‘Talvez Bolsonaro não tenha noção do que está fazendo’, diz Collor:bet valsport

Crédito, Marcos Oliveira/Agência Senado

Legenda da foto, Em entrevista à BBC News Brasil, Collor diz que rumo tomado por Bolsonaro pode lhe colocarbet valsport'palposbet valsportaranha' (apuros)

"Talvez (Bolsonaro não tenha adotado esse caminho ainda) porque ele não tenha noção do que está fazendo", pondera ainda.

Collor entrou na política como prefeitobet valsportMaceió, nomeado pela Ditadura Militarbet valsport1979, após negociações realizadas por seu pai, o então senador Arnon Melo. Embora tenha se beneficiado com o regime, o hoje senador pelo Pros critica a faltabet valsporteleições na época e condena as falasbet valsportBolsonaro exaltando a tortura e a mortebet valsportopositores pelas ditaduras na América do Sul, como no caso do pai da ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet.

Crédito, Wilson Dias/Agência Brasil

Legenda da foto, O Palácio do Planalto,bet valsportBrasília; Collor diz busca por unificação do país, papel do presidente, não está sendo cumprido por Bolsonaro

"Eu tenho que lamentar e torcer para que ele não faça do relacionamento com outros chefesbet valsportEstado um palcobet valsportbrigas, masbet valsportpaz, entendimento, diálogo. Sem fazer declarações tão cruéis quanto essa", disse.

Collor, que assim como Bolsonaro se elegeu presidentebet valsportforte polarização com o PT ebet valsportmaior liderança, Luiz Inácio Lula da Silva, diz que hoje se arrepende da agressividade da campanhabet valsport1989. Na ocasião, levou para o programa eleitoral Miriam Cordeiro, ex-mulherbet valsportLula que o acusavabet valsportter oferecido dinheiro para que abortasse um filho dos dois.

"Me arrependo. Poderia ter sido uma campanha num outro nível, mas os ânimos estavam muito acirrados. Não que isso sirvabet valsportdesculpa, mas era um cenário que favorecia esse tipobet valsportcontenda", lamentou.

Confira a seguir a entrevista.

bet valsport BBC News Brasil - Desde o início do governo, o presidente Bolsonaro tem demitido ou perdido aliados que às vezes o contrariam. É um risco para um presidente acabar isolado, fechadobet valsportseu círculobet valsportconfiança?

bet valsport Fernando Collor - Claro, mas o exercício do poder é fundamentalmente solitário no sistema presidencialista. É algo que angustia muito. Há que se fazer um esforço grande, indispensável, para sair desse enclausuramento e se relacionarbet valsportuma forma mais oferecida, mais pungente até.

bet valsport BBC News Brasil - O presidente Bolsonaro foi eleito com discurso muito radicalizado e mantém esse tom. Falta ao governo um discurso mais construtivo e agregador?

bet valsport Collor - Sem dúvida. Um presidente da República, quando saibet valsportuma eleição, sempre enfrenta uma sociedade dividida. Como essa última campanha foi muito ideologizada, isso rachou a sociedade brasileira. Cabe ao presidente da República abrandar as paixões e procurar unir o paísbet valsporttornobet valsportpropostasbet valsportfavor da nação. E isso nós não estamos vendo acontecer. Nós estamos vendo, ao contrário, é um aprofundamento desse abismo que existe na sociedade brasileira, porque o tom do governo é fortemente ideológico, carregado na questão ideológica.

bet valsport BBC News Brasil - E onde esse aprofundamento pode dar?

bet valsport Collor - Não havendo um trabalho para essa reaglutinação da sociedade brasileira, e, ao lado disso, se não houver uma preocupação no sentidobet valsportse construir uma maioria parlamentar que dê sustentação ao governo, sem dúvida esse governo estábet valsportpalposbet valsportaranha (apuros). Estará vivendo momentosbet valsportmuita dificuldade.

bet valsport BBC News Brasil - Por que interessaria ao presidente fazer isso então?

bet valsport Collor - Talvez porque ele não tenha noção do que está fazendo. Se ele tiver noção exata do que está fazendo, das consequênciasbet valsportse continuando nessa linha, o que disso pode advir, eu acho que ele mudariabet valsportpostura e seu entendimento sobre o momento que o Brasil está vivendo.

bet valsport BBC News Brasil - Há uma sériebet valsportnotícias sobre o empenho do Planaltobet valsportconseguir votos no Senado para aprovar a indicaçãobet valsportEduardo Bolsonaro como embaixadorbet valsportWashington, inclusive negociações envolvendo cargos no Cade (Conselho Administrativobet valsportDefesa Econômica). O senhor foi procurado pelo Eduardo? Recebeu alguma proposta?

bet valsport Collor - Encontrei e ele manifestou o desejobet valsportaceitar a indicação, mas não pediu apoio, voto. Veio apenas mostrar as credenciais que julga ter para ocupar o cargo.

bet valsport BBC News Brasil - Essas credenciais são suficientes?

bet valsport Collor - A decisão do presidente da República constitucionalmente cabe a ele,bet valsportindicar quem lhe aprouver para a posição. Mas acho que é uma decisão que deveria ter sido pensada com mais cuidado, porque as credenciaisbet valsportser uma pessoa que transita bem na órbita familiar do presidente norte-americano (Donald Trump) talvez não sejam suficientes para a posiçãobet valsportembaixador.

bet valsport BBC News Brasil - Nada garante que Donald Trump vá ser reeleito, pode haver um presidente (do partido) Democrata a partirbet valsport2021. O excessobet valsportproximidade com a família Trump pode ser um aspecto negativo para a aprovação da indicação?

bet valsport Collor - Claro, um embaixador tem que ser apartidário ao assumir seu posto. Tem que estar ali defendendo os interesses do Brasil (enfatiza o nome do país). Ele deve ter relações com todas as correntes políticas que estão dominando o cenário daquele país. Se eventualmente esse governo não vier a ser reconduzido e chegar um democrata, ele não terá condiçõesbet valsportpermanecer lá.

Crédito, MANDEL NGAN/AFP/Getty Images

Legenda da foto, 'Acho que é uma decisão que deveria ter sido pensada com mais cuidado', opina Collor sobre indicaçãobet valsportEduardo Bolsonaro (foto) à embaixada do Brasil nos EUA

bet valsport BBC News Brasil - Mesmo apoiadores do governo criticam a escolhabet valsportEduardo para embaixador, como a deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP). Por que o senhor não se manifesta contrariamente?

bet valsport Collor - Meu voto eu já o tenho, eu não declino (revelo) meu voto. Minha posição é um pouco diferente, embora não me torne melhor ou pior que nenhum dos companheiros senadores, mas é que eu sou o único ex-presidente investidobet valsportum mandato. Então, eu devo, por obrigação dessa minha posição, não ser uma pessoa que cause algum tipobet valsporttrepidação nas relações institucionais entre o Legislativo e o Executivo. Tenho que exercer um papelbet valsportmoderação.

bet valsport BBC News Brasil - O seu governo também nomeou familiares para cargos importantes. Seu cunhado Marcos Coimbra era Secretário-geral da Presidência da República. O senhor também indicou seu primo Marco Aurélio Mello para o STF. Isso não contraria o princípio do republicanismo? O seu governo nesse sentido se aproxima do governo Bolsonaro?

bet valsport Collor - Pode haver semelhanças, mas há diferenças. No caso do Marco Aurélio ele havia sido preteridobet valsportduas outras oportunidades pelo fatobet valsportser primo do então governadorbet valsportAlagoas (Collor se refere a si próprio), que fazia dura oposição ao governo federal (do presidente José Sarney). Então,bet valsportparte por isso, e pela qualificação dele, achei que devia fazer essa indicação, para fazer justiça a ele.

Com relação ao Marcos, se eu tivesse uma atitudebet valsportnepotismo, eu o indicaria ministro das Relações Exteriores, porque ele tinha uma carreira diplomática, estava como embaixador do Brasilbet valsportAtenas. Veio para cá no período da campanha eleitoral (de 1989), e eu achei por bem convidá-lo para fazer parte do gabinete civil do meu governo.

bet valsport BBC News Brasil - O presidente Bolsonaro ignorou a lista tríplice elaborada pelo Ministério Público Federal para o cargobet valsportProcurador-Geral da República, mecanismo visto pela categoria como meiobet valsportgarantir a autonomia da instituição. O senhor vai votar a favor da indicaçãobet valsportAugusto Aras para PGR?

bet valsport Collor - O voto é reservado e secreto. Mas eu digo o seguinte, ele escolher fora da lista tríplice está perfeitamentebet valsportacordo com o que diz a Constituição. A lista tríplice foi uma criação do governo Lula, atendendo ao corporativismo do Ministério Público, que é muito forte. Não há porque haver sobressaltos agora. Tanto que a reação que ocorreu dentro do Ministério Público contra o nome indicado (por Bolsonaro) foi minúscula, sem repercussão maior. Resta-nos torcer que seja um bom procurador.

bet valsport BBC News Brasil - É natural que um presidente procure um procurador-geral que seja alinhado com a pauta que ele defende?

bet valsport Collor - O presidente da República que teria ditobet valsportuma entrevista informal: "eu quero alguém que esteja alinhado comigo". Mas eu não acredito que tenha chegado a ocorrerbet valsportuma conversa entre os dois. Pelo menos isso não passa pela minha cabeça, uma conversa como essa. O Ministério Público é independente, isso está na Constituição, e tem que ser respeitado como instituição independente.

bet valsport BBC News Brasil - O cargobet valsportprocurador-geral da República ganhou muita forçabet valsporttemposbet valsportLava Jato, e o senhor teve embates públicos com então procurador-geral Rodrigo Janot.

bet valsport Collor - E antes dele como o ex-procurador (Roberto) Gurgel também.

bet valsport BBC News Brasil - Uma das acusações que o senhor fazia ao Janot é que vazava informações sob segredobet valsportJustiça. Agora, o site The Intercept Brasil revelou conversas atribuídas a procuradores da Lava Jato que indicam possíveis ações ilegais da força-tarefa. Qualbet valsportavaliação?

bet valsport Collor - Sobre a questão do Janot, é público e notório que existiram vazamentos, não adianta tapar o sol com a peneira. Esses diálogos que o The Intercept está colocando à luz do dia são conversas absolutamente não republicanas e reprováveis, no momentobet valsportque um juiz combina com uma das partes (a condução do caso). Então, essa investigação precisa ser aprofundada.

bet valsport BBC News Brasil - Mas, por outro lado,bet valsportnenhum momento o conteúdo dessas mensagens aponta alguma manipulaçãobet valsportinformação nas denúncias.

bet valsport Collor - O simples fato da divulgação disso apresenta uma coisa muito mais séria que uma manipulação, é a intervenção direta do conluiobet valsportum juiz com o Ministério Públicobet valsportdesfavorbet valsporta, b ou c.

Crédito, Jefferson Rudy/Agência Senado

Legenda da foto, Sobre ser um senador ex-presidente, Collor diz: 'Eu devo, por obrigação dessa minha posição, não ser uma pessoa que cause algum tipobet valsporttrepidação nas relações institucionais entre o Legislativo e o Executivo'

bet valsport BBC News Brasil - Em uma das denúncias contra o senhor, o senhor acabou virando réu sob a acusaçãobet valsportintegrar um esquemabet valsportcorrupção dentro da BR Distribuidora. Os procuradores acusam o senhorbet valsportter montado um esquemabet valsportpropina que chegou a quase R$ 50 milhõesbet valsporttrocabet valsportapoio ao governo Dilma Rousseff. O que o senhor tem a dizer sobre essa acusação?

bet valsport Collor - É completamente infundada e ficará demonstrada mais uma vez o equívoco do Ministério Públicobet valsportoferecer essa denúncia. Essa denúncia é manipulada por obra desse, eu não tenho outra denominação melhor do que essa, desse canalha do Rodrigo Janot contra mim.

bet valsport BBC News Brasil - Recentemente causou controvérsia uma fala do Carlos Bolsonaro, filho do presidente,bet valsportque "por vias democráticas a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos". E o presidente Bolsonaro faz exaltações muito fortes da Ditadura Militar (1964-1985). Gostariabet valsportsaberbet valsportleitura sobre isso já que o senhor foi prefeitobet valsportMaceió nomeado pelo regime militarbet valsport1979, e integrou a Arena, que era o partidobet valsportsustentação da Ditadura Militar.

bet valsport Collor - O PDS (partido que sucedeu a Arena), mas é a mesma coisa.

bet valsport BBC News Brasil - O senhor reconhece que foi uma ditadura, que houve torturas?

bet valsport Collor - O que digo sobre a declaração do filho do presidente Bolsonaro é que ele foi extremamente infeliz. Naturalmente quando ele publicou esse tuíte, o pai estava hospitalizado. O que eu espero como cidadão é que o pai, no momentobet valsportque tomar conhecimento desse tuíte, que ele façabet valsportprofissãobet valsportfé pela democracia do Brasil.

bet valsport BBC News Brasil - Ele já afirmou que Carlos Bolsonaro disse a verdade, que na democracia as coisas são mais lentas.

bet valsport Collor - Perdeu uma oportunidade, no meu entender,bet valsportdizer que aquilo não tinha nada a ver com uma exaltação ou uma atitude saudosista do período militar. Deveria ter feito isso.

bet valsport BBC News Brasil - Mas o presidente exalta a ditadura sempre que ele pode. O senhor teve uma ligação com esse regime, qual é abet valsportleitura hoje sobre a ditadura?

bet valsport Collor - A minha leitura sobre a ditadura é que ela nunca é boa. Nós devemos perseverar no caminho da democracia. Foi um período da nossa história que não foi dos mais felizes, porque ao povo não foi dado o direitobet valsporteleger o seu mandatário. Mas por outro lado eu fui brindado pelo destinobet valsportter sido o primeiro presidente eleito pelo voto popular depois do período militar. Então, se algum período presidencial representa a redemocratização do país foi a minha eleição como presidente da República.

bet valsport BBC News Brasil - Por que o senhor esteve na base do regime militar?

bet valsport Collor - Porque o meu pai participava do PDS, que apoiava o governo militar. Na época me foi pedido para que ajudasse a renovar os quadros do partido, porque a juventude estava muito voltada para o campo da oposição. E que eu então aceitasse a indicação para ser prefeitobet valsportMaceió. Mesmo contra minha vontade, não por ser uma solicitaçãobet valsportmeu pai, mas por até momento eu não pensarbet valsportentrar na política, eu aceitei, mas com o compromissobet valsportquando terminasse esse mandatobet valsportprefeito eu sairia do campo político. E por isso eu aceitei, mas logo depois pela mão do destino, contra minha vontade fui candidato a deputado, a governador. Mas a presidente não, essa foi uma decisão que eu tomei.

bet valsport BBC News Brasil - Como assim contra abet valsportvontade?

bet valsport Collor - Essa é uma história muito antiga. Dos 9 aos 16 anos, sempre estudeibet valsportcolégio interno e católico, com comunhãobet valsportmissas diárias. E meu pai dizia lábet valsportcasa: "Engraçado, Leda, todos os nossos filhos dão pra política, menos o Fernando. O Fernando é um místico". Eu, sem saber do significado da palavra "místico", fui ao dicionário e percebi pelo entendimento da palavra que ela não era um elogio. Eu não gostavabet valsportpolítica. Quando, nos finaisbet valsportsemana, aparecia alguma reunião políticabet valsportcasa, eu me afastava. Tanto que, quando fiz 16 anos, eu fui ao meu pai e disse a ele que queria entrar no seminário, queria seguir a carreira religiosa e ser padre. Meu pai olhou para mim, perguntou: "Que idade você tem?". Eu falei "16 anos". E ele respondeu que quando eu fizesse 18 anos nós conversaríamos.

Quando eu tinha 17 anos, ele me tirou do colégio interno e me trouxe para Brasília para estudar no Ciem, que era um colégiobet valsportsegundo grau fundado por Darcy Ribeiro quando reitor da UNB, e localizado dentro do campus universitário. Isso mudou completamente a minha vontadebet valsportingressar no seminário e seguir o sacerdócio. Mudou completamente a minha vida. Quando veio a questão da prefeitura, eu disse: "Não quero". Depois, deixei a prefeitura, meu pai estava doente, não podendo exercer seu mandato no Senado na plenitude. E minha mãe falou que eu deveria ser candidato porque nossa família não poderia ficar sem representante político. E apesar dos meus protestos lá fui eu ser candidato a deputado federal.

Crédito, REUTERS/Adriano Machado

Legenda da foto, 'Eu tenho que lamentar e torcer para que ele não faça do relacionamento com outros chefesbet valsportEstado um palcobet valsportbrigas', diz Collor sobre Jair Bolsonaro

bet valsport BBC News Brasil - Quandobet valsportmãe disse que a família não poderia deixarbet valsportter um representante político, é preciso lembrar que muitos cientistas políticos tratam essa tradiçãobet valsportfamílias se perpetuarem no poder como paternalismo. Os interesses familiares estavam ameaçados na ausênciabet valsportum representante político?

bet valsport Collor - Não, é uma forma paternalistabet valsportse entender o mundo. E eu sou um fruto desse paternalismo, que hoje já não existe com tanta intensidade.

bet valsport BBC News Brasil - Mas a família presidencial é hoje um exemplo disso. Bolsonaro está desde a redemocratização no Congresso, e colocou os filhos na política. Parece um pouco forabet valsportmoda, mas a família que está no poder do país é assim.

bet valsport Collor - Não é nem forabet valsportmoda, é um costume que estábet valsportcerta forma ultrapassado. Mas o que você fala é correto, esse exemplo se aplica muito bem ao paternalismo sim.

bet valsport BBC News Brasil - Qual é o seu sentimento quando o senhor vê o presidente da República exaltando a tortura? Ele deu declarações desrespeitosas contra o pai do presidente da OAB (o desaparecido político Fernando Santa Cruz), contra o pai da ex-presidente do Chile, Michele Bachelet (morto pela ditadurabet valsportAugusto Pinochet).

bet valsport Collor - Eu me sinto extremamente incomodado. Eu acho que essas declarações do presidente foram no mínimo apressadas. Para não dizerbet valsportextremo mau gosto,bet valsportextrema dureza para com os familiares daqueles que foram mortosbet valsportperíodobet valsportditadura militar. Eu tenho que lamentar e aguardar, torcer para que ele não faça do relacionamento com outros chefesbet valsportEstado um palcobet valsportbrigas, masbet valsportpaz, entendimento, diálogo. Sem fazer declarações tão cruéis quanto essa.

bet valsport BBC News Brasil - O senhor derrotou Lulabet valsport1989 e depois, ao longo dos anos, acabou se aproximando dele. Num eventobet valsportPalmeira dos Índios (Alagoas)bet valsport2009, vocês se abraçaram. Hoje o senhor é senador pelo Pros e compõe um bloco com o PT no Senado. Quem mudou desde aquela eleição? O senhor, o PT?

bet valsport Collor - Eu não mudei absolutamente nada. Continuo o mesmo social-liberal que eu era dantanho. Quem mudou, quem evoluiu, melhor dizendo, foi o Lula. Na primeira candidatura (vitoriosa) dele, ele assinou a Carta aos Brasileiros. Aquilo foi uma declaraçãobet valsportcrença num processo liberal com consciência social, que é próprio do social liberalismo. Então, a minha agenda inauguradabet valsport1990 continua aí.

Tudo aquilo que eu lancei naquela época, lancei debaixobet valsportprotestos e mais protestos, como entreguista, como querendo vender o país ao capital estrangeiro, aquelas coisas completamente forabet valsportpropósito. Mas essas coisas que antes era quase proibido ser faladobet valsportpúblico, hoje corriqueiramente se trata. Hoje estamos falandobet valsportprivatizações.

bet valsport BBC News Brasil - É curioso como aquela época (a eleiçãobet valsport1989) parece voltar um pouco agora. O senhor se elegeu por um partido pequeno, como o Bolsonaro, com um discurso anticorrupção, tem dificuldades no Congresso, tem a mesma taxabet valsportaprovação nos primeiros oito mesesbet valsportgoverno, passearambet valsportjet-ski para as câmeras, tem uma sériebet valsportfamiliares envolvidos no governo. O senhor reconhece essas semelhanças? O presidente Bolsonaro pediu inclusive para as pessoas saírem na ruabet valsportverde e amarelo (como Collorbet valsport1992, ocasiãobet valsportque as pessoas reagiram vestindo preto).

bet valsport Collor - Eu sei que, para mim, tudo isso é inédito. Tudo que eu fiz era inédito. Se alguém está copiando, é ele. Então, se há semelhanças, é ele que está buscando essas semelhanças, é ele que está gerando essas semelhanças. Não eu.

bet valsport BBC News Brasil - Presidente, outra similaridade entre o seu governo e o atual é o que o senhor extinguiu a pasta da Cultura. O senhor acha que essa pasta não é relevante? Concorda com o que está sendo feito nessa área?

bet valsport Collor - Não diga isso, que eu extingui a Cultura. Eu diminuí o númerobet valsportministérios. Nessa época eu dizia que queria terbet valsportminha mesabet valsportjantar lugares que desse para fazer reunião com meus ministros. Tive 12 ministros, dentre eles 3 militares (do Exército, Marinha e Aeronáutica). Não havia Ministério da Defesa. A Secretariabet valsportCultura (existia), e o grande legado meu para a área da Cultura, uma demonstração do apreço que eu tenho pela área, foi a Lei Rouanet (que permite a empresas patrocinar a culturabet valsporttrocabet valsportdescontosbet valsportimpostos).

E aí está há 30 anos, financiando toda a produção audiovisual desse país, recolhendo prêmios importantíssimos internacionais. Quando se falabet valsportcultura, se falabet valsportLei Rouanet. Se ela é justa, se é injusta, isso é uma discussão que vem desde os primórdios. Por que não está se dando mais recursos para produções do Nordeste, concentrando isso no Centro-Sul. A discussão ficabet valsporttorno disso. Foi um dos meus legados como presidente da República oferecer à cultura nacional a possibilidadebet valsportseu desenvolvimento.

bet valsport BBC News Brasil - Mas nessa mesma época houve a extinção da Embrafilme, que também é muito lembrado pela cultura como outro legadobet valsportseu governo.

bet valsport Collor - A Embrafilme era um instrumento que, esse sim, estava a serviçobet valsportum grupo muito pequenobet valsportpessoas e com muita confusão interna. Então,bet valsportvezbet valsporttermos um instrumento altamente subsidiado e que serviabet valsportcabidebet valsportemprego, nós fizemos com que esse subsídio fosse dadobet valsportoutra forma (pela Lei Rouanet).

Crédito, EPA/FERNANDO BIZERRA JR.

Legenda da foto, 'Eu não mudei absolutamente nada (...) Quem mudou, quem evoluiu, melhor dizendo, foi o Lula', avalia Collorbet valsportentrevista à BBC News Brasil

bet valsport BBC News Brasil - A Ancine corre hoje um risco parecido. Também existe uma crítica presidencial como se houvesse um grupo que domina a produção com interesses morais, culturais… Além disso, a produção cinematográfica secou com o fim da Embrafilme.

bet valsport Collor - Até que a lei (Rouanet) tomasse corpo. Mas a questão da Ancine é diferente. A Embrafilme é Empresa Brasileirabet valsportFilmes, empresa estatal criada para financiar filmes. A Ancine é uma agência reguladora, Agência Nacionalbet valsportCinema.

bet valsport BBC News Brasil - É uma agênciabet valsportfomento também.

bet valsport Collor - Fomentobet valsporttermos, mas é sobretudo uma agência reguladora. Hoje a discussão que se tem e que é algo perigoso, porque acredito que a liberdadebet valsportexpressão é um direito inerente e faz parte das garantias coletivas e individuais, não pode haver interferência nem ideologia, seja elabet valsportqual matiz for, para dizer se esse filme vai ser financiado ou não. O que deve ser visto é se o filme tem um valor artístico mínimo que seja, se corresponde aos padrõesbet valsportexigibilidade para receber esse tipobet valsportfomento. E isso me preocupa. O que está se falando agorabet valsporttermos da Ancine ébet valsportmudar os métodos que estão norteando as ações da Ancine.

bet valsport BBC News Brasil - Qual é o risco disso?

bet valsport Collor - O risco disso é nós voltarmos a uma interferência direta na produção cultural do país com basebet valsportconceitos ideológicos. Isso significa uma censura e isso não temos como apoiar.

bet valsport BBC News Brasil - Retomando abet valsportaproximação com Lula quando ele era presidente, isso não denota um pragmatismo das duas partes, já que ele tem uma popularidade enorme no Nordeste, da mesma forma que ele pode ter se beneficiado porbet valsportpopularidadebet valsportAlagoas?

bet valsport Collor - Até poderia, mas não foi isso. Eu fui eleito (senador)bet valsport2006 numa campanha que durou 28 dias. Quando cheguei aqui (a Brasília), já tinha uma noçãobet valsportque o governo Lula caminhava para o centro, como caminhou. A questão da Carta aos Brasileiros vembet valsport2002. Isso já me causou uma certa impressão. Então, quando aqui cheguei (em Brasília), os jornalistas antesbet valsportvirem a mim, já começavam a elucubrar que eu estava vindo para tocar fogo no paísbet valsportoposição ao Lula. E eu disse que não vim para isso.

Eu sou um ex-presidente, investidobet valsportum mandato popular, tenho a consciênciabet valsportque o programa do presidente Lula estava perfeitamente configurado naquilo que defendibet valsport1990. Não saindo dessa linha, eu estoubet valsportacordo e vou ficar na minha posiçãobet valsportneutralidade até que desfigure a minha agendabet valsportfunçãobet valsportações que fossem tomadas por aquele governo.

bet valsport BBC News Brasil - O senhor disse há alguns anos ter votadobet valsportLula já contra Fernando Henrique Cardoso.

bet valsport Collor - É verdade. Eu tinha votado no Lula na eleiçãobet valsport94 e votei na eleiçãobet valsport98.

bet valsport BBC News Brasil - Antes da Carta aos Brasileiros, portanto. Não queria um governobet valsportFHC?

bet valsport Collor - Eu não viabet valsportFernando Henrique, e isso pesa muito para mim na avaliação, que é uma consciência social, uma preocupação social. E isso eu percebia que o Lula tinha e tem.

bet valsport BBC News Brasil - O senhor se arrepende do nívelbet valsportagressividade a que chegou a eleiçãobet valsport89, ter levado uma ex-mulher do Lula a um programa para afirmar que ele havia sugerido um aborto?

bet valsport Collor - Me arrependo. Espero que o Lula tenha se arrependido tambémbet valsporttudo que ele me acusou durante a campanha. As pessoas se lembram desse episódio, mas não se lembram do que ele falava. Mas sim, me arrependo. Poderia ter sido uma campanha num outro nível, mas os ânimos estavam muito acirrados. Não que isso sirvabet valsportdesculpa, mas era um cenário que favorecia esse tipobet valsportcontenda.

bet valsport BBC News Brasil - O ex-presidente Temer afirmoubet valsportentrevista ao programa bet valsport Roda Viva bet valsport que ele "jamais apoiou o golpe". Houve um golpe parlamentar para derrubar a então presidente Dilma Rousseff?

bet valsport Collor - (Risos). Não acho que tenha sido golpe. Acho que foi um processo políticobet valsportperdabet valsportapoio popular e apoio sobretudo parlamentar. E isso vem dentro ao encontro do que eu falei antes: num sistema presidencialista, se um presidente da República não consegue construir maioriabet valsportapoio parlamentar, ele não consegue governar. Então é uma questão política.

bet valsport BBC News Brasil - Então, nesse sentido, o senhor reconhece que seu impeachment não foi ilegítimo ou ilegal.

bet valsport Collor - Não, ele foi um processo ilegítimo. Eu fui afastado da Presidência. Depois foi marcado o julgamento pelo Senado, transformadobet valsporttribunal. No momento dessa reunião, eu apresentei a minha carta renunciando à Presidência da República. Então, não tinha mais presidente para ser julgado.

bet valsport BBC News Brasil - Avaliou-se que o senhor estava fugindo do julgamento.

bet valsport Collor - Mas não é avaliação. A renúncia é um ato unilateral, não cabe nenhuma interpretação se está fugindo, se está ficando, se está voando. O Senado tinha que deixarbet valsportser um tribunal e eu não perderia meus oito anosbet valsportdireitos políticos como formabet valsportpena suplementar imposta. No impeachment (da presidente Dilma) eles dividiram (a votação sobre cassação do mandato e sobre perda dos direitos políticos). Não lhe foi imposta a perda dos direitos políticos. São dois pesos, duas medidas.

bet valsport BBC News Brasil - Hoje é dado na política que a relação do Executivo com o Congresso se dá ou por um toma-lá-dá-cá ou nada. Que alternativas restam?

bet valsport Collor - Um diálogo, um projetobet valsportpaís. Chamar para conversarbet valsporttornobet valsportalgo palpável, um projeto que a população perceba que tenha começo, meio e fim, com consequênciasbet valsportordem prática na vida e no cotidianobet valsportcada um.

bet valsport BBC News Brasil - O senhor vê isso neste governo?

bet valsport Collor - Eu vejo que falta isso a esse governo. Há ausênciabet valsportum projetobet valsportpaís.

bet valsport BBC News Brasil - É possível um diálogo sem envolver cargos, pastas e estatais?

bet valsport Collor - O que se coloca no toma-lá-dá-cá é que eu preciso desse cargo para acomodar aliados e tal. Essa é uma prática que, vista sob essa ótica, é reprovável, mas vista sob a ótica do parlamentarismo.... Eu sou parlamentarista. Eu acho que o sistema presidencialista é a carroça da política brasileira. No parlamentarismo, que é um sistemabet valsportgoverno mais transparente, um partido majoritário elege X deputados, mas não o suficiente para obter a maioria. Então vai procurar outros partidos para fazer maioria. Então, na Itália houve uma reuniãobet valsportpartidos antípodas (em agosto, para barrar a extrema-direita). Aí o partido minoritário que está sendo procurado diz: "Muito bem, eu faço parte do governo, mas a minha bandeira que eu venho defendendo é isso e eu precisobet valsportum espaço no ministério tal e qual". E assim é constituído.

No presidencialismo, isso pode ser feito com muito menos visibilidade, mas pode ser feito com visibilidade necessária para se mostrar que não há esse toma-lá-dá-cá pejorativo. Tem um partido aqui que tem pessoas que vêm se dedicando à questão da saúde, tem apresentado projetos e tal. O governo que vai ser formado chama esse partido e diz: "Olha, tô aqui com o Ministério da Saúde e eu quero que vocês me tragam três nomes com esse perfil, assim e assado, para eu escolher um para ser ministro, se aceitarem esse ministério". E assim que pode ser feito, sem um toma-lá-dá-cá. Quando existe isso é ruim, é deletério. Nós temos que fazer o possível para evitar. Então tem que haver um meio-termo para se construir uma base parlamentarbet valsporttornobet valsportum projetobet valsportpaís.

Crédito, Pedro França/Agência Senado

Legenda da foto, Praça dos Três Poderes,bet valsportBrasília; Collor se diz 'parlamentarista' e caracteriza o sistema presidencialista como 'a carroça da política brasileira'

bet valsport BBC News Brasil - O senhor defende o parlamentarismo, mas no Brasil a população já rejeitou essa hipótesebet valsportplebiscito e a gente vê que nem sempre o parlamentarismo é sinônimobet valsportestabilidade política, a exemplo da própria Itália, combet valsporttroca constantebet valsportgoverno.

bet valsport Collor - Pelo contrário, há estabilidade política absoluta. A Itáliabet valsportum ano teve quase dez governos.

bet valsport BBC News Brasil - Isso iria funcionar no Brasil?

bet valsport Collor - Desculpe, mas o termo instabilidade não pode ser usado para o parlamentarismo. Se há um sistemabet valsportgoverno que traga estabilidade a um país, este é o parlamentarismo. Frutobet valsportum burocracia profissionalizada. Não tem essa miríadebet valsportcargos públicos, e cada vez que um governo chega (no Brasil) são 27 mil cargos que têm que ser preenchidos. Isso é que está errado. É isso que causa instabilidade política no país. Porque a máquina estatal para.

No parlamentarismo, não. Em funçãobet valsportuma burocracia estável, toda ela concursada, que lá chegou pelo mérito e desempenho, tanto faz a briga do governo. Como na Inglaterra, na Itália, que continuam trabalhando. Deixa lá os políticos resolverem esse negócio, essa bagunça que eles criaram. Deixa para lá. O país vai continuar funcionando. Então, o parlamentarismo é sinônimobet valsportestabilidade política para qualquer país.

bet valsport BBC News Brasil - O senhor acha que as emissorasbet valsportTV e rádio nas quais abet valsportfamília tem sociedade beneficiarambet valsportcarreira política?

bet valsport Collor - É uma coisa interessante. Porque a televisão, que é o instrumento principal, a gente pouco pode dela se valer porque sempre houve um controle muito grande nos afiliados da Rede Globobet valsportrelação ao noticiário político. As rádios, o jornal, pode ter, sim, influenciado alguma coisa, mas fundamentalmente o que lábet valsportAlagoas funcionava e, não sei ainda, continua funcionando é o contato pessoal, é a capacidade do candidatobet valsportse relacionar com seu eleitorado, combet valsportpopulação, com as pessoas.

Dizem que essa fasebet valsportcomício já passou, agora é tudo internet, é isso, é aquilo. Rede social sem dúvida é importante, mas nada substitui o contato pessoal. Lábet valsportAlagoas, a população precisa desse contato pessoal. E para isso eu sempre tive disponibilidade e gosto para oferecer. Então talvez por isso. E talvez esse seja um dos motivos pelos quais eu tenha sido eleito tantas vezes.

bet valsport BBC News Brasil - O controlebet valsportum grupobet valsportcomunicação por uma famíliabet valsportpolíticos não prejudica a disputa e a renovação política? E ela não é uma afronta à Constituição? Há uma decisão judicialbet valsportprimeira instância que revoga a concessão, que entrariabet valsportvigor caso transitebet valsportjulgado.

bet valsport Collor - Mas e se não for? Eu torço para que não seja. Não é contrário à renovação uma família ter meiosbet valsportcomunicação. No meu caso foi o contrário. Porque eu fui o deputado federal mais votado no Estadobet valsportAlagoas e um dos mais jovens do Brasil. Fui o presidente da República mais jovem das Américas. Até hoje. Então, as empresasbet valsportcomunicação nossas não impediram a renovação porque eu fui a própria renovaçãobet valsporttodos esses escalões que eu ocupei na política.

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