'Fui xingada nas redes sociais por resgatar um pombo ferido':2apply betspeed
Sua postagem viralizou. Foram mais2apply betspeed71 mil curtidas e quase 15 mil compartilhamentos no Twitter. Muitas pessoas elogiaram2apply betspeedatitude. Porém, ela também recebeu inúmeras críticas e ofensas.
"As pessoas me xingaram, me chamaram2apply betspeedporca e várias outras coisas feias. Falaram que pombo tem várias doenças e que não deveria ter resgatado. Preferi não responder, mas fiquei assustada com esse tipo2apply betspeedreação", diz Anna Carolina.
Os comentários que associam pombos a perigos à saúde e a transmissão2apply betspeeddoenças são comuns. No entanto, pessoas que criam ou defendem essas aves afirmam que isso é fruto2apply betspeedpreconceito e desinformação.
"Não existe nada que diga que pombos podem transmitir mais enfermidade que outros animais", diz a ativista Fernanda Juliana,2apply betspeed39 anos, que criou o projeto "Salvem as pombas". "As chances2apply betspeedalguém ficar doente por causa2apply betspeedum pombo são as mesmas chances2apply betspeedficar doente por conta2apply betspeedum cachorro ou gato2apply betspeedcasa. Até os humanos podem transmitir doenças."
Anna Carolina, que já cria dois passarinhos, manteve o pombo2apply betspeedum viveiro em2apply betspeedcasa. Ela diz que não teve medo2apply betspeedcontrair uma doença. "Não é cuidando2apply betspeeduma ave que vou ficar doente. Não tive nenhum sintoma. Não tenho motivos para me preocupar."
Sem resposta se o animal teria um dono, ela decidiu libertá-lo.
'Doença do pombo'
Estudos apontam que fezes2apply betspeedpombos podem transmitir, ao serem inaladas, fungos do gênero Cryptococcus, responsáveis por doenças como criptococose (infecção pulmonar) e neurocriptococose (infecção no sistema nervoso central).
Mas pesquisas indicam serem raros os casos2apply betspeedcontato com os excrementos2apply betspeedpombo que levam à criptococose ou outras doenças. "A grande maioria dos indivíduos expostos não adoece, porque a resistência natural a estas doenças é elevada entre os humanos", aponta um parecer técnico divulgado2apply betspeed2018 pela Sociedade Brasileira2apply betspeedInfectologia (SBI).
Estas doenças atingem mais comumente pessoas com a imunidade debilitada, como pacientes com Aids, causada pelo vírus HIV, e quem recebeu algum tipo2apply betspeedtransplante. Ambas podem evoluir para quadros graves e levar à morte.
Mesmo assim, a criptococose e a neurocriptococose são conhecidas popularmente como "doenças do pombo". O médico veterinário Daniel Vilela, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama)2apply betspeedMinas Gerais, diz, no entanto, que não existe uma "doença do pombo" propriamente dita. "É importante deixar claro que há outras formas2apply betspeeduma pessoa contrair a criptococose", afirma Vilela.
Os fungos Cryptococcus estão presentes nas fezes2apply betspeedoutras aves,2apply betspeedfrutas apodrecidas ou2apply betspeedmateriais orgânicos2apply betspeeddecomposição. Entre outras enfermidades causadas por fungos ou bactérias transmitidas pela inalação das fezes2apply betspeedaves, estão histoplasmose, salmonelose e doenças alérgicas.
Vilela explica que o contato com o animal2apply betspeedsi também não costuma levar à transmissão2apply betspeeddoenças e que, mesmo quando há fezes2apply betspeedum local, uma higienização correta elimina os riscos. Em ambientes fechados, onde as aves se abrigam, as chances2apply betspeedcontaminação são maiores. "Mas isso aconteceria com qualquer animal, não apenas com pombos", afirma Vilela.
O infectologista Hélio Bacha diz que a classificação da criptococose ou neurocriptococose como "doenças2apply betspeedpombos" é equivalente a dizer que a toxoplasmose é uma doença2apply betspeedgatos.
"A toxoplasmose pode ser transmitida pelas secreções2apply betspeedgatos. Mas o gato não é a única fonte, porque também pode ser transmitida2apply betspeedoutras formas, como por água contaminada ou pela carne", afirma o infectologista.
"Os fungos responsáveis por estas doenças estão presentes nas fezes dos pombos, mas não necessariamente vão ser passados para as pessoas."
2apply betspeed Preconceito leva 2apply betspeed à 2apply betspeed 'guerra contra os pombos'
Um dos principais motivos para que os pombos sejam mais associados a doenças, segundo estudiosos, é o fato2apply betspeedque estarem presentes2apply betspeedgrandes números nas cidades, principalmente nas regiões centrais, onde há muitos restos2apply betspeedalimentos.
Pombos domésticos costumam se alimentar destes resíduos e sementes naturais e comida dadas pelas pessoas às aves. "Esses pombos existem onde há humanos. É um animal que foi domesticado, ao menos, desde a Idade Média. Houve uma seleção muito grande, e eles passaram a conviver muito perto2apply betspeedhumanos, o que acabou com as características selvagens deles", diz Vilela.
O veterinário afirma que o pombo doméstico é completamente diferente dos demais sob o ponto2apply betspeedvista genético e adaptativo. "Ele não consegue mais fazer ninho na árvore, somente2apply betspeedlocais como casas e prédios. Eles têm dificuldades2apply betspeedambientes naturais", explica.
Bacha ressalta que a ligação destas doenças com os pombos no imaginário popular é uma "simplificação rasteira que pode levar a uma guerra contra essas aves". É o que também apontam ativistas, para quem a associação2apply betspeedpombos a estas doenças é um desserviço que leva a retaliações contra estes animais.
"Muita gente acredita que o pombo é um 'rato2apply betspeedasas' ou uma praga urbana, mas isso não é verdade. Sempre que saem notícias sobre pessoas que morreram pela 'doença do pombo', começa uma histeria coletiva, e muitos pombos são mortos", afirma Fernanda Juliana.
De acordo com a Lei2apply betspeedCrimes Ambientais, quem ferir animais pode ser punido com três meses a um ano2apply betspeedprisão, além2apply betspeedmultas. "Normalmente, as pessoas pagam cestas básicas, e fica tudo bem", diz a ativista, que defende penas mais duras para casos assim.
A ativista Fernanda Juliana destaca que algumas autoridades já chegaram a declarar guerra aos pombos e estudaram medidas para exterminá-los, por considerar que a presença dos animais poderia trazer inúmeras doenças para a população.
"Muitas prefeituras querem tomar medidas para tirar os pombos das praças. Mas isso não é correto. O correto é higienizar os lugares adequadamente. As pessoas precisam2apply betspeedmais informações sobre esses animais, para que não pensem que a alternativa correta é fazer mal para eles", diz a ativista.
A SBI orienta, no entanto, que pombos não sejam capturados e mortos para controlar2apply betspeedpopulação e prevenir a criptococose ou a histoplasmose.
"Não há embasamento científico ou técnico na literatura mundial que justifique tal prática. As populações humanas2apply betspeedgrandes capitais2apply betspeedpaíses europeus convivem por séculos com uma enorme população2apply betspeedpombos, e nunca foram observados surtos2apply betspeedcriptococose ou2apply betspeedhistoplasmose ou2apply betspeedmomento algum se executou a matança2apply betspeedanimais", afirma a entidade2apply betspeedseu parecer.
Quando um pombo recebe alimento2apply betspeeddeterminado lugar, a tendência é que aquele local logo passa a receber mais aves. "Se costumavam aparecer dez pombos ali, quando eles são alimentados, o número logo dobra ou triplica", diz Vilela.
Por isso, a SBI recomenda, para evitar a concentração2apply betspeedpombos2apply betspeedcertos locais, não alimentá-los nem deixar restos2apply betspeedalimentos ao seu alcance. "A alimentação deve ser controlada, utilizando estratégias como aplicação2apply betspeedcontraceptivos para controle populacional, que não causam danos à ave", orienta a entidade.
Vedar frestas e espaços que conduzam a telhados ou porões e criar barreiras físicas2apply betspeedlocais2apply betspeedque essas aves possam empoleirar também evitam concentrações. Quando houver acúmulo2apply betspeedfezes, a indicação é umedecer os excrementos antes2apply betspeedlimpá-los, para evitar a formação e inalação2apply betspeedpoeira que possa estar contaminada com fungos e usar uma máscara facial descartável.
Especialistas reforçam que a preocupação com pombos deve ser semelhante à presença2apply betspeedum grande número2apply betspeedanimais2apply betspeedqualquer espécie, cujos excrementos também podem,2apply betspeedalguns casos, transmitir doenças. "Se tivéssemos uma quantidade grande2apply betspeedcachorros ou gatos, como temos dos pombos, os riscos seriam os mesmos", diz Vilela.
'Já perdi a conta2apply betspeedquantos pombos resgatei'
A publicitária Brena Braz costuma resgatar pombos. Há sete anos, ela cuida2apply betspeedaves machucadas, faz o tratamento adequado com acompanhamento veterinário e depois os liberta. "Já perdi as contas2apply betspeedquantos resgatei. Neste ano, acho que foram uns 20", diz Brena, que tem um canal sobre aves no YouTube.
Em meio a um dos resgates, ela se encantou por um pombo e decidiu criá-lo. "O Titi é praticamente um cachorro. Ele anda atrás2apply betspeedmim o dia inteiro e pede carinho", diz Brena.
Ela diz nunca ter tido contraído uma doença que possa ter sido causada por aves e afirma serem comuns2apply betspeedseu canal comentários2apply betspeedpessoas que dizem ter perdido o medo2apply betspeedpombos. "Muitas falam que agora querem um pombo ou que mudaram completamente2apply betspeedvisão. Pombos são aves muito dóceis, espertas e limpas. Adoram água. E não comem ração se tiver suja."
No entanto, a SBI orienta que se evite criar pombos2apply betspeedcasa. Mas Vilela diverge desta recomendação. "É tranquilo criar pombo2apply betspeedcasa. Há vários criadores no Brasil. Isso é muito difundido2apply betspeedoutros países, não tanto por aqui", diz o vetenrinário.
"O fato2apply betspeedser pombo não implica necessariamente2apply betspeedrisco sanitário. O importante é haver a higienização adequada após o contato com o animal e encaminhá-lo para atendimento veterinário."
Desde que deu início ao projeto "Salvem as pombas" e começou a compartilhar informações nas redes sociais, a ativista Fernanda Juliana afirma que passou a receber diversos pedidos2apply betspeedorientações2apply betspeedpessoas que querem,2apply betspeedalguma forma, ajudar estas aves.
"É importante ver essa mudança2apply betspeedconsciência. Já fui a vários países para tentar entender como tratam essa causa e como é a questão do preconceito. Precisamos acabar com a desinformação e o preconceito2apply betspeedrelação aos pombos."
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