Um ano após reclamar que China 'compraria o Brasil', Bolsonaro quer vender estatais e commoditiesup bet exam date 2024visita a Xi Jinping:up bet exam date 2024

Retratoup bet exam date 2024Xi Jinping durante comemoração,up bet exam date 20241ºup bet exam date 2024outubro, dos 70 anos da República Popular da China

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Legenda da foto, Retratoup bet exam date 2024Xi Jinping durante comemoração,up bet exam date 20241ºup bet exam date 2024outubro, dos 70 anos da República Popular da China; Brasil busca no país interessadosup bet exam date 2024comprar estatais

Mas o governo brasileiro também colocou pedras no caminho para atingir suas próprias metas.

Há um ano,up bet exam date 2024outubroup bet exam date 20242018, Bolsonaro, ainda candidato à Presidência, subiu o tom contra o país asiático e ganhou manchetes no mundo inteiro ao dizer: "A China não compra no Brasil. A China está comprando o Brasil".

Cinco meses depois,up bet exam date 2024aula magna a formandos do Itamaraty, o chanceler bolsonarista Ernesto Araújo disse a diplomatas que o Brasil não iria "venderup bet exam date 2024alma" para "exportar minérioup bet exam date 2024ferro e soja" para a China comunista.

O cenário nesta semana é o oposto. Prestes a encontrar o presidente chinês, Xi Jinping, na capital do país com o maior Partido Comunista do planeta, o líder brasileiro tenta aproveitar o vácuo aberto pela guerra comercial entre China e EUA para ampliar ao máximo seus negócios com os chineses.

Em meio a tantos altos e baixos, quais devem ser os resultados práticos da visita e como os chineses reagirão à reaproximação bolsonarista? Que impactos ela pode ter na relação amistosa entre o brasileiro e o presidente americano, Donald Trump? E por que os brasileiros exportam apenas commodities a um dos mercado consumidores mais ávidos por produtos industrializadosup bet exam date 2024todo o planeta?

Chineses na Praça da Paz Celestial

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Bolsonaro visitará capital chinesaup bet exam date 2024meio a giro pela Ásia e pelo Oriente Médio

Choqueup bet exam date 2024realidade

A viagem é descrita por representantes do mercado, da academia e da diplomacia ouvidos pela BBC News Brasil na China como "controleup bet exam date 2024danos", "choqueup bet exam date 2024realidade" e "correção entre o discurso eleitoral e oup bet exam date 2024governo".

"A gente passou por atritos profundos na relação bilateral durante a campanha eleitoral", avalia Tulio Cariello, coordenador do Conselho Empresarial Brasil-China, que reúne as principais empresas brasileiras do setor. "As frases polêmicas do governo não faziam o menor sentido por uma razão muito simples: a relação entre Brasil e China é hoje essencialmente econômica, e não política."

As exportações brasileiras para a China são compostas principalmente por produtos básicos, sem valor agregado. A soja ocupa o topo da lista, com 35% das exportações, seguida por óleos brutosup bet exam date 2024petróleo (24%) e minérioup bet exam date 2024ferro (21%).

Do outro lado, segundo o Itamaraty, as importações brasileirasup bet exam date 2024produtos chineses "correspondem, emup bet exam date 2024quase totalidade, a produtos manufaturados" — a maioria é formada por componentes elétricos e bensup bet exam date 2024consumo.

Representando o lado chinês, o especialistaup bet exam date 2024infraestrutura Jesse Guimarães, diretorup bet exam date 2024uma das maiores multinacionais chinesasup bet exam date 2024construção pesada, classifica a viagem como uma oportunidadeup bet exam date 2024"destravar maisup bet exam date 2024200 projetosup bet exam date 2024infraestrutura apresentados pelo governo Bolsonaro para empresários chineses" e "aproveitar um momento recordeup bet exam date 2024otimismo no empresariado asiático com o Brasil".

Segundo Guimarães, que participouup bet exam date 2024reuniõesup bet exam date 2024Pequim entre politicos chineses e o vice-presidente brasileiro, Hamilton Mourão,up bet exam date 2024maio deste ano, os principais projetos oferecidos pelos brasileiros se referem a aeroportos, ferrovias e portos. Eles estãoup bet exam date 2024faseup bet exam date 2024finalização até que as concessões sejam oferecidas por meioup bet exam date 2024concorrências.

Para a professora Karin Vazquez, pesquisadora do Centroup bet exam date 2024Estudos dos Brics da Universidade Fudan,up bet exam date 2024Xangai, o presidente brasileiro desembarca na China após sofrer um "choqueup bet exam date 2024realidade" posterior às eleições.

"Há uma diferença normal entre o discurso eleitoral e oup bet exam date 2024governo. O eleitoral usa um apelo popular, exageros, uma retórica para ganhar um eleitorado que não conhece a China ou o comércio internacional. É o que ganha voto", explica.

Bolsonaro durante visita ao Japão,up bet exam date 2024turnê pela Ásia

Crédito, José Dias/PR

Legenda da foto, Bolsonaro durante visita ao Japão,up bet exam date 2024turnê pela Ásia;up bet exam date 2024campanha, ele chegou a dizer que 'a China não compra no Brasil. A China está comprando o Brasil'

"Depois que assume, o presidente é imediatamente pressionado pelo lobby do agronegócio, pelas confederaçõesup bet exam date 2024industria. Ele se dá conta que quase 30% da pautaup bet exam date 2024exportações se refere à China. E percebe que não fazer negócios com chinesesup bet exam date 20242019 é inconcebível para qualquer país", prossegue.

A China é o principal destino das exportações brasileirasup bet exam date 2024todo o planeta. De janeiro a setembroup bet exam date 20242019, 27,6% do total das exportações brasileiras foram para o país asiático. No mesmo período, a China também ocupou o primeiro lugar entre os paísesup bet exam date 2024origem das importações brasileiras, com 19,9% do total.

Favorável ao Brasil há 10 anos, o superávit entre os dois países saltouup bet exam date 2024US$ 11,8 bilhões para US$ 29,5 bilhões entre 2016 e 2018,up bet exam date 2024acordo com dados oficiais.

'China quer namorar o Brasil'

O pragmatismo com que os chineses são conhecidos no mundo dos negócios fala mais alto que qualquer sentimentoup bet exam date 2024rancor ou desconfiança, na opinião dos entrevistados.

"O chinês sempre observa calmamente o que acontece antesup bet exam date 2024fazer qualquer movimento. Eles não agem por emoção ou impulso, como fez Bolsonaro", diz Eduardo Ponticelli, um empresário brasileiro que vive há 12 anos na China intermediando importaçõesup bet exam date 2024produtos brasileiros e exportações para o Brasil.

A visita do vice-presidente Mourão ao país,up bet exam date 2024maio, trouxe tranquilidade aos chineses, segundo diplomatas ouvidos pela BBC News Brasilup bet exam date 2024condiçãoup bet exam date 2024anonimato.

"Mourão acabou apertando as mãos e acalmando Xi Jinpingup bet exam date 2024pessoa, meses antes do chefeup bet exam date 2024Estado chinês encontrar o presidente brasileiro", lembra um membro do Itamaraty. "É um protocolo torto, mas mostrou que o governo brasileiro não pensa daquela maneira."

Para Ponticelli, a experiênciaup bet exam date 2024Mourão e o prestígio do ministro Paulo Guedes (Economia) desfizeram qualquer má impressão.

"Hoje, o que ouço dos chineses é que a China quer namorar o Brasil e roubá-lo do Trump", brinca.

O comentário surgeup bet exam date 2024meio à guerra comercial travada entre Washington e Pequim - um dos principais impulsionadores do recorde nas trocas comerciais registrada no ano passado entre chineses e brasileiros.

Xi Jinping

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Encontroup bet exam date 2024Bolsonaro com Xi Jinping é descrito por representantes do mercado, da academia e da diplomacia como tentativaup bet exam date 2024'correção entre o discurso eleitoral e oup bet exam date 2024governo'

"No curto prazo, os ganhos foram significativos principalmente no agronegócio e no mercadoup bet exam date 2024soja", lembra o doutorup bet exam date 2024ciência política Mauricio Santoro, especialistaup bet exam date 2024relações Brasil-China e professor do Departamentoup bet exam date 2024Relações Internacionais da Uerj.

"Mas a guerra comercial cria uma instabilidade grande no sistema multilateralup bet exam date 2024comércio, cria desrespeito a regras da OMS, aumenta o protecionismo."

Chineses e americanos sinalizam uma possível trégua por meioup bet exam date 2024um novo acordo comercial — que traria dorup bet exam date 2024cabeça aos brasileiros. "Em uma situaçãoup bet exam date 2024acordo, o Brasil perde, porque chineses vão precisar comprar mais produtos agrícolas dos americanos", diz Santoro.

Hoje, alémup bet exam date 2024principal parceiro comercial, segundo o Banco Central, a China é o 9º maior investidor no Brasil. Os recursos chineses são destinados principalmente a energia (geração e transmissão, alémup bet exam date 2024petróleo e gás) e infraestrutura (portuária e ferroviária),up bet exam date 2024acordo com o Ministério da Economia.

Honraria máxima a um Chefeup bet exam date 2024Estado

A estrutura organizada pelo governo chinês para receber o líder brasileiro mostra que não parece haver ressentimentos sobre os comentáriosup bet exam date 2024Bolsonaro na eleição.

Na tardeup bet exam date 2024sexta-feira (horário chinês), Bolsonaro será recebido no Grande Palácio do Povo pelo presidente Xi JinPing, pelo primeiro-ministro, Li Keqiang, e pelo Presidente da Assembleia Popular da China, Li Zhanshu.

À noite, Xi Jinping oferece jantar ao presidente brasileiro junto aos principais CEOs chineses — entre os quais, especula-se, o magnata Jack Ma, fundador do impérioup bet exam date 2024vendas online AliBaba.

Além dos encontros com as autoridades chinesas, Bolsonaro também participaup bet exam date 2024um jantar organizado pelo presidente da Fiesp, Paulo Skaf, com empresários brasileiros que fazem negócios com a China.

"Se compararmos essa viagem com a abertura da Assembleia-Geral da ONU, veremos outro Bolsonaro. Nas Nações Unidas, ele mostrou seu lado mais extremo, com a retórica antiglobalista e um nacionalista extremado que não reconhece preocupações globais, como meio ambiente. Na China, ele vai se comportarup bet exam date 2024forma mais trivial, cordial, o que já é um ganho para o Brasil", avalia Mauricio Santoro, da UERJ.

Mas, junto a toda a cordialidade do encontro, obstáculos politicos podem dificultar a luaup bet exam date 2024mel econômica entre os presidentes.

Navioup bet exam date 2024mercadoriasup bet exam date 2024porto chinês

Crédito, AFP

Legenda da foto, A China é o principal destino das exportações brasileirasup bet exam date 2024todo o planeta

Nova Rota da Seda

Avaliado como o maior projetoup bet exam date 2024política externa da Chinaup bet exam date 202440 anos, a Nova Rota da Seda é um mega programaup bet exam date 2024investimentosup bet exam date 2024infraestrutura que deve movimentar maisup bet exam date 20241 trilhãoup bet exam date 2024dólares vindos da Chinaup bet exam date 2024maisup bet exam date 202470 países com a construçãoup bet exam date 2024portos, ferrovias, estradas, gasodutos e oleodutos.

O objetivo chinês é expandir o acessoup bet exam date 2024seus produtos a outros mercados, ao mesmo tempoup bet exam date 2024que multiplica a presençaup bet exam date 2024suas multinacionais ao redor do mundo e amplia seu acesso a recursos naturais escassosup bet exam date 2024seu território.

O projeto, que inicialmente se concentrava na Ásia e na África, se expandiu para a América Latina, onde já tem a adesãoup bet exam date 202419 países — o principal deles é o Chile, somado a economias menores no Caribe e na América Central.

A adesão formalup bet exam date 2024uma economia forte como a brasileira ao projeto seria uma enorme vitória política para os chineses e é um dos principais esforços da diplomaciaup bet exam date 2024Pequim no momento.

O problema, no entanto, é a reação que isso causariaup bet exam date 2024Washington.

"O discurso do Brasil éup bet exam date 2024querer estes investimentos, mas pelo Programaup bet exam date 2024Parceriaup bet exam date 2024Investimentos (PPI), e não pela Rota da Seda", explica Santoro.

"O Brasil quer evitar o ônus político naup bet exam date 2024relação com os EUA. É uma preocupação legítima. Apoiar o projeto chinês é se posicionar dianteup bet exam date 2024uma disputa comercial intensa entre o país asiático e Donald Trump, que é um parceiro-chave do Brasil neste momento", diz.

Para a professora Karin Vazquez, o Brasil precisariaup bet exam date 2024contrapartidas fortes para aderir ao projeto.

"Traria um ganho político imenso para a China, na medidaup bet exam date 2024que a China tenta aumentar seu foot print (pegada,up bet exam date 2024inglês) na América Latina. Mas, do lado do Brasil, não me parecem claras as vantagens para um país que já atrai investimentos do tipo há décadas e já é uma das maiores economias do continente."

Tulio Cariello, do Conselho Empresarial Brasil-China, concorda. "Uma eventual assinatura teria efeito mais político do que econômico. A vantagem teria que estar muito clara para o Brasil embarcar", afirma.

Trump e Bolsonaro na ONU

Crédito, Alan Santos/PR

Legenda da foto, 'Apoiar o projeto chinês é se posicionar dianteup bet exam date 2024uma disputa comercial intensa entre o país asiático e Donald Trump, que é um parceiro-chave do Brasil neste momento'

Commodities, burocracia e o mercado consumidor chinês

Nos últimos anos, o governo chinês tem investido pesado na expansão da importância do consumo no seu PIB.

De 1978, com o processoup bet exam date 2024abertura da economia chinesa, até hoje, o PIB do país cresceu 172 vezes.

O analfabetismo, que alcançava 80% da população, hoje se aproximaup bet exam date 2024zero. A expectativaup bet exam date 2024vida saltouup bet exam date 202435 anos para 75.

Com isso, uma nova classe média, mais conectada aos costumes do ocidente e ávida por consumo, se consolidou no país.

"Muitos politicos e empresários no Brasil têm uma visão da China pré-revolução, ou o país que produzia artigos baratos eup bet exam date 2024baixa qualidade. É uma visão muito estigmatizada e antiga, que faz com o que o Brasil não aproveite as maiores oportunidades desse mercado", avalia a professora Vazquez.

"Estamos falando sobre um país que desenvolveu uma lua artificial para oferecer energia, que criou o trem-bala mais rápido do mundo, que lidera a quarta revolução industrial, pautada por tecnologiaup bet exam date 2024ponta, cidades inteligentes, big data, ciber-segurança", diz.

Mas por que o Brasil não exporta produtos industrializados para essa sociedadeup bet exam date 2024ebulição?

O caso do café oferece respostas interessantes.

"O Brasil é o maior exportador mundialup bet exam date 2024café bruto. Pela primeira vez na história, os chineses, tradicionais consumidoresup bet exam date 2024chá, estão se tornando grandes bebedoresup bet exam date 2024café. O mercado está crescendo a quase 40% ao ano. Seria ótimo para o Brasil", conta Mauricio Santoro.

O jovem chinês, no entanto, não procura o café ensacado tradicional do supermercado, mas variedades "gourmet".

"Este não é o café brasileiro. É um café com forte valor agregadoup bet exam date 2024marketing. Um café para um consumidor que está ficando mais refinado, mais rico. O Brasil poderia entrar nesse mercado, mas ainda não associa seus produtos a esta imagem e acabamos ficando presos às matérias-primas."

Do outro lado, os chineses reclamam da dificuldadeup bet exam date 2024investir no Brasil — principalmente a burocracia estatal.

"O ICMS é um bom exemplo. Os chineses reclamam muito porque há uma regra diferente para cada Estado. No final das contas, são várias regras diferentes para pagamentosup bet exam date 2024impostos e isso dificulta muito o trabalho", diz Santoro.

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