Como Brasil transformou animal sagradotalksport bet sign up offermarajá indianotalksport bet sign up offerrevolução genética e mercado bilionário:talksport bet sign up offer
O feito chamou a atenção até do governo indiano – que, agora, busca o Brasil para reintroduzir a raça emtalksport bet sign up offerterra natal, onde ela quase desapareceu após cruzamentos malsucedidos e jamais teve a produtividade alcançadatalksport bet sign up offerfazendas brasileiras.
Netotalksport bet sign up offerCid e um dos herdeirostalksport bet sign up offersua fazenda, o advogado Guilherme Sachetim diz que a compratalksport bet sign up offerKrishna "foi um divisortalksport bet sign up offeráguas na pecuária brasileira".
Ele afirma que o touro "refrescou o sangue" do gado leiteiro nacionaltalksport bet sign up offerum momentotalksport bet sign up offerque a consanguinidade limitava a produtividade dos rebanhos.
A chegadatalksport bet sign up offerKrishna coincidiu com o avanço das técnicastalksport bet sign up offermelhoramento genético, que disseminaram pelo Brasil o DNAtalksport bet sign up offertouros e vacastalksport bet sign up offeralto desempenho.
Hoje, segundo Sachetim, a linhagemtalksport bet sign up offerKrishna está presentetalksport bet sign up offer80% do rebanho Gir brasileiro e se espalhou por quase todos os países das Américas. "Milhõestalksport bet sign up offerpessoas foram beneficiadas com essa importação", afirma.
No tempo dos marajás
A saga do touro liga o Brasil à era dos marajás na Índia, quando poderosos locais governavam microestados e desenvolveram linhagens que deram origem às principais raçastalksport bet sign up offergado indiano, também chamadotalksport bet sign up offerzebu.
Em Bhavnagar, no oeste do país, a família governante notabilizara-se pela criaçãotalksport bet sign up offerbois e vacas mais preparados para resistir à maior ameaça local: ataquestalksport bet sign up offerleões. Graças aos chifres voltados para trás e para baixo, os pescoços dos animais ficavam protegidos das mordidas dos predadores.
A raça, selecionada ao longotalksport bet sign up offerdois mil anos, foi batizadatalksport bet sign up offerGir – nometalksport bet sign up offeruma floresta local.
Quando Celso Garcia Cid mandou seu vaqueiro à Índia,talksport bet sign up offer1958, a era dos marajás já havia se encerrado. Após a independência do país,talksport bet sign up offer1947, autoridades passaram a confiscar os bens dos antigos governantes.
Mas o marajátalksport bet sign up offerBhavnagar, H. H. Shri Krishnakumarsinghji, conseguiu preservar parte da linhagem desenvolvida pela família, e que teve todos os cruzamentos registradostalksport bet sign up offerlivrostalksport bet sign up offeranotações nos últimos três séculos.
Uma das joias do rebanho era o touro Krishna.
Em O Tempotalksport bet sign up offerSeo Celso, biografia do fazendeiro, mortotalksport bet sign up offer1972, o jornalista Domingos Pellegrini narra a negociação para trazer o animal ao Brasil.
Após o patrão ordenar a compra do touro, Ildefonso dos Santos telefonou para o palácio do marajá. Por sorte, o secretário do indiano falava português – possivelmente aprendidotalksport bet sign up offerGoa, naquela altura ainda uma colônia portuguesa na Índia.
O secretário disse que Krishna já havia sido negociado e que o resto do rebanho não estava à venda. Mas o marajá, que acompanhava a conversa, ficou curioso com o interessetalksport bet sign up offerum comprador vindotalksport bet sign up offerterras tão distantes e convidou Ildefonso ao palácio.
Os dois se encontraram, e o vaqueiro convenceu o marajá a lhe vender Krishna e outras vacas – que se uniram às dezenastalksport bet sign up offercabeças que ele já havia adquiridotalksport bet sign up offeroutros criadores.
Maistalksport bet sign up offerum ano depois, Ildefonso embarcava no portotalksport bet sign up offerMadras com toda a boiada rumo ao mar Vermelho. O navio Cora atracou na Arábia Saudita, cruzou o Canaltalksport bet sign up offerSuez e passou ao Mediterrâneo.
Três tempestades e 44 dias depois da partida, chegou à Guiana Francesa. Antestalksport bet sign up offeralcançar o destino final, o rebanho tevetalksport bet sign up offerpassar por uma quarentena na Ilha das Cobras, no litoral do Paraná, o momento mais penoso da jornada.
"Na ilha morreram uma vaca, caída nas rochas da beira-mar, e outra que caiu no mar e se afogou; mais cinco bezerros intoxicados com feijão moído dado como alimento, nos diastalksport bet sign up offerque o capim mal dava para os animais adultos. Outra bezerra Nelore morreu enforcada na própria corda; mais seis bezerros por faltatalksport bet sign up offerleite; um touro Gir atirado sobre as pedras na maré baixa,talksport bet sign up offerbriga com outro", relata Pellegrini na biografiatalksport bet sign up offerCid.
Dos 119 animais que deixaram a Índia, 103 chegaram à costa do Paraná, dos quais sete nascidos durante a viagem.
JK e Jango
Enquanto a epopeia se desenrolava, Cid batalhava para que o governo federal autorizasse o desembarque dos bichos. Na época, o Ministério da Agricultura exercia um forte controle sobre a importaçãotalksport bet sign up offergado. O rigor atendia ao lobbytalksport bet sign up offerpecuaristas mineiros, que dominavam o setor após importar levastalksport bet sign up offerzebu um século antes.
Ciente da viagem patrocinada por Cid, a Confederação Rural Brasileira enviou uma carta ao ministério defendendo que os 103 animais fossem sacrificados para não expor "os rebanhos do país a gravíssimas e irremediáveis infecções".
Para pedir a liberação da carga, Cid se reuniu com o presidente Juscelino Kubitschek e, depois, com seu sucessor, João Goulart. Oito meses após chegar à Ilha das Cobras, quando a viagem toda completava quase dois anos, a boiada finalmente desembarcou.
Solto na fazenda Cachoeira,talksport bet sign up offerSertanópolis (PR), Krishna logo engordou. Até que, um ano depois, um peão chegou esbaforido à sede da propriedade: "O boi caiu, parece que tá morrendo!".
Cid ordenou que, assim que morresse, o animal fosse cobertotalksport bet sign up offergelo. No dia seguinte, levou um taxidermista à fazenda para embalsamá-lo. Queria poder olhar o touro predileto até seus últimos dias.
A carcaçatalksport bet sign up offerKrishna foi posta num sarcófagotalksport bet sign up offervidro na sede da fazenda, onde se encontra até hoje. Entre as patas do bicho, Cid deixou uma placa: "Quer conhecer Gir? Observe-me!"
Após embalsamá-lo, o pecuarista passou a guardar a cabeçatalksport bet sign up offercada animal morto. As paredes da fazenda se encheramtalksport bet sign up offercrânios com longos chifres e fotografias dos touros e vacas genearcas, como um templotalksport bet sign up offeradoração bovina.
Causa mortis
Jamais a causa da mortetalksport bet sign up offerKrishna foi elucidada. Peões relataram que, horas antestalksport bet sign up offerdesabar, Krishna brigou com um touro mais jovem.
Netotalksport bet sign up offerCid, Guilherme Sachetim conta que uma autopsia revelou que as veias do coração do animal estavam dilatadas. "Ele pode ter ficado nervoso durante a briga, a pressão subiu, e aí sofreu uma espécietalksport bet sign up offeraneurisma", especula.
Na curta estadia no Brasil, Krishna deixou um único herdeiro – frutotalksport bet sign up offerum cruzamento com a vaca Sakina, também comprada do marajátalksport bet sign up offerBhavnagar.
Coube ao jovem touro Krishna-Sakina, apelidado pela famíliatalksport bet sign up offerKrishninha, a tarefatalksport bet sign up offerespalhar o DNA do pai Brasil afora.
Quebra do monopólio
Gerente executivo do Museu do Zebu,talksport bet sign up offerUberaba (MG), o historiador Thiago Riccioppo diz que a afirmação da famíliatalksport bet sign up offerCidtalksport bet sign up offerque 80% dos bois e vacas Gir brasileiros têm sangue do touro Krishna é provavelmente correta.
Ele afirma ainda que os esforços do fazendeiro para romper o monopólio mineiro abriram o caminho para "as mais significativas importaçõestalksport bet sign up offerzebu da Índia".
O Brasil abrigava zebuínos desde o fim do século 19, quando barões do café fluminense trouxeram as primeiras cabeças. Mais fortes que as raças europeias, presentes no país desde o início da colonização portuguesa, os bois indianos eram empregados para arrastar máquinas nas fazendas ou exibidos como animais exóticostalksport bet sign up offerzoológicos particulares.
No início do século 20, pecuaristas do Triângulo Mineiro criaram uma associação para registrar a genealogia dos zebus importados e combater a oposiçãotalksport bet sign up offerfazendeiros paulistas, para quem os bois indianos eram animais selvagens e com carne ruim.
Com a retomada das importações, a partir dos anos 1960, acelerou-se a diferenciação das raças zebuínas, à medida que os criadores selecionavam animais para a produçãotalksport bet sign up offercarne ou leite.
O gado Nelore se tornou o carro-chefe da pecuáriatalksport bet sign up offercorte. Já o Gir foi se especializando na atividade leiteira, pois era considerado mais dócil que as demais raças indianas, característica essencial para a ordenha.
Na décadatalksport bet sign up offer1980, a Empresa Brasileiratalksport bet sign up offerPesquisa Agropecuária (Embrapa) impulsionou o processo ao se associar a criadorestalksport bet sign up offerGir que produziam leite.
Pesquisadores montaram um grande bancotalksport bet sign up offerdados com informações sobre a lactaçãotalksport bet sign up offercada vaca. O desempenho dos touros era medido por meiotalksport bet sign up offersuas filhas: quando produziam muito leite, garantiam boas notas ao pai.
O progressotalksport bet sign up offertécnicastalksport bet sign up offerinseminação artificial etalksport bet sign up offerfertilização in vitro permitiu que vacas e touros Gir com excelente genética, como Krishninha, gerassem milharestalksport bet sign up offerdescendentes ao longo da vida e se tornassem muito valorizados no mercadotalksport bet sign up offerembriões bovinos.
Os mais destacados desses animais, vendidostalksport bet sign up offerleilões por cifras que podem ultrapassar os R$ 50 mil, têm na vida a única funçãotalksport bet sign up offerdoar sêmen e óvulos para a produçãotalksport bet sign up offerembriões – que costumam ser gestados por vacastalksport bet sign up offersegunda linha, como barrigastalksport bet sign up offeraluguel.
Especialistatalksport bet sign up offerseleção genéticatalksport bet sign up offergado leiteiro, o médico veterinário Luiz Fernando Feres diz que, durante a lactação, uma boa vaca Gir brasileira é capaztalksport bet sign up offerproduzir cercatalksport bet sign up offer20 litrostalksport bet sign up offerleite por dia – dez vezes mais que as primeiras a desembarcar no país, há maistalksport bet sign up offerum século.
Graças ao trabalho nos laboratórios nos anos 1980 e 1990, a produtividade do gado Gir deu um grande salto, mas ainda estava aquém da obtida pela raça Holandesa. Vacas dessa linhagem europeia podem produzir o dobrotalksport bet sign up offerleite e ser ordenhadas mesmo longe das crias.
Já nas raças indianas os bezerros precisam ficar junto das vacas, caso contrário o leite seca (criadores contornam a limitação amarrando o filhote à pata da mãe durante a ordenha).
Por outro lado, as vacas Gir ganhamtalksport bet sign up offerlavada das holandesastalksport bet sign up offerlongevidade e resistência, pois estão adaptadas ao calor e a doenças comuns nos trópicos.
O pulo do gato ocorreu quando as duas raças foram misturadas. O cruzamento deu origem ao gado Girolando – hoje responsável por cercatalksport bet sign up offer80% do leite produzido no Brasil, segundo a Embrapa.
Pesquisador da instituição, Marcos da Silva diz que o melhoramento genético do gado Gir e a criação do Girolando fizeram a produção leiteira no país quadriplicar nos últimos 20 anos.
Interesse indiano
Nos últimos anos, a Embrapa foi procurada por autoridades indianas interessadastalksport bet sign up offerimportar vacas e touros Gir brasileiros. Enquanto evoluía no Brasil, a raça foi minguando no país natal, misturada com outros tipostalksport bet sign up offergado sem que houvesse avanços relevantestalksport bet sign up offerprodutividade.
E na Índia, paístalksport bet sign up offerque parte da população é vegetariana, o leitetalksport bet sign up offervaca tem papel crucial como fontetalksport bet sign up offerproteína.
Sagrados para o Hinduísmo, bois e vacas não podem ser abatidos para o consumo da carne na Índia. No Estadotalksport bet sign up offerGuajarat, terra natal do Gir, a pena por matar uma vaca pode chegar à prisão perpétua.
Netotalksport bet sign up offerCelso Garcia Cid, o pecuarista Guilherme Sachetim diz que a fazenda que importou o touro Krishna sempre respeitou as tradições indianas.
"Nossas vacas aqui morremtalksport bet sign up offervelhice,talksport bet sign up offerartrose ou por inanição, quando não conseguem mais comer."
Sachetim conta que, após negociar parte do rebanho com Cid, o marajátalksport bet sign up offerBhavnagar veio ao Brasil para ver como os touros e vacas estavam sendo tratados.
Segundo o pecuarista, o indiano ficou tão impressionado que, antestalksport bet sign up offermorrer,talksport bet sign up offer1965, doou todas as vacas Gir para o fazendeiro. A família emoldurou a cartatalksport bet sign up offerque o marajá expressava o desejo, mas, por causatalksport bet sign up offerrestrições sanitárias, jamais conseguiu trazer os animais.
"O marajá viu que aqui os touros e as vacas recebiam tratamentotalksport bet sign up offerverdadeiros reis, mães e rainhas. Tinham pasto à vontade, sombra e água fresca – o que, cá entre nós, nem sempre acontece lá na Índia."