Governo Bolsonaro: Por que a primeira viagem do novo presidente será ao Chile:dado cassino

O presidente chileno Sebastián Piñera, um dos primeiros líderes internacionais a parabenizar Bolsonaro pela vitória no segundo turno, convidou-o via Twitter e por telefone a visitar o Chile. "Conversei longamente com o presidente eleito. O Brasil é um país continental e um sócio importante para o Chile. E entendo quedado cassinoprimeira viagem internacional será ao nosso país", afirmou Piñera.

Mas o que atraiu Bolsonaro edado cassinoequipe ao Chile?

País com população e economia muito menores que as do Brasil, o Chile foi o primeiro da América do Sul a integrar,dado cassino2010, a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o chamado "clube dos ricos" - e, embora ainda esteja distante social e economicamentedado cassinoseus pares do grupo, lidera o Índicedado cassinoDesenvolvimento Humano (IDH) na América Latina e tem a maior expectativadado cassinovida da região.

"Nós (Chile) vamos bem quando nos comparamosdado cassinotermos econômicos e sociais com outros países da América Latina, como na redução da pobreza, nos índicesdado cassinoqualidadedado cassinoeducação, no IDH e no aumento da renda per capita, que édado cassinocercadado cassinoUS$ 25 mil (mais que o dobro da brasileira). Mas não tāo bem quando nos comparamos com os países ricos da OCDE", diz o professordado cassinoCiências Políticas edado cassinoDireito da Universidade Autónomadado cassinoChile Ricardo Israel,dado cassinoentrevista à BBC News Brasil.

O futuro superministro anunciado por Bolsonaro para a Economia, Paulo Guedes, também tem laços com o Chile: morou e foi professor universitário no país nos anos 1980, durante o regime Pinochet, e é conhecido como um "Chicago boy" - estudou na Universidadedado cassinoChicago, defensoradado cassinoteorias econômicas liberais e aplicadas no governo chileno.

'Pioneiro do neoliberalismo'

A atual história econômica do Chile começa no início dos anos 1980, quando abraçou o neoliberalismo durante a ditadura do general Augusto Pinochet (1915-2006). Ele implementou a abertura da economia, o sistemadado cassinocapitalização da Previdência, o sistema privadodado cassinosaúde edado cassinoeducação - mesmo as universidades públicas passaram a ser pagas, e muitas famílias ficaram anos endividadas com bancos para bancar os estudos dos filhos. As mudanças geraram um crescimento consistente da economia.

"O Chile foi pioneiro na adoção do neoliberalismo: os princípiosdado cassinointeresse individual, propriedade privada e supremacia do mercado financeiro foram implementados aqui antes mesmo do Consensodado cassinoWashington,dado cassino1989 (quando foi formulado um "receituário"dado cassinomedidas neoliberais à América Latina, como privatizações, austeridade fiscal e reformas tributárias)", explica o professordado cassinoCiências Econômicas e Administrativas da Universidadedado cassinoValparaíso Guillermo Holzmann.

Ao mesmo tempo, estima-se que o regime Pinochet - que chegou a ser processado internacionalmente e preso por crimes contra a humanidade - tenha deixado ao menos 40 mil vítimas, entre presos políticos, torturados e mortos. Mas o chileno não esteve na mira da Justiça apenas como resultado do regime brutal que comandou.

Após os ataquesdado cassino11dado cassinosetembro, nos Estados Unidos, uma investigação do Senado americano, que buscava informações sobre financiamento ao terrorismo, acabou se deparando com informações que mancharam a imagemdado cassinoPinochet. O relatório do Senado descobriu milhões do ex-ditador escondidosdado cassinoum banco americano. Posteriormente, outras contas, muitas com pseudônimos, foram encontradasdado cassinodiferentes instituições. Aos 91 anos, Pinochet morreu sem condenações. Em 2013, um juiz chileno concluiu que não era possível estabelecer a origemdado cassino18 milhõesdado cassinodólares da fortunadado cassinoPinochet espalhada por centenasdado cassinocontas no exterior e encerrou o processo.

Elogios no Brasil

O chileno chegou a ser elogiadodado cassinodiscursos e entrevistas por Bolsonaro, que disse que o ditador "fez o que tinha que ser feito para reconquistar o seu país" e matou "baderneiros".

A despeito da ditadura, esse modelo econômico chileno é mantidodado cassinogrande parte até hoje, quase 40 anos depois. O país foi governado 20 anos seguidos pela coalizãodado cassinocentro-esquerda chamada Concertação. Nem ela e nem os governos seguintes - como os dois mandatos da ex-presidente socialista Michelle Bachelet ou os do atual presidente,dado cassinodireita, Sebastián Piñera - mudaram o sistema econômico.

O Chile segue sendo uma das economias mais abertas do mundo, não importando a linha ideológicadado cassinoseu presidente. E encarou durante anos o títulodado cassinoum dos mais desiguais da América Latina. Hoje, com o aumento da escolaridade e a partirdado cassinomedidas adotadas pelos governos democráticos, a desigualdade diminuiu e principalmente entre os jovens, explica Israel.

Desde o retorno da democracia, o país andino, banhado pelo oceano Pacifico, passou a viver uma espéciedado cassinodicotomia - respeitando a espinha dorsal do modelo econômico herdadodado cassinoPinochet, como a ampla abertura comercial, mas tentando "aperfeiçoá-lo" na área social e paulatinamente condenando os militares envolvidosdado cassinocrimes cometidos durante a ditadura.

"O estilo chileno é do passo a passo, tanto nas melhorias que estão sendo feitas na herança social (deixada por Pinochet) como na áreadado cassinodireitos humanos", diz o professor Ricardo Israel.

Ao mesmo tempo, a abertura econômica provocou, segundo Holzmann, uma desindustrialização do país e uma pressão maior sobre os trabalhadores.

País abertodado cassinotermos comerciais, mas fechado para outros setores, como o comportamento, o Chile foi um dos últimos países do mundo a permitir o divórcio, por exemplo. Mantém restrições ao aborto semelhantes às do Brasil edado cassino2015 passou a permitir a união civil homossexual.

Quanto à educação, após uma ondadado cassinoprotestos estudantis durante a gestão Bachelet, alunosdado cassinofamílias com menor renda passaram a ter ajuda do Estado para estudar nas universidades públicas e pagas.

"Mas muitas famílias continuam endividadas com os bancos para pagar o crédito que adquiriram para a educação dos filhos, que foi outra herançadado cassinoPinochet", afirma Holzmann.

Hoje, afirmou, o governo chileno oferece uma sériedado cassinoajudas sociais aos mais pobres, como crédito com juros baixos para a compradado cassinoimóveis. No caso da saúde, contou, o trabalhador chileno pode optar para pagar para ter acesso ao sistema público ou privado. Também neste caso pagando do próprio bolso, como vem dos temposdado cassinoPinochet.

Analistas chilenos ouvidos pela BBC News Brasil mostraram-se divididos diante do fatodado cassinoa primeira visita internacionaldado cassinoBolsonaro ser ao Chile.

O professor Israel entende que é "uma boa surpresa". Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff visitaram a Argentina - principal parceiro comercial do Brasil na região -dado cassinosuas primeiras viagens após eleitos. Já Fernando Henrique visitou o Chile antes da Argentina, pouco depoisdado cassinoeleitodado cassino1995.

"O Chile e o Brasil têm uma amizade histórica desde o século 19 e quando, também por amizade pessoal, os presidentes eram Fernando Henrique e Ricardo Lagos (anos 1990). Mas não deixadado cassinoser uma surpresa que Bolsonaro tenha escolhido o Chile como primeira viagem", diz Israel.

Na visãodado cassinoHolzmann, "faz todo sentido" que a primeira visita internacionaldado cassinoBolsonaro seja ao Chile, pelo modelodado cassinogoverno que ele sugere que pretende implementar a partirdado cassino1ºdado cassinojaneiro, quando tomará posse.

"Bolsonaro quer a abertura da economia. Mas um modelo neoliberal como o chileno só pode ser implementado por ditaduras", opina.

O próprio Sebastián Piñera, opositor do períododado cassinoPinochet, tem sido alvodado cassinocríticas da esquerda chilena pela aproximação com Bolsonaro. O senador socialista Juan Pablo Letelier, por exemplo, afirmou ser necessário ter "uma visão mais integral do que significa Bolsonaro para o Brasil, a região e o mundo. Não é casual que as manchetesdado cassinotodos os jornais da Europa o chamemdado cassinoultradireitista".

Previdência Social

É possível que Bolsonaro estude também o sistema previdenciário chileno, alvodado cassinocontroversas. Para a socióloga e cientista política Maria Rita Loureiro, professoradado cassinoAdministração Pública e Governo da FGV-SP, "vai ser um desastre" para o trabalhador se o Brasil copiar o modelo chilenodado cassinoPrevidência Social.

Loureiro é autoradado cassinouma pesquisa comparando os modelosdado cassinoPrevidência do Brasil, da Argentina e do Chile. Para ela, o sistema, implementado na ditaduradado cassinoPinochet, não foi pensado para o trabalhador, mas sim para o mercadodado cassinocapitais.

"O sistemadado cassinoPrevidência chileno é perverso. Trata-sedado cassinouma capitalização compulsória, que deixou somente os militares no sistema estatal, prejudicou principalmente as mulheres (por exemplo, por impedi-lasdado cassinocontinuar contribuindo durante a licença-maternidade) e favoreceu o setor privadodado cassinoaposentadorias (AFPs)", opina a professora à BBC News Brasil.

"Por ter sido implementada na ditadura, os trabalhadores não tiveram opção. A adesão ao sistema privado foi obrigatória. Se o trabalhador se afastar do mercadodado cassinotrabalho, ele deixarádado cassinocontribuir. Ou seja, deverá trabalhar mais para se aposentar. E vi que muitas vezes os benefícios são muito baixos pelo tempo e pelo que ele contribuiu."

No sistema chileno, explica Israel, o trabalhador contribui à Previdência privada com 10% do seu salário mensal, recolhidos pelo empregador e transmitidos às AFPs. O empregador não contribui para a Previdência do empregado, embora Piñera tenha apresentado um projeto que altere esse mecanismo e amplie o papel do Estado no sistema previdenciário. O texto precisa ser aprovado pelo Congresso.

Segundo Loureiro, atualmente, "alémdado cassinopagar peladado cassinoPrevidência com uma parte do seu salário, o trabalhador chileno ainda paga uma taxa para a administração dos seus recursos pelas AFPs. Seria melhor ele colocar o dinheiro no banco, renderia mais. Mas a ditadura não permitiu essa alternativa".

Economia

Há décadas, o Mercosul namora esta maior aproximação comercial com o Chile, para, através dele chegar, mais rápido aos mercados asiáticos. O Chile, assim como Peru e Colômbia, são banhados pelo oceano Pacífico e formaram com o México a Aliança do Pacífico, voltada para o comércio.

O Chile também tem atraído algumas empresas do setordado cassinotecnologia, como a Amazon, mas, segundo Holzmann, os investidores internacionais costumam olhar para a região com dois focos: o Brasil e a Argentina, que são as duas maiores economias da América do Sul.

"Quando as duas economias não estãodado cassinoseus melhores dias, a do Chile também é afetada. Por exemplo, na áreadado cassinoobras públicas", diz.

O modelodado cassinomercado aberto faz com que os preços dos eletrônicos, por exemplo, costumem ser mais baratos que nos países vizinhos. Até recentemente, os argentinos lotavam aeroportos para fazer comprasdado cassinoeletrônicos, eletrodomésticos e roupasdado cassinoSantiago.

O Chile exporta principalmente cobre (50%), sendo o maior exportador mundial do produto, e ainda alimentos e serviços, como setores tecnológicos, que ainda são tímidosdado cassinotermosdado cassinovolumedado cassinocomparação comdado cassinotradiçãodado cassinovender alimentos (frutas, peixes e vinhos, por exemplo) ao mundo.

Segundo a assessoriadado cassinoimprensa da Direção Geraldado cassinoRelações Econômicas Internacionais (Direcon), o Chile tem acordosdado cassinolivre comércio com 64 mercados, incluindo países da região da Ásia-Pacífico, da União Europeia e da América Latina. As regiões com as quais o país não tem acordo completodado cassinolivre comércio são a África e o Oriente Médio. Aindadado cassinotermosdado cassinonúmeros, o Chile comercializa com 86,3% do PIB (Produto Interno Bruto global) e com 63% da população mundial.

Procurada pela BBC News Brasil, a assessoriadado cassinoimprensa da Presidência do Chile não respondeu se a visitadado cassinoBolsonaro já foi agendada. Procurado, o Itamaraty informou que responderá pela agenda internacionaldado cassinoBolsonaro depois que ele tomar posse.

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