Mais Médicos: como programa 'economizou' um terço do orçamento ao diminuir internações hospitalares:blaze originals

Fotografiablaze originalsabrilblaze originals2016: então presidente Dilma Rousseff lança nova etapa do programa Mais Médicos e é cercada por profissionais do programa, alguns cubanos

Crédito, Agência Brasil

Legenda da foto, Programa foi lançadoblaze originals2013, no governo Dilma Rousseff

"Houve uma melhora na qualidade do atendimento à população. Imagine uma comunidade que não tinha médicos? Com o aumento das consultasblaze originalsáreas desassistidas, foi possível identificar e tratar doenças com agilidade, evitando internações que poderiam serblaze originalsfato evitáveis", afirmou Mazetto, que hoje trabalha na Tendências Consultoria Integrada.

Eles não identificaram, porém, nenhum impacto significativoblaze originalsindicadoresblaze originalsmortalidade infantil ou da populaçãoblaze originalsgeral, por exemplo. Segundo Mazetto, não é possível afirmar ainda se o programa não tem capacidadeblaze originalsum impacto mais duradouro ou se não teve tempoblaze originalssurtir efeito. O númeroblaze originalsinternações já vinhablaze originalsqueda antes do Mais Médicos, ainda queblaze originalsritmo mais moderado (7,9% no intervalo entre 2009 e 2012).

O estudo acima é um dentre os quase 200 trabalhos acadêmicos produzidos sobre o programa desde ablaze originalscriação pelo governo Dilma Rousseff (PT)blaze originals2013, na esteira das manifestaçõesblaze originalsruablaze originalsjunho daquele ano. Órgãos públicos, como o Tribunalblaze originalsContas da União (TCU) e a Controladoria Geral da União (CGU), também avaliaram o programa.

Ao menos 65 instituições, dentre elas 54 universidades, esmiuçaram a tentativa do governo federalblaze originalsresolver um problema comum a diversos países: como atrair e fixar médicosblaze originalsregiões remotas, pobres, violentas, sem infraestrutura adequada ao atendimento da população?

As análises atravessam os três pilares do programa. Os profissionais atuaram nos locais que mais precisavam e fizeram diferença, ou se priorizou quantidadeblaze originalsvezblaze originalsqualidade? O governo federal criou vagasblaze originalsuniversidades e residências médicas fora dos grandes centros e voltadas à atenção básica para não precisar recorrer a profissionais estrangeiros? Houve investimentoblaze originalsinfraestrutura, equipamentos e medicamentos no sistema públicoblaze originalssaúde, considerados precários na maior parte do país?

Mais atendimentos

Em resumo, a maioria dos trabalhos e relatórios identificou avanços sociaisblaze originalsdiversas dessas áreas, como o aumento do númeroblaze originalsconsultas e exames, a redução das chamadas internações hospitalares evitáveisblaze originalsparte da população, a saídablaze originalsquase 500 cidades do estadoblaze originalsescassez médica, um atendimento mais humanizado a pacientes e a ampliação das vagas para estudantes e médicosblaze originalsregiões sem instituiçõesblaze originalsensinoblaze originalsMedicina.

Um grupoblaze originalsoito pesquisadores do Ceará publicoublaze originalsjunho deste ano uma revisão críticablaze originals35 trabalhos dentre 1.482 textos encontrados sobre o temablaze originalssites acadêmicos. A partir da leitura da amostra, eles afirmam que o Mais Médicos "contribuiublaze originalsforma significativa para a saúde brasileira, uma vez que reduziu a escassezblaze originalsmédicos na atenção primária à saúde, impulsionou a expansão do númeroblaze originalsvagasblaze originalsgraduação e residênciablaze originalsMedicina e foi responsável pela mobilizaçãoblaze originalsrecursos financeiros para melhorar a estrutura das unidades básicasblaze originalssaúde".

Os estudiosos identificaram falhasblaze originalstodas as etapas envolvidas no programa, resultandoblaze originalsrecomendaçõesblaze originalsmelhorias. Os problemas identificadosblaze originalsgeral se assemelham àqueles enfrentados por profissionais que atuam no âmbito do Sistema Únicoblaze originalsSaúde (SUS).

Postblaze originalsBolsonaro no Twitter

Crédito, Twitter

A exemplo, faltablaze originalsequipamentos e medicamentos, falhas na formação e escolhablaze originalsgestores, desvioblaze originalsrecursos, descumprimentoblaze originalscarga horária, excessoblaze originalsdemanda, faltablaze originalstransparência, soluções temporárias que acabam permanentes, alémblaze originalsproblemas nos contratosblaze originalstrabalho dos médicosblaze originalsCuba.

O programa hoje vive um impasse. Críticas e exigências do presidente eleito, Jair Bolsonaro, relacionadas ao contrato com Cuba levaram o país caribenho a deixar o Mais Médicos. Segundo o governo federal, será lançado neste mês um edital para a substituição desses profissionais.

Atualmente, o programa tem 18.240 vagas, preenchidas por 8.332 cubanos, 4.525 brasileiros formados no Brasil, outros 2.824 brasileiros que estudaram no exterior e 451 médicos intercambistasblaze originalsoutras nacionalidades. Cercablaze originals2 mil postos não foram preenchidos.

Quem já estudou o Mais Médicos?

Um levantamento produzido pelos pesquisadores David Ramos da Silva Rios e Carmen Teixeira, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), identificou 137 trabalhos acadêmicosblaze originals65 instituições diferentes ao longo dos três primeiros anos do Mais Médicos. Do total, 80 eram artigos (58,4%). O mapeamento foi publicado no último volume da revista científica Saúde e Sociedade, da Universidadeblaze originalsSão Paulo (USP).

A Universidadeblaze originalsBrasília (UnB), com 23 trabalhos (16,8%), aparece à frente da produção e sugere duas hipóteses: a localização no Distrito Federal, próxima dos responsáveis pelo programa no âmbito federal, e a formaçãoblaze originalsredeblaze originalspesquisas sobre o tema com outras universidades.

Médicos estrangeiros participamblaze originalscurso

Crédito, Elza Fiúza/Agência Brasil

Legenda da foto, Médicos estrangeiros passaram por cursosblaze originalspreparação sobre realidade brasileira e língua portuguesa

O auge produtivo (22) do mapeamento desse período,blaze originalsjulhoblaze originals2016, tem relação com as diversas chamadas públicasblaze originalsrevistas do campoblaze originalssaúde coletiva por estudos sobre o tema. Um dos objetivos do Mais Médicos, inclusive, era incentivar e ampliar o númeroblaze originalspesquisas acadêmicas sobre a saúde pública do país.

A partir da amostra analisada, os pesquisadores responsáveis pelo mapeamento da UFBA concluem que os resultados iniciais do Mais Médicos indicam que o programa "tem reduzido iniquidadesblaze originalssaúde, aumentado a proporção médico/habitante e melhorado a qualidade da relação médico-paciente, propiciando atendimentos mais humanizados, ao mesmo tempoblaze originalsque tem favorecido a integração das práticas dos diferentes profissionais das equipesblaze originalssaúde e aumentado a efetividade das ações nas UBS (Unidades Básicasblaze originalsSaúde)".

Um dos principais estudos produzidos sobre o tema até 2016, da Universidade Federalblaze originalsMinas Gerais (UFMG), indicou que o Mais Médicos atacoublaze originalsfato parte significativa da demanda reprimida. De marçoblaze originals2013 a setembroblaze originals2015, o númeroblaze originalsmunicípios com escassezblaze originalsatendimentoblaze originalssaúde caiublaze originals35,2%, 1,2 mil para 777, segundo índice calculado a partirblaze originalsvariáveis como proporçãoblaze originalsmédicos, o nívelblaze originalspobreza extrema e os índicesblaze originalsmortalidade infantil.

"O programa foi um avançoblaze originalstodos os sentidos. Houve um esforço muito grande do país inteiro, envolvendo governos das três esferas, sociedade e órgãosblaze originalscontrole interno e externo. Municípios com escassez foram beneficiados, além da mexida importante na formação médica", afirmoublaze originalsentrevista à BBC News Brasil o médico Sábado Nicolau Girardi. Ele é pesquisador do Núcleoblaze originalsEducaçãoblaze originalsSaúde Coletiva da UFMG e coordenador do Estaçãoblaze originalsPesquisablaze originalsSinaisblaze originalsMercado - Observatórioblaze originalsRecursos Humanos da mesma universidade.

Não houve ainda uma mapeamento nos mesmos moldes acerca dos estudos acadêmicosblaze originals2017 e 2018.

Eficaz na saúde e pouco transparente

O TCU (Tribunalblaze originalsContas da União) divulgou no inícioblaze originals2017 uma avaliação positiva dos resultados do Mais Médicos. Para o órgãoblaze originalscontrole, o programa tem eficácia comprovada na ampliação e melhoria da cobertura médicablaze originals63 milhõesblaze originalsbeneficiários nas duas primeiras fases do programa, que foi renovado por mais três anosblaze originals2016.

À época, alémblaze originalsdestacar o impacto positivo da iniciativa, o tribunal determinou ao Ministério da Saúde que exigisse mais transparência na gestão dos recursos por parte da Organização Pan-Americanablaze originalsSaúde (Opas), operadora financeira do programa que integra a Organização Mundial da Saúde (OMS). No julgamento do acórdão, ministros do TCU criticaram a fatia transferida para os médicos cubanos.

Segundo termo técnico assinado entre o Ministério da Saúde e a Opas, o governo brasileiro paga uma bolsablaze originalsR$ 10 mil mensais por cada profissional. A organização intermedeia o repasse para Cuba. Este, porblaze originalsvez, retém a maior parte do valor da bolsa e paga o restante aos médicos que estão fora do país.

Não há, no entanto, números oficiais sobre o quanto é repassadoblaze originalsfato aos profissionais. A carga horária acertada éblaze originals40 horas semanais, por um períodoblaze originalstrês anos, que poderia ser renovado uma única vez. O TCU recomendou ao governo que buscasse soluções para reduzir a dependênciablaze originalsprofissionais estrangeiros.

Dependência e relações com Cuba

Emblaze originalsteseblaze originalsdoutoradoblaze originalssaúde global e sustentabilidade, apresentada na USPblaze originals2017, a pesquisadora Juliana Bragablaze originalsPaula analisa o acordoblaze originalscooperação assinado entre os governos cubano e brasileiro, intermediado pela Opas, braço da Organização Mundial da Saúde.

De acordo com o governo federal, foram gastos cercablaze originalsR$ 13 bilhões com o programa entre 2013 e 2017, sendo quase R$ 7 bilhões destinados ao convênioblaze originalscontratação dos médicos cubanos.

Médicos cubanos

Crédito, EPA

Legenda da foto, Hoje, das 18.240 vagas do Mais Médicos, 8.332 são ocupadas por cubanos

A políticablaze originalsexportaçãoblaze originalsprofissionais da áreablaze originalssaúde serve hoje como moedablaze originalstroca para a subsistência do país caribenho. Em 2014, estimava-se que Cuba dispunhablaze originalscercablaze originals38 mil profissionaisblaze originalssaúde ligados à políticablaze originalsacordosblaze originalscooperação internacional com maisblaze originals60 países (em casos humanitários oublaze originalsdesastres, o envio é voluntário).

A formação massivablaze originalsmédicos foi adotada pela ditadura liderada por Fidel Castro na esteira da fugablaze originalsprofissionais decorrente do golpe revolucionário que derrubou o também ditador Fulgêncio Batista,blaze originals1959. O embargo econômico imposto pelos Estados Unidos deixou o país com poucas opçõesblaze originalsgeraçãoblaze originalsreceita, além do turismo e do apoio que recebiablaze originalsaliados como a União Soviética.

A partir dos anos 1960, a diplomacia cubana passou a usar a estratégiablaze originalsenviar equipes para vizinhos com necessidades emergenciais, com efeito positivo sobre o "soft power" (exercícioblaze originalsinfluênciablaze originalsforma indireta) na comunidade internacional e sobre a balança comercial.

O envioblaze originalsprofissionaisblaze originalssaúde para o exterior responde por US$ 11 bilhões dos US$ 14 bilhões que Havana arrecada por ano com exportaçõesblaze originalsbens e serviços, segundo dados da OMC (Organização Mundial do Comércio) e da imprensa estatal cubana.

Mas a saída deles do país não os afasta das restrições à liberdadeblaze originalsexpressão e circulação, dentre outras imposições da ditadura cubana, hoje comandada oficialmente por Miguel Díaz-Canel. Mesmo no Brasil, os profissionais cubanos não podem viajar livremente, trazer familiares e não recebem a integralidade das bolsas pagas pelo governo brasileiro no âmbito do acordoblaze originalscooperação.

Não há informações oficiais sobre os custos e os repasses do lado cubano envolvidos com o Mais Médicos. Pesquisadores estimam, a partirblaze originalsentrevistas realizadas com profissionais do país caribenho, que o governo cubano repasse a eles cercablaze originals25% dos R$ 11.865,60 (valor atual) pagos pelo Brasil por cada médico. A prática é comumblaze originalsacordos firmados por Cuba.

As bolsas destinadas a profissionaisblaze originalsoutras nacionalidades são pagas pelo governo brasileiro individualmente a eles, diferentemente do modelo cubano, coletivo com intermediários. Esse é um dos principais pontosblaze originalsconflito,blaze originalsum primeiro momento, entre associações da classe médica e a gestão Dilma Rousseff; agora, entre o presidente eleito, Jair Bolsonaro, e o governo cubano.

O brasileiro condicionou a continuidade do acordo a fatores como a mudança para o regimeblaze originalscontratação individual e a revalidação do títuloblaze originalsmédico no Brasil. Hoje, a legislação (avalizada pelo Supremo Tribunal Federal) determina que médicos formados no exterior,blaze originalsqualquer nacionalidade, podem atuar com uma autorização provisóriablaze originalstrabalho por até três anos pelo Mais Médicos sem precisar revalidar seu diploma, processo conhecido como Revalida (uma fase teórica e outra prática). Caso tentem renovar a permanência, precisam se submeter à revalidação.

No início do programa,blaze originals2013, o Ministério da Saúde afirmava que não usaria o Revalida para evitar que, com a revalidação plena da atividade profissional, os médicos pudessem atuar no setor privado e dispersassem pelo país, e não somente nos locais determinados pelo programa.

Segundo a Confederação Nacionalblaze originalsMunicípios, 1.478 cidades possuem somente médicos cubanosblaze originalssuas equipes do Mais Médicos. De acordo com o Conselho Nacionalblaze originalsSecretarias Municipaisblaze originalsSaúde, com a saída dos cubanos, 611 cidades dependem exclusivamente desses profissionais e podem sofrer apagão na rede pública.

As regras do programa colocam os cubanos no fim da listablaze originalsprioridade para preenchimentoblaze originalsvagas. Em geral, seguem para localidades as quais não tiveram interessados, como lugares fronteiriços e municípios sem infraestrutura adequada.

No Mais Médicos, todos os profissionais, brasileiros e estrangeiros, têm direito a alimentação e moradia bancadas pelas prefeituras das localidades onde atuam.

Falhas na orientação e supervisão dos médicos estrangeiros

O programa Mais Médicos prevê que os profissionais envolvidos passem por um cursoblaze originalsespecialização na áreablaze originalssaúde da família e sejam supervisionados e orientados por instituiçõesblaze originalsensino superior do país.

Mas pesquisadores identificaram falhas e lacunas na supervisão dos bolsistas e posições diversas acerca das condições contratuais envolvendo os governos brasileiro e cubano.

Pacientes aguardamblaze originalscentroblaze originalssaúdeblaze originalsHavana - a maioria são mulheres idosas, sentadasblaze originalsbancos. Saída do Mais Médicos foi anunciada após críticas do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL).

Crédito, Reuters

Legenda da foto, A exportaçãoblaze originalsserviçosblaze originalssaúde é a principal fonteblaze originalsrenda internacionalblaze originalsCuba e vai ser abalada pela saída do Mais Médicos

Houve reações negativas,blaze originalsmenor escala, às condições, e médicos acabaram desertando e foram para outros países que firmaram acordos parecidos. No Brasil, cercablaze originals200 profissionais entraram na Justiça para receber integralmente a bolsa paga pelo governo brasileiro.

Segundo dados do governo cubano, o salário médio no país girablaze originalstornoblaze originalsUS$ 30, a renda mensalblaze originalsum médicoblaze originalsCuba é estimada entre US$ 25 e US$ 40, ou o equivalente a R$ 94 e R$ 150. Os setoresblaze originalsaçúcar e minério costumam pagar 50% a mais que oblaze originalssaúde e assistência social.

Outra parte dos médicos cubanos ouvida por pesquisadores defende publicamente a política internacionalista e a destinação interna dos recursos gerados pela política internacionalista.

"Em grande parte, o país fica com o dinheiro. Por quê? Porqueblaze originalsnosso país quase tudo é subsidiado. A saúde é gratuita, a educação é gratuita, esse dinheiro (dos acordosblaze originalscooperação internacional) é para subsidiar nossas coisas. Eu tô aqui e tô despreocupado com a saúde da minha família", afirmou um médico cubano que atuou no Brasil pelo programa e foi entrevistado pela pesquisadora Juliana Bragablaze originalsPaula, da USP.

Em seu estudoblaze originalscaso, ela conversou com 14 profissionais do país caribenho que trabalhavam nos municípios cearensesblaze originalsCaucaia e Parambu. Nesta, localizada no sertão, 32% dos cercablaze originals31 mil habitantes viviamblaze originalscondiçõesblaze originalspobreza extrema.

Mais proximidade na relação médico-paciente

Pesquisadores se debruçaram também sobre a relação médico-paciente no âmbito do Mais Médicos, a exemplo da satisfação dos usuários com os serviços prestados e das principais dificuldades no diálogo entre profissional e paciente.

Segundo um estudo da UnBblaze originals2014, pessoas atendidas pelo programablaze originalsCeilândia (DF) afirmaram que os profissionais, principalmente os estrangeiros, "têm mais atenção, interesse, interação, paciência, dão mais espaço, olham, ouvem e conversam com o paciente".

A mesma percepção foi identificadablaze originalsestudos. "Chama atenção o fatoblaze originalsque alguns trabalhos destacam que os usuários percebem o atendimento realizado pelos profissionais cubanos como superior ao desenvolvido pelos seus pares brasileiros, destacando como principal diferencial o olhar, a escuta, a atenção e o respeito", afirma o mapeamento do artigo, citando quatro trabalhos sobre o tema.

Segundo levantamento realizado pela UFMG e pelo Institutoblaze originalsPesquisa Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) com 14.179 usuários, 227 gestores e 391 médicosblaze originals699 municípios, 87% dos beneficiários afirmaram que os médicos do projeto foram mais atenciosos que profissionais que os atenderam anteriormente.

Infraestrutura precária

A grande maioria dos problemas relatados a pesquisadores pelos médicos brasileiros e estrangeiros que atuam no programa é parecida com os já enfrentados pelos profissionais no SUS, sendo a faltablaze originalsinfraestrutura o mais grave deles. Verbas para comprablaze originalsequipamentos e melhorias são anunciadas por governantes, mas diversas vezes parecem não chegar à ponta do sistema.

"Às vezes não temos material para fazer os curativos, não temos um aparelho inalador para os asmáticos. Não temos materialblaze originalssutura. E aí, na atenção primáriablaze originalsnosso país, fazemos todas essas coisas", relata um médico cubano à pesquisadora.

Ele também faz críticas às indicações políticas e à faltablaze originalsformação técnica dos gestores brasileiros na áreablaze originalssaúde. "Aqui o gestor pode ser qualquer um. Não conheceblaze originalssaúde, nemblaze originalsnada."

Médicosblaze originalsambiente hospitalar

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Apesarblaze originalsvir aumentando o númeroblaze originalsmédicos recém-formados, o Brasil ainda diploma menos profissionais que países europeus

Segundo o governo federal, o programa previu maisblaze originalsR$ 5 bilhões para o financiamentoblaze originals26 mil obrasblaze originalsquase 5 mil municípios, das quais quase 10,5 mil foram entregues e outras 10 mil encontram-seblaze originalsfaseblaze originalsexecução.

Diversos estudos identificaram falhas no controle das verbas destinadas aos programas (obras e custeio), prefeituras que não cumpriam parte das contrapartidas previstas no programa, faltablaze originalsmedicamentos e equipamentos e problemas na gestãoblaze originalsverbas e recursos humanos.

Em artigo publicadoblaze originals2016, um grupoblaze originalsoito pesquisadores ligados à Fiocruz, UFF, USP, ao Dieese e ao Ministério da Saúde analisou a qualidade da estrutura das unidades básicasblaze originalssaúde.

Segundo eles, é preciso investir ainda maisblaze originalsinfraestrutura porque esse problema afeta a diretamente satisfação dos médicos e está associada à rotatividade desses profissionais, o que gera ainda mais custos e afeta o atendimento à sociedade. O grupo afirma ainda que o programa não havia conseguido chegar às unidadesblaze originalssaúde que estavam nas piores condições.

Em auditoria divulgadablaze originalsmarço deste ano, a CGU (Controladoria Geral da União) identificou uma sérieblaze originalsfalhasblaze originalsmonitoramento e implementação do programa, a exemplo dos profissionais que não cumpriam a carga horária completa e a troca irregularblaze originalsequipes que algumas prefeituras realizaramblaze originalsolho nos recursos federais.

"Verificações realizadasblaze originals222 equipesblaze originalssaúde da família instaladasblaze originals198 municípios brasileiros apontaram queblaze originals44 (20%) delas, vinculadas a 32 municípios, houve substituiçãoblaze originalsmédicos por participantes do programa Mais Médicos."

Afinal, quantos médicos faltam no Brasil?

A principal bandeira do programa Mais Médicos era uma distribuição mais equilibrada dos médicos pelo país, principalmenteblaze originalsmunicípios pobres e remotos. Os habitantes que vivemblaze originalsqualquer capital tinham,blaze originalsmédia, duas vezes mais médicos atuando ali que aqueles que vivemblaze originalsoutras regiões do mesmo Estado.

A atraçãoblaze originalsprofissionais estrangeiros é uma das principais ações emergenciais e temporárias do programa, que atacaria problemas estruturaisblaze originalsoutra frente. Afinal, como atrair médicos para os locais que mais precisam deles?

Dados do governo federal indicam um déficit na relação formação/demandablaze originalsmédicos no país. De 2003 a 2011, surgiram 147 mil vagasblaze originalsprimeiro emprego formal para esses profissionais, mas só 93 mil (66%) se formaram no período.

As associações que representam a categoria médica, no entanto, rebatem os dados do governo e os estudos que indicam um déficit nacional. Em nota publicada no último dia 17, a Associação Médica Brasileira afirmou que "não faltam médicos no Brasil. Hoje, somos 458.624 médicos. Essa crise será resolvida com os médicos brasileiros."

Para atrair e reter profissionais brasileiros nas áreas com baixa proporçãoblaze originalsmédicos por mil habitantes, a entidade afirma que "a solução definitiva passa pela criaçãoblaze originalsuma carreira médicablaze originalsEstado que valorize o médico brasileiro e que dê a ele perspectivas seguras e condiçõesblaze originalsplanejarblaze originalsvida num horizonteblaze originalslongo prazo."

A entidade defende também o uso e ampliação do efetivoblaze originalsmédicos das Forças Armadas, subsídios como moradia e descontoblaze originalsdívidablaze originalsfinanciamento estudantil.

Fotografiablaze originals2016: o então ministro da Saúde Ricardo Barros recebe médicos do Mais Médicos, incluindo profissionais cubanos

Crédito, Agência Brasil

Legenda da foto, Governo Michel Temer, apesarblaze originalsfazer oposição ao PT, manteve o Mais Médicos; nesta imagemblaze originals2016, o então ministro da Saúde Ricardo Barros recebe médicos do Mais Médicos, incluindo profissionais cubanos

Como levar médicos para lugaresblaze originalsque eles não querem ir?

Diversos países enfrentam dificuldadesblaze originalsatração e fixaçãoblaze originalsmédicosblaze originalsáreas remotas oublaze originalsrisco,blaze originalsrazãoblaze originalsfatores como localização, remuneração, tipoblaze originalsvínculo empregatício, carga horária e infraestrutura.

Em 2012, o médico e pesquisador Sábado Girardi, da UFMG, liderou um levantamento com 277 dos 1.834 estudantes matriculados no último ano dos cursosblaze originalsmedicina no Estadoblaze originalsMG a fimblaze originalsmedir a propensão deles a atuarem nessas regiões e circunstâncias.

Quatroblaze originalsdez aceitariam atuar no cenário mais atraente aferido, com salárioblaze originalsquase R$ 18 mil (valor corrigido e inviável para a grande maioria dos sistemas municipaisblaze originalssaúde), cargablaze originals20 a 30 horas, condiçõesblaze originalstrabalho adequadas, vínculo estável e acesso garantido à residência médica.

No ano seguinte, a UFMG realizou um levantamento com questões parecidas, desta vez com médicos já formados e inscritos no Provab, programa do governo federal no qual médicos formados passavam pelo menos um ano atuandoblaze originalsprogramasblaze originalssaúde da família.

Em troca, caso fossem bem avaliados, recebiam benefícios como um bônusblaze originals10% na notablaze originalsseleçõesblaze originalsresidência médica. Para 82% dos entrevistados, esse foi o maior fatorblaze originalsmotivação para a atuar no Provab;blaze originalssegundo, para 38% dos profissionais, o salárioblaze originalsR$ 11.200 (valores atuais).

A experiência profissionalblaze originalslocalidades escolhidas pelos médicos dentre as consideradas prioritárias pelo governo federal afeta a pretensãoblaze originalseles voltarem a atuarblaze originalsáreas remotas, passandoblaze originals38%, antesblaze originalsatuarem no programablaze originalssaúde na família, para 27%. As condiçõesblaze originalstrabalho pesam: metade dos entrevistados avaliou como ruins ou péssimos os equipamentos da unidadeblaze originalssaúde na qual atuaram.

Uma alta rotatividadeblaze originalsprofissionais afeta o progresso dos programas ligados à atenção básica, baseadosblaze originalscontato mais próximo com a comunidade.

Formar médicos fora dos grandes centros

Outra ação do Mais Médicos passa pela redistribuiçãoblaze originalsnovos cursos e vagasblaze originalsresidência, antes concentrada nas capitais. O programa estabeleceu regras para novas autorizações, como o númeroblaze originalshabitantes do município e a ofertablaze originalscursos na região.

Segundo o governo federal, desde 2013 foram criados 117 cursos e cercablaze originals13,6 mil vagas (a meta era 11,4 mil), voltadas à interiorização do ensino: 73% do total não estãoblaze originalscapitais.

Colaçãoblaze originalsgraublaze originalsformandosblaze originalsMedicina no Ceará

Crédito, UFC

Legenda da foto, Colaçãoblaze originalsgraublaze originalsformandos no Ceará: Brasil tem hoje cercablaze originals290 universidadesblaze originalsMedicina

Hoje, são quase 290 cursos na área, com cercablaze originals30 mil vagas. Do total, 12.589 estão nas capitais (43%) e 16.682 (57%),blaze originalsoutras áreas. A expansão foi catalisada pelo setor privado, com quase 80% das novas vagas e mensalidadesblaze originalstornoblaze originalsR$ 7 mil. Hoje, 10.237 estãoblaze originalsescolas públicas (35%) e 19.034 (65%), no setor privado.

"Não seria mais sensato investir nas universidades públicas, que ainda congregam um corpo docenteblaze originalsexcelência, recuperar seus hospitais universitários, reforçar o seu corpo técnico-administrativo, dar-lhes um salário digno, viabilizando a expansãoblaze originalsvagas nos cursosblaze originalsMedicina?", questionoublaze originalsartigoblaze originals2014 o médico Alberto Schanaider, professor titular do Departamentoblaze originalsCirurgia da Faculdadeblaze originalsMedicina da Universidade Federal do Rioblaze originalsJaneiro (UFRJ).

A forte expansão esbarroublaze originalsdiversos gargalos, como avaliação e supervisão inadequada dos novos cursos e faltablaze originalsestrutura, verba e professores, eblaze originalsuma ondablaze originalscríticasblaze originalsentidadesblaze originalsclasse. Em reação, o governo Michel Temer (MDB) decidiublaze originalsabril passado suspender a aberturablaze originalscursos e vagas por cinco anos.

Segundo o estudo Demografia Médica no Brasil, coordenado por Mário Scheffer, professor do Departamentoblaze originalsMedicina Preventiva da Faculdadeblaze originalsMedicina da Universidadeblaze originalsSão Paulo (USP), o país formará 28.792 médicosblaze originals2024, cercablaze originalstrês vezes o saldoblaze originals2004, entãoblaze originals9.299.

Como o programa Mais Médicos foi debatido na mídia?

O programa Mais Médicos foi alvoblaze originalsintenso debate na mídia, envolvendo profissionais, pesquisadores, entidadesblaze originalsclasses, políticos, gestores e governantes.

Simulaçãoblaze originalsatendimento médicoblaze originalsPorto Alegre

Crédito, Prefeitura Municipalblaze originalsPorto Alegre

Legenda da foto, Ainda há muitas regiões do país com deficitblaze originalsmédicos

Segundo o mapeamento da UFBA sobre os estudos acadêmicos produzidos ao longo dos três primeiros anos do programa, sete trabalhos envolvem as discussões na mídia sobre o Mais Médicos.

Os críticos do programa abordam, principalmente, cinco aspectos: contrataçãoblaze originalslarga escalablaze originalsprofissionais estrangeiros (este o mais controverso), quantidadeblaze originalsdetrimento da qualidade, infraestrutura precária das unidadesblaze originalssaúde e expansão desenfreadablaze originalscursos e residênciasblaze originalsmedicina. O último era político: era uma estratégia eleitoreira?

"É necessário destacar que as visões apresentadas pelas entidades médicas, como o Conselho Federalblaze originalsMedicina (CFM) e a Associação Médica Brasileira (ABM), são distintas dos posicionamentosblaze originalsoutras instituições, como o Centro Brasileiroblaze originalsEstudoblaze originalsSaúde (Cebes) e a Associação Brasileirablaze originalsSaúde Coletiva (Abrasco)", afirma o levantamento, ao mostrar que não há consenso entre as entidadesblaze originalsclasse.

Foram identificados também nos estudos ligação entre o discurso negativo acerca do programa e críticas políticas ao PT, alémblaze originalsuma forte visão corporativa, principalmente nos editoriais publicados pelo Conselho Federalblaze originalsMedicina.

Produzido por cinco pesquisadores da UFBA, um trabalho publicadoblaze originalsmeados deste ano na revista Saúdeblaze originalsDebate, do Cebes, identificou ainda o papel duplo exercido pelos veículosblaze originalscomunicação.

"A mídia atua, simultaneamente, como espaçoblaze originalsreverberação do debate político e, também, como um ator político que influi na opinião pública acerca do programa." Dando, por exemplo, pouca ou nenhuma voz ao usuário do sistema públicoblaze originalssaúde e ao médico que não fosse por meioblaze originalsentidadeblaze originalsclasse.

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