Com 55%site pix bet365gestações não planejadas, Brasil falha na ofertasite pix bet365contracepção eficaz:site pix bet365

Mas, ao pedir para colocar o DIU (Dispositivo Intra-Uterino)site pix bet365cobre pela rede pública, a resposta foi desanimadora. Teria que passar por uma bateriasite pix bet365exames e a espera para conseguir fazer tudo era longa. Os meses foram passando sem previsãosite pix bet365conseguir colocar o dispositivo.

Ao saber da situaçãosite pix bet365Maria Carolina, uma ONG se mobilizou para doar a ela o DIUsite pix bet365cobre; uma médicasite pix bet365Campina Grande, na Paraíba, soube do problema e se dispôs a fazer o procedimento. "Gabi fez três meses e nadasite pix bet365eu conseguir nem marcar consulta. Foi aí que, por outros meios, eu consegui o DIUsite pix bet365cobre."

A dificuldade enfrentada por Maria Carolina não é um caso isolado. Nessa reportagem exclusiva, a BBC News Brasil mostra o falho e desigual acesso a métodos contraceptivos pelo Sistema Únicosite pix bet365Saúde.

As dificuldades incluem desinformação, faltasite pix bet365equipamentos e treinamento dos profissionaissite pix bet365saúde, alémsite pix bet365expressivas diferenças entre Estados.

As mulheressite pix bet365idade fértil (dez a 49 anos) que recorrem ao SUS podem,site pix bet365tese, escolher entre sete métodos: injetável mensal, injetável trimestral, minipílula, pílula combinada, diafragma, e Dispositivo Intrauterino (DIU)site pix bet365cobre, alémsite pix bet365camisinha. Também é possível fazer laqueadura, processosite pix bet365esterilização, se a mulher tiver mais que 25 anos ou dois filhos. No caso dos homens, o acesso é gratuito à camisinha. A vasectomia pode ser feita gratuitamente se o homem tiver maissite pix bet36525 anos ou dois filhos.

A pílula do dia seguinte deve ser oferecida gratuitamente a quem procurar as unidadessite pix bet365atenção básica relatando ter feito sexo sem proteção ou falha do preservativo.

Mas, na prática, a dificuldade para agendar a colocação do DIU é grande e,site pix bet365alguns Estados, esse método sequer é oferecido. Também falta injeção trimestralsite pix bet365postossite pix bet365saúde e a espera para fazer vasectomia e laqueadura é longa, principalmente no Norte e Nordeste,site pix bet365acordo com pacientes, funcionáriossite pix bet365saúde e especialistas ouvidos pela BBC News Brasil.

O obstáculo,site pix bet365outros casos, é religioso. Um exemplo é o do Hospital Santa Marcelina, entidade filantrópicasite pix bet365São Paulo (SP) que atende pacientes do SUS e conveniados, mas não realiza o procedimentosite pix bet365laqueadura.

A BBC News Brasil fez o teste: ligou para o Santa Marcelina perguntando se poderia agendar a cirurgia e foi informadasite pix bet365que isso não seria possível. Ao perguntar o motivo, recebeu a informaçãosite pix bet365que se tratasite pix bet365uma entidade filantrópica, controlada por freiras.

A reportagem perguntou à instituição se o motivo, então, seria religioso, e a resposta foi "sim". Procurada por email, a assessoriasite pix bet365imprensa do Santa Marcelina disse que não comentaria o assunto e disse que há outros hospitais na cidadesite pix bet365São Paulo que fazem o procedimento.

Alta taxasite pix bet365gravidez indesejada

Métodos contraceptivossite pix bet365longa duração, que não dependem tanto da "memória"site pix bet365quem usa, não estão acessíveis a grande parte das mulheres brasileiras.

Essa carência está na raiz do alto númerosite pix bet365gestações indesejadas no Brasil, segundo a pesquisadora e médica Carolina Sales Vieira, professora do Departamentosite pix bet365Ginecologia e Obstetrícia da Faculdadesite pix bet365Medicinasite pix bet365Ribeirão Preto, da Universidadesite pix bet365São Paulo.

Maissite pix bet36555% das brasileiras que tiveram filhos não haviam planejado a gravidez, segundo uma pesquisa da Escola Nacionalsite pix bet365Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz que ouviu 24 mil mulheres entre 2011 e 2012.

O percentual está acima da média mundial,site pix bet36540%site pix bet365gestações não planejadas.

Além disso, maissite pix bet365500 mil abortos clandestinos são realizados todos os anos no Brasil, como resultadosite pix bet365gestações indesejadas,site pix bet365acordo com a Pesquisa Nacional do Aborto, dos professores Débora Diniz (Universidadesite pix bet365Brasília), Marcelo Medeiros (UnB) e Alberto Madeiro (Universidade Estadual do Piauí).

"A gente se apoia, no Brasil,site pix bet365pílula e camisinha, que são métodos que dependem muito do usuário. Se ele esquecer, dançou", afirma Carolina Vieira.

"Os métodossite pix bet365longa duração são raramente oferecidos por médicos particulares aos pacientes e o SUS só fornece o DIUsite pix bet365cobre. Mesmo assim, é a coisa mais difícil do mundo uma mulher conseguir implantar o DIUsite pix bet365cobre pelo SUS."

Entre os métodossite pix bet365longa duração estão o DIUsite pix bet365cobre, o DIU hormonal (também conhecido como DIU Mirena, que solta baixas dosessite pix bet365hormônio) e o implante hormonal (normalmente subcutâneo e que também libera hormônios). Desses três métodos, apenas o DIUsite pix bet365cobre é oferecido pelo SUS.

Longa espera pelo DIU

Massite pix bet365vários Estados falta DIU nos hospitais e nos postossite pix bet365saúde. Em outros, a carência ésite pix bet365profissionais habilitados para implantar o dispositivo, embora o procedimento seja simples - durasite pix bet36515 a 30 minutos e não precisasite pix bet365anestesia.

A BBC News Brasil fez um levantamentosite pix bet365todo o país pelo Data SUS, para verificar se o DIUsite pix bet365cobre é disponibilizado. Há uma enorme discrepância no oferecimento desse método por região. Mulheres do Norte e Nordeste são as que menos têm acesso.

No Acre, por exemplo, apenas três implantessite pix bet365DIU foram feitossite pix bet365um ano –site pix bet365abrilsite pix bet3652017 a abrilsite pix bet3652018. No Amapá, só 10 mulheres conseguiram colocar esse método pelo SUS no mesmo período, segundo os dados.

Em Alagoas, foram 22. No Amazonas, 29, esite pix bet365Sergipe, 30. Em São Paulo, foram realizados 9,3 mil procedimentos com DIUsite pix bet365um ano, aindasite pix bet365acordo com o Data Sus.

Mesmo na capital paulista há problemas. "Os principais são a faltasite pix bet365treinamento dos médicos que trabalham na atenção básica e os empecilhos colocados pela própria gestão, como faltasite pix bet365material para inserção", diz Nathalia Cardoso, médica especializadasite pix bet365Família e Comunidade que trabalha na rede públicasite pix bet365São Paulo e no Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde, ONG que existe desde 1985site pix bet365São Paulo.

O DIU pode ser colocadosite pix bet365postossite pix bet365saúde, mas, como diz Nathalia, o procedimento, ainda que simples, não faz parte do currículosite pix bet365competências da graduaçãosite pix bet365medicina, então apenas ginecologistas e médicossite pix bet365família e comunidadesite pix bet365alguns programassite pix bet365residência recebem o treinamento necessário.

Ela acrescenta que faltam subsídios para facilitar o acesso ao método. "Ao contrário, temos agendas rígidas, pouco incentivo à capacitação e ensino continuado, faltasite pix bet365material.".

Em 2016, a clínicasite pix bet365Jardim D'Abril, na periferia, ficou três meses sem material necessário para esterilização, o que dificultou o processosite pix bet365colocação do DIU. Médicos relataram à BBC News Brasil que paralisaçõessite pix bet365uma semana no serviço se repetem a cada ano, por faltasite pix bet365material.

Além disso, a cidadesite pix bet365São Paulo também está há meses sem o anticoncepcional injetável trimestral.

Os 'mitos' do DIU

Médicos e especialistas ouvidos pela BBC News Brasil apontam que mitos que circulam sobre o DIUsite pix bet365cobre também reduzem o acesso das mulheres a esse método contraceptivosite pix bet365longa duração.

"Tem médico que diz que adolescente não pode usar o DIU, mas pode sim. E há profissionais que afirmam que a paciente já precisa ter tido filho para usar, mas não precisa. Além disso, alguns médicos pedem uma bateriasite pix bet365exames desnecessários que acabam tornando o DIU caro demais", afirma a professora da USP Carolina Vieira, que defende que médicos da família, integrantes do Mais Médicos e funcionáriossite pix bet365postossite pix bet365saúde recebam treinamento específico para colocar o DIU.

Tania Di Giacomo do Lago, coordenadora do Núcleosite pix bet365Direitos Humanos e Combate à Intimidação Sistemática da Faculdadesite pix bet365Ciências Médicas da Santa Casasite pix bet365São Paulo, também aponta pedidos desnecessáriossite pix bet365exames e exigênciasite pix bet365participaçãosite pix bet365reuniõessite pix bet365planejamento familiar como obstáculos para o acesso a métodos eficazessite pix bet365contracepção.

Coautora da pesquisa Práticas contraceptivassite pix bet365mulheres jovens: inquérito domiciliar no Municípiosite pix bet365São Paulo, Giacomo diz que perguntou a mulheres que pagam por seus contraceptivos por que elas não haviam procurado o SUS. Ouviu que as mulheres não confiam no produto da rede pública ou acham o procedimento burocrático e demorado demais.

Custos aos cofres públicos

O foco da política públicasite pix bet365contracepçãosite pix bet365métodos hormonaissite pix bet365curta duração, como pílulas anticoncepcionais, pode causar o famoso fenômeno do "barato que sai caro", na visão da médica Carolina Sales Vieira. Embora uma cartelasite pix bet365comprimidos seja mais barata que colocar o DIU ou um implante hormonal, a maior eficácia compensa esse custo.

O DIUsite pix bet365cobre dura 10 anos e apresenta 6 falhassite pix bet365mil. O DIU hormonal dura cinco anos e apresenta duas falhassite pix bet365mil. O implante hormonal dura três anos e apresenta cinco casossite pix bet365falha a cada 10 mil.

A pílula tem eficáciasite pix bet36599,7% dos casos, mas isso quando se considera o uso "perfeito", ou seja, quando o medicamento é tomado todos os dias corretamente. Mas esquecimentos são comuns e aí a proteção cai significativamente - parasite pix bet365tornosite pix bet36591%.

Carolina Vieira, da USP, destaca que a camisinha é extremamente eficiente e importante no combate a doenças sexualmente transmissíveis, mas a taxasite pix bet365falha no casosite pix bet365gravidez também é maior que asite pix bet365métodos contraceptivossite pix bet365longa duração – 98%site pix bet365eficácia, quando usada perfeitamente. Quando ela não é usada corretamente, ou seja, quando consideramos o seu "uso real", a eficácia cai para 82%.

A eficácia "real" dos métodos contraceptivos foi verificada a partirsite pix bet365uma pesquisa da Universidadesite pix bet365Princeton (EUA) que acompanhou 100 mulheres que usaram diferentes métodos contraceptivos durante um ano.

"Maissite pix bet36580% das mulheres brasileiras usam anticoncepcionais no Brasil. Como que a taxasite pix bet365gestação não planejada chega a 55.4%? Isso é explicado pela faltasite pix bet365métodossite pix bet365longa duração. Só temos 2% das mulheres usando DIU ou implante", destaca Vieira.

Cada gravidez não programada custa R$ 2.293 ao país, só considerando gastos com pré-natal e nascimento, conforme Vieira. "Isso dá R$ 4,1 bilhões ao ano no Orçamento. E esse número não inclui escola e abrigo, caso a mãe abandone a criança, nem gastos com complicações decorrentessite pix bet365abortos clandestinos."

Além disso, as gestações não planejadas têm consequências sociais graves - mortessite pix bet365mulheressite pix bet365abortos clandestinos, abandonosite pix bet365bebês e empobrecimento das famílias. Segundo a pesquisadora da USP, 75% das adolescentes que engravidam deixam os estudos. "Você perpetua, com isso, o ciclo da pobreza", destaca a professora.

Redução da gravidez indesejadasite pix bet365outros países

A pesquisadora da USP apresenta dados que mostram que a disponibilizaçãosite pix bet365todos os tipossite pix bet365DIU esite pix bet365implante hormonal no sistemasite pix bet365saúdesite pix bet365diferentes países reduziu drasticamente a taxasite pix bet365gravidez não programada esite pix bet365abortos provocados.

Uma experiênciasite pix bet365investimentosite pix bet365métodossite pix bet365longa duração na cidadesite pix bet365St. Louis, nos Estados Unidos, reduziu as taxassite pix bet365aborto provocadosite pix bet36575%, conforme Carolina Vieira.

"Ninguém quer fazer aborto a princípio. Normalmente, é porque falhou o contraceptivo, falhou a pílula do dia seguinte e essa é a opção que a pessoa teve."

No Reino Unido, onde 31% das mulheres usam métodos contraceptivossite pix bet365longa duração, a taxasite pix bet365gravidez não planejada ésite pix bet36516,2%.

O México, que é um paíssite pix bet365desenvolvimento como o Brasil, reduziu para 36% o percentualsite pix bet365gestações não planejadas depoissite pix bet365um programa que aumentou para 15% o percentualsite pix bet365mulheres com DIU ou implantes.

No Brasil, só 2% das mulheres usam métodossite pix bet365longa duração e a taxasite pix bet365gravidez não programada, como mencionado no início desta reportagem, ésite pix bet36555,4%.

"Não existe metasite pix bet365planejamento familiar no Brasil. Não tem metasite pix bet365reduçãosite pix bet365gestação não planejada, não tem metasite pix bet365reduçãosite pix bet365gestação na adolescência. Se você procura outros países, eles têm metas e método para alcançar", critica a pesquisadora da USP.

O Ministério da Saúde informou que, a partirsite pix bet365marçosite pix bet3652017, iniciou a ampliação do acesso ao DIUsite pix bet365cobre nas maternidades para as mulheres que tiveram filhos ou passaram por um processosite pix bet365abortamento. Segundo a pasta, até 2019, 800 serviços e 4 mil profissionais serão qualificados. O objetivo,site pix bet365acordo com o Ministério da Saúde, é ampliar o acesso ao DIUsite pix bet36520%,site pix bet365todos os Estados, até 2022.

site pix bet365 Acesso 'zero' site pix bet365 à site pix bet365 vasectomia e restrições à laqueadura

Outros métodos mais definitivos, como vasectomia e laqueadura, que ajudariam a reduzir a gravidez não planejada, também são difíceissite pix bet365conseguir pelo SUS, a depender da região.

A vasectomia sequer é oferecidasite pix bet365alguns Estados –site pix bet365um ano, nenhum procedimento foi realizadosite pix bet365Alagoas e Amapá,site pix bet365acordo com os dados do Data SUS.

No casosite pix bet365laqueadura, mais uma vez Alagoas (37 procedimentos) e Amapá (23) aparecem com os piores resultados.

Para fazer laqueadura e vasectomia, a pessoa precisa ter maissite pix bet36525 anos ou dois filhos. Em vários postossite pix bet365saúde, os profissionais se confundem com essa regra e exigem que a pessoa tenha maissite pix bet36525 e dois filhos,site pix bet365vezsite pix bet365ser uma coisa ou outra. Pessoas casadas precisam, por exigência da lei,site pix bet365autorização do marido ou esposa.

"No caso da vasectomia, embora seja um procedimento mais simples que a laqueadura, há ainda menos profissionais habilitados para fazer. Precisa ter um urologista e tem menos urologista que ginecologistas no SUS", disse Carolina Vieira.

O Ministério da Saúde afirmou que, por serem procedimentos difíceissite pix bet365serem revertidos, laqueadura e vasectomia "devem ser realizados com cautela". De acordo com a pasta, foram realizadas 60 mil laqueaduras pelo SUSsite pix bet3652017 e 45 mil vasectomias. O ministério não respondeu sobre a discrepância dos números por região. Pesquisa no Data SUS mostra que o Sudeste concentra a maior parte das cirurgias.

Faltasite pix bet365educação sexual e reprodutiva

Outra causa apontada pelas especialistas para alto númerosite pix bet365gestações não programadas no Brasil é o baixo nívelsite pix bet365conhecimento da população sobre sexo e contracepção.

"Na última palestra que eu dei, num município do interior, uma das perguntas que os adolescentes fizeram foi se a pílula protege contra o HIV. É uma dúvida muito básica", relatou a médica infectologista Mardjane Nunes, coordenadora do Ambulatório Especializado no Atendimentosite pix bet365Pessoas com HIV, do Hospital Escola Dr. Hlevio Auto,site pix bet365Maceió.

Ela contou que, quando participousite pix bet365um programasite pix bet365controlesite pix bet365doenças sexualmente transmissíveis, nas escolassite pix bet365Alagoas, os próprios colégios tinham resistênciasite pix bet365aceitar que o tema fosse levado aos alunos. "A gente percebe dificuldade dos diretores das escolassite pix bet365deixar a gente entrar para falar com os alunos. Geralmente querem que a gente faça uma comunicação prévia para que os pais autorizem as ações", disse.

A preocupaçãosite pix bet365alguns pais e grupos contrários a ações que tratemsite pix bet365prevenção e contraceptivossite pix bet365salasite pix bet365aula ésite pix bet365que a educação sexual nas escolas estimule a atividade sexual precoce.

Também há quem seja contra a obrigatoriedade da educação sexual nas escolas, como é o caso do movimento Escola Sem Partido. Projetosite pix bet365lei baseado no programa diz que o professor deve respeitar "o direito dos pais a que seus filhos recebam a educação moral que estejasite pix bet365acordo com suas próprias convicções", tendo "os valoressite pix bet365ordem familiar precedência sobre a educação escolar nos aspectos relacionados à educação moral, sexual e religiosa".

A agente comunitária Gil Pereira, que faz a ponte entre a comunidadesite pix bet365uma favela na zona oestesite pix bet365São Paulo e uma unidadesite pix bet365saúde na região, diz que há muita desinformação, especialmente entre adolescentes.

A pesquisadora Carolina Vieira lembra que, na educação para prevenção, os efeitos demoram para aparecer. "Educação é vital, mas ela demora gerações. Temos que disponibilizar métodos contraceptivossite pix bet365longa duração, alémsite pix bet365treinamento dos profissionais e educação."