Eleições 2018: Segundo turno será 'disputa da rejeição':
Para o pesquisador, no entanto, isso pode não ser empecilho para uma vitória do candidato do PSL, que liderou o primeiro turno com 46% dos votos contra 29% do petista.
"Historicamente, no primeiro turno é possível que o candidato tenha mais votos sendo o mais rejeitado. No segundo turno, isso é impossível", avalia.
"Bolsonaro terá que diminuirrejeição. Mas as urnas já indicaram que o eleitorado à direita é nitidamente maior do que o eleitorado à esquerda."
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Como variou a rejeição aos candidatos nas eleições anteriores?
Em 1989, Fernando Collor foi eleito no primeiro turno com 30% dos votos e 30% da rejeição, segundo o Datafolha da época. Lula teve 29%rejeição e 17% dos votos nas urnas. No segundo turno, a rejeição a Collor caiu e aLula aumentou. O candidato do PRN ganhou com 53% dos votos válidos. Lula recebeu 47%.
Em 2002, Lula também foi eleito no primeiro turno com uma rejeição maior do que aJosé Serra - 31% a 23%. Mas, no segundo turno, ele reverteu os índices. Dias antes do segundo turno, ele era rejeitado por 27,8% dos eleitores e Serra, por 50,6%.
Em 2006, aconteceu o mesmo. Ele chegou ao primeiro turno com cerca30%rejeição e Geraldo Alckmin, com 24%. No segundo turno, a rejeição a Lula diminuiu, e o percentual que rejeitava Alckmin aumentou. Lula venceu novamente.
Em 2010, Dilma Rousseff tinha quase o mesmo índicerejeição que José Serra no primeiro turno - ambos por volta dos 30%. Ela venceu e chegou ao fim do segundo turno com 32%rejeição, enquanto Serra tinha 42%. Acabou se tornando presidente.
Já2014, entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), o cenário parecia que seria diferente.
"As outras eleições nos dizem que o candidato que ganhou a eleição no primeiro turno sempre ganha no segundo. A única exceção a isso,certa forma, foi 2014, quando Dilma começou o segundo turno perdendo nas pesquisas", relembra Lavareda
Naquele ano, Dilma venceu o primeiro turno contra Aécio, masrejeição aumentou. A pesquisa Datafolha do dia 10outubro2014, poucos dias após a votação, mostrava que 43% dos eleitores rejeitavam a petista e 34% não votariam no tucano.
Ele também aparecia empatado com Dilma ou levemente à frente nas pesquisasintençõesvoto.
Duas semanas depois, no dia 25outubro, os índices tinham praticamente se invertido. Aécio tinha 41%rejeição do eleitorado e Dilma tinha 38%.
"Aécio surpreendeu crescendo sete pontos na véspera da eleição. Isso criou um momento e deu uma dianteira a ele nos primeiros 10 dias do segundo turno. Aí Dilma começou a fazer a campanha negativa e reverteu."
Para o sociólogo ThiagoAragão, especialistaanáliserisco político e diretor da consultoria Arko Advice, a escolha do eleitor será,fato, "muito baseada no que ele não quer".
"Os eleitores, principalmente os que estão na dúvida ou que votaramoutros candidatos no primeiro turno, se colocam numa situaçãoescolher quem eles odeiam mais."
O caminho do PT, diz ele, também parece ser bem mais difícil, mesmo que Haddad tenha um índicerejeição cercasete pontos percentuais menor.
"A rejeição ao PT écima do passado recente (a crise que começou no governo Dilma), então, acaba sendo mais forte do que a rejeição da narrativa passada do Bolsonaro (sua simpatia pela ditadura)", diz Aragão.
Estratégias utilizadassegundos turnos passados também podem não funcionar no cenário atual, segundo o analista. Ele cita justamente o casoDilma2014, que se posicionou mais à esquerda na campanha.
"Naquela época, a lógica ainda erabater na proposta alheia", diz Aragão. "Enquanto essa campanha é altamente emotiva e não está baseadapropostas."
Por que o segundo turno é mais difícil para Haddad
Bolsonaro, na opinião dos analistas, se beneficia da curva ascendente que teve no primeiro turno e do fatoque precisa se esforçar menos para conquistar votos.
"Seu caminho é mais tranquilo no segundo turno porquetese ele já conquistou os votos que precisa pra vencer. Ele só precisa ficar quieto", explica Aragão.
Segundo o analista, a estratégia do candidato do PSL temvariar entre ser o mais básico possível na narrativa - não entrarpolêmicas, manter discurso simplista e direito ao ponto - e fazer um aceno conciliatório com os grupos nos quais ele tem maior rejeição: as mulheres e os eleitores do Nordeste.
Haddad, porvez, precisa criar uma nova narrativa para conquistar votos e, segundo Aragão, dependeum erro do adversário para vencer.
"Os principais pontos negativos que ameaçaram Bolsonaro no primeiro turno estão ligados a coisas que foram ditas porequipe", afirma. "Ou seja, o que mais o prejudica é seu próprio pessoal, seus erros sãocasa. Não é o Haddad."
Haddad teria, nesse cenário, dois caminhos possíveis - fazer um aceno conciliatório ao centro ou se radicalizar à esquerda.
Segundo os analistas, as duas estratégias são arriscadas e é difícil projetar quais seriam os resultados com baseeleições anteriores pelo fato dessa eleição ser muito atípica.
Um discurso à esquerda consolidaria os votos que o PT já tem, mas correria o riscoalienar os indecisos e eleitoresoutros candidatos no primeiro turno.
No entanto, um aceno ao centro também poderia ser um risco nesse ano.
"Todos os candidatos que optaram por esse discurso centrista perderam (no primeiro turno)."
"Além disso, um discurso centrista conciliatório do PT envolve uma mea culpa sobre o que aconteceu nos últimos anos, e eles nunca vão fazer isso", opina Aragão.
A cientista política da USP Maria Hermínia Tavares relembra que a viradaDilma nas pesquisas antes do segundo turno2014 também foi possível porque ela "tinha a máquina do governo a seu favor", algo que Haddad não tem.
Para Tavares, o caminho mais prudente para o ex-prefeitoSão Paulo seria se descolar da imagemLula, mas não há garantiasque isso acontecerá.
"Seria prudente que ele fizesse isso, porque não é possível eleger um presidente que vai perguntar a um ex-presidente presidiário o que ele tem que fazer. Isso não existe."
"Lula também deveria ter o bom-sensonão aparecer mais ali. Fernando Haddad é uma pessoa leal. Seria muito difícil para ele fazer esse movimento. Quem tem que fazer é Lula", avalia.
Resultado do segundo turno ainda pode surpreender?
Mesmo concordando que Haddad precisariaum erroBolsonaro - ouum acontecimento extraordinário - para conseguir virar o cenário do primeiro turno, alguns dos especialistas ainda dizem que isso seria possível.
Um desses erros poderia vir, por exemplo, da própria baseapoioBolsonaro.
Diversos comentáriosredes sociais criticando os eleitores do Nordeste por terem impedido a vitóriaBolsonaro no primeiro turno começaram a surgir na internet logo após o anúncio dos resultados.
"Isso poderia acabar gerando uma antipatia tão grande entre os eleitores do Nordeste que faça com que eles não tenham o menor interessevotar nele", diz Aragão.
O fato do propaganda a favorBolsonaro ter sido distribuídamaneira capilarizada - o que impulsionou seu crescimento no primeiro turno - pode tornar mais difícil paracampanha controlar esse movimentoataque ao nordeste.
"O controle dessa manifestação dos eleitores é difícil porque a lógica do crescimento (de Bolsonaro) é orgânica. Isso faz com que cada eleitor seja um estrategistaseu núcleo."
Segundo o cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria, a eleição ainda estáaberto - e tanto Haddad quanto Bolsonaro precisarão "caminhar para o centro" na tentativavencer.
"Essa eleição foi muito marcada por violência política - um atentado contra um candidato - e notícias falsas. Mas ela ainda não está encerrada", disse à BBC News Brasil.
De acordo com um levantamento da Agência Lupa, as 10 notícias falsas mais populares no Facebook durante a campanha do primeiro turno tiveram 865 mil compartilhamentos.
No WhatsApp, a equipe da BBC News Brasil também monitorou mais270 grupos políticos e encontrou dezenascasosimagens foracontexto, áudios com teorias conspiratórias, fotos manipuladas e pesquisas falsas sendo compartilhadas entre os usuários do serviço.
Maria Hermínia Tavares também acredita que uma vitóriaBolsonaro não está totalmente confirmada, apesaro cenário ser mais favorável ao candidato do PSL.
"Acho que justamente por ser uma eleição crítica, as experiências anteriores nos dizem pouco. Obviamente, a diferença entre os dois candidatos é grande, difícilser vencida, mas nada do que sabemos sobre as eleições anteriores nos ajuda a entender o que está acontecendo agora."
O crescimento do PSL para uma bancadamais50 deputados federais - o partido elegeu somente um2014 - e as reduções das bancadas do PT e do PSDB são algumas das razões pelas quais a cientista política justifica a incerteza.
"Nos Estados também está havendo muitas surpresas. Aquele sistema que se organizava entre uma competiçãocentro-esquerda ecentro-direita desmoronou."
"Dessa vez, é provável que a decisão dos eleitores seja muitocima da hora. Só teremos como saber no dia 28 à noite."
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*Esta reportagem foi atualizada no dia 09outubro2018 às 15:26, para incluir mais dados sobre eleições anteriores.