Coronavírus: se saídaroleta giratóriaMandetta representar 'mudança radical', podemos ter 'caos', dizem especialistas:roleta giratória

Jair Bolsonaro e Nelson Teich

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Jair Bolsonaro anunciou que Nelson Teich é o novo ministro da Saúde

Primeiro, porque a pandemia ainda caminha para seu pico no país, e uma mudança na políticaroleta giratóriaenfretamento ao novo coronavírus pode,roleta giratóriavezroleta giratóriaachatar a curvaroleta giratóriacontágio como se pretendia, levar a uma proliferação descontrolada do númeroroleta giratóriacasos e a um colapso do sistemaroleta giratóriasaúde, como ocorreu na Itália e na Espanha.

Por isso, estes especialistas esperam que a mudançaroleta giratóriacomando na pasta não signifique uma mudança radical nas açõesroleta giratóriacombate à pandemia,roleta giratóriaespecial no que se refere às medidasroleta giratóriaisolamento social.

"Todos os dados indicam que ainda estamos caminhando para o pico, estamosroleta giratóriafranca expansão do númeroroleta giratóriacasos. Se houver uma mudança na política contra aglomerações, isso pode prejudicar o desfecho da pandemia", diz Fernando Spilki, presidente da Sociedade Brasileiraroleta giratóriaVirologia.

O infectologista Marcos Boulos, professor da Faculdaderoleta giratóriaMedicina da Universidaderoleta giratóriaSão Paulo (USP), diz não ter dúvidasroleta giratóriaque um afrouxamento das medidasroleta giratóriaisolamento culminará no colapso do sistemaroleta giratóriasaúde do país.

"Se o presidente ficar feliz por ter tirado quem lhe fazia sombra e continuar a fazer o que estava sendo feito, não haverá problema. Porque o mundo já deixou claro que não há novidade aí: o que temosroleta giratóriafazer é tirar as pessoasroleta giratóriacirculação", diz Boulos.

"Se isso não acontecer, a curva (de contágio) que estava se achatando e chegando próximo do pico para depois diminuir vai voltar a aumentar, e não vai haver estruturaroleta giratóriasaúde suficiente para dar conta da situação."

Mandetta cometeu falhas, mas 'ouviu a ciência'

O momento também é inadequado para a troca, na avaliação dos especialistas ouvidos pela reportagem, porque Mandetta vinha tomando decisões corretas do pontoroleta giratóriavista técnico.

Luiz Henrique Mandetta

Crédito, EPA

Legenda da foto, Mandetta foi demitido após entrarroleta giratóriaembates com o presidente

Estes especialistas afirmam, porém, que nem sempre o ex-ministro agiu da forma ideal, especialmente antesroleta giratóriaa pandemia atingir o Brasil.

Naquele momento, Mandetta tratou com cautela a adoçãoroleta giratóriamedidas, ao dizer, por exemplo que o Brasil não aplicaria as mesmas "medidas pirotécnicas da China", referindo-se à quarentena imposta a cidades inteiras pelo governo chinês, e que a covid-19 seria uma doença "com a qual teríamos que conviver".

"Houve falhas na preparação e na prevenção. Poderia ter sido pensado antesroleta giratóriacomo a doença chegaria aqui, os testes que seriam necessários, como identificar pessoas suspeitas e encontrar quem tivesse entradoroleta giratóriacontato com elas e fazer seu isolamento", avalia Eduardo Sprinz, chefe do serviçoroleta giratóriainfectologia do Hospitalroleta giratóriaClínicasroleta giratóriaPorto Alegre.

Mas, diante do aumento do númeroroleta giratóriacasos, Mandetta mudouroleta giratóriapostura e passou a defender o isolamento social como uma medida essencial para conter a propagação do vírus.

"Acho que o ministro foi bastante moderado emroleta giratóriaconduta e postergou certas medidas que poderiam ter sido tomadas desde o começo, mas depois fez o que achou que era necessário, porque percebeu que a situação estava tomando proporções maiores do que deveria", diz o infectologista Benedito da Fonseca, professor da Faculdaderoleta giratóriaMedicinaroleta giratóriaRibeirão Preto da USP.

"Mas o Brasil é um país muito grande e diverso, e tomar estas decisões é mesmo difícil. Não dá pra acertar 100% do tempo."

Sprinz afirma que, quando a epidemia chegou, Mandetta "ouviu a ciência". "Talvez, no Brasil, as coisas sejam assim: é preciso sentir o perigo na carne para tomar as atitudes corretas", afirma o infectologista.

Spilki recorda que, depoisroleta giratóriaassumir o cargo, Mandetta chegou a fazer declarações "dúbias" que colocavamroleta giratóriaxeque a importância do Sistema Únicoroleta giratóriaSaúde (SUS).

"Mas depois ele vestiu o colete do SUS e demonstrou a importância do sistema para o controleroleta giratóriauma criseroleta giratóriasaúde pública como essa", diz o virologista.

Boulos destaca que, assim como Teich, Mandetta também não tinha grande experiência com saúde pública e era visto mais como um político e um empresário do setor do que como um gestorroleta giratóriasaúde pública. Mas o infectologista diz que o agora ex-ministro se cercouroleta giratóriapessoas com perfil técnico que o assessoraram bem ao longo da pandemia.

"Essa base que o Mandetta montou deu suporte a ele. O que era falado por ele tinha coerência com o que estava sendo feito no mundo todo", diz Boulos.

Transição e manutenção do isolamento

Por isso, será essencial agora que haja uma boa transição entre as equipesroleta giratóriaMandetta e Teich.

"É importante que, no combate a esta pandemia, haja memória, que as coisas que estão sendo feitas sejam transmitidas para a nova equipe, para que haja alguma continuidade e nada seja perdido", diz Sprinz.

Profissionaisroleta giratóriasaúde

Crédito, AFP

Legenda da foto, Isolamento social tem sido fundamental para conter propagação do vírus no país, dizem especialistas

E também que as decisões do ministério continuem a ser tomadas com baseroleta giratóriainformações científicas e técnicas, diz Fonseca.

"Não conheço o próximo ministro, mas minha expectativa e desejo pessoal como pesquisador é que ele se cerqueroleta giratóriapessoas técnicas e que as estratégias definidas até o momento sejam mantidas. Se temos hoje uma epidemia com um númeroroleta giratóriacasos que é pequeno, mas aceitável, é porque essas medidas estavam dando resultado", afirma o infectologista.

Se isso acontecer, a trocaroleta giratóriaministros não terá muito impacto, diz Fonseca. "Só não podemos afrouxar o isolamento social neste momento, senão a doença pode se espalhar por todo o território nacional, e vai demorar muito mais tempo para a gente conseguir conter e vamos terroleta giratóriatomar medidas mais drásticas adiante."

Os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil destacam ainda que, diante das crescentes objeções do Planalto às medidasroleta giratóriadistanciamento social, os Estados tiveram um papel importante na aplicação desta estratégia — um papel que ganhará ainda mais relevância caso haja uma mudançaroleta giratóriapolítica no Ministério da Saúde.

"O ministério vinha dando o arcabouço técnico para o Estados. A depender do que virá, o que ainda é uma incógnita, pode haver conflitoroleta giratóriadiscursos, e a manutenção do isolamento dependerá cada vez mais da perseverança dos Estados", diz Spilki.

Antes, havia um certo alinhamento entre os Estados e o Ministério da Saúde, diz Boulos. Mas uma mudança no comando do ministério pode levar a ainda mais divergências entre o governo federal e os governos estaduais, o que pode agravar a pandemia.

"Se a orientação que parte do ministério mudar, por exemplo, para a adoçãoroleta giratóriaum isolamento vertical, isso não vai ser seguido pela maioria dos Estados, porque o Judiciário já disse que eles têm autonomia para decidir como agir. Mas alguns podem seguir o governo, e, como as fronteiras não são virtuais, um Estado vai contaminar o outro. Vai ser o caos."

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