Vik Muniz sobre política cultural do governo Bolsonaro: 'É só destruição, é só desmantelamento':blaze giro diario

Vik Muniz durante cerimôniablaze giro diarioque foi premiado no Fórum Econômico Mundial

Crédito, Monika Flueckiger/World Economic Forum

Legenda da foto, Vik Muniz foi premiado no Fórum Econômico Mundial

Conhecido pelo experimentos que faz com materiais inusitados, como recriaçãoblaze giro diarioobras clássicas com feijão, açúcar, geleia e até lixo, Muniz é também reconhecido pelo forte engajamento social do seu trabalho.

É criadorblaze giro diariouma escola que oferece arte e educação para crianças carentes do Morro do Vidigal, no Rioblaze giro diarioJaneiro; visita camposblaze giro diariorefugiados e envolveu uma comunidadeblaze giro diariocatadores na produçãoblaze giro diarioobras feitas com material reaproveitado do lixo. O filme sobre a atuação deles e comoblaze giro diariovida mudou, Lixo Extraordinário, concorreu ao Oscarblaze giro diariomelhor documentário.

Muniz diz que suas obras não surgem a partirblaze giro diarioopiniões políticas, porque isso "não é muito ambicioso". "No máximo posso mostrar as coisas que estão acontecendo e apresentá-lasblaze giro diariouma forma que as pessoas possam refletir por si mesmas", afirma.

O artista plástico, que divide seu tempo entre os estúdios que tem no Rioblaze giro diarioJaneiro eblaze giro diarioNova York, diz que a repercussão da situação política do Brasil no exterior hoje é "vergonhosa". Nesta semana, quando estava no Rioblaze giro diarioJaneiro, conversou por telefone com a BBC News Brasil.

Leia abaixo trechos selecionados da conversa.

blaze giro diario BBC News Brasil - Você é conhecido pelo seu engajamento, não só falandoblaze giro diariotemas como o lixo, refugiados, trabalho infantil, mas envolvendo as questões na produção. Você considera ablaze giro diarioarte política? Acha que a arte tem que necessariamente ser crítica ao momento históricoblaze giro diarioque ela se insere?

blaze giro diario Vik Muniz - No momentoblaze giro diarioque você começa a criar a partirblaze giro diarioopiniões políticas você está reduzindo muito, você não está sendo muito ambicioso. Mas a arte é sempre política, não interessa como,blaze giro diarioonde ela começa. O artista tem como função criar ferramentas, instrumentos para que o homem tenha uma relação melhor com o ambiente que o cerca, seja ele natural, social, político.

Como cidadão eu tenho o papelblaze giro diariofazer a minha parte. Eu acho muito bom participar da vida do lugar onde você vive, estar com as pessoas, estar vivendo aquele lugar plenamente, não só convivendo com uma elite cultural. A vida é o materialblaze giro diariotrabalho que a gente mais utiliza.

A gente trabalha muito com a realidade. Talvez seja um problema fundamental que a gente enfrenta hojeblaze giro diariodia, esse déficit gigantesco com a realidade, que é o resultado da relação que a gente vem alimentando com ela atravésblaze giro diarionovas mídias. Isso é um fenômeno mundial, você começa a simplificarblaze giro diariouma forma sumária todas as questões complexas que nos afligem, como essa coisablaze giro diarioesquerda ou direita.

blaze giro diario BBC News Brasil - Você está falando das fake news?

blaze giro diario Muniz - Da confusãoblaze giro diariorelação à realidade que está gerando todo tipoblaze giro diarioproblema.

No Brasil essa onda chegou com muita força e que fez com que a gente esteja com um grupoblaze giro diariopessoas que, talvez por não terem sido expostas o suficiente a uma cultura plena, rica, elas não veem o valor que isso tem. Estou falandoblaze giro diarioculturablaze giro diariogeral, conhecimento. No meio ambiente você tem um ministro [Ricardo Salles] cuja função é desmantelar o que foi feito antes dele. Nos EUA você viu isso, essas nomeações...

blaze giro diario BBC News Brasil - Qualblaze giro diarioopinião sobre as nomeações do governo na área da Cultura?

blaze giro diario Muniz - Você vai colocar uma pessoa sem nenhuma qualificação? Esse atual secretário da Cultura [Roberto Alvim], a função dele é defender a cultura brasileira, mas ele vai num pódio internacional como a Unesco e ataca a cultura brasileira.

Para responder precisamente àblaze giro diariopergunta, essa nomeações têm sido tão incompetentes, e tão sumárias, sem nenhum estudo, que elas não vão acarretarblaze giro diarioforma alguma nenhum estrago permanente para a cultura brasileira.

Vik Muniz dianteblaze giro diarioumblaze giro diarioseus trabalhos

Crédito, Christophe Simon/Getty Images

Legenda da foto, Vik Muniz é conhecido pelo seu trabalho com materiais inusitados

Porque não existe nenhum gênio atrás disso, só gente extremamente incompetente que está sendo nomeada com base na incompetência e no potencial que eles têmblaze giro diariodestruir as pastas que eles ocupam.

Eu acho, sim, que elas vão prejudicar projetos individuais, vai ter muito artista sendo perseguido pela inclinação política e pelo conteúdo que o artista está trabalhando. Mas a história nunca foi muito bondosa com pessoas que tentaram manipular a cultura dessa maneira. Ninguém consegue mexer com a cultura sem sofrer graves consequências.

Eu sei qual o plano desses caras, acho que eles querem o fim do mundo rápido [risos] para poder escapar [desse julgamento]. Isso já aconteceu antes, durante o governo [de Fernando] Collor, o cinema brasileiro sofreu muito e depois teve uma virada, voltou.

blaze giro diario BBC News Brasil - Na fala dele na Unesco, Roberto Alvim disse que "a arte e a cultura brasileiras foram reduzidos a meros veículosblaze giro diariopropaganda ideológica".

blaze giro diario Muniz - E dizendo isso ele está propondo o quê? Um outro tipoblaze giro diariopropaganda ideológica. O problema com toda a fala do secretário é originalidade, porque parece que ela foi copiada e coladablaze giro diarioum discurso do [Joseph] Goebbels [ministro da propaganda da Alemanha nazista]. Ela é preocupante,blaze giro diariorelação ao tom. Mas ela também me dá um alívio muito grandeblaze giro diariorelação à incompetência, à faltablaze giro diariooriginalidade com que ele se apresenta.

Todo esse movimento contra a cultura parece muito uma coisa viral, um vírus burro, que quer matar o corpo hóspede. E a carreira desses indivíduos está limitada a um momento onde elas acabam com [à área] onde eles estão atuando.

É um projetoblaze giro diariodestruição. Você coloca um ministro do Meio Ambiente que está ligado ao lobby do desmatamento. Você tem um secretário da Cultura que falablaze giro diarioideologia, mas ele critica ideologiablaze giro diarioesquerda propondo umablaze giro diariodireita.

blaze giro diario BBC News Brasil - Então o objetivo dele não seriablaze giro diariolivrar da ideologia, mas instalar umablaze giro diariodireita?

blaze giro diario Muniz - Nenhum elemento do atual governo está tentando conversar com a população. Isso também é uma coisa comumblaze giro diariovários governos atuais. Eles não estão mais governando o país, eles estão governando dentro do segmento que os elegeu. E isso é muito ruim. Nisso, para uma ideia ser boa, basta ser o contrário da outra.

Eu não vejo dentro do discurso dos atuais secretários e dos ministros do governo Bolsonaro nenhum plano concretoblaze giro diarioconstrução. É só destruição, é só desmantelamento. É fácil, você coloca uma criançablaze giro diario5 anos com um martelo e ela vai quebrar o que tiver pela frente. Agora, para você construir alguma coisa...

Obrablaze giro diarioMuniz durante exposição na Bahia

Crédito, Fernando Vivas/Governo da Bahia

Legenda da foto, Muniz tem 30 anosblaze giro diariocarreira, com diversas mostras já realizadas no Brasil e no exterior

É um projeto puramente ideológico e demagogo, focadoblaze giro diariodestruir tudo o que foi construído antes, e até o que não foi construído pela esquerda. Agora, para destruir qualquer coisa eles chamamblaze giro diario"esquerda"... O fatoblaze giro diariovocê demonizar uma coisa por ter uma referência política contrária àblaze giro diariofaz com que você se dê o direitoblaze giro diariodestruir aquilo.

E quando você está falandoblaze giro diariocultura, é uma estrutura orgânica, que se constrói independenteblaze giro diariopolíticos, atravésblaze giro diariodécadas. A cultura não é um projetoblaze giro diarioesquerda, é um projeto popular. As pessoas vão ver o que elas querem.

Falar que você tem que criar uma nova cultura... Isso é uma tremendablaze giro diariouma asneira. Uma coisa que o Roberto Alvim não vai conseguir fazer é destruir a cultura. Ele vai gerar situações para ela se transforme, talvezblaze giro diariouma forma extremamente contrária ao que ele espera.

blaze giro diario BBC News Brasil - Como assim?

blaze giro diario Muniz - Como resposta. Quando você começa a combater um tipoblaze giro diariocultura, historicamente, a consequência disso é ela se fortalecer. A cultura muda, mas isso não vemblaze giro diarioum partido,blaze giro diarioum homem, masblaze giro diariotoda uma população que está pensando junta.

Parece que tem uma campanha para acabar com todo e qualquer tipoblaze giro diarioprazer,blaze giro diariobeleza. O Roberto Alvim, na fala dele na Unesco, a parte mais poética foi ele ter conseguido ter citado as palavras "beleza" e "elegância" e "Bolsonaro" na mesma frase. Isso eu nunca vi antes.

Me parece que qualquer coisa relacionada com prazer, com beleza, com alegria está sendo sistematicamente eliminada da vida do brasileiro nesse instante. E isso não pode dar certo. Se você não tem razões pela qual viver, isso não é vida, é sobrevivência.

Então, essas pessoas têm um potencialblaze giro diariodestruição, mas ninguém consegue transformar a cultura da forma como eles querem. Quando você tem esse tipoblaze giro diarioguerra cultural, os artistas se transformamblaze giro diarioheróis culturais.

Presidente da República, Jair Bolsonaro

Crédito, Reuters

Legenda da foto, O presidente Jair Bolsonaro diz que deu 'carta branca' para Roberto Alvim na cultura

Pô, o cara [Sérgio Camargo, novo diretor da Fundação Palmares nomeado pelo governo Bolsonaro] fala uma coisa horrível, nojenta, do Martinho da Vila, um grande intelectual brasileiro... Compara o Martinho da Vila com esse cara, que eu não sei nem o nome. E o que acontece? O Martinho da Vila ganha meia página no jornal.

Cada vez que você cria um inimigo cultural, você faz dele um herói. E aí você reforça suas convicções comblaze giro diariobase política. O Bolsonaro, o Alvim, vão ficar bem com a base deles, o artista é elevado a uma posiçãoblaze giro diarioherói. Eles acham que vão falar mal do artista e vão acabar com eles? Estão extremamente enganados. Elas vão botar a luz nos artistas, mesmo os que não merecem, e quem sofre com isso são sempre as instituições culturais.

O museu perde verba... É como uma guerra, e o campoblaze giro diariobatalha são as instituições culturais, e são elas que ficamblaze giro diarioruínas.

blaze giro diario BBC News Brasil - Você citou o novo diretor da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, que disse que o movimento negro tem que acabar, eu vi que você também comentou a nomeação dele nas redes sociais.

blaze giro diario Muniz - Eu defendo o direito desse cidadãoblaze giro diarioter a opinião que ele quiser. O fato dele ser negro não impede eleblaze giro diarioter opiniões conservadoras, oublaze giro diariodireita. Mas como pode uma pessoa que tem um pensamento desse querer ocupar uma instituição devotada a direitos humanos? Que tipoblaze giro diariopessoa faz isso? Uma pessoa que pensa como ele aceitar uma instituição como a Fundação Palmares? Não tem como. É um ironia isso, uma piada.

Se essas convicções fossem honestas, ele nunca aceitaria uma posição dessa. Eu não aceitaria uma posição numa instituição que vai contra as minhas ideias. Aí você vê que é pura politicagem.

blaze giro diario BBC News Brasil - No Brasil, a produçãoblaze giro diarioarte é muito atrelada a incentivos públicos. Como você enxerga o uso incentivos públicos para arte, como a Lei Rouanet?

blaze giro diario Muniz - Não existe instituição cultural que não opere no vermelho. Foi ventilado que o Museu do Amanhã dá prejuízo. Mas todas as instituições culturais dão prejuízo. E os gestores têm que fazer o que eles podem. Nos EUA eles pedem aos artistas o tempo todo para doar obra para leilão.

A Lei Rouanet foi extremamente positiva no cenário cultural brasileiro, mas ela não evoluiu. Acabou favorecendo um monteblaze giro diarioinstituições, bancos... Os artistas não se beneficiaram dela tanto quanto os negócios.

Exposição do artista plástico Vik Muniz, montada ao lado do Museu da República, na Esplanada dos Ministérios, mostra painéis com sete cenas do filme Lixo Extraordinário, indicado na categoriablaze giro diariomelhor documentário ao Oscarblaze giro diario2011

Crédito, Valter Campanato/Agência Brasil

Legenda da foto, O filme 'Lixo Extraordinário', que mostra o trabalhoblaze giro diarioMuniz, concorreu ao Oscarblaze giro diariomelhor documentárioblaze giro diario2011

Grandes corporações ditavam tanto o programa [a ser patrocinado] quanto a verba [que o artista ia receber]. Foi importante, continua sendo importante para o fomentoblaze giro diarioarte, mas tinha que ter sido revisitada e atualizada. O que acontece é que o apoio ficou muito atrelado às instituições [patrocinadoras].

Nos EUA você pode fazer deduções pessoais do impostoblaze giro diariorenda para projetos que você queira patrocinar. Então, você falar que nos EUA não tem isso, como já falaram, que aqui os artistas "mamam nas tetas do governo"... Artista trabalha. Quem mama na teta do governo é político, que passa 30 anos no Congresso e não consegue passar duas leis que tenham algum tipoblaze giro diariosignificância para a população.

blaze giro diario BBC News Brasil - Algumas pessoas criticam que artistas como você, que têm sucesso financeiro, sucessoblaze giro diariocrítica, usem mecanismosblaze giro diarioincentivo.

blaze giro diario Muniz - Eu usei a Lei Rouanet algumas vezes para fazer livros, e era muito bom, porque os livros eram distribuídos, iam para o mercado com um valor acessível. Eu nunca ganhei um tostão vendendo livro, mas tive como divulgar meu trabalho. Eu tenho uma experiênciablaze giro diario30 anos. Se eu for fazer um livro, esse livro é bom para ajudar novos artistas, para poder divulgar o trabalho que eu estou fazendo para outras gerações.

É parte da cultura também que se transmita. O que eu sou contra, por exemplo, é financiar o Cirque du Soleil através da Lei Rouanet e não dar ingresso para ninguém. Aí é diferente. Os artistas quando têm essa ajuda têm que fazer esse dinheiro valer para a população, espetáculos acessíveis.

blaze giro diario BBC News Brasil - Recentemente tivemos muitos relatosblaze giro diariofilmes, peças e obras retiradas da programaçãoblaze giro diarioeventosblaze giro diarioinstituições públicas. Você acha que estamos vivendo um momentoblaze giro diariocensura, como dizem os artistas que foram retirados das mostras?

blaze giro diario Muniz - São formasblaze giro diariovocê censurar. É impedir a distribuição, é impedir financiamento. Não existe simplesmente aquela censura sumária da época da ditadura,blaze giro diarioque os censores simplesmente riscavam o que não era para ser visto. Existem formas mais sofisticadasblaze giro diariovocê censurar a produção artística, e isso está começando a acontecer no Brasil. E esse começo já é alarmante.

blaze giro diario BBC News Brasil - Você cresceublaze giro diariouma família sem muitos recursos e conseguiu se tornar um dos artistas brasileiros mais reconhecidos no exterior. Histórias como ablaze giro diarionormalmente são usadas como argumentoblaze giro diarioquem defende a "meritocracia", para justificar a ideiablaze giro diario"quem quer, consegue". Você concorda com isso?

blaze giro diario Muniz - Não. Não acho que "quem quer, consegue", é uma combinaçãoblaze giro diariofatores. Você pode ter bastante talento, pode ser muito trabalhador, e eu sou, a vida inteira eu me dediquei à mesma coisa, que é a verdade. E como a gente lida com versões da verdade. Mas eu tive muita sorte. Se eu não tivesse tido sorte, eu não estaria onde eu estou.

Não posso ser idiota e ficar imaginando que o que aconteceu comigo poderia acontecer com qualquer um. Senão você ia ter milhõesblaze giro diarioVik Muniz, porque tem milhõesblaze giro diariopessoas que têm muito mais talento do que eu, que deviam estar vivendo do que fazem com sucesso.

No meu caso eu tive bastante sorte, no casoblaze giro diarioquase todo artista. Tem a ver com mérito, sim, tem a ver com trabalho, mas justamente pelo sorte que você teve você tem a responsabilidadeblaze giro diariofazer isso da forma mais verdadeira.

blaze giro diario BBC News Brasil - Você é um dos artistas brasileiros mais proeminentes internacionalmente. Como enxerga a repercussão do atual momento político do Brasil no exterior?

blaze giro diario Muniz - É vergonhosa. Isso não justifica nenhum dos processos políticos como a Lava Jato nos últimos dez anos. Mas a imagem dos Brasil nos últimos cinco anos teve uma reversão escandalosa. As pessoas citavam o Brasil no contexto da Nova Zelândia, era um paraíso, onde as pessoas eram bacanas, tinha design, tinha cultura, tinha música, a produção cinematográfica era interessante.

Artistas brasileiros como eu, artistas plásticos, tinham uma penetração no cenário cultural internacional e a imagem que se fazia do Brasil... Quando você falava "eu sou brasileiro", você era cool, você era o cara, todo mundo queria saberblaze giro diariovocê.

O que tem acontecido no Brasil agora coloca o Brasil ao lado do Iraque e da Arábia Saudita como um lugar inóspito, onde a população é controlada por ideologia, um lugar que tem uma nuvem ideológica encobrindo o sol que antes brilhava. O interesse pelo Brasil caiu, você vê isso refletido até no mercado.

O artista Vik Muniz

Crédito, Vik Muniz/Divulgação

Legenda da foto, Muniz é reconhecido pelo engajamento socialblaze giro diariosuas obras

O que os governantes não percebem é que quem representa o Brasil é a cultura, não os políticos. Quando a gente pensablaze giro diarioBrasil a gente pensablaze giro diarioOscar Niemeyer,blaze giro diarioTom Jobim,blaze giro diarioBeatriz Milhazes, na Adriana Varejão, no Grupo Corpo. Ninguém lembra do Jânio Quadros. Ninguém sabe [no exterior] quem é o Silas Malafaia.

O Brasil é a cultura brasileira, e tudo o que fizerem para transformar issoblaze giro diarioum projeto monolítico, que representa uma visão somente, está conspirando contra a imagem do Brasil lá fora. Tudo o que você faz contra a cultura você faz contra a identidade nacional. Isso reflete na política internacional, na política econômica.

blaze giro diario BBC News Brasil - Tivemos uma polêmicablaze giro diariorelação à homenagem da Flip (Festa Literáriablaze giro diarioParaty) à poeta Elizabeth Bishop, que já defendeu a ditadura militar. Isso reavivou a velha discussão sobre se a arte deve ser separada do autor. Como criadorblaze giro diariouma arte com um processoblaze giro diarioprodução que é tão importante quando o resultado final, você acha que é possível separar o autor da obra?

blaze giro diario Muniz - Não. Não é possível separar o autor da obra. Eu tenho opinião política, e você está falando comigo justamente por causa disso. Mas as minha opiniões políticas não são melhores que as suas. Nem que a do policial ou a do padeiro. Elas só são diferentes, porque são opiniões.

O que interessa não são opiniões. São fatos. E como a gente se relaciona com fatos. Eu procuro, justamente por você não conseguir desassociar o que eu façoblaze giro diariomim mesmo, eu procuro isentar minha obrablaze giro diarioopiniões. O máximo que eu posso fazer é dar indíciosblaze giro diariocoisas que estão acontecendo e apresentá-lasblaze giro diariouma forma que as pessoas possam refletir por si mesmas. O que a arte faz é justamente isso, criar espaço para pensamento, para dialética.

blaze giro diario BBC News Brasil - O escritor Mia Couto disse que a literatura, ou seja, a arte, representa a realidade melhor que os jornais.

blaze giro diario Muniz - Eu não acho, não. A arte não representa a realidade. Os jornais representam a realidade, ou pelo menos representavam. O que a arte faz é ajudar a discutir o que está acontecendo.

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