhas da extinção. Desde a adolescência, o pastor Natalino, como é conhecido, tem uma grande preocupação com a proteção da natureza, tanto que há cercag bet aposta40 anos tem se dedicado à criação desses polinizadores.

Assim como o irmão, João do Mel, ele tem predileção pelas abelhas sem ferrão. Ambos sorriem quando são comparados à jandaíra, espécie resistente às condições adversas.

Para o pastor, o avanço do agronegócio pode ter sido importante do pontog bet apostavista econômico para o Brasil, mas a julgar pela realidadeg bet apostaBelterra, o balanço não é positivo.

Ele relata que, há 20 anos, ag bet apostaproduçãog bet apostamel alcançava até seis toneladas por ano. Em 2019, foram produzidos somente 100 kg, mesmo tendo uma áreag bet apostafloresta com diversidadeg bet apostaespécies que contribuem para a proteção das abelhas.

Sua escala comercial também foi sendo gradativamente inviabilizada. "O que ainda fazemos é para livrar as abelhas da extinção", afirma. Durante a entrevista, o pastor aponta para os ingás e avisa: "Tá na hora da florada".

Nos arredores do sítio explica que espécies como cedro, murta, louro, pau-ferro e outras florescemg bet apostadiferentes épocas do ano. Assim como na propriedade do irmão, apesar da queda da produção do mel, considera que o ambiente ainda pode ser considerado uma "ilhag bet apostavida silvestre".

Crédito, Gabriel Siqueira/BBC

Legenda da foto, Tentativag bet apostaimplantaçãog bet apostapolo industrialg bet apostaBelterra favoreceu a expansão da soja

Em torno das caixasg bet apostaabelhas jataí, por exemplo, conta que são avistados morcegos, beija-flores, borboletas e mariposas. Nos arredores da casa também são vistos tamanduás, pacas, tatus e cotias. "A diversidade da floresta garante um melg bet apostaalto valor nutricional", ressalta.

O pastor também considera que o usog bet apostaagrotóxicos nas plantaçõesg bet apostasoja tem relação direta com a perda gradativa da produçãog bet apostamel, antes abundante na região. Ele relata que encontrar colmeias vazias se tornou uma rotina, quando antes enchiamg bet apostaabelhas e mel, o que leva a crerg bet apostauma mudança na dinâmicag bet apostareprodução desses polinizadores.

"Se as abelhas deixaremg bet apostaexistir, outras espécies vão desaparecer, e o ser humano também", alerta.

Com expressão preocupada, conta, ainda, que produtoresg bet apostasoja estão interessadosg bet apostacomprar as suas terras e fazem ofertas que não correspondem ao valor da propriedade. Tem sido assim com outros proprietários, conforme inúmeros relatos ouvidos sobre esse tipog bet apostapressão provocada pelo setor.

Assim como outros entrevistados, o pastor afirma que ainda falta liderança na cidade para questionar os impactos do avanço da produçãog bet apostasoja percebidos no ambiente, na saúde dos moradores e, sobretudo, na agricultura familiar.

Para ele, embora o prefeitog bet apostaBelterra seja médico, não parece priorizar as questões ambientais, que têm interface direta com problemasg bet apostasaúde pública.

'O veneno está no centro da cidade'

Cortada por uma ruag bet apostabarro, a casag bet apostaLucivaldo Pimentel, conhecido como Seu Lúcio,g bet aposta46 anos, é separadag bet apostauma áreag bet apostamaisg bet aposta60 hectaresg bet apostaplantiog bet apostasoja por uma distânciag bet apostacercag bet apostadez metros.

Ele conta que, há pouco maisg bet apostadez anos, quando foi morar naquela residência, a vista era tomada por uma floresta com ipês, seringueiras, castanheiras e tantas outras árvores amazônicas.

"Pouco tempo depois, chegaram os (produtores) gaúchos. Passaram o trator e derrubaram tudo", recorda. Os novos vizinhos, que nada construíram, disseram que tinham documentosg bet apostatitulação, mas os moradores da localidade tinham conhecimentog bet apostaque aquelas se tratavamg bet apostaterras pertencentes à União.

A derrubada da floresta foi denunciada à Secretaria Municipalg bet apostaMeio Ambiente e ao Ibama, relata o morador. A área chegou a ser lacrada pelos órgãos públicos, mas, a partirg bet aposta2010, o plantiog bet apostasoja tomou formag bet apostavez, sendo regularmente pulverizado com agrotóxicos.

Enquanto os seus quatro filhos e os filhos dos vizinhos passaram a manifestar alergias na pele, náuseas e outros sintomas, Seu Lúcio conta que começou a amargar prejuízos causados pelos impactos dos produtos químicosg bet apostaárvores frutíferas e animais que serviamg bet apostafontesg bet apostarenda e alimentação familiar.

No ano passado maisg bet aposta60 galinhas do seu quintal morreram, segundo ele, afetadas pelo veneno trazido pelo vento e pela chuva. Os vizinhos produtoresg bet apostasoja prometeram pagar cercag bet apostaR$ 5 mil, mas o ressarcimento ainda não ocorreu.

Alémg bet apostanão haver mais carne e ovos para comer e vender, o abacateiro, outra fonteg bet apostarenda familiar, não produz mais frutos. As bananeiras estão secando e a mangueira tem folhas escurecidas, com mangas que apodrecem antes mesmo do crescimento.

Crédito, Projeto Saúde & Alegria

Legenda da foto, Colmeiasg bet apostaproduçãog bet apostacomunidade da Reserva Extrativista Tapajós Arapiuns

Seu Lúcio relata que perdeu a conta da quantidadeg bet apostapássaros mortos que tem visto. "Abelhas e outros insetos desapareceram daqui", lamenta.

Há nove anos, ele sofreu uma queda enquanto trabalhavag bet apostauma construção. O impacto na coluna vertebral levou à perda dos movimentos das pernas. Desde então, passou a usar cadeirag bet apostarodas e a viver com um benefíciog bet apostaum salário mínimo.

Diante da dificuldadeg bet apostalocomoção, começou a ficar mais tempog bet apostacasa e a sentir mais diretamente os efeitos dos agrotóxicos pulverizados na plantaçãog bet apostasoja dos vizinhos.

"O veneno é lançado na parte da tarde e tem um cheiro muito forte", afirma. E acrescenta que pode ser sentido tanto pelas crianças na escola como pelos doentes no hospital da cidade.

"Sabemos que venenog bet apostaárea urbana é proibido. Mas não existe fiscalização. A gente denuncia, mas não há qualquer providência", lamenta.

Ao ser indagado sobre o que espera para o seu futuro, Seu Lúcio responde com os olhos marejados que, brevemente, aquela terra "não servirá para mais nada".

A degradação ambiental, diz, será fonteg bet apostamais dificuldades financeiras, sobretudo para a população mais pobre, que, consequentemente, deverá ter mais problemasg bet apostasaúde.

"Eu mesmo tenho medog bet apostater uma doença. Sabemos que têm morrido muitas pessoas com câncer na cidade. Aqui não existia isso", ressalta.

Por fim, diz não sentir que Belterra evolui com a expansão da soja. "Aqui não fica nada. Vai tudo para a China", comentag bet apostarelação às exportações do produto.

Agrotóxicos no ambiente

O comportamento dos agrotóxicos no ambiente representa uma das principais preocupações dos pesquisadores dedicados aos estudos sobre esses produtos químicos, segundo o biólogo Ruy Bessa, professor da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA).

"Essas substâncias transitam por todas as matrizes ambientais. Estão no solo, na água, no ar, na biota eg bet apostanós", afirma o especialista, que atuag bet apostaecotoxicologia, uma áreag bet apostapesquisa com interfaces entre os temasg bet apostasaúde ambiental e saúde pública.

Crédito, Gabriel Siqueira/BBC

Legenda da foto, Últimas colmeiasg bet apostaJoão do Mel: 'O homem não vê o tempero da natureza', diz o ex-produtor

Ao tomar conhecimento dos relatos ouvidos pela equipeg bet apostareportagem, o professor concordou com as percepções dos entrevistados sobre os potenciais riscosg bet apostadispersãog bet apostaagrotóxicos. "O apodrecimento ou enrugamento das folhas do abacateiro do moradorg bet apostaBelterra se deve a isso", diz.

"A literatura científica nos informa que maisg bet aposta90% desses venenos, desses compostos, quando aplicados, atingem populações formadas por não alvos. É o abacateiro do seu João, a mangueira, a andiroba. São os roedores, os pássaros, as abelhas e somos nós."

Como indicadorg bet apostaproblemas relacionados à "saúde ambiental", Bessa destaca que há um declínio nas populaçõesg bet apostaabelhas,g bet apostanível mundial, não causado apenas pelo usog bet apostaagrotóxicos.

Na região metropolitanag bet apostaSantarém são afetadas, especialmente, as abelhas sem ferrão. O especialista destaca que sem essas formasg bet apostavida, "as florestas encolhem".

A importância socioambiental e econômica dos serviçosg bet apostapolinização é apresentada no Relatório Temático sobre Polinização, Polinizadores e Produçãog bet apostaAlimentos no Brasil, lançadog bet aposta2019, pela Plataforma Brasileirag bet apostaBiodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES, na siglag bet apostainglês)

Defensor da ampliação do monitoramento sistemático sobre os potenciais impactos causados pelos agrotóxicos na Região Metropolitanag bet apostaSantarém, o professor também alerta para outros riscos que preocupam os pesquisadores.

"O problema maior é que nós estamos no coração da região. No meio da áreag bet apostaprodução [de soja] nós temos a Floresta Nacional (Flona) do Tapajós", alerta.

Essa unidadeg bet apostaconservação federal,g bet apostaimportância socioambiental e econômica central para a região, ocupa 527,3 mil hectares, abrangendo os municípios paraensesg bet apostaAveiro, Belterra, Placas e Rurópolis, embora ag bet apostamaior extensão (248,2 mil hectares, 46,94% da área total) esteja localizadag bet apostaBelterra.

O especialista defende, principalmente, análisesg bet apostariscosg bet apostacontaminação dos seus recursos hídricos.

O professor adverte, ainda, que alguns compostos químicos presentes nos agrotóxicos podem se movimentar com mais facilidade na Região Metropolitanag bet apostaSantarém devido ao seu tipog bet apostasolo mais aerado. "Essa contaminação pode atingir o lençol freático". Para o especialista, isso precisa ser mais amplamente investigado.

Das seringueiras à soja

O passadog bet apostaBelterra foi marcado, no início do século passado, pela tentativa frustradag bet apostaHenry Ford, na época o empresário mais rico do mundo,g bet apostaproduzir borracha na Amazônia, a partirg bet apostaconcessões governamentais para exploraçãog bet apostacercag bet aposta1 milhãog bet apostahectares.

No Pará, o projetog bet apostaplantiog bet apostaseringueiras para a fabricaçãog bet apostapneus dos automóveis da companhia americana foi iniciado por Fordlândia, atualmente pertencente ao municípiog bet apostaAveiro. Como o projeto falhou, por uma sérieg bet apostarazões envolvendo as particularidades naturais do bioma (incluindo a sazonalidadeg bet apostaseus rios), a praga que atingiu as árvores plantadas e a resistência culturalg bet apostaseus povos aos hábitos estrangeiros que se tentou impor, Belterra foi a segunda escolha pelag bet apostalocalização, solo e relevo considerados privilegiados à expansão dessa monocultura.

Embora essa nova investida também não tenha dado certo, resquícios da presença americana ainda são perceptíveis na atualidade. Os traços são visíveis na arquiteturag bet apostaprédios públicos e da vilag bet apostacasas construída para as famílias dos funcionários que vieram viver na cidade, fundadag bet aposta1934, com objetivog bet apostaabrigar um polo industrial.

Seu nome derivag bet apostaBela Terra, uma expressãog bet apostasurpresa diante das riquezas naturais existentesg bet apostaabundância, até então.

A família da professora Laura Chagas vive na casa número 2, construídag bet apostamadeirag bet apostapequiá e castanheira para hospedar o então presidente Getúlio Vargas, que visitou o megaprojetog bet aposta1940.

Crédito, Elizabeth Oliveira

Legenda da foto, Arquitetura americanag bet apostaBelterra: resquícios da passagem da montadora Ford pela região

Há 54 anos, a residência passou à propriedade da família já que o pai dela veio para a região, como agrônomo, para atuar no polo da borracha e, posteriormente, foi contratado pelo Ministério da Agricultura.

A casa número 1, também erguidag bet apostamadeira nobre, foi projetada para receber o empresário Henry Ford, que nunca veio à região temendo contrair doenças tropicais.

Ela conta que, além da vila residencial, a Ford providenciou a instalaçãog bet apostainfraestrutura urbanag bet apostaBelterra, cidade que foi projetadag bet apostaquadras. Água tratada e canalizada, hospital, telecomunicações, entre outros serviços foram trazidos à cidadeg bet apostacaráter pioneiro na região.

“Esse passado deixou uma infraestrutura que continua servindo à cidade. E hoje o que a soja deixa para nós?”, questiona a professora, graduadag bet apostabiologia e preocupada com os impactos socioambientais desse modelog bet apostamonocultura que se expandiu na região.

No documentário Beyond Fordlândia (Muito alémg bet apostaFordlândia, no títulog bet apostaportuguês), dirigido pelo pesquisador Marcos Colón, é traçado um paralelo entre passado e presente da região, a partirg bet apostauma narrativa que ilustra como a cultura da soja se beneficiou do caminho aberto pelo projeto megalomaníacog bet apostaFord, cujo desmatamento buscava a substituição da floresta nativa pela monoculturag bet apostaseringueiras.

Cortada pela controversa rodovia Santarém-Cuiabá, a BR-163, Belterra, com cercag bet aposta17 mil habitantes, está inserida num polo regionalg bet apostaprodução da oleaginosa que se expandiu nos últimos 20 anos.

O aposentado Francisco Bezerra Oliveira, 80 anos, conhece bem a históriag bet apostase tentar, sem sucesso, fazerg bet apostaBelterra um laboratório a céu abertog bet apostaproduçãog bet apostaborracha natural. Ele conta que seus pais vieram com a família do Ceará, atraídos por essa promessa não cumpridag bet apostaprogresso para a Amazônia.

Entre passado e presente, o aposentado também busca traçar um paralelo pela experiênciag bet apostavida. "Assim como aconteceu com as seringueiras, a soja também não vai dar certo", opina. "O solo não é apropriado", acrescenta, destacando a necessidadeg bet apostauma grande quantidadeg bet apostaprodutos químicos para viabilizar os plantios. Ele diz que a riqueza da Amazônia está nag bet apostaflorestag bet apostapé.

"O solo é apropriado à floresta", reforça ao reclamar que o desmatamento da região, também associado à expansão da soja, contribui para o desaparecimento das abelhas eg bet apostamuitas outras espécies.

O aposentado diz conhecer famílias que sofrem diretamente “os efeitos dos jatosg bet apostaveneno” da pulverizaçãog bet apostaagrotóxicos, precisando vedar janelas e outras entradasg bet apostaarg bet apostasuas casas durante essas aplicações nas plantações no entorno.

Mas reclama da faltag bet apostafiscalização eg bet apostamobilização da sociedade para enfrentamento mais enérgico do problema.

Lamenta, ainda, que, historicamente, seja recorrente na Amazônia a concessãog bet apostaterras públicas para plantiog bet apostaculturas que não são nativas da região.

Sua visão crítica se reflete nas músicas e paródias que gostag bet apostacriar. Ao violão entoa: "...A soja plantada, a mata sumindo e o povo assistindo sem nada fazer”. Outros versos dão o tom do entendimento da interface entre desmatamento e o agravamento da crise climática: "Motosserra zoando e o clima só faz aquecer....".

O aposentado reconhece que existem leis para a salvaguarda da natureza, mas que não estão sendo cumpridas devido aos inúmeros interesses econômicos e políticos envolvidos. Suas ideias também se transformamg bet apostaversos críticos que soam ao violãog bet apostaquestionamento: "... A lei protege, mas que proteção é essa, se o trator e a motosserra todo dia fazem festa?....".

A reportagem manteve contatos com o prefeitog bet apostaBelterra, Jociclélio Castro Macedo, e com a assessoriag bet apostaimprensa da ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina. Mas, até a publicação desta reportagem, não houve retorno às solicitaçõesg bet apostaentrevistas para discutir possíveis soluções para os problemas relatados.

A reportagem contou com o apoio do Amazon RJF e do Pulitzer Center.

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