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Um Brasil dividido e movido a notícias falsas: uma semana dentroaposta de futebol272 grupos políticos no WhatsApp:aposta de futebol
- Muita desinformação, como imagens no contexto errado, áudios com teorias conspiratórias, fotos manipuladas, pesquisas falsas
- Ataques à imprensa tradicional, como capas falsasaposta de futebolrevistas e falsa "checagem"aposta de futebolnotícias que,aposta de futebolfato, eram verdadeiras
- Imagens que fomentam o ódio a LGBTs e ao feminismo
- Uma "guerra cultural" organizada, com ataques sistematizados a artistasaposta de futebolredes sociais
- Áudios e vídeosaposta de futebolgente comum ouaposta de futebolgente que se passa por gente comum, mas com identidade desconhecida, dando motivos para votaraposta de futebolum candidato
Mas qual é o peso dessa desinformação circulando no WhatsApp durante as eleições?
A rede é a mais difundida entre eleitores brasileiros, utilizada por 66% deles, ou 97 milhõesaposta de futebolpessoas, segundo a pesquisa Datafolha divulgada nesta semana. Chega a ser maior do que o Facebook, usado por 58% dos brasileiros que votam.
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Finalaposta de futebolYouTube post, 1
Segundo o próprio WhatsApp, 120 milhõesaposta de futebolbrasileiros usam o aplicativo. E muitos, principalmente das classes C, D e E, aderem a planosaposta de futebolcelular com pacote restritoaposta de futeboldados, mas com WhatsApp gratuito graças a um acordo com as operadoras. Isso significa que acabam tendo acesso à internet somente por meio do aplicativo, ou seja, sem possibilidadeaposta de futebolclicaraposta de futebollinks ou verificar na rede a origem da informação.
Ao menos no Brasil, o WhatsApp deixouaposta de futebolser apenas um aplicativoaposta de futebolmensagens instantâneas. É uma rede social também, com grupos públicos, desordenados e extremamente dinâmicosaposta de futebolaté 256 integrantes nos quais se entra por meioaposta de futebollinks divulgadosaposta de futebolsites ouaposta de futebolredes sociais. Pessoas do Brasil inteiro que não se conhecem conversam pelos grupos. É bem diferente, portanto, dos grupos privadosaposta de futebolfamílias, amigos, colegas.
Por isso, reitero: acompanhar dezenasaposta de futebolgrupos no WhatsApp é uma experiência surreal.
Ao ligar o celular pela manhã, às 10h, contabilizo 13.698 novas mensagens. Eu havia desligado o celular na noite anterior. Em 12 horas, maisaposta de futeboltreze mil mensagens foram enviadasaposta de futebol28 grupos públicos.
O grupo que bate o recorde é o "Debate Político": 1.793 mensagens enviadas durante a noite e madrugada. O grupo tem 166 participantes com DDDs que vão do 11 ao 99. Tem genteaposta de futebolSão Paulo, Minas, Rio, Paraná, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Brasília, Bahia, Pará, Maranhão, Alagoas, Ceará e Pernambuco. Tem até alguns usuários nos Estados Unidos.
Mas a dinâmica do grupo é o oposto do que seu nome propagandeia ("de debate só tem o título!", me disse um dos integrantes do grupo, o estudante potiguar Renan Bezerra dos Santos, 17). Não há debate, senão usuários bombardeando o grupo com um sem númeroaposta de futeboltextos, links, imagens e vídeos, sem descanso, sem trocaaposta de futebolideias.
Ao menos é um grupo democrático, apesaraposta de futebolfocado nos dois extremos da disputa: apoiadoresaposta de futebolBolsonaro publicam conteúdo a seu favor ao mesmo tempoaposta de futebolque recebem material pró-Lula e Haddad.
Para facilitar meu experimento, utilizo o "Monitoraposta de futebolWhatsApp", um sistema criado pelo professor Fabrício Benevenuto, do departamentoaposta de futebolCiência da Computação da Universidade Federalaposta de futebolMinas Gerais (UFMG), e mantido por ele e seus alunos.
O sistema acompanha 272 grupos públicosaposta de futebolWhatsApp por meioaposta de futebolcelulares destacados só para isso e mostra as imagens, links, vídeos e textos compartilhados nos grupos. O pesquisador decidiu compartilhar o sistema com a imprensa, que passou a ter um canal para monitorar o que até então era um desconhecido universoaposta de futeboldesinformação na rede. Não há coletaaposta de futeboldados pessoais dos participantes.
Alguns dos grupos monitorados: "Jair Bolsonaro 2018", "Lula Presidente", "O Brasil com Ciro". Tem até um "Cabo Daciolo Presidente". A maioria dos grupos reúne apoiadoresaposta de futebolum só lado, formando uma redeaposta de futebolbolha que pouco se comunica no nível dos grupos, mas que permeia diferente setores conforme o conteúdo se espalha pelos milhõesaposta de futebolgrupos conhecidos e parentes.
Há mais grupos sobre Bolsonaro (são 33) do que o restante. Isso gera, no pesquisador, uma preocupação com o desequilíbrio do estudo. No entanto, pode indicar que,aposta de futebolfato, haja mais grupos políticos sobre o candidato no WhatsApp. É impossível saber ao certo, já que o aplicativo não divulga o totalaposta de futebolgrupos existentes.
Dados do Datafolha, no entanto, jogam luz sobre essa dúvida: respondendo à pesquisa nesta semana, eleitoresaposta de futebolBolsonaro foram os que mais declararam usar alguma rede social – 81% -, ante 59% dos eleitoresaposta de futebolHaddad. Também foram os que mais disseram ler notícias sobre política no WhatsApp. São 57% dos eleitoresaposta de futebolBolsonaro, enquanto só 38% dos eleitoresaposta de futebolHaddad disseram se informar no aplicativo sobre política.
Por isso, o resultado do meu experimento mostra mais notícias falsas publicadas por um polo, o do ladoaposta de futebolBolsonaro. Mas sabemos que há notícias falsas produzidas pela esquerda que circularam também, como asaposta de futebolquando Bolsonaro foi esfaqueado.
Na ocasião, há um mês, foram difundidasaposta de futebolgrupos, por exemplo, áudios e imagens dizendo que o ataque tinha sido armado – porque não havia sangue, porque os médicos que lhe atenderam estavam sem luvas ou ainda porque o presidenciável havia sido registrado sorrindo e entrandoaposta de futebolpé no hospital, muito embora essa última cena tivesse acontecido no mesmo dia, mas antes do ataque. Como bem sabemos, Bolsonaro foi vítima, sim,aposta de futebolum esfaqueamento.
Para chegar aos grupos que monitora, Benevenuto automatizou uma busca por linksaposta de futebolgruposaposta de futebolWhatsApp com palavras-chave ligadas a política. Ou seja, a entradaaposta de futebolgrupos políticos é tão imparcial e abrangente quanto possível.
Minha jornadaaposta de futebolsete dias começou na
segunda-feira, dia 24aposta de futebolsetembro
Link falso para o Datafolha
O link mais divulgado do dia, compartilhado 45 vezesaposta de futebol29 grupos, éaposta de futeboluma suposta pesquisa do Datafolha: "Sua opinião é muito importante para nós! Participe da pesquisa e confira os resultados das eleições hoje".
Essa, para mim, como jornalista, é fácil. Imagino que seja um link falso porque sei que não há pesquisas do Datafolha conduzidas online. Uma simples busca confirma minha hipótese: digito "Datafolha WhatsApp" no buscador e o primeiro resultado é uma reportagem informando que os links do Datafolha compartilhadosaposta de futebolgrupos são falsos.
O link original com a notícia falsa já está fora do ar – e é impossível, portanto, averiguar a quem pertencia e com que objetivo foi criado.
Imagens contra direitos LGBT eaposta de futebolmulheres
Também vejo que usuários compartilharamaposta de futebolgrandes quantidades imagens contra direitos LGBT eaposta de futebolmulheres.
No sistema, temos: fotosaposta de futebolHaddad com drag queens (9 grupos), a fotoaposta de futebolum casalaposta de futebolhomens e um deles beijando um menino, insinuando que se trataaposta de futebolpedofilia (7 grupos – e a foto, na realidade, éaposta de futebolum casal gay americano com seu filho), uma imagemaposta de futebolum protesto feminista criticando a nudez das mulheres (6 grupos) e a fotoaposta de futeboldois homens dando um beijo – sendo que um está vestido como Jesus (5 grupos).
Uma montagem muito compartilhada mostra o rostoaposta de futebolLula e, ao lado, o número 17 – que éaposta de futebolBolsonaro, não do PT,aposta de futebolnúmero 13.
Terça-feira, 25aposta de futebolsetembro
'Linchamento virtual'
No manhã seguinte, o conteúdo mais compartilhado do dia é um link, enviado por 62 pessoasaposta de futebol46 grupos. É o vídeo da cantora Daniela Mercury convocando "mulheres contra Bolsonaro". O vídeo, enquanto escrevo isso, tem 3,2 milhõesaposta de futebolvisualizações, 24 mil curtidas e 1,2 milhõesaposta de futeboldescurtidas.
A mensagem mais compartilhada do dia explica a quantidade enormeaposta de futeboldescurtidas, uma "campanhaaposta de futeboldeslike" organizada: "Rumo aos 2 milhões!" "Vamos dar dislike nos vídeos dos artistas rounet's EleNão. Clica no link, vai aparecer o vídeo e você clica na mãozinha 👎 A diferença do 👎 para o 👍 é gigantesca".
Nos próximos dias, a campanha continuará, pedindo inscrição no canal do PSL, partidoaposta de futebolBolsonaro – "nesse momento perdemos para o PTaposta de futebolnúmeroaposta de futebolinscritos". Pede também para que usuários descurtam vídeosaposta de futebolcomerciaisaposta de futebolempresas estrelados por artistas como Anitta, para fazê-los "perderem patrocínio".
Uma tabela sistematizada circulará para contabilizar o númeroaposta de futebolcurtidas e descurtidasaposta de futebolcada artista. "Vamos fazer ela perder o patrocinio, só assim esses artistas sentirãoaposta de futebolverdade qual nossa força!"
Quarta-feira, 26aposta de futebolsetembro
Ataque à imprensa
Ataques a veículosaposta de futebolimprensa são frequentes. Vão desdeaposta de futebolmensagens que tentam alavancar conteúdo falso com frases como: "Isso a imprensa não dá", "Isso a mídia esconde" até a grotesca falsificaçãoaposta de futebolnotícias.
No terceiro dia, acompanhando os grupos, vejo que três capasaposta de futebolrevistas tradicionais no Brasil - Veja, Época e Exame - são, juntas, compartilhadasaposta de futebol17 grupos. As "reportagensaposta de futebolcapa" das três mostram o mexicano Gerardoaposta de futebolIcaza, diretor do Departamento para a Cooperação e Observação Eleitoral da OEA, assumindo "fraude nas urnas a favor do PT".
Os criadoresaposta de futebolnotícias falsas se apropriamaposta de futebolformatosaposta de futebolnotícias reais para dar respaldo à mentira e confundir quem confia nos meios tradicionais. Sendo jornalista, consigo identificar isso rapidamente. Esta é outra notícia falsa facilmente desbancadaaposta de futeboluma rápida pesquisa. Não é capaaposta de futebolnenhuma das três revistas.
Neste dia, há outro ataque à imprensa: seis outros grupos receberam uma mensagemaposta de futeboluma pessoa que dizia trabalhar na editora Globo, dizendo que a cúpula da empresa havia se reunido para orientar atrizes para se posicionar publicamente contra Bolsonaro nas redes. "A Globo teve um contrato bilionário com o PT e há décadas financia a campanha do Lula", diz o texto. A mensagem tem os típicos sinaisaposta de futebolalertaaposta de futebolconteúdo enganoso: alega algo bombástico sem citar fonte.
Quinta-feira, 27aposta de futebolsetembro
Futurologia enganosa
Decido dar esse nome para outro tipoaposta de futebolmensagem falsa que tenho observado circular nos grupos. Mensagens e áudios alertam para o que "vai acontecer nos próximos dias", principalmente na imprensa. Em um exercícioaposta de futebolfuturologia enganosa, os criadoresaposta de futebolnotícias falsas parecem criar algumas delas preventivamente.
Esse tipoaposta de futebolnotícia falsa também confere à mensagem um ar premonitórioaposta de futebolquem "está por dentro", embora as "previsões" sejamaposta de futebolcoisas que qualquer um conseguiria prever. Outras, por outro lado, são claramente uma invençãoaposta de futebolcoisas que nunca vão acontecer – mas a mensagem é transmitida e, mesmo que não aconteçam, o estrago pode já ter sido feito.
Alguns exemplos:
- A mensagem da pessoa que trabalharia na editora Globo diz: "Ainda vão vir muitos outros atores, apresentadores e ex-BBBs, mas será aos poucos, 2 ou 3 por dia, para não ficar muito 'na cara'."
- Um texto extremamente difundido sobre uma entrevista supostamente autorizada pela Justiça com Adélio Bispo, o homem que esfaqueou Bolsonaro, diz que, nos próximos dias, ele falaria que o atentado foi uma armação. Dizia também que "essas declarações mentirosas vão ao ar 2 dias antes da eleição" e "a mídia comunista vai bombardear o 'mito' na TV". O texto pede para o usuário compartilhá-lo ao máximo para "salvar o Brasil". O apelo para máximo compartilhamento para "salvar o país" é uma técnica usada com frequência. A mensagem circulouaposta de futebolao menos 45 grupos na segunda-feira,aposta de futebolformaaposta de futeboltexto e imagem, e na quinta, ainda tinha fôlego.
Sexta-feira, 28aposta de futebolsetembro
Bolsonaro 'nazista'
A notíciaaposta de futebolque o general da reserva Hamilton Mourão, candidato a vice-presidenteaposta de futebolBolsonaro, havia criticado o 13º salário, fora divulgada no dia anterior. Era provável, então, que o assunto fosse tema do conteúdo espalhado pela oposição.
Em poucos grupos, começam a circular imagens sobre o assunto, sempre associando Bolsonaro ao nazismo. Exemplo: uma chargeaposta de futebolque Mourão diz "vamos acabar com o 13º salário do trabalhador!" e um Bolsonaro – com bigodeaposta de futebolHitler – responde "Isto era segredo! Você não consegue ficar calado?"
Em outro grupo, uma imagem diz "Propostaaposta de futebol'Bozonazi'aposta de futebolacabar com 13º e adicionalaposta de futebolférias é para depoisaposta de futeboleleito. Era sigiloaposta de futebolcampanha. Mourão só antecipou". Uma terceira: "O governo militar do Bozo nem começou e já temos um desaparecido. Paulo Guedes...",aposta de futebolreferência ao economista que participa da campanha do PSL.
Ou seja, parte das mensagens mistura piada, descontextualização com conteúdo difamatório como a ligaçãoaposta de futebolBolsonaro a Hitler. No caso do 13º, Bolsonaro havia desautorizado seu vice dizendo que se tratavaaposta de futebolum artigo protegido por uma cláusula pétrea da Constituição e que, portanto, não poderia ser revogado. Alguns especialistas dizem que a cláusula pétrea que protege "os direitos e garantias individuais" impediria uma emenda que derrubasse o 13º.
Sábado, 29aposta de futebolsetembro
Áudiosaposta de futebol'gente como a gente'
No penúltimo dia acompanhando os grupos, fica clara a técnica do áudio "intimista", ou seja,aposta de futebolalguém "gente como a gente" que demonstra simpatia por um candidato - algo que ouvi durante a semana inteira.
Observei alguns padrões que só ficaram claros quando observei as mensagensaposta de futebolconjunto:
- Os narradores são, emaposta de futebolmaioria, homens
- Homens que contam histórias banais da vida real – alguma situação que teria acontecido com eles e que envolve algum candidato
- Usam maneiras muito informaisaposta de futebolendereçar o ouvinte, como se o conhecesse, como se aquela mensagem inicialmente tivesse como destinatário um amigo e "caiu na rede"
- E que vivem situações impossíveis ou quase impossíveisaposta de futebolserem checadas
Minha hipótese é que esse tipoaposta de futeboláudio provoca familiaridade, proximidade e simpatia – até para mim, enquanto analiso esse conteúdo e escuto as gravações.
Dos áudios que mais circularam ao longo da semana, temos:
- O taxista carioca – que não sabemos se é taxista ou não – trabalhando durante as manifestações (no protesto contra Bolsonaro, havia "cheirãoaposta de futebolmaconha" e "geral bebendo"; já no favorável ao candidato só "o povoaposta de futebolbem mesmo, quem não gostaaposta de futebolsacanagem"). "Eu vi isso, não foi ninguém que me contou, não, eu tô aqui na pista trabalhando", diz. Seu áudio começa com ele dizendo: "C..., Valverde, hoje eu tô trabalhando só nas manifestações."
- O motoqueiro mineiro – que também não sabemos se éaposta de futebolfato um motoqueiro ou não – que conta ter entrado numa loja da Boticárioaposta de futebolLagoa Santa (MG) e assustado a atendente porque estavaaposta de futebolcapacete. "Mas quando ela viu que eu estava com a camisa do Bolsonaro, ela já tranquilizou na mesma hora. 'Bandido não anda com camisa do Bolsonaro, não.'" "Olha pra você ver, cara, que interessante, a imagem que o cara que já passou pela sociedade (...) Olha o diferencial, véi. Que coisa boa." Esse começa o áudio dizendo: "Fala, Zé Teo, beleza? Aqui, olha que interessante, cara". (Detalhe: liguei para a loja da Boticárioaposta de futebolLagoa Santa. Já ciente do áudio, uma funcionária da loja disse que a situação narrada nunca aconteceu.)
- O turista cariocaaposta de futebolCuba – a essa altura não preciso dizer que não sabemos se é um turista cariocaaposta de futebolCuba ou não – que diz que tudo o que conversou "lá com o povo é exatamente o que estamos vivendo agora no país",aposta de futebolum tom alarmista. O tal turista começa a contaraposta de futebolhistória assim: "Porra, Jorge, fui lá naquela merda para ver como é esse esquema aíaposta de futebolabrirem para o turismo".
- O turista carioca no Chile – "Ô, Léo", começa o áudio, "Fui pro Chile esquiar e encontrei com três americanas com maisaposta de futebol60 anos". O narrador diz que as mulheres falam que o presidente americano Donald Trump "é um babaca, parece uma criança", mas que é "bom governante" e quem não gosta dele são "quem fuma maconha, os artistas, os que moram com os pais". O narrador diz, então, que a mesma coisa vale para o Bolsonaro. "Eu odeio o Bolsonaro e vou votar nele!", diz, com humor. A primeira vez que eu ouvi o áudio, por meio do sistema, foi na segunda-feira, compartilhadoaposta de futebol20 grupos. O áudio teve fôlegoaposta de futebolquase uma semana.
É impossível verificar a origemaposta de futebolum áudio no WhatsApp.
Domingo, 30aposta de futebolsetembro
Guerraaposta de futebolversões das manifestações
O fimaposta de futebolsemana foi marcado por uma disputaaposta de futebolversões sobre as manifestações contra o Bolsonaro, no sábado, e a seu favor, no domingo, circulando no Facebook e Twitter. Eraaposta de futebolse esperar que as narrativas fossem parar no WhatsApp.
Um vídeo compartilhado por 22 usuáriosaposta de futebol19 grupos mostra a avenida Paulista,aposta de futebolSão Paulo, cobertaaposta de futebolmanifestantes usando verde e amarelo. A mensagem que acompanha o vídeo diz: "A Globo admitiu ao vivo que manifestação pró Bolsonaro é a maior da história". No vídeo, a jornalista da GloboNews afirma que a Polícia Militar "acabouaposta de futebolatualizar que o númeroaposta de futebolmanifestantes na Paulista chegou a um milhão", enquanto as imagens eram mostradas.
Até parecia crível. Mas uma busca rápida pelas palavras-chave seria suficiente para desmonta a versão. "Protesto 1 milhão Globonews", digito no Google. Era um vídeoaposta de futebolmarçoaposta de futebol2015 e o protesto era contra Dilma Rousseff.
Em um dos gruposaposta de futebolque faço parte, um usuário compartilha a capa do jornal O Globo, cuja foto principal era do protesto contra Bolsonaro na Cinelândia. A mensagem que acompanha: "Foto do Globoaposta de futebolhoje mostrando a Cinelândia cheia... ao fundo o prédio que desabou a (sic) seis anos atrás, intacto! kkkkkk Ainda bem que eles são burros". Um segundo usuário envia vários emojis batendo palma. Não há uma reação dos outros integrantes do grupo, não há conversa. Mais gente cola outros links por cima. Não dá para saber o quanto ela foi lida ou absorvida ou repassada pelas outras pessoas.
A foto publicada na capa do jornal O Globo era verdadeira.
"Foi num afã que enviei", justificou depoisaposta de futebolconversa comigo o técnicoaposta de futebolinformática paulistano Cleber Machado Leão,aposta de futebol41 anos, o usuário que mandou a notícia no grupo. "Eu recebi a notícia, que me ganhou e me convenceu porque,aposta de futebolfato, era o que parecia que estava acontecendo, eu achava que estavam tentando inflar o protesto, então resolvi correr esse risco."
Questionado sobre por que não corrigiu o erro ao descobrir que havia compartilhado uma informação falsa, ele disse: "Perdi a referênciaaposta de futebolqual era o grupoaposta de futebolque eu tinha enviado". Leão, eleitoraposta de futebolBolsonaro, participaaposta de futebol"uns 40 grupos" para "sentir o termômetro político" da população.
"Não dá para se informar muito nos grupos porque tem muita notícia falsa e tem muito ruído", afirma. "Mas, nos grupos, eu consigo ver mil pessoas falando e, por isso, acabo conhecendo mais opiniões que eu não conheceria durante o dia, quando eu não consigo ver tanta gente."
Quase todas informações falsas que eu encontrei durante os sete dias já haviam sido checadas pela imprensa brasileira. Bastava procurar por palavras-chaves no buscador.
Para o professor Fabrício Benevenuto, os grupos públicos podem ser "uma portaaposta de futebolentrada para a desinformação dentro do WhatsApp".
Por meio do projetoaposta de futebolque os monitora, diz, abre uma "pequena fresta" para ver o que está acontecendo nesse ecossistema. Com pessoas bem engajadas dentro dos grupos públicos e com a facilidadeaposta de futebolrepassar mensagens, a hipótese é que elas repassem as informações dos grupos públicos para os privados. "E aíaposta de futeboldiante vai espalhando dentroaposta de futeboltoda a rede do WhatsApp", diz o pesquisador.
Nos grupos privados, acrescenta, a informação é repassada por alguém que é amigo, vizinho, parente. "Você confia na pessoa que te passou aquilo e passa a acreditar naquela informação, e não na que foi transmitida pela grande mídia", afirma Benevenuto, que defende uma ação do WhatsApp que crie soluções tecnológicas impedindo a disseminaçãoaposta de futebolinformações falsa no aplicativo.
Seu sistema está sendo usado por jornalistas do Comprova, projetoaposta de futebolverificaçãoaposta de futebolnotícias com 24 veículosaposta de futebolcomunicação brasileiros liderado pela Abraji e pelo laboratórioaposta de futebolpesquisa First Draft News, ligado à Harvard.
Na avaliaçãoaposta de futebolYasodora Córdova, pesquisadora da Digital Kennedy School e do First Draft News,aposta de futebolHarvard, que trabalha com o Comprova no Brasil, a desinformação que circula no WhatsApp,aposta de futebolforma geral, é a mesma que circulaaposta de futeboloutras redes sociais. O problema não é a rede, diz ela, é o que foi "varrido para debaixo do tapete" na sociedade brasileira que, segundo ela, está na Idade da Pedraaposta de futeboltermosaposta de futeboldebate público.
E o que o país precisa para combater desinformação? Educação, fontesaposta de futebolinformação confiáveis e locais, concessõesaposta de futebolmeiosaposta de futebolcomunicação menos enviesadas. "O WhatsApp só adicionou escala para esses problemas."
Questionado, o WhatsApp afirmou, via assessoriaaposta de futebolimprensa, que esses grupos públicos "compõem uma porcentagem muito pequenaaposta de futebolutilização do WhatsApp" e que 90% das mensagens enviadas são entre duas pessoas. "A maioria dos grupos tem dez ou menos pessoas."
Também afirmou que a empresa está trabalhando com entidadesaposta de futebolchecagemaposta de futebolfatos no Brasil, como o Comprova. Além disso, o aplicativo criou um marcador que mostra que a mensagem recebida foi encaminhada por outra pessoa e não escrita originalmente por ela e fez "uma campanhaaposta de futeboleducaçãoaposta de futebollarga escala no Brasil eaposta de futeboloutros países sobre desinformação".
Segundo a empresa, ela também começou a testar um limiteaposta de futebolencaminhamentoaposta de futebolmensagens no WhatsApp – na Índia, depois que notícias falsas compartilhadas no aplicativo levaram ao linchamentoaposta de futebolinocentes, foi imposto um limiteaposta de futebolencaminhamento para 5 pessoas por usuário. No Brasil e no mundo, o limite éaposta de futebol20 pessoas.
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