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13grátis vaidebet commaio: como dois Estados brasileiros aboliram a escravidão antesgrátis vaidebet com1888:grátis vaidebet com
O simbolismo da insurreição dos jangadeiros correu o Império.
Em 1883, os "catraieiros" do Amazonas, que desempenhavam a mesma função dos jangadeiros cearenses - ligavam o cais do porto aos navios com suas pequenas embarcações - também entraramgrátis vaidebet comgreve e se negaram a transportar os negros escravizados que seriam enviados do Norte a outras regiões do território.
No ano seguinte, as duas províncias aboliram a escravidão - quatro anos antes da assinatura da Lei Áureagrátis vaidebet com13grátis vaidebet commaiográtis vaidebet com1888.
O pioneirismo foi resultadográtis vaidebet comuma conjunçãográtis vaidebet comfatores, que vão desde o ativismo dos abolicionistas ao papel secundário dos escravizados na economia local.
A articulação com o movimento nacional, capitaneado por figuras como José do Patrocínio, Joaquim Nabuco e André Rebouças, foi determinante.
Alémgrátis vaidebet comavaliarem as causas, especialistas ouvidos pela BBC News Brasil também destacam um lado "obscuro" e menos discutido da abolição antecipada: a liberdade precária dos alforriados "sob condição", que continuavam tendográtis vaidebet comprestar serviço aos antigos senhores, muitos como empregados domésticos.
O tráfico interprovincial e o 'Dragão do Mar'
A mãográtis vaidebet comobra escrava não chegou a ser predominante no Ceará como o foi nas províncias nordestinasgrátis vaidebet comPernambuco e da Bahia, diz o historiador Eurípedes Funes, da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Ela era usadagrátis vaidebet comparalelo à forçagrátis vaidebet comtrabalhográtis vaidebet com"pobres e livres" egrátis vaidebet comescravos indígenas. Por ser uma áreagrátis vaidebet comcolonização tardia, acrescenta Franck Ribard, também do departamentográtis vaidebet comHistória da UFC, o Ceará concentrava número elevadográtis vaidebet comindígenas, muitos fugidosgrátis vaidebet comoutras regiões onde eram capturadosgrátis vaidebet commassa nas primeiras décadas da colonização e submetidos a trabalhos forçados.
A economia local era baseada na pecuária, que não demandava a mãográtis vaidebet comobra intensiva da grande empresa açucareira que moveu o Brasil colônia nos séculos 16 e 17.
O Amazonas, porgrátis vaidebet comvez, era a província com o menor númerográtis vaidebet comhomens e mulheres escravizados do Império, conta Patrícia Melo Sampaio, da Universidade Federal do Amazonas (UFAM).
De acordo com o censográtis vaidebet com1872 - o primeiro do Brasil -, pouco maisgrátis vaidebet comuma década antes da abolição viviam lá 979 escravizados, número bastante inferior aos 6,6 mil registrados no Mato Grosso, província que estava imediatamente antes na lista.
"Sua importância, contudo, não deve ser minimizada com base nesses dados. A propriedade escrava era um poderoso marcadorgrátis vaidebet comdistinção social egrátis vaidebet comprivilégios - e a elite possuidoragrátis vaidebet comescravos tinha clareza disso", ressalta a pesquisadora.
Isso porque ter escravos significava possuir um bem extremamente valiosográtis vaidebet comuma sociedade com poucas opçõesgrátis vaidebet comcrédito e baixa liquidez.
Alémgrátis vaidebet comvendê-los, os "senhores" poderiam alugá-los para prestar serviços a terceiros como amasgrátis vaidebet comleite, criadas, carpinteiros e marceneiros - e os jornais do Ceará dessa época estão cheiosgrátis vaidebet comanúncios desse tipo - ou usá-los como lastrográtis vaidebet comoperações mercantis, ou seja, como garantiagrátis vaidebet comcasográtis vaidebet comnão pagamentográtis vaidebet comdívidas.
"É preciso compreender a multiplicidadegrátis vaidebet comfacetas e do enraizamento da escravidão no Brasil imperial, e o Amazonas não escapa desta lógica."
Isso explica, por exemplo, porque o tráfico interprovincial ganhou fôlego na décadagrátis vaidebet com1870.
Nessa época, "senhores"grátis vaidebet comáreasgrátis vaidebet comdecadência econômica, como Norte e Nordeste, passaram a vender seus cativos para provínciasgrátis vaidebet comque se pagava muito por eles - especialmente as do Sudeste, onde a indústria do café crescia movida pelo trabalho do negro escravizado, explica a historiadora Maria Alice Rosa Ribeiro, que pesquisa a sociedade escravista campineira no Centrográtis vaidebet comMemória da Unicamp.
Milharesgrátis vaidebet comhomens e mulheres foram parar no Oeste Paulista e no Vale do Paraíba dessa maneira.
A história da greve dos jangadeiros entra justamente nesse contexto. José Luís Napoleão, Francisco José Nascimento - que ficaria conhecido como "Dragão do Mar" - e os colegas se recusaram a transportar os escravos da praia às embarcações que os levariam às cidades onde os novos "donos" os esperavam.
A história virou símbolo da abolição no Estado - e inclusive deu "força extra para a mobilização amazonense", diz Patrícia Sampaio -, mas ela não foi "espontânea", ressalta Ângela Alonso, professora livre-docente do departamentográtis vaidebet comSociologia da Universidadegrátis vaidebet comSão Paulo (USP).
As sociedades abolicionistas
Os jangadeiros se organizaram por meio da Sociedade Libertadora Cearense, formada por políticos e intelectuais da província e articulada com o movimento abolicionista nacional.
Os clubes e sociedades abolicionistas começaram a pipocar no império a partir da décadagrátis vaidebet com1860, influenciadasgrátis vaidebet comparte por movimentos semelhantesgrátis vaidebet compaíses como Estados Unidos e Cuba.
"Os intelectuais da época eram cosmopolitas, eles não eram caipiras, como muita gente imagina. Viajavam, acompanhavam as notícias internacionais - que, depois do telégrafo, instalado no Brasil na décadagrátis vaidebet com1860, chegavam aqui mais rápido ainda", diz a autoragrátis vaidebet comFlores, votos e balas: O movimento abolicionista brasileiro (1868-88).
Assim, a elite brasileira do século 19 acompanhou atenta os episódios da Guerragrátis vaidebet comSecessão americana, que teve iníciográtis vaidebet com1861 e que contrapôs os Estados do Sul, escravistas, e os do Norte, favoráveis à abolição. Lá, a 13ª Emenda, que acabou com a escravidão, foi assinada por Abraham Lincolngrátis vaidebet com1865.
A libertação dos escravizados no Brasil, ressalta a socióloga, fez partegrátis vaidebet comum "dominó internacional", uma sequênciagrátis vaidebet comabolições.
Das 'vaquinhas' para compragrátis vaidebet comalforria às insurreições
Os clubes e sociedadesgrátis vaidebet comtodo o país faziam campanha através da imprensa e,grátis vaidebet commuitas províncias, arrecadavam fundos para comprar a liberdadegrátis vaidebet comescravizados - um dispositivo institucionalizadográtis vaidebet com1871, com a Lei do Ventre Livre, que também criou oficialmente o fundográtis vaidebet comemancipação.
Com o tempo, as cerimôniasgrátis vaidebet comentrega das cartas aos escravizados foram virando eventos cada vez maiores, teatralizados, com leiturasgrátis vaidebet compoesia e realizaçãográtis vaidebet comconcertos.
A estratégiagrátis vaidebet comcompra das alforrias, para Alonso, era uma formagrátis vaidebet comos abolicionistas sinalizarem a construçãográtis vaidebet comuma abolição gradual, sem afronta direta ao status quo - que, nos EUA, esteve na raiz na guerra civil.
De vezgrátis vaidebet comquando, entretanto, apareciam episódios como o da greve dos jangadeiros, para pressionar o governo com uma ameaçagrátis vaidebet compossível radicalização. Não por acaso, o caso foi amplamente noticiado por José do Patrocínio, figura central do abolicionismo - que tinha interlocução com os ativistas cearenses -, na Gazetagrátis vaidebet comNotícias do Riográtis vaidebet comJaneiro.
"Os jangadeiros só conseguiram fazer o que fizeram porque tinham parte importante da elite política e das forças policiais ao seu lado", ela acrescenta.
No Ceará, o abolicionismo ganhou fôlego depois da "grande seca"grátis vaidebet com1877, que se estendeu por três anos e deixou a provínciagrátis vaidebet comestadográtis vaidebet comcalamidade, diz o historiador Eylo Fagner Silva Rodrigues, que dedicou a pesquisagrátis vaidebet commestrado e doutorado ao tema da escravatura e da abolição no Estado.
No Amazonas, a atuação das sociedades abolicionistas teve ajuda importante da maçonaria, que se "dedicou intensamente a angariar recursos" para o fundográtis vaidebet comemancipação, diz Sampaio, da UFAM.
Reconhecimento internacional
Um dos ativistas responsáveis pela "ritualização" das entregas das cartasgrátis vaidebet comalforria foi o educador baiano Abílio César Borges, que foi professorgrátis vaidebet comuma geraçãográtis vaidebet comabolicionistas que inclui Rui Barbosa, Castro Alves e o político Sátirográtis vaidebet comOliveira Dias - que foi presidente da província do Ceará e,grátis vaidebet com25grátis vaidebet commarçográtis vaidebet com1884, assinou a abolição.
Havia uma expectativa nacional pela promulgação no Ceará. Meses antes, na Gazetagrátis vaidebet comNotícias, José do Patrocínio inaugurou uma coluna semanal com uma "contagem regressiva" que enumerava as cidades cearensesgrátis vaidebet comque a abolição já havia sido decretada.
A primeira foi Acarape, atual Redenção.
Em uma manobra para evitar uma contraofensiva por parte do governo central, quando a data estipulada pelos ativistas para a abolição se aproximava, expoentes do movimento buscaram apoio e reconhecimento internacional para ela - Joaquim Nabuco organizou um banquetegrátis vaidebet comLondres e José do Patrocínio fez outrográtis vaidebet comParis.
"Quando aconteceugrátis vaidebet comfato, ela já era impossívelgrátis vaidebet comreprimir", diz Alonso, que é presidente do Centro Brasileirográtis vaidebet comAnálise e Planejamento (Cebrap).
No Amazonas, o presidente da província, Theodoreto Souto - que era cearense -, promulgou a aboliçãográtis vaidebet com24grátis vaidebet commaio, quando foram libertos os últimos escravos matriculados na província.
O plano dos abolicionistasgrátis vaidebet compromover a abolição gradativamente nas demais províncias foi interrompida por uma reação dos escravistas, que conseguiram alçar ao Conselhográtis vaidebet comMinistros o conservador Barãográtis vaidebet comCotegipe, que capitaneou uma repressão severa ao movimento abolicionista, com perseguições físicas e judiciais.
A promulgação da Lei Áureagrátis vaidebet com13grátis vaidebet commaiográtis vaidebet com1888 se dágrátis vaidebet comum cenáriográtis vaidebet comcrise no império, com intensificação das fugas e insurreiçõesgrátis vaidebet comescravizados.
O documento assinado pela princesa Isabel estava longe do que os abolicionistas imaginavam. O projeto encampado por eles,grátis vaidebet comManuel Pintográtis vaidebet comSousa Dantas, que foi presidente do Conselhográtis vaidebet comMinistros entre 1884 e 1885, previa o pagamentográtis vaidebet comuma espéciegrátis vaidebet comrenda mínima aos alforriados e a distribuiçãográtis vaidebet comterras, "uma espéciegrátis vaidebet comminirreforma agrária".
"Mas uma parte do movimento abolicionista decidiu apoiar (a Lei Áurea) porque não sabia quando teria outra oportunidade (de institucionalizar o fim da escravidão)", diz Alonso.
O lado 'obscuro' da abolição precoce
A liberdade precária - que não discutiu a inserção dos novos cidadãos na sociedade brasileira ou no mercadográtis vaidebet comtrabalho - não foi exclusividadegrátis vaidebet com1888.
No Ceará e no Amazonas, a maior parte das alforrias foi dada "sob condição": o liberto tinhagrátis vaidebet compagar um pecúlio para "ressarcir" o senhor e/ou se comprometer a continuar trabalhando para ele, muitas vezes sem salário.
Em Manaus, diz Patrícia Sampaio, da UFAM, cercagrátis vaidebet com60% das alforrias registradas nos cartórios são onerosas - muitas condicionando a compra da cartagrátis vaidebet comliberdade à continuidade da prestação dos serviços.
"Ou seja, os senhores ganhavam a melhor parte: recebiam o dinheiro e continuavam a contar com o trabalho do alforriado."
Isso explica porque, três anos depois da abolição, explodiu o númerográtis vaidebet com"criadosgrátis vaidebet comservir e agregados" no censográtis vaidebet com1887grátis vaidebet comFortaleza, ressalta o historiador Eurípedes Funes.
O chamado Livrográtis vaidebet comMatrículasgrátis vaidebet comCriados do Estado está cheiográtis vaidebet comexemplos ilustrativosgrátis vaidebet com"trabalhadores livres, porém ainda recolhidos aos cativeiros domésticos", na definiçãográtis vaidebet comEylo Fagner Rodrigues.
Um deles é ográtis vaidebet comEugênia Joaquina da Conceição, registrada por seu antigo proprietário, João Luiz Rangel,grátis vaidebet com11grátis vaidebet comjulhográtis vaidebet com1887, da seguinte forma: "minha ex-escrava, continua a residir na minha casa, como creada, gratuitamente, por tempo indeterminado".
Casos como esse não eram incomuns. Muitos dos libertos continuaram vivendo sob o teto dos "ex-senhores" e passaram a trabalhargrátis vaidebet comtrocagrátis vaidebet comroupa e comida - inclusive crianças -grátis vaidebet comcondições muitas vezes parecidas às que eram submetidos até 1884.
O pesquisador encontrou nos arquivos do antigo Tribunal da Relação da Província do Ceará, atual Tribunalgrátis vaidebet comJustiça, várias açõesgrátis vaidebet comlibertos contra ex-proprietários que os tentavam reescravizar.
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