Pesquisador italiano teme que Moro tenha destinoyuri hits betnacional'herói' da Mãos Limpas que entrou para política:yuri hits betnacional

O juiz federal Sergio Moro vota no primeiro turno das eleiçõesyuri hits betnacionalCuritiba,yuri hits betnacional7yuri hits betnacionaloutubroyuri hits betnacional2018

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Moro aceitou oficialmente convite do presidente eleito nesta quinta-feira; com isso, ele deixa a magistratura

Nesta quinta, Moro aceitou o conviteyuri hits betnacionalBolsonaro (PSL) para assumir o cargoyuri hits betnacionalMinistro da Justiçayuri hits betnacionalseu governo. Para Vannucci, a decisão é ruim para ambos, porque pode levar à desconfiança da operação Lava Jato e aprofundar a polarização no Brasil.

O magistrado vai assumir, segundo divulgou Bolsonaro, uma pasta que agregará a Segurança Pública e parte do Coaf (Conselhoyuri hits betnacionalControleyuri hits betnacionalAtividades Financeiras), hoje subordinado ao Ministério da Fazenda, para dar-lhe,yuri hits betnacionaltempo real, informações sobre o combate à corrupção e ao crime organizado.

Em entrevista nesta quinta, Bolsonaro afirmou que o Brasil ganha "com um nomeyuri hits betnacionalpesoyuri hits betnacionaluma pessoa que, por si só, por seu trabalho, demonstrou ao povo brasileiro que é possível, sim, combater um dos maiores males que temos na nossa nação, que é a corrupção".

Moro já havia afirmado publicamente, inclusive à BBC News Brasil, que não entraria para a política. Agora,yuri hits betnacionalnota oficial, lamentou teryuri hits betnacionalabandonar "22 anosyuri hits betnacionalmagistratura".

Mas afirmou: "A pespectivayuri hits betnacionalimplementar uma forte agenda anticorrupção e anticrime organizado, com respeito à Constituição, à lei e aos direitos, levaram-me a tomar esta decisão".

Ele disse que irá se afastar do cargoyuri hits betnacionaljuiz agora e, portanto, não deverá mais julgar Lula, que seria interrogado por ele no dia 14yuri hits betnacionalnovembro.

Alberto Vannucci durante apresentação

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Cientista político, Alberto Vannucci é especialista na operação italiana anticorrupção que inspirou a Lava Jato

O juiz é criticado por setores da sociedade que viam alguma motivação políticayuri hits betnacionalseu trabalho à frente da Lava Jato e que citam, nesse sentido, episódios como a divulgação das conversas entre o ex-presidente Lula e Dilma Rousseff, quando já se sabia que ela planejava nomeá-lo como ministro-chefe da Casa Civil,yuri hits betnacional2016.

Mais recentemente, a poucos dias do primeiro turno, a liberação da delação do ex-ministroyuri hits betnacionalLula Antonio Palocci também gerou repercussão negativa. Em resposta às críticas, Moro disse que não houveyuri hits betnacionalsua parte qualquer intençãoyuri hits betnacionalinfluenciar as eleiçõesyuri hits betnacional2018.

Vannucci, o cientista político que estuda a Mãos Limpas, afirma que havia fortes argumentos para o juiz ter recusado o convite. "Os cidadãos que pensavam que havia uma motivação política por trás da Operação Lava Jato vão pensar o que agora, senão que estavam corretos?", questiona.

Ele acompanha os desdobramentos da Lava Jato no Brasil e foi informado pela BBC News Brasil sobre a decisãoyuri hits betnacionalMoro.

Leia a seguir trechos da entrevista.

yuri hits betnacional BBC News Brasil - O juiz Sergio Moro acabayuri hits betnacionalaceitar um convite do presidente eleito Jair Bolsonaro para assumir a pasta da Justiça no Brasil. Como o sr. avalia essa decisão?

yuri hits betnacional Alberto Vannucci - É uma medida muito perigosa tanto para o Bolsonaro quanto para o Moro.

Primeiro, porque pode transmitir à opinião pública a percepçãoyuri hits betnacionalque as investigações da Lava Jato tinham orientação política. Isso pode levar a uma desconfiança da operação como um todo e do Judiciário.

É preciso haver uma clara divisãoyuri hits betnacionalpoderes, mas, nesse caso, vemos uma espécieyuri hits betnacionalconfusão entre o Judiciário e o Executivo. É uma mistura perigosa.

Em segundo lugar, o Brasil agora é um país muito dividido, muito polarizado. Há muitas cisões na sociedade, que incluem a candidaturayuri hits betnacionalBolsonaro.

Agora, ele inclui emyuri hits betnacionalgestão a figura institucional considerada responsável pela investigação e condenaçãoyuri hits betnacionalLula, impossibilitadoyuri hits betnacionalconcorrer à Presidência porque estava preso. Essa medida, portanto, é divisiva. Vai levar a mais polarização e extremismos. Me parece muito ruim para o Brasil como um todo.

Jair Bolsonaro durante entrevista coletivayuri hits betnacional1ºyuri hits betnacionalnovembroyuri hits betnacional2018

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Bolsonaro falou sobre a vindayuri hits betnacionalMoro parayuri hits betnacionalequipe à imprensa

yuri hits betnacional BBC News Brasil - Por que essa mistura entre o Judiciário e o Executivo pode ser perigosa?

yuri hits betnacional Vannucci - Existe um princípio Constitucionalyuri hits betnacionalseparaçãoyuri hits betnacionalpoderes, com o Judiciário e o Executivo, representados por papéisyuri hits betnacionaljuízes e ministros, entre outros.

Agora, há uma sobreposição dos poderes, com um futuro ex-juiz ocupando o cargoyuri hits betnacionalministro. Isso faz com que a mensagem da separaçãoyuri hits betnacionalpoderes fique menos clara.

Na Itália, existe uma convençãoyuri hits betnacionalque nenhum juiz pode ocupar o cargoyuri hits betnacionalMinistro da Justiça. Isso porque, caso um juiz vire ministro, ele levará consigoyuri hits betnacionalexperiênciayuri hits betnacionalmagistratura.

Ele pode ter investigado políticos emyuri hits betnacionalcarreira e, agora, estar trabalhando como um político. Ele pode, por exemplo, ter coletado informações sobre políticos e agora usar essas informações. É um fatoryuri hits betnacionalpoluição nesse processo político.

No novo cargo, ele também entrará no papelyuri hits betnacionalresguardar todo o Judiciário. Ele poderá usar esse novo papel político contra juízes que considera seus adversários. Há elementosyuri hits betnacionalpoluição tanto à atividade política quanto à atividade no Judiciário.

yuri hits betnacional BBC News Brasil - Moro deveria ter recusado o convite?

yuri hits betnacional Vannucci - Como um juiz, você não pode expressão opiniões políticas, deve ser o mais discreto possível e deve exercer só o seu papelyuri hits betnacionaljuiz e evitar fazer considerações políticas.

Um juiz pode ter uma opinião política, masyuri hits betnacionalopinião política deve ser separadayuri hits betnacionalseu trabalho. Com uma decisão dessas, todas essas restrições são deixadasyuri hits betnacionallado. E tudo o que ele fez no passado será visto agora à luz do que agora se manifesta como ambição política.

Muitos limites foram ultrapassados. Já era assim porque muitos da esquerda reclamavam que, embora a corrupção fosse espalhada na classe política, a investigação era endereçada especificamente a um espectro político, da esquerda, pelo menos no começo.

Agora, aqueles suspeitosyuri hits betnacionalseu papel vão desconfiaryuri hits betnacionalsua atividade eyuri hits betnacionalsua integridade.

O que esses cidadãos vão pensar agora que parece haver uma clara demonstraçãoyuri hits betnacionalque, como resultado dessas investigações, um juiz foi recompensado por um presidente da direita?

Os cidadãos que pensavam que havia uma motivação política por trás da Operação Lava Jato vão pensar o que agora, senão que estavam corretos? Esse é um argumento fortíssimo que deveria ter induzido Moro a recusar o convite.

Sergio Moro e Paulo Guedes no Rio, antes do encontroyuri hits betnacionalque foi selada entrada do juiz no futuro governo

Crédito, EPA

Legenda da foto, Moro com Paulo Guedes: ambos foram escolhidos 'superministros'yuri hits betnacionalBolsonaro

yuri hits betnacional BBC News Brasil - Ao aceitar o convite, Moro disse que o que lhe levou a tomar essa decisão foi "a perspectivayuri hits betnacionalimplementar uma forte agenda anticorrupção e anticrime organizado" e "consolidar os avanços contra o crime e a corrupção dos últimos anos". É possível que faça isso?

yuri hits betnacional Vannucci - É um argumento muito ingênuo e populista. Liderar uma operação judicial contra corrupção, com as habilidadesyuri hits betnacionalum juiz, não é garantiayuri hits betnacionalque você saiba como políticas efetivas anticorrupção devam ser formuladas e aplicadas.

São duas habilidades e dois trabalhos completamente diferentes.

Pensar que ser um "herói" anticorrupção vai lhe dar a habilidadeyuri hits betnacionalser um Ministro da Justiça é bobagem.

É uma medida simbólica, para transmitir para parte da opinião pública brasileira que um herói anticorrupção está agora no governo, tomando conta da corrupção. O trabalho anticorrupção não é feito por heróis, ele é feito por um entendimento profundo da administração pública, da economia, da política.

E uma investigação como a Lava Jato, por mais importante que seja, não é garantia desse tipoyuri hits betnacionalconhecimento.

yuri hits betnacional BBC News Brasil - Essa decisão colocayuri hits betnacionalrisco a credibilidade da Lava Jato, levandoyuri hits betnacionalconta que Lula, que concorreria à Presidência contra Bolsonaro, foi preso após desdobramentos da investigação conduzida por Moro?

yuri hits betnacional Vannucci - A credibilidadeyuri hits betnacionaluma operação anticorrupção demanda uma rigorosa separação entre aqueles que operam como juízes tentando coletar evidênciasyuri hits betnacionalcorrupção e aqueles colocados sob investigação. A Lava Jato ainda não acabou e ainda tem pessoas trabalhando nela.

De agorayuri hits betnacionaldiante, haverá argumentos muito fortes contra a operação, já que Moro parece ter capitalizadoyuri hits betnacionalvisibilidade pública e notoriedade para chegar ao poder. É um elementoyuri hits betnacionalprofunda debilitação da atividade da magistratura.

yuri hits betnacional BBC News Brasil - Então também pode levar à desconfiança do Judiciário como um todo?

yuri hits betnacional Vannucci - Na Itália, o Ministério da Justiça não pode interferir no Judiciário, só pode supervisionaryuri hits betnacionalorganização. O Judiciário se autorregula. Essa autonomia requer separação, no sentidoyuri hits betnacionalque as duas precisam operar independentemente. O equilíbrio é frágil. E agora, no Brasil, foiyuri hits betnacionalalguma forma quebrado.

Esse funcionamento vai ser visto pela opinião pública como influenciado por ambições pessoais, opiniões políticas. É um elemento "poluente" para todo o funcionamento das instituições democráticas.

Policiais patrulham sede da Polícia Federalyuri hits betnacionalCuritibayuri hits betnacional8yuri hits betnacionalabrilyuri hits betnacional2018

Crédito, Marcello Casal Jr/Ag. Brasil

Legenda da foto, Sede da PFyuri hits betnacionalCuritiba, onde Lula está preso: ao assumir ministério, Moro deixaráyuri hits betnacionalcuidar dos casos envolvendo o petista

yuri hits betnacional BBC News Brasil - Na Itália, Antonio Di Pietro, principal promotor da Mãos Limpas, primeiro recusou o cargoyuri hits betnacionalministroyuri hits betnacionalBerlusconi, mas mais tardeyuri hits betnacionalfato entrou para a política. Há semelhanças entre Di Pietro e Moro?

yuri hits betnacional Vannucci - Se formos projetar a experiênciayuri hits betnacionalAntonio di Pietro a Moro, podemos dizer nesse momento que Moro vai se arrependeryuri hits betnacionalsua decisão. Pietro tem dito nos últimos anos queyuri hits betnacionalpior decisão profissional foi abandonar a magistratura para entrar na política. Não sei se Moro vai chegar à mesma conclusão.

A históriayuri hits betnacionalAntonio Di Pietro é simples:yuri hits betnacional1992, liderou a Mãos Limpas, que levou a um colapso do sistema político, com políticos sendo presos. Em 1994, quando Berlusconi ganhouyuri hits betnacionalprimeira eleição, ele convidou Di Pietro para assumir um ministério. Berlusconi convidou tanto ele quanto o juiz Piercamillo Davigo, outra figura central da Mãos Limpas.

A diferença principal é que os dois recusaram o convite. A razão que deram publicamente foiyuri hits betnacionalque aceitar um cargo político daria a impressão ao públicoyuri hits betnacionalque seu trabalho como juízes seguia alguma orientação política.

Di Pietro liderou outra grande investigação e, quando a terminou, deixou o cargoyuri hits betnacionaljuiz, no fimyuri hits betnacional1994.

Em 1996, aceitou o cargoyuri hits betnacionalministroyuri hits betnacionalObras Públicas no governoyuri hits betnacionalRomano Prodi,yuri hits betnacionalcentro-esquerda. Mas houve uma investigação contra Di Pietro, com alegaçõesyuri hits betnacionalcorrupção. Ele deixou o cargo e, mais tarde, foi inocentado das acusações. Fundou seu próprio partido e voltou para o ministérioyuri hits betnacional2006. Mais tarde, foi senador. Mas agora abandonouyuri hits betnacionalcarreira política. Agora ele é um advogado.

yuri hits betnacional BBC News Brasil - E por que Berlusconi o convidou para assumir uma pastayuri hits betnacionalseu governo?

yuri hits betnacional Vannucci - É simples. Naquela época, Antonio Di Pietro era,yuri hits betnacionalacordo com todas as pesquisas, a figura mais popular na Itália. Então ter Di Pietro no Executivo lhe daria forte legitimidade política. Era um movimento político muito claro e compreensível. Ele teria se tornado um importante expoente do Executivo.

Mas foi uma proposta perigosa, porque, alguns meses depois, Berlusconi se viu envolvido, pela primeira, mas não a última vez,yuri hits betnacionalum escândaloyuri hits betnacionalcorrupção.

Então existe a teoriayuri hits betnacionalque seu convite não foi só para capitalizar apoio popular, mas também para tentar algum tipoyuri hits betnacionalproteção política contra as investigações.

yuri hits betnacional BBC News Brasil - O sr. vê alguma semelhança entre o conviteyuri hits betnacionalBerlusconi e o conviteyuri hits betnacionalBolsonaro?

yuri hits betnacional Vannucci - Moro é uma figura política muito popular. Se, como um político, você consegue incluí-lo emyuri hits betnacionalequipe, você capitaliza parte do apoio que ele tem.

Também podemos pensar se, assim como Berlusconi, também há interessesyuri hits betnacionalproteção política ou da tentativayuri hits betnacionalganhar alguma benevolência do Judiciário com esse convite. É uma questão complexa.

Silvio Berlusconi

Crédito, EPA

Legenda da foto, Berlusconi, então premiê italiano, convidou promotor da Mãos Limpas para assumir pastayuri hits betnacionalseu governo na décadayuri hits betnacional90, que acabou recusando a oferta

yuri hits betnacional BBC News Brasil - Bolsonaro diz que Moro estará combatendo a corrupção à frente do Executivo.

yuri hits betnacional Vannucci - Essa é outra similaridade entre os casos. Berlusconi também entrou no campo político como um novo elemento depoisyuri hits betnacionalum gigante tsunamiyuri hits betnacionalalegaçãoyuri hits betnacionalcorrupção, com a Mãos Limpas, eyuri hits betnacionaldeslegitimaçãoyuri hits betnacionaltoda classe política - não importa seyuri hits betnacionaldireita ouyuri hits betnacionalesquerda.

O que importa é o novo, ou o político que consegue se vender como novo,yuri hits betnacionaloposição ao velho, corrupto. O velho é ruim, o novo é bom. Nesse sentido, Bolsonaro incluir o juiz líderyuri hits betnacionalanticorrupção emyuri hits betnacionalequipe transmite a mensagemyuri hits betnacionalnovo,yuri hits betnacionalcontraposição ao que é velho e corrupto.

Assim como Bolsonaro conseguiu se vender como novo, embora fosse velho na política.

A ideiayuri hits betnacionalque problemas muito complexos podem ser solucionados por uma só figura, nesse caso uma espécieyuri hits betnacionalherói, é tipicamente populista. Você pega um problema real, a corrupção desenfreada, e oferece uma solução muito simples, levada a cabo por uma só pessoa. É um elemento básico do populismo.

yuri hits betnacional BBC News Brasil - A deslegitimação da classe política no Brasil desloca a confiança a nomes do Judiciário? E como a decisãoyuri hits betnacionalMoro pode influenciar esse movimento?

yuri hits betnacional Vannucci - Nos anos 1990, na primeira fase da Mãos Limpas, houve um grande apoio aos juízes.

O Judiciário ganhou uma nova legitimidade, uma confiança incondicional. Em um país católico, era quase como se os juízes fossem capazesyuri hits betnacionalabsolver nossos pecados.

Mas, alguns anos depois, quando Berlusconi foi envolvidoyuri hits betnacionalinvestigações e houve uma campanha midiática contra juízes, a sociedade passou a desconfiar deles. Tornaram-se objetosyuri hits betnacionaldisputayuri hits betnacionalpartidos políticos.

No Brasil, houve um grande apoio ao Judiciário, mas desde o começo já havia suspeitas por setores da sociedade, que agora é como se se confirmassem. Então o Brasil pode ter puladoyuri hits betnacionaluma coisa para outra.

É muito perigoso porque acaba tirando a legitimidade daqueles que aplicam a lei.

E tudo bem cidadãos não estaremyuri hits betnacionalacordo ou não acreditaremyuri hits betnacionalpolíticos, mas é muito perigoso desconfiaryuri hits betnacionaljuízes, porque isso é desconfiar da lei, da Justiça. A decisãoyuri hits betnacionalMoro fortalece a visãoyuri hits betnacionalque juízes fazem parte da atividade política.

yuri hits betnacional BBC News Brasil - Então a polarizaçãoyuri hits betnacionalrelação à política no país atinge o Judiciário?

yuri hits betnacional Vannucci - Essa decisão exacerba a polarização e inclui o Judiciário na cisão política do Brasil. E isso afeta a qualidade da democracia.

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