'O rio está passando por dentro da nossa sala': os relatos da chuva que parou o Riobonus gratisJaneiro:bonus gratis

Adriana Souza Mendes
Legenda da foto, Adriana Souza Mendes passou todos os seus 49 anosbonus gratisvida nesta casa; metade da construção foi levada pela enchente

Chega a sete o númerobonus gratismortes causadas pelo temporal. Duas irmãs morreram soterradas após um deslizamento no Morro da Babilônia, no Leme, zona sul da cidade. Outros três corpos foram encontradosbonus gratisum táxi na Ladeira do Leme, onde um deslizamento soterrou carros.

Pela manhã, enquanto a cidade buscava entender a escala das perdas, Adriana caminhou pelo Jardim Botânico para tentar juntar pedaçosbonus gratissua casa.

Enchente no Rio
Legenda da foto, Destroços foram parar no meiobonus gratisrio após enchente na zona sul do Riobonus gratisJaneiro

Espalhados pelo parque fundado por Dom João 6ºbonus gratis1808, encontrou duas camisas do marido, uma calça, o potebonus gratisração do cachorro e um maiô da filha. Ainda mais longe, na rua Pacheco Leão, um vizinho encontrou um capacetebonus gratismoto flutuando e o trouxebonus gratisvolta para seu marido.

"A ficha ainda não caiu. Vamos esperar a chuva passar para ter uma noção do que podemos fazer. Só espero que consiga pelo menos refazer um pedaço da minha casa e continuar. Minha história está toda aqui", diz Adriana, ainda sem saber como reconstruir a vida estando ela e o marido desempregados.

Adriana, o esposo, a filha adolescente e os três cachorros foram temporariamente para a residênciabonus gratissua sogra, a poucas casasbonus gratisdistância. O imóvel alagou, como os outros da vizinhança, mas continuabonus gratispé.

A família mora na comunidade do Horto, área adjacente ao parque composta originalmente por residênciasbonus gratisantigos funcionários do parque. Os terrenos são alvobonus gratisuma disputabonus gratisdécadas com o Jardim Botânico do Rio. Mordores buscambonus gratisregularização fundiária, mas são ameaçadosbonus gratisremoção.

"Eles já queriam tirar a gente daqui. Acho que agora vão ver como uma boa oportunidade", teme. "Vão falar 'está vendo, era áreabonus gratisrisco'. Mas isso nunca foi áreabonus gratisrisco."

Prefeito na berlinda

O terceiro grande temporal do Rio neste ano acirra a pressão sobre o prefeito Marcelo Crivella (PRB), que sofre fortes críticas por cortesbonus gratisgastos com drenagem urbana e manutenção das encostas e pela faltabonus gratispreparo da cidade para enfrentar chuvas e enchentes, que estão longebonus gratisser uma novidade.

Patrícia Nobrega e Bi Ribeiro
Legenda da foto, Patrícia Nobrega e Bi Ribeiro na frente da casa onde moram: 'O rio passa por dentro da nossa sala e sai pela porta principal'

Por volta das 20h, Crivella dissebonus gratisentrevista à TV Globo que havia enviado "20 homens" para as ruasbonus gratistoda a cidade para resolver incidentes como bolsões d'água. Já na manhãbonus gratisterça-feira, ele admitiu que faltou pessoal nas ruas e que a prefeitura terábonus gratismudar o protocolobonus gratisoperação previsto para essas situações.

"Teremos que ter reboques, pessoal da conservação e da Comlurb esperando previamente nesses locais", disse o prefeito, afirmando que já havia constatado a necessidade dessa açãobonus gratischuvas anteriores. "Infelizmente, não fomos prudentes para fazer agora", disse.

Durante o temporal, a prefeitura acionou 45 sirenesbonus gratis26 comunidades - mas não no Morro da Babilônia, onde duas vítimas morreram soterradas. O órgão demorou a fechar o Túnel Rebouças, via crucial da cidade onde motoristas passaram mal durante horasbonus gratisengarrafamento, respirando monóxidobonus gratiscarbono proveniente dos carros.

As cobranças aumentam o desgaste do prefeito, que enfrenta um processobonus gratisimpeachment aberto há uma semana pela Câmara dos Vereadores e deve apresentarbonus gratisdefesa na próxima semana. O processo tem basebonus gratisdenúnciabonus gratisirregularidades na postergaçãobonus gratisum contrato municipal autorizado por Crivella.

A sala virou mar

No Jardim Botânico, um dos bairros mais afetados, foram 311 milímetrosbonus gratischuva entre meio-diabonus gratissegunda e o mesmo horário na terça - o equivalente a quase toda a chuva que caiu no bairro no mêsbonus gratismarço -, segundo o Alerta Rio. O volume formou rios caudalosos descendo por ladeiras como na rua Lopes Quintas, arrastando carros, pedras, terra, blocosbonus gratisconcreto, e abrindo crateras pelo caminho.

Maria Leitão Bruno
Legenda da foto, Maria Leitão Bruno recebe orientações da Defesa Civil; a casa onde ela mora foi interditada, atravessada por um rio

Apesarbonus gratiso volumebonus gratischuva ter diminuído na terça-feira, o fluxobonus gratiságua não paroubonus gratisdescer por ruas do Horto, parte do Jardim Botânico que fica no pé da da Floresta da Tijuca. Os morros verdes costumam tornar o local um recanto bucólico e sossegado na zona sul, mas com a chuva formaram trombas d'água que invadiram casas construídas sob a encosta, rompendo murosbonus gratiscontençãobonus gratisterrenos e forçando novos cursos d'água passando por janelas, salas e escadarias.

"O rio está passando por dentro da nossa sala e saindo pela porta principal da casa", descreve o músico Bi Ribeiro, baixista da banda Paralamas do Sucesso, morador do Horto.

Sua esposa, a jornalista Patrícia Nóbrega, estavabonus gratiscasa fazendo jantar para os dois filhos adolescentes quando a lama começou a invadir a cozinha. De repente a porta começou a tremer com a pressão da água que vinhabonus gratisfora.

Patrícia correu com os filhos para o segundo andar e escutou a porta se romper, enquanto via a água subir do ladobonus gratisfora. A empregada doméstica, que estava no primeiro andar, já não conseguia mais sairbonus gratisseu quarto, e Patrícia começou a gritar por socorro. Vizinhos e um bombeiro acabaram vindo resgatar todos.

"A nossa casa acabou", diz, abrigada temporariamentebonus gratisum prédio da vizinhança, mostrando fotos da residência com lama até a janela. "Parecia que a gente estavabonus gratisum barco. A água enchendo a casa, tudo quebrando, os móveis nadando", descreve.

Suspeitabonus gratisdanos por desmatamento

Moradores do Horto ouvidos pela reportagem da BBC News Brasil acusambonus gratis"descaso" a prefeitura do Rio e desconfiam que os efeitos da chuva tenham sido agravados pela capinagem recente da mata recobrindo parte da encosta, que está sendo preparada para receber um novo campus para o Institutobonus gratisMatemática Pura e Aplicada (Impa).

A vegetação cortada do terreno teria sido arrastada pela chuva, entupindo dutos que escoam riachos por debaixobonus gratiscasas e prédios - fazendo com que esses cursos d'água, com seu volume multiplicado, encontrassem novos caminhos.

Foi o que aconteceu na casabonus gratisAndrea Maria Bruno, que mora do lado da mata e viu a água começar a entrar porbonus gratisjanela. A correnteza empurrou os móveis para a porta, fechando-a antes que Andrea conseguisse sair. Ela ficou com o braço preso para o ladobonus gratisfora, enquanto o nível da água subia. Foi salva por vizinhas e operários que trabalhavambonus gratisuma obra na rua.

"Nossa casa está cheiabonus gratislama. Perdemos tudo", dizbonus gratismãe, Maria Augusta Leitão Bruno,bonus gratis76 anos. Por sorte, ela e o marido, Getúlio, 79, não estavam lá durante o temporal.

Priscila Accioly
Legenda da foto, Priscila Accioly está abrigada na casabonus gratisuma amiga após a escada da vila onde mora virar uma cachoeira

Um riacho que vinha da mata era canalizado e passava sob a casabonus gratisAndreia, mas o duto entupiu, e agora um rio atravessabonus gratiscasa e corta a vilabonus gratiscinco casasbonus gratisque mora, formando uma cachoeira incessante na escadaria, e impedindo que ela e outros moradores voltem.

"Esse é o único caminho que a água agora tem para passar", lamenta Priscila Accioly, moradora da vila. Na segunda, ela resolveu deixarbonus gratiscasa pouco maisbonus gratisuma hora após o início da chuva, e se deparou com uma enxurrada do ladobonus gratisfora, ouvindo os gritosbonus gratissocorrobonus gratisAndrea. "O barulho era o mesmo que estar dentrobonus gratisuma cachoeira", descreve.

Em nota, o Impa afirmou que não houve remoçãobonus gratisárvores do terrenobonus gratissua propriedade no bairro, apenasbonus gratisvegetação rasteira, e que contratou empresa especializada para fazer limpeza do capim do terreno nas últimas semanas, "para realizar testes geológicos e sísmicos para construir barreirasbonus gratiscontenção". "O Impa cumpre rigorosamente todas as exigências dos órgãos municipais para obter a licençabonus gratisobra, que ainda não foi iniciada", diz o instituto.

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