Os professores 'Merlís' da vida real, que 'quebram as regras' para inspirar alunos como na série da Netflix:br betano login

Jovens do programa Jovem Explorador, liderado pelo professor Levi Jucá, no interior do Ceará, tiram uma selfie do grupobr betano loginfrente a uma árvore

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, O professorbr betano loginhistória Levi Jucá,br betano login30 anos, criou o projeto Jovem Explorador, que leva alunos do Ensino Médio a pesquisarem sobre o local onde vivem

"No ensino médio, essa escutabr betano loginquem é o aluno é ainda mais importante. É um períodobr betano loginescolhabr betano logincaminhos,br betano loginrumobr betano loginvida, não é só vocação profissional. Há professores excelentes, bonsbr betano loginsuas matérias, carismáticos na relação com os alunos, mas ser Merlí não é fácil não", diz Janine Ribeiro, que já ministrou dois cursos livresbr betano loginfilosofiabr betano loginSão Paulo inspirados na série.

Janine lembra que Merlí é um "demolidorbr betano loginregras" e isso o agrada muito. "Aqueles alunos não desenvolveriam o mesmo potencial com outro professor. Merlí vai no conteúdo, vai no coração, e isso é raro. Falta para alguns professores mais segurançabr betano loginsi próprios e mais disponibilidade para saber que as teorias não regem o mundo."

Imagem do seriado

Crédito, Divulgação TV3

Legenda da foto, Elenco da série Merlí, exibida no Brasil pela Netflix. Na trama, o professor busca dar sentido à escola

Expedição, história e orgulhobr betano loginPacoti

Em Pacoti, cidadebr betano loginpouco maisbr betano login10 mil habitantes no Ceará, o professorbr betano loginhistória Levi Jucá,br betano login30 anos, poderia ter ficado dentro da sala na Escola Estadualbr betano loginEnsino Médio Menezes Pimentel ensinando os conteúdos previstos no currículo, mas acha que a educação vai muito além dos muros da escola.

Em 2014, ele criou um projeto chamado Jovem Explorador, que leva os alunos do ensino médio a pesquisarem o território onde moram e relacionarem à teoria aprendida na escola. Com o trabalho, Levi ganhou prêmios na áreabr betano logineducação e viajou até a China para apresentar o projeto que seguebr betano loginandamento.

A vontadebr betano loginconhecer e registrar a históriabr betano loginPacoti veio quando Levi ainda estava na graduação, na Universidade Federal do Ceará (UFC). "Quando comecei a dar aulas vi que os alunos não conheciam a cidade, estavam presos ao currículobr betano loginhistória, que é muito mais focado na região Sudeste", diz. Ele próprio começou a fazer pesquisas, que resultaram no livro Pacoti, História & Memória, lançadobr betano login2014.

Na salabr betano loginaula, sempre que podia, Levi associava a história do Brasil à da cidade. "Comecei a ver um brilho no olhar deles e passei a usar meu livrobr betano loginsala, apesarbr betano loginnão ser um material didático. Os alunos se interessavam mais quando o conteúdo era relacionado ao dia a dia deles."

Não demorou muito para começarem a sair da escola para explorar a cidade. A ideia surgiubr betano loginuma aula sobre Brasil Impériobr betano loginque Levi contavabr betano loginuma expedição que saiu do Riobr betano loginJaneiro para o Ceará com pesquisadores brasileiros. "Falei para eles, que tal fazermos nossa própria expedição e fazer uma releitura da nossa história para vivenciar e conhecer as nossas riquezas? Diferentemente da escola, quando as disciplinas estão separadas, na vida está tudo conectado."

Localizadabr betano loginuma áreabr betano loginpreservação ambiental do Ceará, Pacoti abriga um trechobr betano loginMata Atlântica, por isso tem um "arbr betano loginfloresta" e um clima frio que chama a atenção por ser tratar do Nordeste. Por isso, os alunosbr betano loginPacoti têm à disposição uma rica natureza para explorar por meiobr betano logintrilhas.

Guiados pelo professor Levi, eles passaram a fazer expedições e catalogar espécies vegetais,br betano logininsetos, alémbr betano loginconversar com moradores, recolher imagens, doaçõesbr betano loginobjetos e registrar depoimentos. O trabalho envolve outras disciplinas alémbr betano loginhistória. O material recolhido virou um museu batizadobr betano loginEcomuseu, que é administrado pelos alunos.

As atividades do Jovem Explorador ocorrem no período do contraturno escolar. Durante as aulas regulares, o professor discute o material recolhido. Essa foi a forma que o professor Levi encontroubr betano logininovar no ensino e cumprir o cronograma estabelecido pela escola.

"Já fiz trilha com os meninosbr betano loginhoráriobr betano loginaula, nunca fui impedido, mas era questionado sempre. 'Isso está no currículo, vale a pena fazer isso?' Também já ouvi outros professores falarem: 'o que você vai fazer na floresta com os meninos se é professorbr betano loginhistória?' A visão tradicionalbr betano loginensino ainda é muito latente."

Neste Dia dos Professores, Levi espera que outros docentes saiambr betano loginsuas zonasbr betano loginconforto - embora seja mais trabalhoso, segundo ele, o resultado é gratificante. Nos últimos quatro anos ele diz ter aprendido mais do que aprenderiabr betano loginqualquer doutorado.

"Sei mais sobre plantas e animais, consigo falar sobre muitos assuntos e enxergar a educaçãobr betano loginforma integral. Todo espaço é um espaçobr betano loginaprendizagem; o professor precisa aceitar isso, precisamos ser pesquisadores. Ensinar requer pesquisa, e o mantra do projeto é que só amamos o que conhecemos."

De quebra, com o trabalho, Levi ganhou amigos. "Passei a ter uma relação mais afetiva,br betano loginconfiança com os alunos. Frequentamos as casas uns dos outros, comemoramos aniversários, viramos uma família. Todos se tornaram filhos e irmãos, trocamos ideias e aflições."

Grupobr betano loginestudantes participantes do programa Jovem Explorador posam para fotobr betano loginfrente ao Ecomuseu

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Material recolhido pelos estudantes do programa Jovem Exploradou virou um museu, batizadobr betano loginEcomuseu, que é administrado pelos alunos

Sonhos, diálogos e biologiabr betano loginMacaparana

No interior do Pernambuco, na cidadebr betano loginMacaparana, que possui pouco maisbr betano login20 mil habitantes e faz divisa com a Paraíba, Jucélio Guedes Silva,br betano login44 anos, ensina biologia há duas décadas. Mas foi na rede pública, onde está há pouco maisbr betano loginum ano, na Escolabr betano loginReferênciabr betano loginEnsino Médio Professora Beneditabr betano loginMoraes Guerra, que sente seu trabalho ser ainda mais gratificante. Lá, Jucélio se tornou o queridinho dos alunos.

"Me identifiquei muito com a escola pública, há mais carência e ausência da família entre os alunos. Na rede particular também tem, mas os pais são mais próximos. Na escola pública é difícil observar a presença deles", diz.

O professor conta que gostabr betano loginchegar ao aluno tímido, que fica no canto da sala e não participa das aulas. "Gostobr betano loginbuscar esse aluno e mostrar que ele é capaz. Não sou psicólogo, mas sou paibr betano logingêmeasbr betano login17 anos. Depois que o aluno entende que estou ali para ajudar, começa a se abrir, escutar mais e percebe que tem condiçõesbr betano loginmelhorarbr betano loginvida."

O docente se orgulhabr betano logincontar que a turma do 3º ano do ensino médio já o convidou para ser homenageado na formatura deste ano. Também gostabr betano loginfalar que a diretora da escola diz que ele "chegou e mexeu com todo mundo".

Entre os episódios marcantes dos anosbr betano logindocência, Jucélio cita o casobr betano loginum aluno autista que se agitava na aula quando queria responder às perguntas. "Comecei a deixar ele responder, depois a mãe me contou que ele só queria estudar biologia (quando chegava)br betano logincasa. Acabou se tornando um dos melhores alunosbr betano loginbiologia da turma."

O carisma, segundo ele, faz com que os alunos se interessem mais pela disciplina. Assim como Merlí, Jucélio também não fica totalmente preso ao cronograma do conteúdo obrigatório. "A direção cobra, mas eu não fico preso. A matéria flui à medida que a turma está querendo aulabr betano loginbiologia. Primeiro eu conquisto os alunos, depois eu lanço o conteúdo, eles se encantam, passam a olhabr betano loginoutra forma."

Como educador, Jucélio diz que seu papel é transformar e ajudar os estudantes a realizar sonhos. "É mostrar que a sociedade pode se tornar melhor à medida que estuda mais. Direciono minha disciplina para que o aluno consiga realizar sonhos. Meu papel é transformar vidas."

Jucélio Guedes

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Em Macaparana, Pernambuco, o professor Jucélio Guedes da Silva tem feito os alunos se apaixonarem por biologia

Arte e filosofiabr betano loginSão Paulo

As aulasbr betano loginfilosofiabr betano loginValmir Ratts,br betano login47 anos, na Escola Estadual Padre Anchieta, no Centrobr betano loginSão Paulo, têm música, filme ou teatro. E muito bate-papo. É a forma que ele encontroubr betano logintornar a aula mais dinâmica, envolvente e provar que a filosofia é algo prático na vida dos jovens - e que pode ser divertido.

Valmir é ligado aos movimentos sociais desde a adolescência, por isso a escolha pela filosofia foi muito natural. No início nem pensavabr betano loginlecionar e teve dificuldadebr betano loginse posicionar quando a disciplina ainda não era obrigatória na grade curricular.

Hoje já acumula maisbr betano login15 anos lecionando na rede pública. A preferência é por trabalhar com os alunos dos terceiros anos do ensino médio, que têm entre 17 e 18 anosbr betano loginidade. "Sempre tive proximidade com eles, brinco muitobr betano loginsalabr betano loginaula, falo sobre minhas viagens e estou aberto a escutá-los. Mesmo com toda precarização do ensino, tento usar música e audiovisual para deixar as aulas mais dinâmicas."

O professor também gostabr betano logindividir a salabr betano logingrupos e propor atividades como encenações e mímicas. Ele teme que a filosofia perca espaço no novo currículo escolar que será formado a partir da aprovação da Base Nacional Comum Curricular Comum (BNCC) do ensino médio, que ainda estábr betano loginconstrução.

Neste Dia dos Professores, Valmir gostaria que os docentes fossem vistosbr betano loginforma menos idealizada, tal qual na série Merlí. Na trama, o protagonista tem problemas familiares, amorosos e financeiros, assim como todo mundo.

"Uma das coisas que mais gosteibr betano loginMerlí é que ele mostra seu lado humano. Tantobr betano loginajudar o outro a se encontrar, quanto o seu próprio ladobr betano loginter problemas e desafios. Não dá para ser um professor perfeitinho, isso é só na fantasia. O professor também seus problemas e desafios, seus momentos difíceis. Por isso Merlí é uma referência, servebr betano logininspiração."