Índios yanomamis apostam no turismo para afastar ameaçasaque betmotiongarimpo e ganhar autonomia:saque betmotion
Dezenassaque betmotionhomens e mulheres foram treinados nos últimos anos para receber os turistas, iniciativa apoiada pelo Instituto Socioambiental (ISA) e órgãos do governo.
As comunidades esperam que o turismo dê mais autonomia às comunidades e afaste os apelos do garimpo, que já deixou sequelas na região.
Invasão garimpeira
Nos anos 1980, dezenassaque betmotionmilharessaque betmotiongarimpeiros invadiram o território yanomamisaque betmotionbuscasaque betmotionouro. Muitos foram expulsos, mas a atividade jamais foi totalmente erradicada.
A trilha que dá acesso ao pico passa por vários antigos locaissaque betmotiongarimpo. A mineração desviou riachos e provocou o surgimentosaque betmotionlagos e praiassaque betmotionpedregulhos. Em alguns garimpos desativados há décadas, a vegetação começa a se regenerar.
O Exército disse à BBC que a região está livresaque betmotiongarimpo há um bom tempo. Porém, nossa equipe encontrou sinaissaque betmotionatividade recentesaque betmotionalguns acampamentossaque betmotiongarimpeiros, como pilhas descartadas e uma embalagemsaque betmotioncomida fabricadasaque betmotion2016.
Em Maturacá, mulheres yanomamis relataram que garimpeiros têm oferecido 21 gramassaque betmotionouro (o equivalente a R$ 3 mil) a indígenas para que levem comida até um garimpo do lado venezuelano da fronteira.
O acesso ao local é feito a pé pela mesma trilha que dá acesso ao Pico da Neblina. Há relatos sobre a presençasaque betmotiongarimpeirossaque betmotionSão Gabriel da Cachoeira (AM) na área.
O ouro circula pela região livremente. Numa loja vizinha à base do Exércitosaque betmotionMaturacá, é possível comprar mercadorias com o metal, pesado numa balança sobre o balcão.
Analista do ICMBio (órgão federal que gere o Parque Nacional do Pico da Neblina), Flávio Bocarde diz que o garimpo é um fatorsaque betmotion"grave erosão cultural" na região.
"O pai fica fora da casa por longos períodos, deixando para trás a mulher e os filhos. Quando começa a negociar só com ouro, passa a vendê-losaque betmotiontrocasaque betmotioncomida, o que altera totalmentesaque betmotionrelação com a alimentação. A caça e a agricultura tradicional são abandonadas", afirma.
A atividade também gera o riscosaque betmotioncontaminação por mercúrio, normalmente usado pelos garimpeiros para identificar o ouro.
Em 2016, um estudo do ISAsaque betmotionparceria com a Fiocruz e a FGV (Fundação Getúlio Vargas) revelou índices preocupantessaque betmotioncontaminação por mercúriosaque betmotionaldeias yanomamis próximas a garimpossaque betmotionRoraima.
Numa delas, o índicesaque betmotionmoradores com altos níveissaque betmotionmercúrio no sangue chegou a 92%.
A substância está associada a problemas motores e neurológicos, perdasaque betmotionvisão e danossaque betmotionfetos.
Lobby pró-mineração
Hoje a mineraçãosaque betmotionterras indígenas é ilegal. Em 1996, o senador Romero Jucá (MDB-RR) propôs um projetosaque betmotionlei para regulamentar a atividade. A proposta tramita desde então. Nos últimos anos, o movimento ganhou um novo articulador - o deputado estadual amazonense Sinésio Campos, do PT.
Entre os apoiadores da causa está o indígena e ex-garimpeiro Clóvis Curubão (PT), atual prefeitosaque betmotionSão Gabriel da Cachoeira, município onde fica parte do território yanomami.
"A maioria da população indígena daqui não tem acesso a benefícios do governo. São as pessoas mais esquecidas do Brasil. A única solução para o município, onde 98% da população é indígena, é a mineração", diz Lucas Duarte, aliadosaque betmotionCurubão e presidente das Cooperação Indígena para Extrativismosaque betmotionRecursos Naturais e Minerais,saque betmotionSão Gabriel da Cachoeira.
As principais associações yanomami, porém, são contra a mineraçãosaque betmotionáreas indígenas.
"Os garimpeiros não estão mais conosco", diz Antônio Yanomami, líder da comunidade Maturacá.
"Eles costumavam ganhar dinheiro aqui, mas destruíram a terra. Agora não permito mais que a terra seja destruída. Nossos jovens nos ensinaram como solicitar a força policial e agir mais rapidamente."
'Velhos tempos'
Em Maturacá, muitos yanomamis dizem esperar que o turismo afastesaque betmotionvez os garimpeiros.
"Nos velhos tempos, eu mesmo pensei que nosso futuro estava no garimpo", diz Salomão Mendonça Ramos, um dos yanomamis à frente do projetosaque betmotionturismo.
"Ainda há algumas pessoas que garimpam um pouco, sem danificar a natureza. Esperamos que essas pessoas deixemsaque betmotionlado esse trabalho sem futuro e se juntem ao ecoturismo", ele afirma.
O Pico da Neblina já recebeu turistas, mas as expedições costumavam ser organizadas por agências externas, modelo que estava gerando conflitos nas comunidades. Agora, os próprios yanomamis administrarão a atividade.
"O pagamento era muito pequeno. Agora queremos que os turistas paguem mais, para que possamos melhorar a vida das famílias dos guias e carregadores", completa Ramos.