Atuaçãobetano br commilitares é 'surpresa positiva' do governo Bolsonaro, diz professorbetano br comHarvard que estuda Brasil há 30 anos:betano br com
Mainwaring é autorbetano br comdezenasbetano br comlivros premiados sobre política da América Latina, entre os quais Democracies and Dictatorships in Latin America: Emergence, Survival and Fall (Democracias e Ditaduras na América Latina: Surgimento, Sobrevivência e Queda), e Party Systems in Latin America: Institutionalization, Decay and Collapse (Sistemas Partidários na América Latina: Institucionalização, Decadência e Colapso).
Alémbetano br comfazer um balanço do iníciobetano br comgoverno Bolsonaro, ele arrisca novas previsões. Em política externa, o professorbetano br comHarvard acha que a proximidadebetano br comBolsonaro com o presidente americano, Donald Trump, pode trazer benefícios para o Brasil, se o governo brasileiro souber manter, ao mesmo tempo, uma boa relação com a China.
Na política doméstica, Mainwaring afirma que Bolsonaro possivelmente terá que mudar a estratégiabetano br comnegociação com o Congresso Nacional, se quiser ver a reforma da Previdência e outras propostas importantes aprovadas.
Desde que assumiu o governo, o presidente tem se recusado a usar mecanismos tradicionaisbetano br comnegociação com deputados e senadores, como emendas parlamentares e nomeação para cargos, alémbetano br comnão abrir um canalbetano br comdiálogo com líderesbetano br compartidos.
"Se a economia está crescendo e há apoio popular, um presidente pode usar a própria popularidade como um instrumento eficiente para aprovar propostas no Legislativo", observou.
"Mas a aprovaçãobetano br comBolsonaro caiu fortemente e rapidamente, e a economia não se recuperou ainda. As condições favoráveis não estão presentes para usar esse mecanismo na votação da reforma da Previdência."
Veja os principais trechos da entrevista:
betano br com BBC News Brasil - Após 100 diasbetano br comgoverno, qual abetano br comavaliação sobre o desempenhobetano br comBolsonaro como presidente? Algo te surpreendeubetano br comrelação ao comportamento apresentado na campanha?
betano br com Scott Mainwaring - Estava claro desde o início que uma coalizão muito heterogênea apoiava o governo Bolsonaro. Algumas divisões eram previsíveis. Alguns dos grupos que apoiavam Bolsonaro provavelmente estão surpresos com a magnitude das divisões e o fatobetano br comterem ocorrido já no início do governo. Mas algo que eu acredito que foi uma surpresa positiva é o comportamento do vice-presidente. Durante a campanha, Mourão fez declarações que indicavam que ele era céticobetano br comrelação à democracia. Mas, desde que assumiu a Vice-Presidência, ele aderiubetano br commaneira consistente a um discurso e comportamento democráticos.
Imaginava que Bolsonaro perderia parte do apoio popular, mas a rapidez com que isso ocorreu surpreendeu um pouco. E não estou surpresobetano br comver que a reforma previdenciária está andando lentamente. Parte da coalizãobetano br comBolsonaro é formada por políticos clientelistas que fizeram a carreira usando recursos do Estado e, para eles, a reforma da Previdência não é necessariamente algo bom. Há interesses poderosos que querem proteger o sistema atual e há políticos ligados a esses interesses.
Uma grande reforma da Previdência é essencial para o Brasil. Mas algumas pessoas estavam excessivamente otimistas com a possibilidadebetano br comaprová-la rapidamente.
betano br com BBC News Brasil - Bolsonaro nos primeiros mesesbetano br comgoverno se recusou a usar os modelos tradicionaisbetano br comnegociação com o Congresso e entroubetano br comatritos com o presidente da Câmara. É possível manter essa estratégia e aprovar projetos impopulares, como a reforma da Previdência?
betano br com Scott Mainwaring - Acho que ele terá que mudarbetano br comestratégia. O exemplo anteriorbetano br compresidente que usou uma estratégia parecida com abetano br comBolsonaro é Fernando Collor, que tentou não negociar com o Congresso. Você pode tentar convencer a população e os membros do Congresso por meiobetano br comdiscurso e pressão popular.
Se a economia está crescendo e há apoio popular, um presidente pode usar a própria popularidade como um instrumento eficiente para aprovar propostas no Congresso. Mas o fatobetano br coma aprovaçãobetano br comBolsonaro ter caído forte e rapidamente pode dificultar o uso desses mecanismos para aprovar a reforma da Previdência. Essas condições extremamente favoráveis não estão presentes no momento.
betano br com BBC News Brasil - As últimas pesquisasbetano br comopinião mostram Bolsonaro com o pior percentualbetano br comaprovação popular nos primeiros três mesesbetano br comgoverno que todos os presidentes eleitos após 1985. O que explica esse resultado?
betano br com Scott Mainwaring - As pessoas que votaram no Bolsonaro queriam uma mudança profunda. Mas você não consegue reverter tão rapidamente o cenáriobetano br comcorrupção, crime ebetano br comcrise econômica. Essas coisas levam tempo. E Bolsonaro não é uma pessoa particularmente impressionante. Ele foi eleito com votações expressivas tanto no primeiro quanto no segundo mandato. Então, havia grandes expectativas. Mas agora que ele está no papelbetano br compresidente algumasbetano br comsuas fraquezas estão mais aparentes.
betano br com BBC News Brasil - Por outro lado, a última pesquisa Datafolha mostra que 60% aprovam que militares ocupem postos estratégicos no governo. De onde vem esse crescimento no prestígio dos militares?
betano br com Scott Mainwaring - Em parte isso se deve a uma rejeição à classe política. Além disso, as Forças Armadas brasileiras têm algumas qualidades significativas. É uma instituição num país afetado por grandes escândalosbetano br comcorrupção. Que eu saiba nenhuma grande liderança militar está sendo processada por corrupção. (Em 2016, o almirante da Marinha Othon Luiz Pinheiro da Silva foi condenado a 43 anosbetano br comprisão na Lava Jato após denúnciasbetano br comcorrupção referentes ao programa nuclear brasileiro.)
E alguns líderes militares, entre eles o vice-presidente Mourão, têm demonstrado capacidade técnica e expressado visões coerentes e inteligentes do mundo atual. Eu não estou, com isso, defendendo uma expansão da participação militar nos governos. Mas esses são alguns dos fatores que garantiram o aumento do prestígio dos militares no Brasil.
betano br com BBC News Brasil - Parece haver no governo Bolsonaro uma diferença clara entre o modobetano br compensar da ala militar do governo e a chamada ala olavista,betano br comministros que seguem as ideiasbetano br comOlavobetano br comCarvalho. O senhor conhece Olavobetano br comCarvalho betano br com ?
betano br com Scott Mainwaring - Não conheço. Conheço a reputação dele, mas nem mesmobetano br comdetalhes. Alguém aqui nos Estados Unidos me disse que ele é equivalente a um Alex Jones (apresentadorbetano br comrádio famoso nos EUA por defender posiçõesbetano br comextrema-direita e difundir teorias da conspiração) brasileiro. Ou seja, alguém que acreditabetano br comteorias da conspiração e que não aceita muito a ciência.
betano br com BBC News Brasil - O senhor observa uma divisão no governo quanto à formabetano br compensar políticas públicas e relações internacionais betano br com ?
betano br com Scott Mainwaring - Sim, os militares brasileiros têm uma visão muito racional e, na maioria dos casos, científica do mundo. Costumam observar evidências, com exceçãobetano br comuma parcela que parece acreditar nas teorias da conspiraçãobetano br comque ONGs internacionaisbetano br comdefesa do meio ambiente são uma ameaça na Amazônia.
Mas a maioria dos militares tem uma visão racional e age diferente dos seguidoresbetano br comteorias da conspiração. O setor olavista tem uma visão muito diferente da dos militares e da ala econômica do governo. Esse é o tipobetano br comracha profundo que estava claro na coalizãobetano br comBolsonaro mesmo durante a campanha.
betano br com BBC News Brasil - E como resolver esse racha entre grupos com cargos no Executivo betano br com ?
betano br com Scott Mainwaring - Claro que todos os governobetano br comdemocracias são,betano br comalguma medida, heterogêneos. O que é diferente no caso Bolsonaro é que existem divisões profundasbetano br comquestões fundamentais, inclusive na política externa. O que costuma ocorrer é que ao longo do tempo há vencedores e derrotados.
Ou seja, uma ala ganha maior controle sobre o governo que a outra. Com a recente mudança no Ministério da Educação, me parece que o setor olavista sofreu uma derrota. Se isso vai significar uma derrota da facção olavistabetano br comoutros setores ainda estamos por ver.
betano br com BBC News Brasil - O que a agenda internacionalbetano br comBolsonaro nos primeiros 100 dias, com as visitas aos Estados Unidos e a Israel, indica sobre os rumos das relações exteriores betano br com do Brasil?
betano br com Scott Mainwaring - Está claro que ele vai se aliar, principalmente, com governos conservadores e do Ocidente. Israel não está geograficamente localizado no Ocidente, mas está na órbita do Ocidente. Netanyahu e Trump têm semelhanças com Bolsonaro.
Uma aliança forte com os Estados Unidos pode ser positiva para o Brasil, embora o relacionamento com a China também seja muito importante economicamente. Se Bolsonaro conseguir se tornar um aliado próximo do governo Trump sem estremecer as relações com a China, será uma ótima estratégiabetano br compolítica externa.
betano br com BBC News Brasil - O PT parece continuar focado na defesa da liberdadebetano br comLula ebetano br commanifestar forte oposição a partidosbetano br comcentro-direita e direita, sem buscar alianças com partidosbetano br comcentro e esquerda. Essa é a melhor estratégia para reconquistar espaço e votos nas próximas eleições betano br com ?
betano br com Scott Mainwaring - Podemos dividir a resposta entre o que pode ser bom para o Brasil e bom para o PT. Para o Brasil, essa postura intransigente do PT é ruim. Ela reforça a polarização e torna mais difícil para o PT dialogar com alas democráticabetano br comcentro e centro-esquerda.
O PT tem que ser capazbetano br comdialogar com pessoas como Ciro Gomes (PDT) e também com setores do PSDB. Mas o partido permanece atrelado a uma visão problemática,betano br comque o PT era tão importante para o Brasil que a corrupção era aceitável. Claro que não era uma lógica dita abertamente. Mas a lógica silenciosa era abetano br comque o PT era necessário para o futuro do Brasil a pontobetano br comjustificar engajarbetano br comcorrupção. Mas esses crimes não são desculpáveis para a maioria da população brasileira e da elite brasileira.
Para o partido, é improvável que essa estratégiabetano br compolarização seja eficazbetano br comcapturar uma maioriabetano br comvotos, mas certamente é uma maneira eficazbetano br comrestabelecer o perfil da legenda como oposição radical. De certa maneira, o partido está retornando a 1982, com uma grande diferença: nos primeiros anosbetano br comPT, ele tinha uma reputação merecidabetano br comser um partido honesto. Agora ele tem a reputaçãobetano br compraticar corrupção.
betano br com BBC News Brasil - Antes da eleição, o senhor classificou Bolsonaro como representantebetano br comuma direita autoritária e afirmou que havia riscobetano br comque alguns aspectos da democracia fossem afetados, como respeito a direitosbetano br comminorias. Após 100 diasbetano br comgoverno, o senhor está mais pessimista ou otimista betano br com ?
betano br com Scott Mainwaring - Eu diria que nenhum dos dois. Minha preocupação sobre direitos se verificou correta. Não estou surpreso. O que o discursobetano br comâmbito nacional faz é que ele legitima grupos que acreditam que podem atacar gays ou pessoas com características A ou B.
Esse tipobetano br comdiscursobetano br comdefender mais armas nas ruas e maior impunidade para assassinatos cometidos por policiais legitima ataques à imprensa, gays, jornalistas, ativistas e também legitima o usobetano br comforça indiscriminada contra negros, pobres, pessoas que vivem nas favelas. Eu não estou tão preocupado quanto à possibilidadebetano br comuma completa quebra democrática. Os perigos à democracia no Brasil dizem respeito ao contínuo exercíciobetano br comdireitos, nãobetano br comrelação a uma erosão completa do sistema democrático.
betano br com BBC News Brasil - Bolsonaro determinou que houvesse comemorações pelo 31betano br commarçobetano br com1964 e o governo quer rever o entendimentobetano br comque o regime militar foi uma ditadura. Como estudiosobetano br comdemocracias e ditaduras na América Latina, o que acha dessa posição betano br com ?
betano br com Scott Mainwaring - É absurdo dizer que não houve golpebetano br com1964. O governo, claro, não pediu meu conselho, mas a declaração mais forte que ele poderia ter feito é abetano br comque se tratoubetano br comum golpe militar, mas um golpe justificável. Eu não acho, pessoalmente, que era justificável.
Mas aquele era um períodobetano br comgrande temorbetano br comrelação ao comunismo. Era Guerra Fria e a revolução cubana inspirou a esquerda a acreditar que a revolução era possível e desejável. E inspirou a direita a acreditar que uma tomadabetano br compoder comunista era possível e preocupante. Então, o Brasil era partebetano br comuma tendência generalizada. Agora, a ideiabetano br comque não houve golpe militarbetano br com1964 é um absurdo completo.
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