Depressão resistente: o que fazer quando o antidepressivo não funciona:eu estrela bet

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Legenda da foto, No Brasil, 5,8% dos habitantes sofrem com a doença, a maior taxa do continente latino-americano

"É quando o paciente, após tratamento com duas classes diferenteseu estrela betantidepressivos, por maiseu estrela betseis semanas eeu estrela betdoses terapêuticas, não apresenta melhora", explica o psiquiatra Wagner Gattaz, coordenador do Laboratórioeu estrela betNeurociências do Institutoeu estrela betPsiquiatria (IPq) da Universidadeeu estrela betSão Paulo (USP).

Segundo o médico, as causas ainda não são totalmente conhecidas – assim como as da própria depressão. Uma das explicações é a grande variabilidade individual no destino do medicamento depois que ele é tomado.

"Essa variabilidade começa no estômago e no intestino, determinando o quanto do medicamento será absorvido e irá para a corrente sanguínea. Alguns indivíduos absorvem mais, o que lhes garante um resultado melhor, e outros menos", comenta.

Também há diferenças individuais quando a droga chega ao cérebro: "O alvo dos antidepressivos são as conexões nervosas, nas quais predominam diferentes substâncias neurotransmissoras, como serotonina, noradrenalina e dopamina. Só que tanto a produção desses neurotransmissores quanto a sensibilidade dos seus receptores variameu estrela betpessoa para pessoa".

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Legenda da foto, O teste farmacogenético faz uma análise do DNA para verificar quais os remédios mais adequados para cada pessoa e os que ela terá intolerância

Fora isso, tem-se a variabilidade individual na velocidade com quem os medicamentos são metabolizados no fígado.

Em cercaeu estrela bet70% das pessoas, a metabolização se dáeu estrela betritmo normal. Nos 30% restantes pode ocorrereu estrela betforma ultrarrápida, não dando tempo para o remédio fazer efeito; ou lenta, acumulando a droga no organismo e provocando diversos efeitos colaterais.

"Sabemos que fatores relacionados à farmacocinética (ciência que estuda o caminho percorrido pelos remédios no corpo humano, desde a ingestão até a excreção) e à farmacodinâmica (estudo do mecanismoeu estrela betação dos fármacos com os seus receptores) determinam as diferenças entre as pessoas na resposta e reação aos antidepressivos", acrescenta Gattaz.

Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Psiquiátrica da América Latina (APAL) e superintendente da Associação Brasileiraeu estrela betPsiquiatria (ABP), destaca ainda outra hipótese para a resistência aos tratamentos da depressão.

"Temos disponíveis, basicamente, os antidepressivos 'inibidor seletivoeu estrela betrecaptaçãoeu estrela betserotonina', 'inibidor seletivoeu estrela betrecaptaçãoeu estrela betnoradrenalina', 'duais', 'dopaminérgicos', 'tricíclicos', 'tetracíclicos', 'inibidores da monoamina oxidase', 'melatoninérgicos' e 'carbonatoeu estrela betlítio', esse usado como estabilizadoreu estrela bethumor, mas que também tem ação antidepressiva. Quando o paciente não responde a nenhum deles, sozinhos ou combinados, talvez seja pelo fatoeu estrela betque, no seu caso, o medicamento precisaria atuar junto a alguma outra substância cerebral que ainda não conhecemos ou não identificamos", analisa.

O que também pode comprometer o resultado do tratamento são doenças associadas, como distúrbios da tireoide, dores crônicas e transtorno bipolar, e o uso conjuntoeu estrela betoutros medicamentos.

Estratégiaseu estrela bettratamento

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Legenda da foto, Segundo os especialistas, uma das explicações para os remédios não fazerem efeito éeu estrela betbaixa absorção na corrente sanguínea

Embora a depressão resistente seja um pouco mais difícileu estrela betser tratada, existem ferramentas. Uma delas é o teste farmacogenético, que faz uma análise do DNA para verificar quais os remédios mais adequados para cada pessoa e os que ela terá intolerância.

"Esse exame aumenta a probabilidadeeu estrela betum acertoeu estrela betmedicamento ou dá a orientação para um ajusteeu estrela betdose", afirma Gattaz.

No Brasil, são vários os laboratórios que o realizam. Alguns coletam amostraseu estrela betsaliva oueu estrela betmucosa bucal e outroseu estrela betsangue.

"Aqui, fazemos através do sangue. Analisamos os genes do grupoeu estrela betenzimas citocromo P450, responsáveis pela metabolização dos medicamentos no fígado, e, a priori, conseguimos identificar se o paciente é um metabolizador ultrarrápido ou lento", diz o especialista do IPq-USP.

Além disso, existem as terapias somáticas, que devem ser associadas às farmacológicas. Uma delas é a estimulação magnética transcraniana (EMT), técnica não invasiva que estimula o cérebro com ondas magnéticas, modulando os neurotransmissores.

Para obter um bom resultado são realizadas 20 sessões, inicialmente diárias. "A aplicação é feita com o paciente acordado e a partir da 10ª ele já começa a apresentar melhora", informa Gattaz.

Outra opção é a eletroconvulsoterapia (ECT), que, atravéseu estrela betuma baixa corrente elétrica, induz à convulsão e, assim, provoca alterações químicas no cérebro.

"Esse método provoca a despolarização da membrana neuronal, abrindo canaiseu estrela betcomunicação entre os neurônios", comenta Silva, da ABP.

"O problema é que ele ainda é muito estigmatizado no Brasil, visto como uma formaeu estrela betcastigo. Porém, é seguro e seu sucesso terapêutico tem sido destacado por diversos estudos", complementa.

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Legenda da foto, Entre 2008 e 2018, o númeroeu estrela betpessoas com depressão subiu 18,4%

Na ECT, a aplicação é feita com o paciente anestesiado. São realizadaseu estrela bet9 a 12 sessões,eu estrela betduas a três vezes por semana. "Algumas pessoas apresentam sinaleu estrela betmelhora já na primeira sessão, mas para o efeito ser completo é preciso fazer o tratamento todo", aponta o médico.

Vale salientar que tanto a EMT quanto a ECT não são indicados para todos os casos, e que apenas o psiquiatra pode avaliar a necessidade individualmente.

Em breve, uma nova alternativaeu estrela bettratamento para quem tem depressão resistente deve chegar ao Brasil: o spray nasaleu estrela betescetamina, substância derivada do anestésico cetamina.

"Ele tem ação ultrarrápida e boa tolerância", afirma Gattaz. Para se ter uma ideia, enquanto os comprimidos levameu estrela betduas a três semanas para fazer efeito, essa droga já se mostra eficaz nas primeiras 24 horas após a primeira aplicação.

O seu mecanismoeu estrela betatuação é diferente dos antidepressivos tradicionais. Enquanto os atidepressivos tradicionais aumentam quantidadeeu estrela betneurotransmissores relacionados à sensaçãoeu estrela betprazer e bem-estar, o spray age sobre o glutamato, molécula da rede neural, estimulando áreas do cérebro ligadas às emoções.

Nos Estados Unidos, o fármaco foi aprovadoeu estrela betmarço deste ano pela Food and Drug Administration (FDA), órgãoeu estrela betfiscalização e regulamentaçãoeu estrela betalimentos e remédios. E, lá, só é administrado sob supervisão médica.

Por aqui, está sob análise da Agência Nacionaleu estrela betVigilância Sanitária (Anvisa) e aguarda aprovação para ser lançado comercialmente.

"Esse medicamento será um avanço enorme, acredito que a quarta revolução no tratamento da depressão. A primeira foi a ECT, nos anos 1930; a segunda, os antidepressivos tricíclicos, nos anos 1950, e a terceira, os inibidores seletivoseu estrela betrecaptaçãoeu estrela betserotonina", complementa o psiquiatra do IPq-USP.

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