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Polícia investiga grupos no Facebook suspeitosf22 betincitar suicídiof22 betjovens no Brasil:f22 bet
Por meiof22 betdesafios, cuja missão final é atentar contra a própria vida, participantes dos grupos teriam sido induzidos ao sucídio.
As tarefas são repassadas aos adolescentes por meiof22 betgruposf22 betWhatsApp, para os quais são convidados os participantes dos gruposf22 betFacebook que se interessam pelos desafios. "Nesta segunda fase, somente aqueles que recebem um linkf22 betconvite podem entrar. É mais complicado termos informações sobre esses grupos, porque são fechados", afirma a delegada Sabrina Leles, da Delegacia Estadualf22 betRepressão aos Crimes Cibernéticos (DERCC)f22 betGoiás.
Entre os desafios estão: invasão a redes sociais e computadoresf22 betterceiros, disseminaçãof22 betfake news e automutilação.
"Os grupos dizem que o objetivo deles é fazer piada, contar histórias e apoiar uns aos outros. No entanto, temos provas que mostram que o objetivo é criminoso", diz a delegada.
O jogo
Os desafios têm início quando os jovens são chamados para participar dos jogos. Na maioria dos casos, os convites são feitos por meiof22 betmensagens privadas no Facebook, motivadas pela participaçãof22 betpáginas pertencentes aos grupos na rede social. Os responsáveis por convidar os adolescentes são os moderadores ou administradores dos grupos, que têm a missãof22 betatrair o maior número possívelf22 betjovens.
Segundo a Polícia Civil, os grupos investigados têm como figura mais importante o curador, cujo nome não será divulgado pela BBC Brasil. Abaixo dele estão os administradores e depois os moderadores. Cada um possui funções no jogo, que variam da cooptaçãof22 betjovens à invasãof22 betcomputadores.
Um adolescente que participou do grupo relatou à Polícia Civil que os organizadores se tornam íntimos dos participantes, perguntam sobre questões familiares e relacionamentos amorosos.
"Eles pegam nos pontos fracos dos participantes. Dizem que a família não os ama e que os amigos não gostam deles. Depoisf22 betum tempo, começam a incutir a ideiaf22 betque ninguém gosta do adolescentef22 betverdade e, por isso, seria melhor ele acabar com o sofrimento e se matar, porque todo mundo morre no final. Aconselham o adolescente a 'adiantar o processo'", relata Leles.
Antesf22 betaceitar participar dos desafios, os jovens são informadosf22 betque a última fase é o suicídio. Três adolescentes, que participaram do jogo, confirmaram à polícia que sabiam da etapa na qual teriam que atentar contra a própria vida. Um deles disse ter tentado se matar duas vezes, para cumprir a fase final, porém foi socorrido por parentes.
O fatof22 beto jovem conhecer as etapas do jogo antesf22 betiniciá-lo é a principal diferença entre os desafios e o jogo virtual Baleia Azul - que também estimula adolescentes a tirar a própria vida -, diz a Polícia Civil. "No Baleia Azul, o curador se apossavaf22 betinformações da vida íntima do adolescente. O jovem era obrigado a participar, mediante ameaçaf22 betque seria punido caso não concluísse os desafios. Nos grupos atuais, os adolescentes participam porque,f22 bettese, querem", pontua a delegada.
Professoraf22 betPsiquiatria da infância e adolescência da Faculdadef22 betMedicina da USP, Sandra Scivoletto afirma que o adolescente que participa desse tipof22 betdesafios possui, geralmente, algumas dificuldadesf22 betrelação a si mesmo e a seu círculo social, como insegurança e problemasf22 betautoimagem.
"Eles aceitam esses desafios para fortalecer a autoestima. Não podemos dizer, pois ainda faltam estudos, que haja uma pré-disposição ao suicídio. Mas podemos afirmar que a participação nesses desafios envolve adolescentes com problemas anteriores na vida real, não apenas no mundo virtual", diz.
Os desafios
Logo que aceitam entrar no jogo, os participantes são colocadosf22 betum grupof22 betWhatsApp. Nele, os administradores ou moderadores distribuem os desafios. Uma das tarefas é a invasãof22 betcomputadores. A prática ocorre por meiof22 betum vírus, vendido pelos administradores, com o qual seriam capazesf22 betinvadir sistemas e perfisf22 betredes sociais.
Entre as missões também estão apagar perfisf22 betFacebook, indicados pelos administradores; implantar fake news, por meiof22 betperfis invadidos; buscar novos membros para os desafios e participarf22 betataques a páginas nas redes.
Os ataques funcionam por meiof22 betcomentários ofensivosf22 betpáginasf22 betconhecidos do participante ou a perfisf22 betfamosos. Eles costumam reunir diversos membros dos grupos investigados e não se restringem àqueles que estariam participando dos desafios.
Outro desafio proposto pelos líderes do grupo é a automutilação. O participante deve cortar parte do próprio corpo e enviar imagens do sangramento. À Polícia Civil, a ex-namorada do adolescente que se suicidouf22 betGoiás disse que o jovem tinha passado a se cortar pouco antesf22 betcometer suicídio. Duas semanas antes da morte do rapaz, os pais notaram os cortesf22 betseu braço. "Ele disse que tinha se machucadof22 betnossa chácara. Como não tínhamos motivo para pensar que ele estivesse mentindo, acreditamos", relata o gerente comercial Onilton Pires, pai do adolescente.
Cada etapa cumprida pelo participante representa mais prestígio entre os administradores. "Eles vão se tornando importantes na hierarquia desse grupo", diz a delegada.
A fase do suicídio é considerada, para o grupo, o ápice do desafio. "Os administradores orientam passo a passo como obter coragem" para o ato, diz a delegada.
As investigações
A descoberta sobre os gruposf22 betincentivo ao suicídio se deu após Onilton Pires relatar à Polícia Civil um fato que causou estranheza no velóriof22 betseu filho: diversos adolescentes desconhecidos acompanharam a cerimônia e fizeram fotos no local. Alheios ao luto da família, eles não demonstravam tristeza. Conforme as investigações da Polícia Civil, o objetivo deles era mostrar aos administradores do jogo que o jovem realmente havia se suicidado.
Outro fato que também despertou desconfiança na polícia foi o suicídiof22 betJúlio (nome fictício),f22 bet13 anos, tambémf22 betGoiás, no mesmo diaf22 betque o filhof22 betOnilton se matou. O garoto se jogou do 26º andar do prédio da avó. A família dele também procurou a Polícia Civil. Porém, as investigações comprovaram que Júlio não participava dos desafios. "Ele tinha amplo acesso à internet e havia manifestado vontadef22 betse matar, mas não participava dos grupos", conta a delegada Sabrina Leles.
Em relação ao filhof22 betOnilton Pires, a Polícia Civil assegura que ficou comprovada a participação do jovem nos grupos e que eles efetivamente incentivaram seu suicídio. Para tal constatação, as investigações analisaram o computador do adolescente. O aparelho havia sido formatado por ele antesf22 betmorrer e todos os dados foram apagados. O fato chamou a atenção dos pais do jovem, que disseram que ele não costumava excluir as informações do computador.
Alguns itens foram recuperados pela Polícia Civil, entre eles uma cartaf22 betdespedida do jovem. "Em um trecho, ele dizia que não era para os pais se preocuparem, porque ele não havia participadof22 betnenhum jogof22 betinternet. Isso causou estranheza, porque a família disse que nunca o questionou sobre esse assunto. Era aquela coisa da psicologia invertida: 'vou dizer que não participo, para eles não pensarem isso'. Mas, no fundo, ele participava, sim", diz a delegada.
No quarto do jovem também havia um pen drive com um vírus capazf22 betinvadir sistemas e redes sociais, alémf22 betimplantar fake news. Os amigos do jovem disseram à polícia que ele comprou o vírus do curadorf22 betuma das páginas, por pouco maisf22 betR$ 400, para cumprir parte das etapas do jogo.
Por meio das poucas conversas resgatadas do computador, a polícia identificou Marcelo*,f22 bet18 anos. Ele teria sido o intemerdiário dos contatos entre o jovem morto e os administradores dos grupos pró-suicídio.
Marcelo também participava do jogo. Porém, disse ter desistido dos desafios porque não queria se matar. Em depoimento à Polícia Civil, o jovem declarou acreditar que o amigo foi influenciado a participar do jogo e a pôr fim à própria vida.
Para Onilton, no entanto, Marcelo teria sido o responsável por convencer o garoto a participar do jogo. "Não tenho nenhuma dúvidaf22 betque ele influenciou meu filho a entrar nisso. Meu filho era muito corajoso, então ele deve ter mostrado como funcionavam os desafios, para convencê-lo", diz o pai.
Alémf22 betresponder pelo crimef22 betincentivo ao suicídio, que prevê prisãof22 betdois a seis anos, se o ato for consumado, os administradores das duas páginas podem também responder por tentativasf22 betsuicídio que resultemf22 betlesão corporal grave. Nesse caso, a pena pode variarf22 betum a três anosf22 betreclusão. Como os investigados são menoresf22 betidade, a condenação e cumprimento da pena devem seguir diretrizes do Estatuto da Criança e do Adolescente. Conforme a Polícia Civil, nenhum jovem foi apreendido até o momento.
Por meiof22 betcomunicado publicado emf22 betpágina no Facebook, os administradores da página ainda ativa negaram a realização dos desafios suicidas. Para eles, tais informações são "puro sensacionalismo da mídia". "Menosprezamos tal conduta [de incentivo ao suicídio]. Consideramos um ato horrível. Buscamos ser uma família e ajudar a todos que precisam", diz trecho do texto disponibilizado no grupo.
A delegada Sabrina Leles frisa que há provas suficientes para determinar o elo entre o grupo e o jogo que incentiva o suicídio. "Eles não vão confessar isso no Facebook, onde qualquer um pode ver. Esse incentivo acontecef22 betmodo individual. Tudo o que foi levantado pela Polícia Civil tem como base provas e declarações colhidas nas investigações."
Conforme Leles, as apurações apontaram ainda que outros gruposf22 betFacebook também teriam incentivado suicídiosf22 betadolescentes. "Os casos estão sendo investigados", explica.
Outras mortes
Os suicídiosf22 betduas adolescentesf22 betGoiás são investigados pela Polícia Civil, que suspeita que elas também possam ter sido incentivadas pelo grupo ainda ativo. As jovens moravam no municípiof22 betRio Verde. Uma delas,f22 bet14 anos, se jogou do quinto andar do prédiof22 betsua escola,f22 bet7f22 betmarço. Semanas depois, a outra garota,f22 bet13 anos, se enforcou no quintalf22 betcasa.
"Elas tinham, entre os amigos no Facebook, pessoas que seriam responsáveis por buscar novos membros para esses jogos. Mas só ao fim das investigações saberemos se elas também foram influenciadas", comenta a delegada.
A atuação do grupo pode ter extrapolado fronteiras. A Polícia Civil investiga o suicídiof22 betuma adolescente brasileira,f22 bet15 anos, que morava no País Basco, região da Espanha.
De acordo com Leles, não é descartada a possibilidadef22 betque as mortesf22 betoutros jovens tenham sido motivadas pelo grupo. "Não temos condiçõesf22 betinvestigar outros casos agora. Uma das dificuldades é que as investigações que envolvem questões virtuais devem ocorrer o quanto antes, após a situação."
'Quero que eles sejam presos'
Desde que o filho caçula se matou, Onilton Pires tem se perguntado o porquêf22 beto adolescente ter participado do grupo. "Ele era um filho muito estudioso, atencioso e não dava problemas para a gente. Ele não costumava sair muito e passava a maior partef22 betseu tempof22 betfrente ao computador. Nunca passou pela nossa cabeça que ele tivesse pensamentos suicidas", lamenta.
Ele conta que o filho se tornou mais introvertido e passou a dialogar menos com os pais nas duas semanas antesf22 betmorrer. "A minha esposa disse a ele que ele estava diferente. Ele respondeu que estava do mesmo jeito. Mas a gente via que ele estava mais triste e calado. O meu filho sempre foi muito extrovertido. Por isso, tínhamos decidido que iríamos procurar acompanhamento psicológico para ele, mas não deu tempo", comenta.
O pai costuma se perguntar sobre as atitudes que poderia ter tomado para evitar que o filho atentasse contra a própria vida. "Talvez eu devesse ter tirado um dia para sentar ao lado dele no computador. Eu achei que com tudo o que proporcionava, estava protegendo ele do mundo. Mas na verdade, eu estava dando o acesso a ele ao mundo", declara.
A psiquiatra Sandra Scivoletto afirma que é fundamental que os pais acompanhem as atividades dos filhos na internet e evitem o uso excessivo das redes sociais. "O uso inadequado dificulta acompanhar o que o filho vive e o que faz. Por isso, é importante os pais estarem próximos. É necessário conhecer um pouco mais sobre o mundo virtual dos jovens", pontua.
Em meio às perguntas sem respostas sobre o filho, Onilton e a mulher, Cleide Pires, torcem que os envolvidos no grupof22 betincentivo ao suicídio sejam presos. "É o mínimo que esperamos. Tenho certezaf22 betque se eles forem presos, a situação vai ser um pouco mais moralizada. As pessoas perderam o senso do perigo da internet e o limite", assevera.
Onilton e Cleide têm buscado formasf22 betseguir adiante, desde que perderam o filho. Nas próximas semanas, devem se mudar da casaf22 betque viviam com o jovem. Para eles, a residência lembra o filho a todo instante. "A gente sabe que essa dor pela perda nunca vai passar, mas espero que ao menos amenize, para que possamos aprender a viver com ela."
Em nota à BBC Brasil, o Facebook informou que "manter as pessoas seguras é a nossa maior prioridade e não permitimos conteúdo que promova ou incentive automutilação ou suicídio na plataforma. Temos parcerias com organizações como o Centrof22 betValorização da Vida (CVV) e a SaferNet Brasil para auxiliar pessoas enfrentando dificuldades, e oferecemos recursos como um portal sobre prevençãof22 betsuicídio ef22 betbullying para apoiar as pessoas na nossa comunidade. Também usamos tecnologiaf22 betinteligência artificial para detectar sinaisf22 betpostagens que possam incluir pensamentos suicidas, para que possamos oferecer suporte e,f22 betsituações emergenciais, notificar as autoridades".
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