'Todos os meus sonhos ruindo': o drama dos metalúrgicos com fechamentobet12 falcãofábrica da Fordbet12 falcãoSP:bet12 falcão

Metalúrgicos da Ford,bet12 falcãoprotesto na frente da empresa

Crédito, Adonis Guerra/SMABC/Divulgação

Legenda da foto, Trabalhadores da Ford iniciaram uma paralisação depois do anúnciobet12 falcãofechamento da fábricabet12 falcãoSão Bernardo do Campo

A unidade montava principalmente caminhões, mas vinha operando bastante abaixo da capacidade. Em 2018, por exemplo, a fábrica produziu apenas 19% dos 89 mil caminhões que é capazbet12 falcãomontar, segundo dados da empresa. Por causa disso, um acordo reduziu a jornada dos empregados – eles estavam trabalhando apenas três dias por semana.

Gustavo Alves,bet12 falcão30 anos, funcionário da Ford
Legenda da foto, Gustavo Alves,bet12 falcão30 anos, começou a trabalhar na Fordbet12 falcão2014, indicado por seu pai, que se aposentou pela empresa

"Quando entrei,bet12 falcão2014, essa fábrica tinha 7 mil trabalhadores", diz Gustavo, mais tarde, enquanto abre as portasbet12 falcãoseu Fiesta, carro Ford. Hoje, ela opera com 2,8 mil funcionários diretos,bet12 falcãoacordo o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Todos serão demitidos com o fechamento da unidade.

Segundo o sindicato, o anúncio deve impactar cercabet12 falcão24 mil empregos diretos e indiretos - entre terceirizados e fornecedores. Além disso, bares e restaurantes do entorno devem ser afetados com a saída da massabet12 falcãofuncionários.

A notícia do fechamento da fábrica, no entanto, surpreendeu os trabalhadores na terça-feira, logo após o almoço. "Ninguém esperava que fosse assim. Depoisbet12 falcãouma reunião, nossos representantes pararam a produção e avisaram sobre o anúncio", diz Gustavo, montadorbet12 falcãopainéisbet12 falcãocaminhões. "Foi um choque."

Em seguida, os trabalhadores entrarambet12 falcãogreve atrásbet12 falcãoum acordo para evitar o encerramento das atividades. No entanto, não há informaçãobet12 falcãoque isso possa ocorrer, pois a decisão foi tomada pela cúpula da empresa.

Filhobet12 falcãometalúrgico, metalúrgico é

Gustavo entrou na Ford depoisbet12 falcãouma indicação do pai, Armezino, que se aposentou pela empresa depoisbet12 falcão30 anosbet12 falcãotrabalho como ponteadorbet12 falcãopeças. Conhecido por Tucano, o metalúrgico foi sindicalista e participou das históricas grevesbet12 falcãofábricas do ABC, movimento que lançou Luiz Inácio Lula da Silva como uma figura política importante e popular entre as camadas mais pobres.

"Sempre quis ser metalúrgico da Ford, porque eu acompanhava meu pai desde moleque. Ele me trazia aqui, me levava no sindicato, eu via como era aquela vidabet12 falcãoluta", diz o jovem. "O que agora me deixa mais triste é que a gente se sacrificou pela empresa, cedendo benefícios, deixandobet12 falcãoreceber aumento real. E agora, ela nos deixa na mão."

A história familiarbet12 falcãoClayton Diogenes da Silva,bet12 falcão43 anos, também se confunde com a Ford - a fábricabet12 falcãoSão Bernardo existe desde 1967. Entre os colegas, ele é conhecido por Risadinha (o sorriso fácil, mesmo quando falabet12 falcãocoisas tristes, talvez explique o apelido).

Clayton Diogenes da Silva, 43, funcionário da Ford
Legenda da foto, Clayton Diogenes da Silva, 43, e seu pai Antonio Carlos trabalharam por décadas na Fordbet12 falcãoSão Bernardo do Campo

"Foi na Ford que meu pai criou cinco filhos e que eu criei meus dois", diz o inspetorbet12 falcãoprocesso, há 23 anos na fábrica. "Entrei com 19 anos, e ainda trabalhei um ano com meu pai aqui."

O pai, Antonio Carlos da Silva, ficou 25 anos na unidade, parte deles como inspetorbet12 falcãoqualidadebet12 falcãomotores. "Em 1971, quando entrei como chãobet12 falcãofábrica, a gente fazia Maverick, Belina, Landau", diz Antonio, mais tarde, por telefone.

Já seu filho, o Risadinha, passou pelas fases Escort, Verona, Ka, Fiesta. "Nossa família se formou na Ford, primos e tios também trabalharam aqui, temos um apreço muito grande pela empresa", afirma. "Só compramos carros da Ford. Se um parente aparece com um Volks, a gente exclui da família", brinca.

O que diz a Ford?

A montadora americana afirma que vai encerrar as atividades da fábricabet12 falcãoSão Bernardo ao longo deste ano, acabando com o setorbet12 falcãocaminhões e transferindo a montagem do modelo Fiesta para outras unidades no país. Um acordo entre a companhia e o sindicato prevê estabilidade dos trabalhadores até novembro.

Em nota, a Ford explica que a decisãobet12 falcãodeixar o mercadobet12 falcãocaminhões "foi tomada após vários mesesbet12 falcãobusca por alternativas, que incluíram a possibilidadebet12 falcãoparcerias e venda da operação. A manutenção do negócio teria exigido um volume expressivobet12 falcãoinvestimentos sem, no entanto, apresentar um caminho viável para um negócio lucrativo e sustentável".

A empresa prevê um gastobet12 falcãoR$ 1,7 bilhão com "compensaçõesbet12 falcãofuncionários, concessionários e fornecedores."

"Sabemos que essa decisão terá um impacto significativo sobre os nossos funcionáriosbet12 falcãoSão Bernardo do Campo e, por isso, trabalharemos com todos os nossos parceiros nos próximos passos", disse Lyle Watters, presidente da Ford América do Sul.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, criticou o anúncio e disse que os trabalhadores vão se mobilizar. "Nossa decisão ébet12 falcãoresistência, nós não vamos aceitar. O que vamos fazer? Tudo, tudo o que aprendemos no movimento sindical. Se tiver que fazer greve, vamos fazer. Ou acampamento. Se tiver que negociar, vamos negociar", afirmou à BBC News Brasil.

O prefeitobet12 falcãoSão Bernardo do Campo, Orlando Morando (PSDB), mostrou indignação com a decisão da montadora americana. "Não aceito a forma que está sendo feito. Não considero correto, acho um desrespeito com os trabalhadores e com a cidade", disse,bet12 falcãoum vídeo nas redes sociais.

Entrada da Fordbet12 falcãoSão Bernardo do Campo, SP

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Ford afirma que vai acabar com setorbet12 falcãocaminhões,bet12 falcãoSão Bernardo do Campo

E o futuro dos metalúrgicos?

Para o preparadorbet12 falcãomáquinas Anderson Viana,bet12 falcão38 anos, conhecido entre os colegas como Pitchulinha, o desemprego pode significar sérias dificuldades para sustentar seus dois filhos. "Também tenho um irmão deficiente, com paralisia cerebral, que dependebet12 falcãomim. A Ford é meu ganha pão, minha vida digna depende dela", diz.

Quando entrou na empresabet12 falcão2010, Anderson pensava que seu bem-estar estava garantido por muito tempo - o salário médio na empresa ébet12 falcãocercabet12 falcãoR$ 6.000. "Achava que eu iria me aposentar aqui, sonhava que meu filho viesse trabalhar na Ford. Mas parece que a empresa não teve penabet12 falcãoninguém, como se a gente fosse uma mercadoria que se descarta, como se fosse um carro", diz.

Seu colega, o funileirobet12 falcãoprodução Sergio Soares,bet12 falcão50 anos, conta como o emprego na montadora melhoroubet12 falcãovida. "A Ford significou uma mudança. Você vai subindo na folha, vai melhorando. Compra casa, carro, faz faculdade", enumera.

Ele está há 25 anos na fábricabet12 falcãoSão Bernardo, e tem esperançabet12 falcãoque o sindicato da categoria consiga reverter o jogo, como tantas vezes conseguiu ao longobet12 falcãosua históriabet12 falcãomobilizações. "Espero que a gente mude essa decisão, porque terá um impacto muito grande na vida das pessoas."

Já Clayton Diogenes da Silva, o Risadinha, não acredita muito no futuro como metalúrgico. "Aqui no ABC, o auge da cadeia produtiva era ser metalúrgicobet12 falcãouma montadora", diz ele, cuja faculdadebet12 falcãotecnologiabet12 falcãoprocessobet12 falcãoprodução foi paga pela Ford. "Nós, da áreabet12 falcãotecnologia, sabemos quando nossa mãobet12 falcãoobra fica obsoleta."

Seu pai, o aposentado Antonio Carlos, é um pouco mais otimista, embora perceba que, dessa vez, o cenário parece pior que o dabet12 falcãoépoca. "Quando entrei na Ford,bet12 falcão1971, já tinha um papobet12 falcãoque a fábricabet12 falcãoSão Bernardo iria fechar. Mas era só fofoca entre os peões, nunca teve um anúncio como esse", diz.

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