Áreasportingbet ajudaconservação da Caatinga revela maior concentraçãosportingbet ajudasítios arqueológicos do Brasil:sportingbet ajuda

Legenda da foto, São cercasportingbet ajuda3.000 sítios arqueológicossportingbet ajudarochassportingbet ajudaboqueirão e grotas no sertão na Bahia | Foto: Rogério Cunha

Os pesquisadores também encontraram na região ossossportingbet ajudaanimais pré-históricos, como a preguiça-gigante,sportingbet ajuda6 metrossportingbet ajudaaltura, e do tatu-gigante, do tamanhosportingbet ajudaum Fusca.

A descoberta dos sítios têm empolgado não só pesquisadores, mas também o setor turístico, que vê a riqueza arqueológica local com forte potencial para atrair turistas, a exemplo do que ocorre no Parque Nacional da Serra da Capivara (Piauí) - onde maissportingbet ajuda1,3 mil sítios arqueológicos já foram descobertossportingbet ajudamaissportingbet ajuda40 anossportingbet ajudapesquisa.

No sertão da Bahia, os sítios estão numa região conhecida como Boqueirão da Onça, que há décadas também chama a atençãosportingbet ajudapesquisadores pela fauna e flora do bioma Caatinga. Recentemente, após 16 anossportingbet ajudaestudos, o Ministério do Meio Ambiente concluiu uma proposta para a criação das unidadessportingbet ajudaconservação na região.

A proposta é um parque nacionalsportingbet ajuda345,3 mil hectares para proteção integral do bioma e uma APA (áreasportingbet ajudaproteção ambiental)sportingbet ajuda505,6 mil hectares, onde será possível o uso sustentável dos recursos naturais. A área total abrange os municípios baianossportingbet ajudaSento Sé, Campo Formoso, Sobradinho, Juazeiro e Umburanas.

A finalização da proposta, com o envio à Casa Civil da Presidênciasportingbet ajudadocumentos pendentes, ocorreu nesta terça-feira (13). Não há prazo para ela ser analisada pela pasta, mas isso "deve ser realizadosportingbet ajudatempo curto", informou a Casa Civil. Depois, a criação do parque nacional e da APA devem virar decreto presidencial.

Legenda da foto, A proposta do Ministério do Meio Ambiente é criar um parque nacionalsportingbet ajudamaissportingbet ajuda345 mil hectares | Foto: Rogério Cunha

Como dentro do parque nacional não há comunidades ou empreendimentos, não será necessário gasto público com indenizações. Dentro da APA, porém, vivem cercasportingbet ajuda250 famíliassportingbet ajuda27 comunidadessportingbet ajudafundossportingbet ajudapasto e quilombolas. Há ainda empreendimentossportingbet ajudaenergia eólica que ocupam cercasportingbet ajuda30% do território da áreasportingbet ajudaproteção a ser criada.

'Homem metafórico'

Os sítios arqueológicos estão dentro da área onde será o parque nacional. Eles começaram a ser estudados na décadasportingbet ajuda1970, durante a construção da barragemsportingbet ajudaSobradinho. Na época, o arqueólogo espanhol Valentim Calderón coordenou o Projeto Sobradinhosportingbet ajudaSalvamento Arqueológico numa áreasportingbet ajuda4.214 km².

O trabalhosportingbet ajudaCalderón nos territóriossportingbet ajudaCasa Nova, Remanso, Pilão Arcado (à margem esquerda do rio São Francisco) esportingbet ajudaJuazeiro, Sento Sé e Xique-xique (margem direita) identificou os primeiros sítios rupestres da região.

As pinturas foram definidas por ele como arte parietal (de homens que viveram na Idade das Renas, entre 15000 a.C. e 9000 a.C), divididassportingbet ajudapictografias (representaçãosportingbet ajudaideias por meiosportingbet ajudadesenhos) e petroglifos (escultura brutasportingbet ajudapedra).

Legenda da foto, Projetosportingbet ajudaparque e áreasportingbet ajudaproteção ambiental ainda precisasportingbet ajudaaval da Presidência da República | Foto: Rogério Cunha

Após o Projetosportingbet ajudaSalvamento Arqueológico, as pesquisas só voltaram a ocorrer na região na décadasportingbet ajuda1990, com o arqueólogo Celito Kestering, discípulosportingbet ajudaCalderón e hoje doutorsportingbet ajudaArqueologia na áreasportingbet ajudapinturas rupestres.

O arqueólogo é professor aposentado da Univasf (Universidade Federal do Vale do São Francisco),sportingbet ajudaPetrolina (PE), e pesquisa os sítios arqueológicossportingbet ajudaSento Sé desde 1993. Ele os classifica como "metafóricos", enquanto que os da Serra da Capivara, onde também realizou estudos, seriam "metonímicos".

Para ele, "o metafórico tem o conceitosportingbet ajudabem sem precisar ter a representação da imagemsportingbet ajudaum Deus macho, pai, castigador, como tem o metonímico, que incorpora um conceito cujo horizonte não vai além da figura rupestre."

"Os que moravam na beira do Rio São Francisco eram coletores, caçadores, pescadores e agricultores. Os metonímicos se orientam só pelo espaço, não têm a dimensão do tempo. Os metafóricos se orientam muito mais pelo tempo do que pelo espaço", diz Kestering.

Potencial turístico

Legenda da foto, Prefeituras da região estão tentando potencializar o turismosportingbet ajudaáreas com sítios arqueológicos | Foto: Rogério Cunha

Mesmo que ainda não esteja regularizada, a visitação turística já vem ocorrendo na regiãosportingbet ajudaSento Sé por causa dos sítios arqueológicos, tendo sido esse, inclusive, um dos motivossportingbet ajudao município ser elevadosportingbet ajudacategoria no novo Mapa do Turismo, divulgado há cercasportingbet ajudaum mês pelo Ministério do Turismo.

O mapa elevou Sento Sé da categoria E para a D, numa escala que vaisportingbet ajudaE até A. Assim, a cidade passou a ter direito a pedir ao ministério R$ 150 mil por ano para realizaçãosportingbet ajudaum único evento turístico. A Secretaria Municipalsportingbet ajudaTurismosportingbet ajudaSento Sé informou que busca recursos com governos para poder criar meiossportingbet ajudaorganizar as visitas aos sítios e divulgá-los.

"Temos um potencial grande para isso e queremos aproveitar, mas com cuidado", comenta Mariluze Amaral, chefe do Departamentosportingbet ajudaTurismo. A ideia é promover o ecoturismosportingbet ajudatrilhas nos circuitos arqueológicos, com passagens por caminhos percorridos pelo sertanista e exploradorsportingbet ajudaouro Romão Gramacho, o cangaceiro Lampião e a Colunasportingbet ajudaCarlos Prestes.

Por se tratarsportingbet ajudaalgo ainda não regulamentado, a Prefeiturasportingbet ajudaSento Sé diz não disporsportingbet ajudainformações sobre a quantidadesportingbet ajudaturistas que tem ido aos sítios, mas diz que tem buscado conversar com guias locais para fazerem um trabalho mais qualificado.

Um dos que atuam com turismo na região é o empresário Bruno Kestering, filho do arqueólogo Celito. As visitas aos sítios, segundo ele, "são realizadas mais por escolas da região, que costumam irsportingbet ajudagruposportingbet ajuda50 pessoas".

Legenda da foto, Os sítios arqueológicossportingbet ajudaSento Sé fazem partesportingbet ajudaum bioma ainda desprotegido pelo poder público | Foto: Rogério Cunha

Devido à proximidade com as principais cidades da região do Vale do São Francisco - a baiana Juazeiro e pernambucana Petrolina, separadas pelo rio -, os sítios mais frequentados são ossportingbet ajudaSobradinho, onde foram realizados os estudos iniciais pelo arqueólogo espanhol Valentin Calderón.

Alvandyr Dantas Bezerra, pesquisador do Instituto Habilis e do Gruposportingbet ajudaPesquisa Bahia Arqueológica, realizousportingbet ajuda2017 levantamentosportingbet ajudasítios arqueológicos na regiãosportingbet ajudaSento Sé com vistas à criaçãosportingbet ajudaum circuitosportingbet ajudaturismo, a pedido da prefeitura local.

"O potencial turístico lá é enorme. O que deu para perceber,sportingbet ajudainício, é que muitos (sítios) terãosportingbet ajudaficar disponíveis para visitação, e outros para pesquisa científica", contou. Na Serra da Capivara, por exemplo, a visitação é abertasportingbet ajuda173 sítios.

Bezerra estima que, saindo o decreto presidencial que criará o Parque Nacional do Boqueirão da Onça, o projetosportingbet ajudavisitação inicial dos sítios pode ficar prontosportingbet ajudadois anos - com o tempo mais locais podem ser liberados para visitas. Mas isso depende ainda da elaboração do planosportingbet ajudamanejo pelo Ministério do Meio Ambiente.

"Com o decreto, vamos dar início à elaboração desse plano e liberar locais onde possa ocorrer a visitação turística. Em vezsportingbet ajudafazer um planosportingbet ajudamanejo completo, que contemple tudo, vamos fazer aos poucos para que as visitas possam ocorrer, tanto nos sítios arqueológicos quanto na área da Caatinga", diz Moara Menta Giasson, diretorasportingbet ajudaáreas protegidas da Secretariasportingbet ajudaBiodiversidade do ministério.

Onçasportingbet ajudaextinção

Legenda da foto, Para pesquisadores, potencial turístico da área é 'enorme' | Foto: Rogério Cunha

Os sítios arqueológicossportingbet ajudaSento Sé fazem partesportingbet ajudaum bioma ainda desprotegido pelo poder público. E não só eles estão nesta situação, como também cercasportingbet ajuda30 onças pintadas e 120 pardas, dentre outros mamíferos, aves e plantas diversas que habitam exclusivamente o bioma Caatinga.

Entre outros representantes da faunasportingbet ajudaextinção no Boqueirão da Onça estão o tamanduá bandeira, o tatu-bola, o gato mourisco e o gato-do-mato. Entre as avessportingbet ajudarisco estão a arara-azul-de-lear e o jacu estalo.

Répteis, anfíbios e insetos ainda a serem estudados completam o quadro da fauna selvagem do Boqueirão, onde está também a maior caverna do Brasil, a Toca da Boa Vista, com 93,7 kmsportingbet ajudaextensão - e alvosportingbet ajudapesquisas científicas.

A flora nativa apresenta grande diversidade - recentemente, 97 novas espécies foram catalogadas. O Boqueirão da Onça é "a última grande área selvagemsportingbet ajudatodas as caatingas do Nordeste brasileiro", destaca o pesquisador José Alves Siqueira, doutorsportingbet ajudabiologia vegetal pela UFPE (Universidade Federalsportingbet ajudaPernambuco) e autor do livro Flora das Caatingas do Rio São Francisco: história natural e conservação.

"Pesquisas iniciadassportingbet ajuda2006 apresentam uma flora rica, com maissportingbet ajuda900 espéciessportingbet ajudaplantas reunidassportingbet ajuda120 famílias botânicas, com espécies endêmicas da Caatinga, ameaçadassportingbet ajudaextinção e até novas espécies que serão apresentadas brevemente à comunidade científica e que já se encontram no limiar da extinção", informa.

As discussões sobre a proteção da área com a criaçãosportingbet ajudaum parque nacional começaramsportingbet ajuda2001. A ideia inicial era proteger um territóriosportingbet ajudacercasportingbet ajuda900 mil hectares, mas interesses econômicossportingbet ajudamineradoras que buscavam as pedrassportingbet ajudaametistas da região e empresassportingbet ajudaenergia eólica provocaram o atraso na definiçãosportingbet ajudacomo seria o parque.

Em 2017, o Boqueirão da Onça ganhou destaque com a descobertasportingbet ajudauma jazidasportingbet ajudaametista que provocou uma corrida com cercasportingbet ajuda20 mil garimpeirossportingbet ajudatodo o Brasil. As comunidades locais reclamamsportingbet ajudaabusos e violência, além da extraçãosportingbet ajudamadeira, caçasportingbet ajudaanimais silvestres e furto dos rebanhos.

Legenda da foto, O Boqueirão da Onça ganhou destaque com a descobertasportingbet ajudauma jazidasportingbet ajudaametista que provocou uma corridasportingbet ajudamilharessportingbet ajudagarimpeiros | Foto: Rogério Cunha

A definição só veiosportingbet ajuda2017, quando se decidiu criar um parque nacional numa parte do bioma e a APA na outra. A diferença crucial entre as duas é que, diferente do parque nacional, na APA pode haver atividades econômicas, desde que respeite as regras do decreto que cria a áreasportingbet ajudaproteção ambiental. A área do garimpo, contudo, ficousportingbet ajudafora das duas áreas.

"Assim, as atividadessportingbet ajudaenergia eólica vão poder continuar sem problemas, e ela também é incentivada por nós por ser uma fontesportingbet ajudaenergia limpa. A região do Vale do Boqueirão da Onça é uma das que tem mais potencial para a geração desse tiposportingbet ajudaenergia", diz André Luís Luma, coordenador-geralsportingbet ajudaPolíticas para Áreas Protegidas do Ministério do Meio Ambiente.

Maior felino das Américas, a onça pintada tem na região um dos principais refúgiossportingbet ajudaárea natural. A espécie já perdeu 55% da áreasportingbet ajudasua distribuição original e, atualmente, a maior partesportingbet ajudasuas subpopulações está ameaçadasportingbet ajudaextinção. No Brasil, a onça pintada está criticamente ameaçada na Caatinga e na Mata Atlântica.

Projetos também estão sendo desenvolvidos com vistas à proteção animal, com foco nas onças, vítimas criadoressportingbet ajudaanimais da região, sobretudo ovinos e caprinos, fontesportingbet ajudaalimento das onças, ao ladosportingbet ajudaoutros mamíferos, como as capivaras.

"Estamos incentivando os produtores a construir currais para guardar os animais à noite, pois os deixam soltos e aí as onças atacam. É difícil elas virem até os currais e atacar durante o dia", diz Rogério Cunhasportingbet ajudaPaula, coordenador substituto do Cenap (Centro Nacionalsportingbet ajudaPesquisa e Conservaçãosportingbet ajudaMamíferos Carnívoros), ligado ao ICMBio (Instituto Chico Mendessportingbet ajudaBiodiversidade).

O Boqueirão também tem papel-chave na segurança hídrica na região. Importantes nascentes localizadas nos planos mais altos irrigam o solo seco do sertão, garantindo condiçõessportingbet ajudavida para comunidades urbanas e rurais.

Algumas dessas nascentes foram incluídas nos limites do futuro parque nacional, cuja criação é esperada também por entidades internacionaissportingbet ajudaproteção ambiental, como a WWF.

"Hoje, dos 11% restantes da vegetação original da Caatinga, apenas 2% é legalmente protegida. Então, qualquer iniciativasportingbet ajudaconservação na Caatinga é bem-vinda", diz Jaime Gesisky, especialistasportingbet ajudaPolíticas Públicas da ONG WWF-Brasil.