Como o crime organizado brasileiro se apoderou das principais rotas do tráfico na América do Sul:roletagratis

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Legenda da foto, Marcos Camacho, o Marcola, é o líder do PCC e hoje está preso numa unidaderoletagratissegurança máxima

O poder do PCC dentro das prisões era conhecido, mas foi a primeira vez que a facção demonstrouroletagratisforça e espalhou a violência nas ruas com aquela dimensão.

Hoje, quase 15 anos após esses eventos e quase 30 desderoletagratiscriação nos anos 1990, o PCC não é apenas hegemônico no Brasil mas também na América do Sul.

Essa avaliação está presente tantoroletagratisrelatórios quanto na opiniãoroletagratisacadêmicos consultados pela BBC Mundo, o serviçoroletagratisespanhol da BBC.

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Legenda da foto, Ônibus incendiado durante ondaroletagratisataques do PCCroletagratisSão Paulo,roletagratis2006

O PCC e outras organizações criminosas poderosas, como Comando Vermelho (CV) e a Família do Norte (FDN), primeiro controlam as prisões e depois o comércioroletagratisdrogasroletagratisvários Estados brasileiros. Então, eles expandem seu poder para fora do Brasil e dominam várias rotas do narcotráfico, seu negócio mais lucrativo.

Tudo graças à fragmentação do comércioroletagratisdrogas e ao desaparecimento dos grandes cartéis dos anos 1980, à dificuldade dos Estadosroletagratiscontrolar o narcotráfico e ao aumento da população carcerária, que alimentou as fileiras do PCC eroletagratisoutras organizações criminosas no Brasil.

Recrutamento na prisão

O PCC nasceu no início dos anos 1990roletagratisuma prisãoroletagratissegurança máximaroletagratisSão Paulo. Surgiu com o objetivoroletagratismelhorar as más condições que os prisioneiros alegavam sofrer.

"A criação do PCC melhorou a qualidaderoletagratisvidaroletagratismuitos prisioneiros, que encontraram proteção pagando uma taxa mensal", disse Carolina Sampó, coordenadora do CentroroletagratisEstudos Transnacionais do Crime Organizado, à BBC.

Da mesma forma, o CV, a segunda organização mais poderosa do Brasil, foi criado na décadaroletagratis1970.

"Progressivamente, esses grupos aumentaram suas fileiras. Isso contribuiu com o aumento da população prisional e a deterioração das condições na prisão. O PCC e o CV se tornaram uma garantiaroletagratissegurança e bem-estar", disse à BBC Mundo Marcos Alan Ferreira, professorroletagratisRelações Internacionais da Universidade Federal da Paraíba.

Sampó acrescenta que uma política "errada" do governo federal também incentivou o crescimento desses grupos.

"Os presos foram transferidos para outras prisões para conter o crime, e tudo o que conseguiram foi multiplicar o problema", disse a pesquisadora.

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Legenda da foto, As facções primeiro controlam prisões, depois bairros e por fim as rotasroletagratisdrogas

Com maisroletagratis750 mil prisioneiros, o Brasil tem a terceira maior população carcerária do mundo, logo atrás dos Estados Unidos e da China, segundo dados do Departamento Penitenciário Nacional.

Depoisroletagratisdeixarem as prisões, os membros desses grupos se estabeleceram na periferia das cidades mais populosas. O Comando Vermelho se estruturou principalmente no RioroletagratisJaneiro, e o PCCroletagratisSão Paulo, embora hoje tenha membrosroletagratisquase todos os Estados.

Segundo um relatório escrito por Sampó para o Elcano Royal Institute,roletagratis2019, o PCC tem maisroletagratis29 mil membros, dos quais cercaroletagratis7 mil estão presos.

Gradualmente, eles dominaram territórios, e isso levou à proliferação do narcotráfico. Outros negócios desses grupos incluem o contrabandoroletagratiscigarros e produtos eletrônicos. Mas a maioriaroletagratisseus fundos vem da vendaroletagratisdrogas.

"O grauroletagratispobreza e desigualdade da sociedade brasileira também incentivou a penetração desses grupos. Em muitas áreas carentes, eles não são vistos com maus olhos. De certa forma, eles inclusive organizaram os bairros e contribuem para a diminuição da violência", diz Ferreira.

No entanto, embora tenham estabelecido pactosroletagratisnão violência, tanto o CV quanto o PCC e outras facções criminosas menores enfrentaram guerras violentas para adquirir maior controle territorial e favorecer suas redesroletagratistráficoroletagratisdrogas.

Nessas guerras, o PCC está vencendo. "Sua ambição permitiuroletagratisexpansão tanto dentro como fora do Brasil", diz Sampó.

Negócios transnacionais

Vários relatórios indicam que o PCC tem hoje o domínio absoluto da "rota caipira", que sai do Peru e da Bolívia, passa pelo Paraguai e termina no Brasil.

Peru e Bolívia são produtores proeminentesroletagratisfolharoletagratiscoca, e o Paraguai,roletagratismaconha.

O mercado brasileiroroletagratisdrogas é muito lucrativo para essas organizações,roletagratisacordo com acadêmicos consultados pela BBC Mundo. Relatórios da Organização dos Estados Americanos e das Nações Unidas indicam que é um dos países líderesroletagratisusoroletagratiscocaína e maconha no mundo.

Além disso,roletagratisextensão é responsável por quase metade da América do Sul, cujo longo litoral serve como portoroletagratispartida para a droga ser enviada para outros continentes, alémroletagratissuas vastas florestas e fronteiras que dificultam o trabalho das autoridades.

"Esses grupos criminosos são autênticas empresas. Sua expansão tem motivos econômicos, reduzindo custos. Eles estão estabelecidos no Paraguai e na Bolívia e,roletagratismenor grau, no Peru, porque é lá onde é produzida (a droga)", explica Sampó.

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Legenda da foto, O PCC monopoliza a rota caipira, um dos principais corredoresroletagratiscocaína do continente

A pesquisadora acrescenta que a fragmentação do negócioroletagratisdrogas no continente favoreceu o papel do CV e do PCC.

"O desaparecimento dos cartéisroletagratisMedellín e Cali deixou espaço para outros atores, menos piramidais, cuja organização é horizontal e complexa e, portanto, mais difícilroletagratisrastrear", continua Sampó.

"O PCC leva a droga ao longo dessa rota caipira e a deixaroletagratisportos brasileiros, onde as máfias europeias a levam ao continente, à África e até à Ásia", explica Ferreira.

A penetraçãoroletagratisoutros países vizinhos não só serviu na busca por recursos logísticos, mas também humanos.

Na Bolívia e no Peru, foi estabelecido um contato direto com os plantadoresroletagratiscoca, segundo Sampó.

O PCC, uma vez dentroroletagratisoutros países, recrutou criminosos locais, especialmente no Paraguai, "um país com uma grande população carcerária brasileira", disse a pesquisadora.

Infiltrados

Em janeiroroletagratis2020, uma fugaroletagratis75 presos ligados ao PCC por meioroletagratisum túnelroletagratisuma prisãoroletagratisPedro Juan Caballero, na fronteira do Paraguai com o Brasil, ganhou várias manchetes na imprensa internacional.

Desses 75, 40 eram brasileiros.

A fuga, juntamente com o chamado "roubo do século"roletagratis2017, quando 50 assaltantes atracaram a sede da Prosegur e levaram US$ 40 milhões (R$ 180 milhões), são um termômetro da penetração do PCC no Paraguai.

No dia seguinte à fuga, a ministra da Justiça do Paraguai, Cecilia Pérez, disse que havia "uma forte suspeitaroletagratisque autoridades estivessem envolvidas no esquemaroletagratiscorrupção".

Com o que concorda Arnaldo Giuzzio, ministro da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad).

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Legenda da foto, O governo paraguaio reforçou a segurança da prisãoroletagratisPedro Juan Caballero após a fuga dos presos

"Não há como essa fuga ser realizada sem a colaboraçãoroletagratisagentes penitenciários. É uma situação preocupante", afirmou eleroletagratisentrevista à BBC Mundo.

Giuzzio chamou a atenção para a luta pelo poder do PCC e também do CV no Paraguai e disse que as áreas mais críticas são nas fronteirasroletagratisPedro Juan Caballero e Capitán Bado.

Em 2017, o Paraguai produziu até 1.289 toneladasroletagratismaconha, o que o tornou líder na produção sul-americana, segundo dados do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes.

"O segundo Estado mais ativo do PCC é o Mato Grosso do Sul. E não é por acaso. É o mais próximo do Paraguai, onde eles controlam grande parte da produçãoroletagratismaconha", diz Ferreira.

O acadêmico também aponta que a parceria com membros das forçasroletagratissegurança paraguaias facilitou a grande penetração do PCC no país.

Na Bolívia

A presença do PCC na Bolívia também é notória, e isso foi reconhecido pelas autoridades oficiais do país.

No início deste mês, José Dulfredo García, diretor geral do Regime Penitenciário da Bolívia, disse que "é um país muito desejável para o narcotráfico e que o PCC estava operando na área do Chapare".

No mesmo comunicado, Dulfredo solicitou a colaboraçãoroletagratisautoridadesroletagratisinteligência e outras agências para analisar a presença do PCC nas prisões e conhecer seus planos.

A declaração foi publicada após uma explosãoroletagratisuma cela na prisãoroletagratisMocoví,roletagratisTrinidad, norte da Bolívia, onde três presos morreram.

As autoridades apontaram como culpado Lucas Rosendi Zabala, um membro do PCC, que, segundo o governo, explodiu uma granadaroletagratisuma luta pelo poder.

A disputa pela rota amazônica

O domínio incontestável do PCC na rota caipira do sul é mais difuso no noroeste, nas fronteiras da Amazônia com Colômbia, Peru e Bolívia.

No inícioroletagratis2017, a rBBC News Brasil passou três dias nessa fronteira para mostrar a região por onde drogas e armas entram livremente no País. Na época, se todos os barcos do Exército estivessem na água ao mesmo tempo, cada um teriaroletagratisproteger uma árearoletagratis45 km.

Lá, o tráfico é mais distribuído. Tanto o Comando Vermelho quanto a Família do Norte e outros grupos criminosos locais impedem o domínio do PCC.

Esta é a disputa pela rota do rio Solimões, o principal corredorroletagratisdrogas na tríplice fronteira da Amazônia.

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Legenda da foto, O Peru é um dos maiores produtoresroletagratiscocaína do mundo

É uma área estratégica devido à proximidade com o Peru e a Colômbia, dois grande produtoresroletagratiscocaína.

"Além disso, é um lugar que, devido àroletagratisvegetação densa e grandes rios, se destaca pela logística especial. Não há muita polícia aqui que os controle", explica Ferreira.

"Nessa região, o tráfico é disputado entre as facções brasileiras, mas dividido entre os cartéis colombianos. Há mais concorrência. Não é como no sul, onde o PCC conquistou a rota relativamente fácil", acrescenta o acadêmico.

Sampó e Ferreira acreditam que a violenta luta entre as facções brasileiras não ocorrerá contra os cartéis colombianos, pelo menos no futuro próximo.

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Legenda da foto, O Primeiro Comando da Capital e o Comando Vermelho são as principais facções do narcotráfico no Brasil

"Eles escolheram ter um bom relacionamento com eles para vender as drogas o mais barato possível. É difícil rivalizar com os cartéis colombianos", diz Ferreira.

"Eles se preocupam primeiro com a hegemonia local e o controle das rotas na América do Sul. Ao norte, América Central e Estados Unidos, permanece o domínio dos cartéis colombianos e mexicano. Eles administram mercados diferentes", diz Sampó.

A pesquisadora não hesita, no entanto,roletagratisafirmar que o PCC é atualmente a organização criminosa mais poderosa da América do Sul, emboraroletagratispenetraçãoroletagratispaíses que não são produtoresroletagratisdrogas ainda seja limitada.

Algumas reportagens da imprensa atribuem crimes ao PCCroletagratispaíses como Uruguai e Argentina, mas Sampó descarta uma presença notável nessas regiões.

"São países que são mais um mercado comprador do que um centroroletagratisoperações. Portanto,roletagratispresençaroletagratisoutros países da América do Sul é menor", explica Ferreira.

"Não sabemos até onde eles podem chegar no futuro. No momento, mesmo que tenham contatos nesses países e operem com máfias européias, não acho que sejaroletagratisprioridade", conclui Sampó.

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