Falalivechat vbetGuedes sobre desmatamento contraria ciência e até 'mundo econômico'livechat vbetDavos, diz cientista:livechat vbet
"Esse discurso vai muito na contramão da tendência mundial, esse discurso [de Guedes] que parece defensivo: 'eu sou contra o desmatamento, mas é mais importante eliminar a pobreza', mas não é verdade."
A declaração do ministro foi dada quando ele comentava a relação entre indústria e meio ambiente. "O pior inimigo do meio ambiente é a pobreza. As pessoas destroem o meio ambiente porque precisam comer. Eles [pessoas pobres] têm todas as preocupações que não são as preocupações das pessoas que já destruíram suas florestas, que já lutaram suas minorias étnicas, essas coisas... É um problema muito complexo, não há uma solução simples", declarou Guedes.
A fala do ministro continuou a repercutir hoje e chegou a ser citada por Gorelivechat vbetreferência indireta durante o painel. "Hoje é amplamente entendido que o solo da Amazônia é pobre. Dizer às pessoas no Brasil que elas vão chegar à Amazônia, cortar tudo e começar a plantar, e que terão colheitas por muitos anos, isso é dar falsa esperança a elas. Há, sim, respostas para a Amazônia, mas não esta."
A repercussão negativa fez até Guedes tentar se explicar nesta quarta-feiralivechat vbetreunião com presidenteslivechat vbetmultinacionais.
Segundo reportagem do site do jornal Valor Econômico, o ministro da Economia disselivechat vbetencontro fechado à imprensa que na falalivechat vbetontem referia-se ao fatolivechat vbetque as maiores cobranças ao Brasil vinham justamentelivechat vbetpaíses que já destruíram suas florestas, por fome e desconhecimentolivechat vbetseus habitanteslivechat vbetoutras épocas, ou por ataques a minorias étnicas. Mas que nenhum país, nem o Brasil, quer ver suas florestas destruídas.
"Agora falei certo?", perguntou Guedes a interlocutores na saída da reuniãolivechat vbetque, segundo o jornal, havia executivoslivechat vbetempresas como Iberdrola, Enel, Mastercard e Corporación Améric.
Discurso defensivo
Nobre afirma que é possível perceber "claramente" que o mundo empresarial global se preocupa cada vez mais com a questão ambiental.
"O mundo econômico está muito preocupado que, nessa trajetórialivechat vbetque nós vamos, o meio ambiente está ameaçado e o mundo dos negócios está ameaçado."
Ele acrescenta que, cada vez mais, fala-se no mundo empresariallivechat vbetdeforestation-free supply chains, algo que poderia ser traduzido amplamente como a preocupação com o impacto sobre as florestas dos produtos utilizados nas cadeiaslivechat vbetsuprimentos das grandes empresas.
"Já é uma boa notícia. Muito melhor isso do que alguém dizer, como disse nosso ministro da Economia, que o desmatamento é necessário para acabar com a pobreza na Amazônia. Pelo menos esse não é o discurso dos CEOs, das grandes corporações mundiais."
O cientista cita como exemplo da mudançalivechat vbetfoco o fatolivechat vbetque,livechat vbetseu 15º Relatório Globallivechat vbetRiscos, publicado neste ano, o Fórum Econômico Mundial afirma que, pela primeira vez desde que se começou a publicar o documento, todos os "principais riscoslivechat vbetlongo prazolivechat vbetrelação à probabilidade" são ambientais.
Carlos Nobre tem amplo conhecimento do tema: ele é um dos principais cientistas brasileiros e tem importante papel como pesquisador sênior do Institutolivechat vbetEstudos Avançados (IEA) da USP.
Embora tenha se formadolivechat vbetengenharia pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA),livechat vbet1974, interessou-se pela área do meio ambiente desde o quarto ano do curso. Ingressoulivechat vbet1975 no Instituto Nacionallivechat vbetPesquisas da Amazônia (INPA),livechat vbetManaus, e liderou a implementação do Experimentolivechat vbetGrande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), complexo conjuntolivechat vbetmaislivechat vbet100 estudos multidisciplinares e integrados, voltados para entender o funcionamento dos ecossistemas amazônicoslivechat vbetfunção das alterações do clima e das provocadas pelo uso da terra.
Preocupação com incêndios da Austrália
Alémlivechat vbetdebater no painellivechat vbethoje, Nobre foi um dos integranteslivechat vbetum painel ontemlivechat vbetDavos sobre os efeitos dos incêndios na Austrália sobre o clima global. Nobre diz que, embora incêndios sazonais sejam comuns na Austrália, a frequência e a ferocidade do fogo nos últimos anos alarmaram a comunidade internacional, inclusive as lideranças econômicas.
Na apresentaçãolivechat vbetontem,livechat vbetque ele participoulivechat vbetdebate ao lado do ministro das Finanças da Austrália, Mathias Cormann, ele disse que é perceptível a mudança do tom do governo australianolivechat vbetrelação ao que se via até pouco tempo por parte do primeiro-ministro, Scott Morrison, que defende o setor do carvão independentemente dos efeitos sobre a natureza.
"Alguém pode falar 'ah, mas não é a mudança climática que causa incêndios. Os incêndios na Austrália são fenômenos naturais, causados por descargas elétricas que começam o fogo na vegetação seca, e essa vegetação seca, especialmente os eucaliptos, são totalmente adaptadas aos incêndios do passado'", diz.
"A comunidade aborígene da Austrália há 16 mil anos aprendeu a controlar os incêndios, eles monitoram, não deixam explodir. Mas isso eles sabiam sobre os incêndios do passado. Não os incêndios que estão se repetindo com essa velocidade, e com a ferocidade do que vimos esse ano, que foi recorde", afirmou. "Até o ministro das Finanças reconheceu que as mudanças climáticas estão tornando o problema mais grave, e isso já é um progresso muito grande."
'Desmatamento não tira ninguém da pobreza'
Nobre enfatizou que, na ciência ou na história da ocupação da Amazônia, jamais se observou alguma correlação entre o aumento do desmatamentolivechat vbetflorestas e a redução da pobreza.
"Não há nenhuma evidência científicalivechat vbetnenhum estudo que o desmatamento da Amazônia acabou com a pobreza. A Amazônia continua a região mais pobre do Brasil", afirmou.
Ele destaca que, por décadas, desde os anos 70, a estratégia do Brasillivechat vbetrelação à Amazônia foi alivechat vbetlevar pessoas para lá com o intuitolivechat vbetocupar os espaços para proteger território, inclusive estimulando o desmatamento por meiolivechat vbetfinanciamentos e crédito.
"Para liberar o empréstimo no banco tinha que mostrar a área desmatada. Foram levadas as pessoas para desmatar. Você pergunta: a preocupação do governo militar era reduzir a pobreza? Não. A preocupação do governo militar era o medo que eles têmlivechat vbetuma invasão internacional", diz.
"O modelo não avançou, transferiu pobrezalivechat vbetum lugar para outro. Aí as críticas internacionais [sobre o desmatamento] começaram a aumentar demais, e já na redemocratização, a partir do governo Sarney,livechat vbet1989, já começa a mudar essa regra. Nos anos 1990 pararam o financiamento para desmatamento. Nos anos 1990, por conta da pressãolivechat vbetfunção do desmatamento, o [ex-presidente] Fernando Henrique Cardoso aumentou para 80% a exigêncialivechat vbetpreservação da floresta."
"As populações amazônicas que vivem no campo elas continuam pobres, tanto na Amazônia quanto na maioria dos paíseslivechat vbetfloresta tropical. Na África, a expansão e o crescimento demográfico estão afetando as florestas, mas eles continuam muito pobres. Mais pobres até quelivechat vbetqualquer outro lugar dos trópicos. Então não existe correlação entre eliminação da pobreza da população como um todo e desmatamento. Não existe no sudeste asiático, não existe na África e não existe na Amazônia."
Para o climatologista, a estratégialivechat vbetinvocar a redução da pobrezalivechat vbeteventos do porte do fórumlivechat vbetDavos tampouco é nova.
"Eu tenho 68 anos, eu nunca vi na minha vida nenhum presidente do Brasil, inclusive no regime militar, que não dissesse que a principal preocupação dele era a redução da pobreza. É, lógico, um país pobre como o Brasil, que nunca se tornou desenvolvido,livechat vbetque 50% da população são pobres, que o presidente tem que falar isso. Todos falam."
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