Mulher, negra, favelada, Marielle Franco foicada de apostas'cria da Maré' a símbolocada de apostasnovas lutas políticas no Rio:cada de apostas

Marielle Franco

Crédito, EPA

Legenda da foto, Marielle Franco foi eleita vereadora do Rio emcada de apostasprimeira tentativa, com maiscada de apostas46 mil votos

"Isso motivou uma belíssima campanha, que cativou tanta gente e foi a grande surpresa das eleiçõescada de apostas2016", lembra o vereador.

Candidatacada de apostasprimeira viagem, Marielle foi a quinta vereadora mais votada no Rio, com maiscada de apostas46 mil votos. "A gente tem que entrar, sair, fazer política, resistir, dar a cara, e isso é uma das coisas que me orgulha", afirmou.

Assassinato

Marielle cumpria o primeiro mandato como vereadora pelo partido há pouco maiscada de apostasum ano.

Ela foi assassinada na noitecada de apostasquarta-feira no Rio com tiros na cabeça, dentro do seu carro, no bairro do Estácio, perto da prefeitura do Rio.

Homenscada de apostasoutro veículo atiraram pelo menos nove vezes contra o carro da vereadora, matando também o motorista, Anderson Pedro Gomes. Uma assessora ficou levemente ferida.

A polícia apura a autoria e a motivação do crime, no qual há suspeitacada de apostasexecução.

O Rio está sob intervenção federal,cada de apostasuma tentativacada de apostasconter a escaladacada de apostasviolência o Estado. O interventor, general Braga Netto, dissecada de apostasnota que "repudia ações criminosas como a que culminou com a morte da vereadora" e do motorista, "se solidariza com as famílias" e "acompanha o casocada de apostascontato permanente com o Secretáriocada de apostasEstadocada de apostasSegurança".

Há duas semanas, Marielle assumira o postocada de apostasrelatoracada de apostasuma comissão criada para monitorar as ações da intervenção federal no Rio.

Em nota condenando o assassinato, o PSOL pede investigação do caso: "Exigimos apuração imediata e rigorosa desse crime hediondo. Não nos calaremos!"

Manifestação no Riocada de apostasJaneiro,cada de apostas15cada de apostasmarçocada de apostas2018

Crédito, EPA

Legenda da foto, Ativistas e amigoscada de apostasMarielle Franco marcaram manifestaçõescada de apostasdiversas capitais brasileiras após assassinatocada de apostasMarielle Franco

'Cria da Maré'

Marielle nasceu e cresceu no Complexo da Maré, e saiu do cursocada de apostaspré-vestibular comunitário para a graduaçãocada de apostasciências sociais na PUC-Rio, universidade particular onde ela e outra colega eram as únicas mulheres negras do departamento. Para fazer o curso, teve 100%cada de apostasbolsa.

Aos 19 anos, se tornou mãecada de apostasuma menina, Luyara. "Isso me ajudou a me constituir como lutadora pelos direitos das mulheres e debater esse tema nas favelas", descreveu na biografiacada de apostasseu site. Nos últimos tempo, morava na Tijuca, com a filha e a companheira.

Mais tarde, completou o mestradocada de apostasadministração pública na Universidade Federal Fluminense (UFF), defendendo a dissertação com o título "UPP: a redução da favela a três letras".

"Ela sempre foi uma pessoa muito forte, entendendo seu papelcada de apostaslutar pela galera da favela, entendendo que a favela faz parte da cidade e que a gente precisava criar uma outra narrativa entre a favela e a cidade, e garantir os direitos dos moradores", diz a pedagoga Shyrlei Rosendo, coordenadora do setorcada de apostasmobilização do eixocada de apostassegurança publica da ONG Redes da Maré.

Shyrlei conhecia Marielle desde que ela era uma jovem universitária e trabalhava como secretária do pré-vestibular do Centrocada de apostasAções Solidárias da Maré (CEASM).

"Ela era uma pessoa muito forte. Uma figura que não levava recado para casa. Isso era muito marcante. Sempre muito firme nos seus objetivos, sabendo o que queria, mas também sabendo escutar as pessoas e dialogar."

Hoje, ela diz que a comunidade está triste e atordoada. Para além dos elogios à atuação da vereadora, Shyrlei ressalta o significado políticocada de apostassua morte "diante da conjunturacada de apostasretrocessocada de apostasdireitos que estamos vivendo".

"A cidade tem que se perguntar o que a morte da Marielle significa", afirma.

"Mexer com direitos humanos é uma agenda muito delicada. A Marielle sabia onde ela estava entrando. Mas não imaginava que iria morrer por isso. Ninguém imagina."

Do pré-vestibular comunitário, Marielle foi trabalhar na Comissãocada de apostasDireitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Riocada de apostasJaneiro (Alerj), coordenada pelo deputado federal Marcelo Freixo - que teve papel decisivo emcada de apostascarreira.

Na quarta-feira, Marcelo Freixo foi à cena do crime e se emocionou. "Ela era cria nossa", disse. "Eu conheci a Marielle muito jovem, trabalhou dez anos na minha equipe. Era uma figura extraordinária. Isso é inadmissível. É um absurdo", afirmou, considerando haver sinaiscada de apostasexecução no assassinato.

'Eu sou porque nós somos'

A notícia do assassinato levou à revolta e à comoção no Rio, com manifestações convocadas para esta quinta-feira no Centro, assim como para cidades como São Paulo, Belo Horizonte, Recife e Brasília. O lema é #MariellePresente.

"Guerreira", "companheira", "radiante", "corajosa", "cheiacada de apostasvida", "cheiacada de apostasgás", são alguns dos muitos atributos sendo destacadoscada de apostashomenagens e desabafos comovidos feitos nas redes sociais por amigos, políticos, artistas, jovenscada de apostasfavelas, periferias ecada de apostasmovimentos sociais que tiveram inspiração na trajetória da vereadora.

Tarcísio Motta lembra que Marielle repetia sempre um lema do ubuntu, uma filosofia humanista africana: "Eu sou porque nós somos".

Marielle questionava a faltacada de apostasrepresentação feminina na vida política. Ao discursar no plenário da Câmara dos Vereadores no mesmo dia, ressaltou a contradiçãocada de apostashaver ali apenas cercacada de apostas10%cada de apostasmulheres, enquanto o gênero "é a maioria nas ruas".

"Sendo a maioria, somos a força exigindo a dignidade e o respeito das identidades. Infelizmente, o que está colocado (no cenário político) nos vitima ainda mais."

Carro da vereadora Marielle Franco retirado do local do seu assassinato pela polícia

Crédito, AFP

Legenda da foto, Vereadora vinha se manifestando nas redes sociaiscada de apostasrelação a denúnciascada de apostasviolência policial no bairrocada de apostasAcari, no Rio

'Precursora'

A atuaçãocada de apostasMarielle na Câmara dos Vereadores foi marcada pela defesacada de apostasprojetos para compilar dados sobre violênciacada de apostasgênero no Rio e para proteger os direitos reprodutivos das mulheres. A vereadora era uma voz constantecada de apostasdefesa a moradorescada de apostasfavelas.

Na semana antescada de apostasmorrer, Marielle compartilhou denúnciascada de apostasque policiais do 41º Batalhão da Polícia Militar, no Irajá, teriam agido com truculência na comunidadecada de apostasAcari, "aterrorizando e violentando moradores".

Ela disse que "o que está acontecendo agoracada de apostasAcari" acontece desde sempre, e que "o 41° batalhão da PM é conhecido como batalhão da morte".

"CHEGAcada de apostasesculachar a população! CHEGAcada de apostasmatarem nossos jovens!", escreveu. "Acontece desde sempre e com a intervenção ficou ainda pior."

A denúncia havia sido compartilhada pelo Coletivo Papo Reto, do Complexo do Alemão. Integrante do coletivo, o ativista Raull Santiago diz que redescada de apostascomunicações das favelas têm sido um importante canal para dar visibilidade a denúnciascada de apostasviolaçõescada de apostasdireitos nas favelas.

"Marielle é uma guerreira, uma inspiração. É mulher negra, da favela, ativistacada de apostasdireitos humanos que chegou a poder público. Isso significa muito para muitas pessoas da minha geração. Para vermos onde podemos chegar e as mudanças que isso pode construir positivamente para nossa realidade."

Para Shyrlei Rosende, esse era outro traço marcantecada de apostasMarielle - e um legado fundamental que ela deixa.

"Ela é uma pessoacada de apostaspassagem. No sentidocada de apostasabrir caminhos ecada de apostasser uma inspiração para todo mundo -cada de apostasespecial para a juventude negra das favelas, que se sente mobilizada a ocupar os espaços que ela conseguiu ocupar."

Um dia antescada de apostasmorrer, Marielle protestou no Twitter contra a mortecada de apostasmais um jovem no Rio. "Mais um homicídiocada de apostasum jovem que pode estar entrando para a conta da PM. Matheus Melo estava saindo da igreja."

"Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?", questionou.