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Solidão no luto: pesquisa inédita mostra dificuldades dos brasileiros para lidar com a morte:sistema para banca de apostas
Entre os principais resultados, está a baixa presença do tema no dia-a-dia: 74% afirmam não falar sobre a morte no cotidiano. Os brasileiros associam também a morte a sentimentos difíceis, como tristeza (63%), dor (55%), saudade (55%), sofrimento (51%), medo (44%). Somente uma pequena parcela faz associação a sentimentos que não estão no campo da angústia, como aceitação (26%) e libertação (19%).
"Vimos na pesquisa que a morte não é um conceito, mas um conjuntosistema para banca de apostassentimentos. Sentimentos ruins. A gente cai na definiçãosistema para banca de apostasangústia para a psicanálise, um conjuntosistema para banca de apostassentimentos ruins que se manifestam no corpo. Então, estamos colocando a morte muito mais no terreno da angústia do que, talvez, da aprendizagem", aponta Gisela Adissi, estudiosa do tema e presidente do Sincep.
Essa dificuldade diante do assunto, porém, é reconhecida entre os entrevistados:sistema para banca de apostasuma escalasistema para banca de apostas1 a 5 (em que 1 indica estar "nada preparado" e 5 "muito preparado"), a nota foisistema para banca de apostas2,6 para a avaliação sobre se o brasileiro está pronto para lidar com a morte;sistema para banca de apostasrelação à própria morte, a média cai para 2,1.
Longe do cotidiano, perto da dor
A pesquisa, baseadasistema para banca de apostasuma amostragemsistema para banca de apostasmil pessoas representativa da população brasileira, mostrou que, quanto mais se envelhece, mais o tema da morte é presente no cotidiano. Este tiposistema para banca de apostasconversa está presente para 21% dos jovens entre 18 e 24 anos; para aqueles com maissistema para banca de apostas55 anos, o percentual salta para 33%. Mas, segundo Camila Holpert, fundadora do Studio Ideias, a pouca diferença entre estas faixas mostra que o tema é um tabu ao longo da vida.
"Ainda que haja diferença entre as faixas etárias, ela é baixa. Não é que a passagem do tempo transforme a nossa relação com a morte: quando a gente não conversa sobre ela, não é o tempo que vai simplesmente nos ensinar a lidar com isso", aponta.
Falar sobre o tema foi visto por uma parcela significativa dos entrevistados como algo depressivo (48%) e mórbido (28%). A pesquisa mostrou também que os brasileiros têm ressalvas sobre como e com quem falar sobre a morte: 55% concordaram que "é importante conversar sobre a morte, mas as pessoas geralmente não estão preparadas para ouvir". Se para 57% o tema pertence à esfera da intimidade, a maioria apontou amigos e parentes próximos como pessoas mais procuradas para conversar sobre isso.
"Primeiro, percebe-se o 'não falar'. E quando se fala, isso é feito no círculo mais íntimo. É como se não fosse uma questão social, como se você olhasse para o vizinho e ele não pudesse estar passando por isso também", observa Holpert.
Adissi aponta que, sem falar sobre o tema com mais normalidade, o brasileiro acaba tendosistema para banca de apostasencará-lo nos momentos mais iminentes: no caso, por exemplo,sistema para banca de apostasuma condiçãosistema para banca de apostassaúde grave ou da própria mortesistema para banca de apostasalguém na família.
A pesquisa lembra que a morte sempre foi um tema difícil para a humanidade, mas condições da modernidade favorecem o afastamento.
"É um dado mundial que historicamente nos afastamos da morte com a hospitalização. Antigamente, o doente ficavasistema para banca de apostascasa, recebia visitas ali. Hoje, os hospitais são uma baita negação da morte: tem horáriosistema para banca de apostasvisita, convívio limitado, a mediação da tecnologia. O que se faz quando morre alguém no hospital? Onde fica o necrotério? Lá na garagem, do lado da lavanderia", aponta Adissi, também fundadora do grupo "Vamos falar sobre o luto".
Apressamento e encurtamento
O desconforto diantesistema para banca de apostascertos rituais decorrentes da morte chegou a quase metade dos entrevistados: 45% disseram não se sentirem sempre à vontade para ir a um enterro ou velório.
Por outro lado, mudanças culturais podem estar transformando também os rituais fúnebres. Afinal, a histórica matriz católica no Brasil tem forte influência na simbologia da morte mas, ao mesmo tempo que a parcelasistema para banca de apostasevangélicos tem crescido, avança também ao longo dos anos o percentual dos brasileiros que consideram não ter religião (de 7,4% da populaçãosistema para banca de apostas2000 para 8%sistema para banca de apostas2010).
Segundo as pesquisadoras, isso pode estar relacionado à menor importância dada à realização da missasistema para banca de apostassétimo dia, ritual vinculado à fé católica. Ele é visto pelos entrevistados como um evento menos necessário que o enterro e velório.
Mas a transição não necessariamente traz novos rituais - para Adissi, fundamentais no entendimento sobre o luto.
"O que a gente assiste desse lado (no cotidiano dos cemitérios e crematórios): uma pressa muito grande na realização das cerimônias, o desejosistema para banca de apostasnão fazer rituais como o velório", conta. "O apressamento e encurtamento dos rituais é um fenômeno mundial. Inclusive no Oriente, onde às vezes imaginamos que as coisas são muito diferentes. Estamos matando a morte. Talvez precisemos ressignificar os rituais e considerar que o chorar junto faz parte do luto."
Ainda segundo a presidente do Sincep, esta supressão do contato com o luto se mostra com outra tendência.
"A cremação ainda é incipiente no Brasil. Mas ela vem carregadasistema para banca de apostasuma simbologia:sistema para banca de apostasalguma forma, eu não vejo o quesistema para banca de apostasfato está acontecendo. Então, com exceçãosistema para banca de apostaspaíses orientais, a cremação veio como uma soluçãosistema para banca de apostasnegação mesmo. Atésistema para banca de apostasdesafeto: nos EUA, por exemplo, as cremações são infinitamente mais baratas, mas trata-sesistema para banca de apostasum não-ritual. É considerada como uma opção para quando não há vínculo afetivo", explica.
"No Brasil, viasistema para banca de apostasregra há ritualização com a cremação. Mas esse 'não ver' o processo dá conforto, diferente do sepultamento, que tem uma concretude. A cremação pode ser assistida, massistema para banca de apostas12 anos trabalhandosistema para banca de apostasum crematório, eu só vi três casossistema para banca de apostaspessoas que quiseram assistir: um indiano, uma pessoa por curiosidade e outra que queria se certificarsistema para banca de apostasque os procedimentos foram feitos corretamente."
Desejos sobre o pós-morte, como a decisão entre a cremação ou o sepultamento, ou ainda a doaçãosistema para banca de apostasórgãos, são também pouco compartilhados por mais da metade dos entrevistados: 54% não falaram para pessoas próximas sobre seus desejos na hora da partida, contra 46% que já abordaram esses assuntos.
"Há também um desconhecimento muito grande sobe os processos. No momento que você recebe a notícia da mortesistema para banca de apostasuma pessoa próxima, eu digo que você vai ter entre 60 e 90 decisões e tarefas. São decisões como: o corpo vai ser cremado ou sepultado? Vai ter velório? Que horas? Qual vai ser o tipo do caixão? Quem vai pagar? Há também as tarefas, como: quem vai assinar o atestadosistema para banca de apostasóbito? Quem vai transportar o corpo?", enumera Adissi.
Sem cura, mas com entendimento
Outra etapa dolorosa no contato com a morte vem com o luto: além da própria perda, não se sabe como lidar com ela. Para 82% dos entrevistados, é verdadeira a frasesistema para banca de apostasque "não tem nada mais sofrido e dolorido que a dor da perda".
"O luto não tem cura. O que se pode fazer é passar por um processosistema para banca de apostaselaboração. Mas, na nossa sociedade, é muito difícil chegar nesse ponto: porque eu me sinto muito solitário, pois quem estásistema para banca de apostasvolta não está entendendo", diz Adissi.
Em consonância com a predominância femininasistema para banca de apostas95% da audiência do site do projeto "Vamos falar sobre o luto", Adissi aponta que, na pesquisa feita pelo Studio Ideias, a conversa sobre a morte se mostrou mais presente entre mulheres (29%) do que homens (22%).
Para as pesquisadoras, todo esse tabu afasta discussões sobre cuidados paliativos (assistência multidisciplinar dada a pessoas com condiçõessistema para banca de apostassaúde graves) e,sistema para banca de apostasúltima instância, debates maiores como o sobre a eutanásia.
No estudo, poucos concordaram que a morte pode ser uma escolha: apenas 13% concordaram com a frase "desistir ou não da vida é uma escolhasistema para banca de apostascada um e deve ser respeitada" e 11% com "às vezes, morrer pode ser um alívio".
Mas, no leitosistema para banca de apostasmorte, uma outra pesquisa mostra que os brasileiros estão sofrendo mais do que pessoassistema para banca de apostasoutras partes do mundo. Publicado pela consultoria britânica Economist Intelligence Unit, o Índicesistema para banca de apostasQualidadesistema para banca de apostasMorte 2015 mostrou o Brasilsistema para banca de apostas42ª colocação entre 80 países analisados. A análise considera o acesso a analgésicos, equipessistema para banca de apostassaúde multidisciplinares e o próprio tratamento da morte como um assunto a ser evitado ou naturalizado.
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