Pesquisadores brasileiros desenvolvem analgésico a partirbet7k imagemsubstância extraídabet7k imagemaranha:bet7k imagem
A dor neuropática, porbet7k imagemvez, é um problema comum e faz partebet7k imagemvárias síndromes neurológicas, representando 25% dos pacientes atendidos nas grandes clínicasbet7k imagemdor.
"No estudobet7k imagemAna Carolina, mostramos,bet7k imagemmodelos animais, que esse tipobet7k imagemdor pode causar depressão, e que a migalina, administradabet7k imagemuma região do neocórtex, é capazbet7k imagematenuar os dois problemas", explica.
Migalina é a substância retirada da aranha que foi estudada por Ana Carolina.
Ela foi descoberta pelo pesquisador Pedro Ismael da Silva Júnior, do Instituto Butantan, durante seu doutorado, concluído no ano 2000.
"Na época eu estava estudando o sistema imune inatobet7k imagemaracnídeos, especificamente da aranha caranguejeira Acanthoscurria gomesiana", conta. "Eu buscava moléculas com atividade antimicrobiana (antibiótica) no sangue (hemolinfa) dessa espécie."
Silva Júnior encontrou e isolou quatro moléculas com essa propriedade, entre elas a migalina. "Descobrimos que essa substância provavelmente está envolvida na defesa imune dos aracnídeos, que vivembet7k imagemambientes repletosbet7k imagemmicrorganismos e passam por uma fase crítica para crescer", explica.
"Esses invertebrados possuem exoesqueleto (esqueleto externo) e, para crescer, precisam sair dele, ou seja, trocá-lobet7k imagemtemposbet7k imagemtempo,bet7k imagemum processo chamado ecdise."
Nesse momento, eles estão sujeitos à perdabet7k imagemhemolinfa e a serem atacadas por microrganismos.
"Essas moléculas antimicrobianas, como a migalina, desempenham um importante papel nesse momento", diz Silva Júnior.
"Tudo indica também que ela possa estar envolvida ainda na cicatrização nesses animais, ajudando na formaçãobet7k imagemuma nova cutícula ou no reparo dela."
A necessidadebet7k imagemuma maior disponibilidade dessa molécula para pesquisas - e para seu eventual uso para produçãobet7k imagemnovas drogas - o levou a estudar suas características e sintetizá-lasbet7k imagemlaboratório.
Depois disso, devido à semelhança da migalina com outras moléculas envolvidas com o sistema nervoso, Silva Júnior procurou o pesquisador Wagner Ferreira dos Santos, da Faculdadebet7k imagemFilosofia, Ciências e Letras da mesma instituição (FFCLRP-USP), e propôs uma parceria no estudo dessa substância ebet7k imagemseu efeito sobre os seres humanos.
"Ele ebet7k imagemorientanda, a Ana Carolina, e Freitas descobriram que ela também apresentava efeito analgésico", conta Silva Júnior.
Ana Carolina, porbet7k imagemvez, diz que a pesquisa buscou entender o efeito da migalina no sistema nervoso centralbet7k imagemrelação à dor.
"Nesse trabalho especificamente, avaliamos também o seu efeito sobre a comorbidade (relação entre duas ou mais doenças) entre dor neuropática crônica e depressão", explica.
"Como já era conhecida essa relaçãobet7k imagemdor intensificando a depressão e vice-versa, procuramos então investigar a ação da migalina sobre essa comorbidade quando microinjetadabet7k imagemuma região do cérebro envolvida na elaboraçãobet7k imagemaspectos sensoriais e cognitivos da dor, o córtex pré-frontal."
De acordo com ela, a equipe conseguiu demonstrar o efeito analgésico da migalina quando microinjetada no córtex pré-frontal, alémbet7k imagemseu efeito sobre a comorbidade, atenuando não apenas sintomas decorrentes desse quadro, mas também comportamentos do tipo depressivo associados a ele.
"Não podemos dizer que ela apresenta efeito especificamente sobre o quadro depressivo, uma vez que apenas estudamos este transtorno quando associado a dor neuropática cônica", reconhece.
Ou seja, Ana Carolina diz que não pode afirmar que a migalina apresenta algum efeito diretamente sobre a depressão, pois o objetivo do estudo foi investigar a relaçãobet7k imagemcomorbidade.
"No entanto, tratamos a dor e vimos melhora nos comportamentos do tipo depressivo", diz. "Isso quando uma molécula com ação farmacológica analgésica (migalina) é administradabet7k imagemuma estrutura cerebral associada a transtornos psiquiátricos e na cronificação da dor. Sendo assim, por mais que a molécula apresente um potencial antidepressivo, o estudo não investigou esse efeitobet7k imagemforma independente."
Para que a migalina possa dar origem a um novo analgésico serão necessárias, no entanto, mais pesquisas.
"O nosso é um estudo inicial, mas que se mostrou importante no sentidobet7k imagemmelhor entender o funcionamento dessa substância", diz Ana Carolina. "Também a coloca como uma molécula muito interessante para que seja estudada mais profundamente como um possível medicamento."
Freitas acrescenta que essa pesquisa se inserebet7k imagemum contexto mais amplobet7k imagembusca pelo desenvolvimentobet7k imagemnovas drogas a partirbet7k imagemsubstâncias naturais.
"Os aspectos econômicos e biotecnológicosbet7k imagemcompostos que são derivadosbet7k imagemplantas,bet7k imagemvenenosbet7k imagemanimais, entre outros, vêm recebendo grande atenção da comunidade científica, da indústrias farmacêuticas e do sistemabet7k imagemsaúde", explica.
"De fato, algumas dessas substâncias que podem ter cunho medicinal possuem importância para as populações humanas, sendo utilizadasbet7k imagemdiversas patologias."
De acordo com ele, o fatobet7k imagema migalina atenuar a dor e a depressão nos animais abre a possibilidadebet7k imagemsuas pesquisas serem aprofundadas.
Depois disso, a equipe poderá partir para novos estudos, visando testes clínicos e o possível desenvolvimentobet7k imagemum novo medicamento. "Vale salientar que os órgãosbet7k imagemfomento estaduais e federais precisam continuar e, até mesmo, aumentar os investimentosbet7k imagemciência e tecnologia", diz.
"Nosso grupo é um exemplobet7k imagemque, mesmo com poucos recursos, pode-se trazer coisas novas, novas abordagens, novos conhecimentos e até mesmo novos fármacos."
Ele lembra que isso seria muito importante, porque a dor crônica e neuropática ébet7k imagemdifícil tratamento e muitos dos medicamentos atuais ou não possuem efeitobet7k imagematenuá-la ou causam grandes e desagradáveis efeitos adversos.
"Sendo assim, estudar minuciosamente os possíveis efeitos analgésicos com novas abordagens e substâncias pode nos oferecer alternativas para o tratamento", diz.
"Mas são necessários ainda estudos adicionais para ratificar (as descobertas) e para propormos a migalina como um agente analgésico e antidepressivobet7k imagemsituaçõesbet7k imagemdor crônica. Contudo, demos o passo inicial, agora, novas estratégiasbet7k imageminvestigações serão consideradas nos gruposbet7k imagempesquisas, que colaboraram com este estudo para darmos continuidade nessa pesquisa."