Os bastidoresparrainage vbet'Chegaparrainage vbetSaudade', clássicoparrainage vbetJoão Gilberto que completa 60 anos:parrainage vbet

Quem também não se esquece da primeira vezparrainage vbetque ouviu o samba-canção composto por Tom Jobimparrainage vbetparceria com Viníciusparrainage vbetMoraes é o jornalista, escritor e letrista Nelson Motta. Foi nas fériasparrainage vbet1958,parrainage vbetSão Paulo, num radinhoparrainage vbetpilha. Nelson tinha, à época, 14 anos.

"Foi como um raio. Aquilo era diferenteparrainage vbettudo que eu já tinha ouvido", relata no livro Noites Tropicais (Objetiva, 2000). "Fiquei chocado, sem saber se tinha adorado ou detestado. Mas, quanto mais ouvia, mais gostava". Hoje, aos 74, solta uma risada ao se intitular um "gilbertômano terminal". "Chegaparrainage vbetSaudade é um dos discos mais influentesparrainage vbetnossa história", afirma. "Não houve propriamente uma ruptura. O samba-canção já produzira muitas canções que antecipavam a bossa-nova. Só faltava a batida revolucionária do João".

"Nunca levei uma surra assim"

Lançado no dia 8parrainage vbetmarçoparrainage vbet1959, o álbum Chegaparrainage vbetSaudade começou a ganhar vida no sítio da famíliaparrainage vbetTom Jobim,parrainage vbetPoço Fundo, na região serrana do Rio. Foi lá que,parrainage vbet1956, o maestro, então com 27 anos, compôs ao violão uma espécieparrainage vbetsamba-cançãoparrainage vbettrês partes. Ao regressar ao Rio, confiou a melodia aos cuidados do poeta Viníciusparrainage vbetMoraes.

O poetinha gostou do que ouviu, "uma música nova, original, tão brasileira quanto choroparrainage vbetPixinguinha ou sambaparrainage vbetCartola", mas, demorou a escrever a letra. "Nunca levei uma surra assim", admitiuparrainage vbetcrônica publicada no jornal Diário Carioca,parrainage vbet1965. Quando deu a letra por encerrada, soltou um berroparrainage vbetalegria. Lila,parrainage vbetmulher, não pareceu tão animada. "Rimar peixinhos com beijinhos, que coisa mais boba", fez pouco caso. No mesmo dia, Vinícius correu para mostrá-la a Tom, que morava na rua Nascimento e Silva, a poucos quarteirõesparrainage vbetdistância.

João Gilberto não foi o primeiro a gravar a mais recente obra-prima da duplaparrainage vbetOrfeu da Conceição. A cantora Elizeth Cardoso incluiu a músicaparrainage vbetseu álbum Canção do Amor Demais, gravadoparrainage vbetabrilparrainage vbet1958 nos estúdios da Columbia, no Rio, e lançado, um mês depois, pelo selo Festa.

João acompanhou Elizeth ao violãoparrainage vbet2 das 13 faixas: Chegaparrainage vbetSaudade e Outra Vez. Mesmo assim, fez questãoparrainage vbetparticipar dos ensaios no apartamentoparrainage vbetTom. "Rolou um mal-estar quando João, um violonista até então desconhecido, tentou ensinar a Divina Elizeth a cantar Chegaparrainage vbetSaudade. Queria que ela cantasse como ele cantava. Foi uma audácia", comenta Zuza.

"Chet Baker brasileiro"

Dois meses depois do lançamentoparrainage vbetCanção do Amor Demais, João Gilberto decidiu, ele mesmo, gravar Chegaparrainage vbetSaudade. Mas não foi fácil convencer Aloysioparrainage vbetOliveira, o todo-poderoso da Odeon, a investir na produçãoparrainage vbetum LP daquele ilustre desconhecido.

Antesparrainage vbetlançar seu primeiro disco,parrainage vbetmarçoparrainage vbet1959, João gravou dois compactosparrainage vbet78 rpm: o primeiro,parrainage vbetjulhoparrainage vbet1958, trazia Chegaparrainage vbetSaudade e Bim Bom, e o segundo,parrainage vbetjaneiroparrainage vbet1959, Desafinado e Hô-bá-lá-lá. Todos os arranjos levaram a assinaturaparrainage vbetTom Jobim.

Quando regressou aos estúdios Odeon, na Cinelândia, para gravar seu LPparrainage vbetestreia, 4 das 12 faixas já estavam prontas. Para finalizar o álbum, gravou Brigas, Nunca Mais no dia 23parrainage vbetjaneiro, Morena Bocaparrainage vbetOuro no dia 30parrainage vbetjaneiro e Lobo Bobo, Saudade Fez Um Samba, Maria Ninguém, Rosa Morena, Aos Pés da Cruz e É Luxo Só no dia 4parrainage vbetfevereiro.

"O repertório era superior ao dos maiores cantores da época, como Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto e Anísio Silva", avalia o jornalista e pesquisador Ricardo Cravo Albin. "Em 1959, eu gostavaparrainage vbetouvir jazz e, por essa razão, senti um prazer imediato ao ouvir Chegaparrainage vbetSaudade. João Gilberto era uma espécieparrainage vbetChet Baker brasileiro", compara,parrainage vbetalusão ao cantor e trompetista americano.

As gravaçõesparrainage vbetChegaparrainage vbetSaudade duraramparrainage vbet10parrainage vbetjulhoparrainage vbet1958 a 4parrainage vbetfevereiroparrainage vbet1959. Ao longoparrainage vbetsete meses, João conseguiu se desentender com todo mundo: técnicos, músicos e até Tom Jobim, o produtor musical do LP. A primeira vítima foi Z. J. Merky, o diretor técnico da gravação, que não entendeu quando João pediu dois microfones: um para a voz e outro para o violão. Exigência atendida, ele passou a interromper a gravação sempre que identificava algum erro da orquestra.

"Numa das incontáveis interrupções, alguns músicos se amotinaram e saíram batendo portas. Quando concordaramparrainage vbetvoltar, era o cantor que já não queria gravar", conta Ruy Castroparrainage vbetChegaparrainage vbetSaudade. "Tom Jobim não sabia se tocava piano, se regia a orquestra ou se corriaparrainage vbetum lado para o outro, com os panos quentes". Lá pelas tantas, sobrou até para ele. "Você é brasileiro, Tom, você é preguiçoso!", foi obrigado a ouvir.

"Quase um sussurro ao pé do ouvido"

O jornalista e crítico musical Tárikparrainage vbetSouza explica que não foi fácil a João convencer a todosparrainage vbetsua proposta inovadora. Principalmente os músicos da percussão. "João não queria a estridência da bateria e, reza a lenda, recorreu a um catálogo telefônico para abafar o ressoar das baquetas", diz.

Aos 72 anos, Tárik pode se orgulharparrainage vbetter sido um dos poucos jornalistas a conseguir uma exclusiva com João Gilberto. A proeza aconteceuparrainage vbet1971, no Hotel Glória, para a revista Veja. "Conversamos por maisparrainage vbetquatro horas, sem que ele me deixasse ligar o gravador ou fazer anotações. Dois dias depois, lá estava eu na redação,parrainage vbetSão Paulo, redigindo a mais importante entrevista da minha vida", recorda. Do álbumparrainage vbetsi, o que mais lhe chama a atenção é a "transparência vocal absolutamente confidente". "Quase um sussurro ao pé do ouvido", define.

Terminada a gravação, João ainda tinha que posar para as lentesparrainage vbetChico Pereira, o fotógrafo da Odeon. A roupa que ele usa na capa, a propósito, éparrainage vbetRoberto Menescal. "Um dia, o João me pediu uma ou duas camisas emprestadas. Em casa, levou o armário inteiro e eu fiquei só com a roupa do corpo. Nunca mais devolveu", entrega, bem-humorado, o autorparrainage vbetO Barquinho.

Foraparrainage vbetcatálogo desde 1990, Chegaparrainage vbetSaudade só pode ser encontradoparrainage vbetsebos ou sitesparrainage vbetcompra e venda. No site Mercado Livre, uma cópia pode custar até R$ 900. Em 2014, o engenheiroparrainage vbetsom André Dias foi contratado para remasterizar seus três primeiros LPs: Chegaparrainage vbetSaudade (1959), O Amor, O Sorriso e A Flor (1960) e João Gilberto (1961). A epopeia, calcula, levou cinco meses. Na dúvida sobre o resultado do trabalho, João ouviu uma segunda e terceira opinião: a dos produtores Moogie Canazio e Shigeki Miyata. Os dois aprovaram a remasterização.

Dias não perde a esperança de, um dia, João Gilberto autorizar o relançamento. "Gostaria que isso acontecesse com o João ainda vivo. Queria muito que ele se orgulhasse e visse que foi feita justiça comparrainage vbetarte. Será a grande realização da minha vida."

"É apenas um sujeito excêntrico e original"

Roberto Menescal é dos muitos amigosparrainage vbetlonga data que, há anos, não tem notíciasparrainage vbetJoão Gilberto. "Recluso ele sempre foi. Mas, nos últimos anos, chegou ao máximo da reclusão", lamenta.

Cravo Albin é outro que, para não soar invasivo, desistiuparrainage vbetprocurar o amigo. "Há uns cinco anos, liguei para o João. Ele atendeu, mas disse que não estava. Respeitei. Dias depois, a pedido do Otávio Terceiro, seu antigo empresário, voltei a ligar. Ele atendeuparrainage vbetnovo e disse que o João não estava. Pô, a voz do João é inconfundível!", resigna-se o musicólogo, que não sabe explicar o motivoparrainage vbetseu autoexílio voluntário. "Me recuso a dizer que João Gilberto é neurótico ou desequilibrado. Nada disso. É apenas um sujeito excêntrico e original."

Por essas e outras, ninguém cogita a hipóteseparrainage vbetJoão Gilberto, hoje com 87 anos, voltar aos palcos ou aos estúdios.

Seu mais recente show - ou concerto, como ele prefere chamar - foiparrainage vbet2008, por ocasião dos 50 anos da bossa nova. A turnê passou por Rio, Salvador e São Paulo e chegou ao famoso Carnegie Hall,parrainage vbetNova York (EUA).

Já seu último álbum lançado no Brasil foi João Gilberto in Tokyo (Universal Music, 2004). "Devido à saúde fragilizada, acho praticamente impossível", diz Tárikparrainage vbetSouza.

Ruy Castro assina embaixo. E faz uma ressalva: "O que mais lamento é que, nos últimos 30 anos, enquanto ele teve gás para gravar inúmeros discos, isso não foi feito".

"Acho mais possível gravar um disco, talvezparrainage vbetcasa mesmo, do que fazer um show", afirma esperançoso Nelson Motta. Cravo Albin vai além. Para ele, errado seria permitir que um homem sempre tão exigente quanto João Gilberto se apresente ao público com a saúde debilitada ou grave materialparrainage vbetqualidade duvidosa. "Se, por acaso, algum empresário sugerir um absurdo desses, temos que ser contra! Uma lenda como João Gilberto precisa ser protegida."

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