'Dizem que não carrego a bandeira, mas a bandeira sou eu', diz Ney Matogrosso sobre movimento gay:apuestas deportivas

Em Londres para o primeiro show na cidade depoisapuestas deportivas46 anosapuestas deportivascarreira, Ney Matogrosso concedeu entrevista à BBC News Brasil no hotel e falou sobre a relação com o pai, ditadura militar, política e redes sociais.

Ney, que se define no perfil do Instagram como "um artista brasileiro", diz que não é das redes sociais, mas que está "mais bonzinho" e agora responde alguns comentários. "Eu sou muito lacônico. E as pessoas reclamam, mas eu não estou ali pra conversar", diz.

A respeito da música brasileira, diz que o funk tem um ritmo que é uma delícia e letras bobas. No sertanejo, "música sensação", é tudo igual: "todos cantam parecido, os temas são os mesmos, todo mundo com dorapuestas deportivascotovelo e sofrendo. Eu não tenho a ver com esse pensamentoapuestas deportivassofrimento."

Para ele, que já completou 78 anos e há tempos diz que o Brasil está mais careta do que era antes, o povo brasileiro é bonito, gostoso e gostaapuestas deportivasse exibir. No entanto, diz que o país vive "um retrocesso assustador".

Sobre a forma que deseja ser lembrado, ele vai direto ao ponto: "Quero que as pessoas se lembrem que a minha vida inteira eu lutei pela liberdade e não admito viver com menos que isso."

A seguir, os principais trechos da entrevista:

apuestas deportivas BBC News Brasil - Você contou que veioapuestas deportivas1975 para Londres. O que mudou na cidade nesse tempo?

apuestas deportivas Ney Matogrosso - Eu me lembro que achei a cidade outra coisa. Não era uma província porque Londres, nos tempos modernos, é Londres. Mas era diferente. Minha sensação, chegando, é que todos são muito simpáticos, muito receptivos, coisa que eu não achava.

apuestas deportivas BBC News Brasil - Você disse que o que assustou, por enquanto, foi o frio.

apuestas deportivas Ney Matogrosso - É, eu tenho muito medoapuestas deportivasfrio. Eu sou muito acostumado com calor, com pouca roupa. Então ficar vestido demais - me visto, claro, porque não vou dar mole - mas não é meu hábito ficar com tanta roupaapuestas deportivascima.

apuestas deportivas BBC News Brasil - Muita gente gostaapuestas deportivasfazer comparação do Brasil com outros países e outros rejeitam, porque cada um temapuestas deportivashistória. Você acha que o Brasil tem o que aprender com exemplos no exterior?

apuestas deportivas Ney Matogrosso - Estamos voltando para uma era, talvez,apuestas deportivassubdesenvolvido. Tudoapuestas deportivasbom que a gente tinha aprendido foi desaprendido. Estamosapuestas deportivasum retrocesso assustador no Brasil,apuestas deportivastodos os sentidos. Saúde, educação, tecnologia, ciência, para falarapuestas deportivaspoucas coisas. Tá muito estranho.

apuestas deportivas BBC News Brasil - Você costuma dizer que o Brasil está mais careta do que era antes...

apuestas deportivas Ney Matogrosso - Sim. O que provocou esse retrocesso, nesse sentido, foi a Aids. Porque havia uma liberdade comportamental no Brasil. Vou fazer uma comparação: na Alemanha, as pessoas tomam banho nuas nas lagoas - homens, mulheres, crianças - e nessa época eu via, numa praia ao lado do Arpoador, as aeromoçasapuestas deportivasvoos internacionais faziam topless e trocavamapuestas deportivasroupa na frenteapuestas deportivastodo mundo e ninguém se assustava. Era uma coisa normal.

Até que veio a ditadura e a ditadura cortou. Isso eles foramapuestas deportivascima. Se continuasse naquela batida, não sei onde estaríamos. Talvez mais avançados que a Alemanha nesse sentido. Porque (o brasileiro) é um povo bonito, gostoso, e que gostaapuestas deportivasse exibir.

A Aids que cortou, foi o grande obstáculo. Imagina, mexeu com a sexualidade das pessoas.

apuestas deportivas BBC News Brasil - Você é cobrado por mais protagonismo no movimento gay. Tem declarações suasapuestas deportivasque existe uma coisa muito ligada ao consumo. Explica isso...

apuestas deportivas Ney Matogrosso - Olha, primeiro que ninguém pode me cobrar isso. Eles dizem que eu não carrego a bandeira. A bandeira sou eu. Ou não sou? Eu sou a bandeira, eu não preciso carregar uma. A minha maneiraapuestas deportivaspensar,apuestas deportivasme comunicar,apuestas deportivasme apresentar. Eu sou a bandeira. Paremapuestas deportivasme cobrar isso porque isso não tem fundamento.

Quando falo isso da coisa capitalista, eu digo que as paradas gays - na verdade, não é nem as paradas gays, mas a aceitação maior dos gays no país - e agora há um retrocesso nisso também -, mas era assim. Gay é fonteapuestas deportivasrenda, é uma coisa internacional que se aponta para o Brasil, que sempre foi uma meca. Eu morei no Rioapuestas deportivasJaneiro na décadaapuestas deportivas1950 e já era meca. No verão, gays do mundo inteiro se dirigiam para o Rioapuestas deportivasJaneiro.

apuestas deportivas BBC News Brasil - E como isso está mudando?

apuestas deportivas Ney Matogrosso - Está mudando porque temos um presidente que acha que pode determinar a sexualidade das pessoas. Isso é uma tolice, porque não adianta querer reprimir. As pessoas continuarão nascendo. E isso não é uma questãoapuestas deportivasopção, isso você não escolhe ser - a não ser que ele ache um meioapuestas deportivasdeterminar os que vão nascer e os que não vão nascer. Fora isso, não tem como controlar isso.

apuestas deportivas BBC News Brasil - Sobre a relação com seu pai, que você diz que é a maior autoridade que você já enfrentou, como era essa autoridade dele e como se desenvolveu a relaçãoapuestas deportivasvocês?

apuestas deportivas Ney Matogrosso - Meu pai era militar. Agora eu vou falarapuestas deportivasuma fase da minha vida que durou até os 17 anos e depois eu me livrei disso. Eu não falo isso falando mal do meu pai. Ele era militar e me tratava como se eu fosse um recruta. Ele me acordavaapuestas deportivasmanhã cedo no inverno arrancando a cobertaapuestas deportivascimaapuestas deportivasmim. Eu tinha ódio.

apuestas deportivas BBC News Brasil - Vem daí o trauma do frio?

apuestas deportivas Ney Matogrosso - Talvez seja. Eu tinha ódio dele. Fomos inimigos até os 17 anos e depois tivemos o tempoapuestas deportivasum reencontro, que foi muito interessante. Porque, quando ele morreu, eu era o confidente dele, a pessoa que ele pedia desculpa por ter educado os filhosapuestas deportivasuma maneira e as filhasapuestas deportivasoutra. Eu disse para ele: 'olha, pai, por mim você não se preocupe, porque eu não tô nessa mais, isso tudo é passado'. Já tinha sido resolvido. Eu já tinha resolvido comigo mesmo e com relação a ele também.

Eu tive o entendimentoapuestas deportivasque ele era uma reprodução, a sociedade é assim, vai encucando nos filhos as coisas que elas acreditam e as pessoas vão reproduzindo. E contra isso eu me rebelei e eu cortei essa cadeiaapuestas deportivasmim. Eu não sou mais igual ao que eles eram, eu sou outra coisa. Mas eu tive que fazer algum tipoapuestas deportivasterapia para isso, fiz uma chamada Fischer-Hoffman,apuestas deportivasque você tinha que matar o seu pai eapuestas deportivasmãe para depois entender qual era a questão deles, a influência deles naapuestas deportivasvida. O xis da questão era o seguinte: se você reproduzir você não é você e se você se rebelar você não é você. Você tem que encontrar a criança que você seria.

apuestas deportivas BBC News Brasil - Você conta que "saía na porrada" com seu pai.

apuestas deportivas Ney Matogrosso - Sim, ele pegou uma armaapuestas deportivasfogo. Eu tinha 17 anos, ele me colocouapuestas deportivascastigo e eu disse 'não vou ficarapuestas deportivascastigo' e saí. Aí ele foi atrásapuestas deportivasmim com um revólver. Meu irmão correu pelo meio do mato e me avisou: olha, melhor você voltar porque ele está vindo armado. Aí eu voltei, porque não ia enfrentar um revólver. Aí eu voltei determinado a sairapuestas deportivascasa.

apuestas deportivas BBC News Brasil - E a "porrada"?

apuestas deportivas Ney Matogrosso - Foi um pouquinho depois da arma. Nós morávamosapuestas deportivasuma casa, que era numa vila militar recém construída, e a água das casas eraapuestas deportivaspoço e eu era a pessoa escolhida para encher a caixa d'água, que era com uma bomba manual - por isso eu tenho ombros largos, agradeço. E aí eu enchia a caixa. Eram 1.800 bombadas para encher.

Um dia eu estava lavando meu rosto para ir ao colégio e meu irmão falou 'fecha a torneira que está gastando muita água'. E eu disse: mas quem enche essa caixa sou eu, portanto posso gastar a água que eu quiser porque quem vai encher sou eu. Aí meu pai veio láapuestas deportivasdentro e disse 'fecha essa torneira'. Eu falei: 'você, então, não pode falar nada porque pra você lavar o pé quem tem que pegar água sou eu, num balde'. Aí ele veioapuestas deportivascimaapuestas deportivasmim furioso, meu deu um soco e me jogou dentro da banheira, atravessado, e veioapuestas deportivascimaapuestas deportivasmim. Eu disse: 'não vem não', meti o pé nele (faz o gesto) e joguei ele lá na porta.

Aí ele disse: 'fora da minha casa'. Eu disse: 'saio daqui com gosto, porque não suporto ver aapuestas deportivascara'. Aí eu saí, fui pra casaapuestas deportivasum irmão dele, ele fez pressão para o irmão não me receber na casa dele. Aí ele tinha um amigo que tinha um bar e disse 'não vou te deixar na rua', me levou pra ficar na casa dele, fiquei trabalhando no bar dele e voltei pra casa. Mas já não ia mais ficar. Eu me alistei na Aeronáutica, com 17 anos, e transferi meu alistamento pro Rioapuestas deportivasJaneiro. Foi o pretexto que eu tive pra sairapuestas deportivascasa e não estar na rua. Eu não pretendia fazer carreiraapuestas deportivasnada, eu apenas queria sairapuestas deportivascasa.

apuestas deportivas BBC News Brasil - O que foi a 'chave' que mudou a relaçãoapuestas deportivasvocês?

apuestas deportivas Ney Matogrosso - Fiquei muitos anos sem voltar lá. Ele começou a me visitar nos lugares que eu estava. Em São Paulo, tivemos problemas porque eu era hippie, eu vivia fazendo artesanato, coisasapuestas deportivascouro. E ele achou que eu era pobre demais e queria que eu voltasse pra casa, que ele arranjava emprego pra mim. Eu disse: não quero emprego, não quero voltar pra casa, eu estou muito bem aqui. Eu não preciso ter dinheiro. Eu tinha saídoapuestas deportivascasa determinado a ser responsável por mim - ou bem ou mal. Comendo ou não comendo. Eu nunca fui um coitadinho, eu sabia que ia viver uma vida independente e que podia rolarapuestas deportivastudo. Eu queria ser atorapuestas deportivasteatro, era o que eu fazia paralelamente ao artesanato. Cheguei a fazer três peçasapuestas deportivasteatro, mas fiquei conhecido como cantor.

Aí, a primeira vez que ele foi lá, eu fui ao hotel dele com uma calça corapuestas deportivaslaranja. Aí ele me disse: 'por favor, não venha me visitar com essa calça'. Eu disse 'tudo bem, você está mais preocupado com a cor da minha calça do que com a minha presença, não se preocupe, eu não volto mais aqui'. E não voltei mais. Nesse meio tempo, a gente conversava algumas coisas. Aí, no dia que ele ia embora, a gente marcou um encontro aliapuestas deportivasfrente ao Estadoapuestas deportivasSão Paulo, naquela praça, e aí nos despedimos e eu tive um impulso, porque eu beijava os meus amigos todos. E aí eu beijei ele. Ele ficou muito aflito, olhou ao redor para ver se alguém tinha visto um homem beijando ele.

apuestas deportivas BBC News Brasil - Na bochecha?

apuestas deportivas Ney Matogrosso - Sim, um beijo, nada demais. E alguma coisa mudou a partir desse momento, porque até o fim da vida dele nós nos encontrávamos, nos beijávamos e nos despedíamos e nos beijávamos. E eu sou o único filho que ele beijou. Não é engraçada essa história? Sou o único filho que ele beijou.

apuestas deportivas BBC News Brasil - Com essa história com início complicado, você usa o sobrenome que você não tem originalmente e é dele...

Ney Matogrosso - É, porque eu me chamo Neyapuestas deportivasSouza Pereira. Não é um bom nome artístico. Aí, quando eu já estava no Secos e Molhados, um amigo, Paulinho Mendonça, perguntou 'qual o nome do seu pai?'. Eu disse 'Antonio Matogrosso Pereira'. Ele disse 'porra, Ney, Ney Matogrosso'. Eu disse: é, nunca tinha pensado.

apuestas deportivas BBC News Brasil - Seu pai pediu para ir para a reserva?

apuestas deportivas Ney Matogrosso - Ele começou a achar que a ditadura estava se excedendo e pediu para ir para a reserva. Eu admirei ele.

apuestas deportivas BBC News Brasil - Sobre aapuestas deportivasrelação com a ditadura, você diz que não foi mais atacado porque falava menosapuestas deportivaspolítica e maisapuestas deportivasuma questãoapuestas deportivascostumes.

apuestas deportivas Ney Matogrosso - Eu não falava, a verdade é essa. Eu nunca falei 'abaixo a ditadura'. Porque chegamosapuestas deportivasum momento no Brasil que ou você pegavaapuestas deportivasuma metralhadora ou você 'desbundava'. Eu era do desbunde, que eles odiavam tanto quanto quem tinha arma. Eu era o louco, que tomava ácido, fumava maconha, cabelo grande, hippie. Eles odiavam.

Eu fui preso uma vez na Lapa porque eu era cabeludo e minha calça era apertada. E aí eles me revistaram, acharam dinheiro no meu bolso. Pouco. E eles disseram: 'você não tem vergonhaapuestas deportivasandar só com esse dinheiro no bolso?'. E eu disse 'não, porque com esse dinheiro eu chegoapuestas deportivascasa'. Aí prenderam eu, um bicheiro e uma puta. O bicheiro disse que tinha pago o comandante da polícia do Rioapuestas deportivasJaneiro R$ 20 mil, foi solto imediatamente. A puta chorou, chorou, chorou, soltaram. E eu fiquei a noite inteira lá. Eles me ameaçaram,apuestas deportivasme jogar para os presos fazeremapuestas deportivasmim o que quisessem. Foi a única vez que eu usei o fatoapuestas deportivaso meu pai ser militar. Eu disse 'tudo bem, vocês vão fazer o que quiserem, só que o meu pai é militar e ele vai dar faltaapuestas deportivasmim'. Mentira, porque meu pai estavaapuestas deportivasMato Grosso e eu no Rioapuestas deportivasJaneiro. 'Ele vai dar falta e me procurar e vocês vão ter que se explicar para eles, são eles que mandam no Brasil neste momento'.

Aí,apuestas deportivasmanhã, eles me perguntaram se eu queria dar o telefoneapuestas deportivasalguém, era o telefoneapuestas deportivasuma amiga que o namorado era almirante da Marinha e ele foi lá me tirar. Por nada. Porque eu não tinha dinheiro no bolso.

apuestas deportivas BBC News Brasil - E qual é aapuestas deportivaspior lembrança da ditadura militar?

apuestas deportivas Ney Matogrosso - Quando eu moravaapuestas deportivasBrasília, quando a ditadura se instalou. Muitos amigos desapareceram. Uma que eu conhecia, no diaapuestas deportivasque o Castello Branco, primeiro presidente da ditadura, foi na Escola Parque, ela puxou uma vaia pra ele e ela desapareceu. Quando apareceu, tinham cortado o bico dos seios dela. Muito escroto, né?

apuestas deportivas BBC News Brasil - Você diz que a geração que nasce hoje é uma nova espécie. Acredito que se referindo à tecnologia...

apuestas deportivas Ney Matogrosso - Eu comecei a perceber isso, que as crianças que nasciam eram diferentes, quando eu moravaapuestas deportivasBrasília. As crianças começaram a nascerapuestas deportivasolhos abertos. Criança nasciaapuestas deportivasolho fechado e ficava uma semanaapuestas deportivasolhos fechados. Quando vi crianças nascendoapuestas deportivasolhos abertos, eu disse 'tá acontecendo alguma coisa'. Isso na décadaapuestas deportivas1960. E agora, com essa históriaapuestas deportivasinternet...

apuestas deportivas BBC News Brasil - E como é ser artista pra essa geração?

apuestas deportivas Ney Matogrosso - Eu sou artista do jeito que eu sei ser, sempre. Não tem que se adaptar a nada. Tem que continuar sendo como sabe ser.

apuestas deportivas BBC News Brasil - E sobre as redes sociais, você resistiu um pouco...

apuestas deportivas Ney Matogrosso - Eu não souapuestas deportivasredes sociais. Só Instagram. Mas não é pra conversar. Eu sou muito lacônico. E as pessoas reclamam, mas eu não estou ali pra conversar. Perguntam alguma coisa e eu digo 'sim', 'não', 'não sei', porque eu não quero conversar.

apuestas deportivas BBC News Brasil - Mas você responde. Perguntaram se você já tinha chegado a Londres...

apuestas deportivas Ney Matogrosso - Agora estou mais bonzinho. Estou mais tolerante.

apuestas deportivas BBC News Brasil - Você postou um vídeo fazendo musculação e o pessoal disse 'não é assim'.

apuestas deportivas Ney Matogrosso - Eu estava errado. O meu personal pegou meu celular para experimentar a câmera e eu não tava fazendo. Eu fiz assim, ele me filmou e eu caí na asneiraapuestas deportivascolocar aquilo que tava tudo errado. Aí começaram a dizer 'tá errado'. Eu sabia que tava errado. Mas tem que ser certo tudo, o tempo todo? Eu não sou uma escola. Não tô botando aquilo pras pessoas verem como eu sou maravilhoso. Eu estava brincando. Mas é assim hojeapuestas deportivasdia.

apuestas deportivas BBC News Brasil - Qual o limite, você não posta coisa muito pessoal, do seu dia-a-dia...

apuestas deportivas Ney Matogrosso - Tudo é muito fútil. O Bruno, meu grande amigo, uma vez me fotografou lá no meu sítio, numa cachoeira que a gente estava tomando banho. Ele estava lá atrás, eu tava mais embaixo e com uma sunga que aparecia o rego. Eu publiquei essa foto, porque eu não acho nada demais um rego. Todo mundo tem um rego na bunda. Não é isso? Nossa senhora, isso foi parar nos jornais. Eu acho isso uma tolice tão grande, uma futilidade tão grande. Só porque o rego está aparecendo ali. Não era minha bunda inteira, era só a ponta do rego aqui, gente. Qual o problema com isso?

Eu botei uma fotoapuestas deportivasshow, alguém reclamou e eu tive que tirar. E eu disse 'isso aí que vocês mandaram retirar, eu já viajei pelo mundo, eu já tinha viajado por seis países fazendo aquele show. Eu fiz dois anos e meio aquele show no Brasil e todo mundo tinha visto aquilo. E aquilo nunca foi um problema. Agora é um problema.

apuestas deportivas BBC News Brasil - O que tinha nessa foto?

apuestas deportivas Ney Matogrosso - Eu era um índio. Então estava com tapa sexo e algumas coisas penduradas. Simplesmente isso. A nádegaapuestas deportivasfora.

apuestas deportivas BBC News Brasil - Nesses anos, o que mudou naapuestas deportivasrelação com seu corpo e com aapuestas deportivasvoz?

apuestas deportivas Ney Matogrosso - Eu passei a cuidar do corpo, coisa que eu não fazia. Eu agora faço ginástica, que eu achava que era coisaapuestas deportivasamericano. Quando eu tinha 50 anos, começou assim: eu fui na rua, no Leblon, verão, e vi um velhoapuestas deportivassunga, tênis, a pele bem enrugada. Eu olhei e vi que tinha músculo por baixo da pele enrugada. E eu disse: ahn, pode? Aí comecei a fazer ginástica e eu gosto éapuestas deportivasfazer musculação mesmo. Agora faço umas coisasapuestas deportivaspilates misturadas. Aí as dores que eu estava sentido aos 50 anos desapareceram. Então é isso. Vou fazer ginástica até o fim da minha vida.

apuestas deportivas BBC News Brasil - Você deu esperança pro mundo agora. Se Ney Matogrosso começou a malhar aos 50 anos, todo mundo que ler essa entrevista vai ficar esperançoso.

apuestas deportivas Ney Matogrosso - É só querer.

apuestas deportivas BBC News Brasil - Como você quer ser lembrado, não só pelos músicos, mas por todo mundo? Que recado você quer deixar?

apuestas deportivas Ney Matogrosso - Quero ser lembrado pelo que fiz na Terra e que as pessoas se lembrem que a minha vida inteira eu lutei pela liberdade e não admito viver com menos que isso. Não suportaria viver com menos que isso.

apuestas deportivas BBC News Brasil - E sobre a música brasileira, Milton Nascimento disse que a música brasileira "está uma merda"...

apuestas deportivas Ney Matogrosso - Desculpe, eu não vou opinar sobre Milton Nascimento.

apuestas deportivas BBC News Brasil - Opina sobre a música brasileira hoje. Tem alguém que você gosta e acompanha mais?

apuestas deportivas Ney Matogrosso - Não tem. Eu não ouço rádio, então não fico sabendo o que tá acontecendo e o que não tá. As poucas vezes que eu ouço rádio, eu acho que é muito manipulado. Existe o sertanejo, que é a música sensação, mas é chato porque aí só toca ela e o funk. Eu gosto do funk, eu acho o ritmo uma delícia. As letras eu acho bobas. Sertanejo, eu acho todos iguais, todos cantam parecidos, os temas são os mesmos, todo mundo com dorapuestas deportivascotovelo e sofrendo. Eu não tenho a ver com esse pensamentoapuestas deportivassofrimento.

apuestas deportivas BBC News Brasil - Teve uma declaração sobre projetos culturais, do presidente Jair Bolsonaro,apuestas deportivasque ele falava o seguinte: 'Com dinheiro público não veremos mais certos tiposapuestas deportivasobra por aí. Mas isso não é censura. Isso é preservar os valores cristãos. É tratar com respeito a nossa juventude. É reconhecer a família como uma unidade familiar'. De que forma…

apuestas deportivas Ney Matogrosso - É censura. Você pode colocar limiteapuestas deportivasidade para assistir um filme. Seapuestas deportivasprincípio você não quer que aquilo seja feito, é censura. Para o cinema, existe faixa etária.

Há sempre muita reação a essas coisas que o presidente faz. Existem reaçõesapuestas deportivastodas as partes e muitas vezes ele retrocede nas ideias dele.

apuestas deportivas BBC News Brasil - Um ano antesapuestas deportivaso presidente Jair Bolsonaro ser eleito, você disse que acreditava que ele não seria eleito e…

apuestas deportivas Ney Matogrosso - Eu achava que ele não seria eleito. Eu nunca pensei que o Brasil desse esse passo.

apuestas deportivas BBC News Brasil - E por que deu? O que o brasileiro quis dizer quando o elegeu?

apuestas deportivas Ney Matogrosso - Eu acho que existia uma enorme insatisfação, ouso dizer que foi um votoapuestas deportivasraiva contra o PT. E o (ex) presidente Lula poderia ter apoiado Ciro Gomes, que é o candidato que no segundo turno venceria o Jair Bolsonaro, mas o Lula não apoiou. Acho que foi uma coisa muito errada. Ele abriu caminho para isso que chegar no que está.

apuestas deportivas BBC News Brasil - Você é um ex-eleitor do PT...

apuestas deportivas Ney Matogrosso - Votei muitas vezes. Desde a primeira vez que o Lula se candidatou, eu votei. Mas aí, quando chegou o Mensalão, eu saí fora. Eu disse 'não, não, não'. Não posso concordar com isso.

apuestas deportivas BBC News Brasil - Em 2015, você disse que o então juiz Sergio Moro estava fazendo um bom trabalho e "dignificando a Justiça". Como você avalia o trabalho do hoje ministro Sergio Moro?

apuestas deportivas Ney Matogrosso - Hoje eu não sei. Não quero julgar ele. Ele deu uma entrevista dizendo que aceitou porque achava que tudo que ele tinha feito na Lava Jato estava correndo risco. Era uma justificativa plausível até então. Agora ele é um ornamento dentro da História, infelizmente. Ele já não determina mais a coisa da Justiça no Brasil. Ele é o ministro da Justiça, mas não é da Lava Jato.

apuestas deportivas BBC News Brasil - Do lado das pessoas da esquerda, que dizem que o ex-presidente Lula é um preso político e que o impeachment da ex-presidente Dilma foi um golpe? O que você acha?

apuestas deportivas Ney Matogrosso - Eu não sei te dizer, porque o governo dela foi absurdamente estranho. Na véspera da eleição, ela falou que tudo que o oponente faria era errado e que ela não faria nada. No dia que ela se elegeu, tudo que ela disse que não faria, ela fez. Aí ficou totalmente desacreditada e a coisa foi se desmoronando. Mas vamos ficar falandoapuestas deportivaspolítica, desse povo?

apuestas deportivas BBC News Brasil - É um assunto desagradável?

apuestas deportivas Ney Matogrosso - É, eu não sou envolvido diretamente. Sou um espectador. Eu vou lá, coloco meu votoapuestas deportivasquem eu quero, mas não sou envolvido com isso. Tanto que essa questãoapuestas deportivasdireita, esquerda, eu não entro nisso. Eu tenho amigos que pensam diferenteapuestas deportivasmim e eu não deixoapuestas deportivasser amigo deles. Eu não votei no presidente Bolsonaro, mas tenho amigos que votaram nele e nem por isso eu vou enforcar o amigo. Eu acho que as pessoas têm direito, atéapuestas deportivaserrar.

apuestas deportivas BBC News Brasil - Estamos vendo a população polarizada. Acha que falta mais…

apuestas deportivas Ney Matogrosso - A população polarizada, e tem uma coisa, que agora temos uma Igreja Evangélica muito poderosa, que está manipulando isso tudo também. O Brasil é um país laico, não tem que misturar política com religião, e está misturado.

apuestas deportivas BBC News Brasil - Outro assunto que você não gostaapuestas deportivasfalar é sobre seus amores passados, dar nomes a eles. Por que?

apuestas deportivas Ney Matogrosso - Porque esse é extremamente particular e só interessa a mim. Por que vou falar nome das pessoas com quem transei, namorei? Eu não quero balançar os alicercesapuestas deportivasnada. A única pessoa que escapou nessa história toda foi o Cazuza, que quando ele morreu. Os outros que não caíram na boca do povo, não cairão.

apuestas deportivas BBC News Brasil - Você falaapuestas deportivas'balançar os alicerces', imagino que as pessoas pensem 'o que ele tem pra falar?'

apuestas deportivas Ney Matogrosso - Eu teria muita coisa pra falar, nesse sentido. Mas não vou falar. Podem todos estar tranquilos, que eu jamais falarei. Não quero escândalo.

apuestas deportivas BBC News Brasil - Se você pudesse dar um conselho para o Ney mais novo, qual conselho você daria?

apuestas deportivas Ney Matogrosso - Não daria conselho nenhum. Eu gosto do que eu resultei. Entendo que eu fiz um percurso mais longo, dei muitas voltas, já para não me submeter. Tô falandoapuestas deportivastermos artísticos, com relação a gravadoras. Eu passei por seis, porque elas queriam mandar na minha vida artística e eu dizia 'não, minha vida artística é minha, quem decide sou eu, eu escolho o que eu vou cantar'. Então eu briguei com várias.

apuestas deportivas BBC News Brasil - Ninguém nunca mandouapuestas deportivasvocê?

apuestas deportivas Ney Matogrosso - Não. E não vão mandar.

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