A organização americana por trás dos protestos contra o abortom betfrente a hospitalm betSão Paulo:m bet
Nos EUA há um forte movimento conservador atuando para restringir o direito ao aborto, com dezenasm betgrupos fazendo pressão para o fechamentom betclínicasm betassistência ao planejamento familiar, do programa "planned parenthood". As clínicas não oferecem apenas aborto, mas dão assistência quanto à câncer, prevençãom betinfecções sexualmente transmissíveis, métodos anticoncepcionais e outras questões relativas à saúde da família.
O 40 Days for Life é um dos grupos cujo objetivo é ir além dos EUA —m betseu site, eles afirmam que são "uma campanha internacionalmente coordenada".
O movimento começou na cidadem betBryan, no Texas,m bet1998, por um grupom betprotestantes. Em 2007, fizeram uma campanha nacional nos EUA e depois começaram a exportar o modelo para o mundo todo. Hoje o grupo se diz ecumênico e é presidido por um homem, o escritor e documentarista Shawn Carney.
Em seu site, afirmam que já fizeram campanham betToronto, Londres, Sidney, Cidade do México, Cidade do Cabo, Bogotá e Moscou.
Incômodo para pacientes
Quatro funcionários do hospital disseram à BBC News Brasil que as pacientes têm ficado muito incomodadas com a presença do grupo. Uma técnicam betenfermagem disse uma das pacientes, que tinha sido estuprada e estava grávida, estava chorando na semana passada e dizendo que era "por causa do grupo lá fora".
Duas participantes do 40 Dias Pela Vida, incluindo a líder Celene Salomãom betCarvalho, 54, chegaram a ir parar na delegacia no mês passado depoism betse atracarem fisicamente com uma das pacientes do hospital, que diz que havia se aproximado do grupo para contarm bethistória.
A paciente era a assistentem betprodução J., que começou a ser atendida no hospital após ter sido sequestrada, levada para um cativeiro e estuprada. Ela recebe atendimento psicológico e ginecológico.
No caminhom betentrada, J. tinham betpassar duas vezes por semanam betfrente à barraca dos religiosos. "A presença deles estava atrapalhando muito o meu tratamento. Eu estava muito mal desde o que aconteceu isso [o estupro] comigo, e por causa do grupo comecei a ter pesadelos com temas religiosos", diz ela, que cresceum betfamília católica.
"Eu tomei pílula do dia seguinte, mas não tinha certeza se estava ou não grávida [por causa do estupro]." J. conta diz que não conseguiu contarm bethistória ao grupo. "Começaram a gritar comigo", conta ela, que começou a gritarm betvolta.
Ela conta que, então, um homem "grande e forte" a atacaou e segurou pelo pescoço. "Ele ficou me segurando enquanto uma mulher me dava tapas no rosto, no braço", diz J., reiterando à BBC o relato que deu à polícia. Após a confusão, os funcionários do hospital levaram a paciente para dentro do prédio, onde ela recebeu atendimento.
A BBC News Brasil tentou ouvir Celene pessoalmente, por telefone e por WhatsApp, mas ela se recusou a falar com a reportagem. No depoimento dado à polícia, ela disse que J. "tentava tirar a barraca do local" e que foi até ela para "apartar" a discussão com outra mulher do movimento.
A coordenadora do grupo na América Latina, Lourdes Varela, disse à BBC News Brasil que violência e agressão "não são parte do protocolom betatuação do grupo" e que Celene não quis falar por estar "sob muito stress".
"Todos os voluntários têm que assinar um termom bet'não-violência', porque a nossa atuação é pacífica", diz ela. "Temos que ser a facem betCristo."
Na declaraçãom betpaz que os voluntários precisam assinar constam vários itens. Eles se comprometem a "mostrar compaixão e refletir o amorm betCristo" e concordam que "atuarm betmaneira violenta" os desassocia imediatamente da campanha.
Guardas
Varela não soube informar se o homem que testemunhas dizem ter dado "mata-leão"m betJ. era um voluntário registrado que assinou o documento ou "alguém que apenas estava por ali".
O grupom betCelene tem contratado guardas param bettenda. No sábado, 27, havia dois deles — um deles usava a camisam betuma empresam betsegurança.
Eles disseram à BBC News Brasil que não fazem parte do movimento, mas no meio da conversa foram interrompidos por Celene, que os orientou a "não dar uma palavra" à reportagem.
Varela diz que "não há provasm betque Celene tenha agido violentamente" no episódio envolvendo a jovem que foi vítimam betestupro.
Ela enviou os vídeos gravados no dia para a BBC News Brasil, mas os trechos curtos (o maior tem 1 minuto e 37 segundos) não mostram a confusão na íntegra. Mostram parte da briga,m betque não é possível ver o homem enforcando J., apenas ela e os religiosos gritando.
J. diz que vai pedir a íntregra dos vídeos à Justiça.
O episódio não foi o primeiro encontro Celene com a Justiça. Em abrilm bet2019, ela foi condenada pelo TJ-SP por injúria racialm betum episódiom betque,m betacordo com denúncia apresentada pelo Ministério Público, teria xingado uma mulher negra no aeroporto dizendo ""você é feia, olha esse seu cabelo, olha essam betcor, vai arrumar esse cabelo".
A mulher tentava, segundo o processo, impedir "um protesto violento"m betCelene contra a filósofa americana Judith Butler, que visitava o Brasil. No processo, a religiosa argumenta quem betatitude partium bet"injusta provocação" da vítima.
A BBC News Brasil questionou o 40 Days for Life sobre o andamento do processo, mas Varela diz que não tinha informações sobre esse caso e que só poderia comentar até ter "todas as informaçõesm bettodos os lados".
Dois grupos na praça
No sábado passado, ao chegarm betfrente ao hospital para montar a barraca, Celene viu que já havia pessoas no localm betque costuma ficar.
A escritora Daniela Neves leu a históriam betJ.m betuma reportagem da Agência Pública e começou a reunir pessoas pelo Twitter para irm betfrente ao hospital e evitar que outro episódio como o que aconteceu com a jovem se repetisse.
"[O abortom betcasom betestupro] é um direito garantido no Brasil, elas não podem impedir. A gente quer manter um grupo que seja seja favorável à liberdade das mulheres para que elas fiquem confortáveis", diz à reportagem.
Com ajudam betamigos e tambémm betdesconhecidos, ela rapidamente conseguiu uma tenda, várias garrafasm betágua, comida, cadeiras e uma Constituição Federal. Acordou às 5 da manhã e chegou na praçam betfrente ao hospital às 6h30, antes dos religiosos.
Foi acompanhada por dezenasm betpessoas ao longo do dia, que se revezaramm betdiferentes horários.
A relações públicas Camila, que mora na região, viu a barraca dos religiosos quando estava passeando com os cachorros. "Achei [os cartazes e a presença do grupo ali] uma violência sem tamanho com mulheres que já sofreram uma violência", diz ela, que desceu para oferecer seu banheiro ao grupo que militava pelos direitos das mulheres.
Celene foi procurar a Polícia Militar, pedindo para que o grupo que chegou primeiro fosse retirado. Os PMs disseram que não poderiam impedir o outro grupom betfazer uma manifestação.
Mas disseram que Celene tinha uma autorização da Prefeitura e pediram que o grupo pelo direito das mulheres fosse mais para o lado, o que eles fizeram na hora.
No entanto, segundo a Secretariam betSubprefeiturasm betSão Paulo, não foi encontrado registrom betnenhuma autorização emitida para o 40 Dias pela Vida.
Durante a manhãm betsábado, o restante do grupo religioso não apareceu. Veio apenas uma mulher que se ajoelhou no local e começou a rezar.
Ao ser questionada pela BBC News Brasil se poderia falar sobre os 40 Dias pela Vida, se aproximoum betgrande velocidade gritando para a reportagem "seguir o seu caminho", afirmando que não queria ser fotografada. Em seguida empurrou a câmeram betuma documentarista que filmava a cena.
Ela estava vestida com uma camisetam betNossa Senhora Mãe Rainha, cuja devoção tem como objetivo "espalhar pelo o mundo o amorm betJesus". Não quis dizer seu nome, se afastou e se posicionou na esquina, rezando.
À tarde, Celene apareceu com os dois guardas e começou a montarm betbarraca. Ela se recusou diversas vezes a conversar com jornalistas.
A assistente judicial aposentada I., moradora da região, disse à BBC News Brasil que dois dias antes havia tentado conversar com o grupom betreligiosas, por ser ela mesma católica, mas se sentiu intimidada.
"Inicialmente me receberam bem, mas quando argumentei que talvez fosse melhor rezarm betoutro local e que a presença dos cartazes ali já era uma violência com as vítimasm betestupro, que estão muito fragilizadas, começaram a gritar", conta. "Me chamaramm bet'assassina', 'católicam betmerda' e 'satã'", diz I., que pediu para não ter o nome divulgado.
O que diz o grupo americano
O 40 Days for Life diz que a "oração e jejum" são feitosm betfrente aos locais onde o aborto é realizado "para conscientizar as pessoas", mas que o objetivo não é atacar quem faz o procedimento.
"Nosso inimigo não é a mulher, não é o médico, é o demônio", afirma Varela, que diz que o objetivo é acolher as pessoas.
O grupo, no entanto, não oferece nenhum tipom betassistência à mulheres que por ventura desistamm betfazer o aborto. "Nós atuamos com oração e jejum", diz Varela. "Mas fazemos parcerias com outros grupos pró-vida, nós [conjuntom betgrupos antiaborto] damos várias opções às mulheres", afirma.
Uma das defensores dos direitos das mulheres que estavam na praça diz ter questionado Celene sobre iniciativasm betacolhimentom betSão Paulo. Ela teria dito que "tem, mas não pode falar".
Após ouvir o relato, a reportagem tentou mais uma vez conversar com Celene e fazer a mesma pergunta, mas um dos guardas se colocou na frente e pediu para a reportagem se afastar.
Candidata a deputada federal
Celene foi candidata à deputada federal pelo PSLm bet2018.
Recebeu 10 milm betrecursos públicos do Fundo Eleitoral através do partido para fazerm betcampanha. Segundo prestaçãom betcontas ao TSE, ela gastou maior parte dos recursos da campanham betserviçosm betgráfica. O grupo católico Dai-me Almas recebeu R$ 3 mil para fazer "marketing político".
Sua candidatura, no entanto, acabou impugnada pelo TSE por problema na filiação partidária.
O 40 Days for Life diz que vai averiguar todas os relatos envolvendo a atuação da líder do grupo.
"O que eu posso dizer por enquanto é que os fatos mostram que durante a campanha [antiaborto] ela não quebrou o acordom betpaz e foi atacada diversas vezes por militantes a favor do direitom betescolha [da mulher]", diz. Mas afirma que a orientaçãom betcasom betataque não é revidar.
"A gente já teve casosm betpessoas que não foram bons líderes, nesse caso a gente os desliga da campanha", diz Varela. Mas afirma que, pelo que sabe até agora, não é o caso da brasileira.
O grupo que faz vigília na praçam betdefesa dos direitos da mulher diz que não houve nenhum ataque por parte das pessoas que estão ali.
O que diz a Igreja Católica
A BBC News Brasil perguntou à CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil) se o grupo criado por Celene tem qualquer ligação formal com a Igreja Católica. A entidade não respondeu.
O grupo leigo Católicas pelo Direitom betDecidir, que há 30 anos luta pelos direitos das mulheres no Brasil, publicou uma notam betrepúdiom betrelação a atuação das católicasm betfrente ao hospital.
"Não aceitaremos que mulheresm betsituaçãom betespecial vulnerabilidade sejam constrangidas ao buscarem o serviço", diz a nota. Durante esta semana, o grupo foi à praça e instalou um banner "na luta pelo Estado laico e contra os fundamentalismos".
Neste sábado (2/11), será o 40º dia, e portanto o último, da presença do grupo na praça, quando haverá o encerramento da campanha.
O grupo pelos direitos das mulheres, que esteve todos os dias fazendo vigília no local, também deve estar presente. "A gente se organiza que as pacientes do hospital não fiquem desamparadas", diz Daniela Neves, que começou a chamada para o local pelo Twitter.
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