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Bacharelforte bet sign upDireito com paralisia cerebral vende água na praiaforte bet sign upbuscaforte bet sign upsonho: 'Me sentia humilhado; hoje, tenho orgulho':forte bet sign up
Nascidoforte bet sign upAnápolis, Goiás, Leo começou a cursar faculdade no Rioforte bet sign up2005. A mãe voltou a morar com ele recentemente e o ajuda a tomar conta da barraca na praia.
Ruth Valderez sabia que o filho poderia ter um desenvolvimento comprometido antes mesmo do nascimento. Quando estava grávidaforte bet sign upcinco meses, ela tomou um tiro na altura do coração que atravessou o pulmão. O autor do disparo foi o próprio marido, que tinha violentas crisesforte bet sign upciúme após beber.
Na época, Ruth tinha 24 anos. Estava casada há quatro e tinha outros dois filhos.
"Os médicos propuseram um aborto quando verificaram que eu estava grávida. Mas não aceitei, porque entendi que estava preparada para o filho que viesse. Ele tem saúde e tem as suas limitações. A gente foi convivendo e crescendo com isso. Ele foi superando as limitações e hoje é uma pessoa capazforte bet sign upviver sozinha e se sustentar."
O pai, que ficou preso por cercaforte bet sign upum ano, nunca procurou conhecer Leonardo. Ruth criou os três filhos sozinha, com a ajuda da família.
Rebeldia na infância e adolescência
Diagnosticado com paralisia cerebral leve, Leo teve sequelas na coordenação motora que provocam movimentos involuntários e dificuldade para andar e falar. Também teve perda auditiva severaforte bet sign upambos os ouvidos.
Ele estudouforte bet sign upuma escola para crianças com necessidades especiais até os médicos atestarem queforte bet sign upcapacidade mental não havia sido afetada. Leo se alfabetizou aos dez anosforte bet sign upGoiânia, para onde a família havia se mudadoforte bet sign upbuscaforte bet sign upum melhor tratamento para o caçula.
"A paralisia cerebral me trouxe, no começo, uma rebeldia, uma revolta. Quando eu via as crianças brincandoforte bet sign uppique-esconde, eu sempre era o 'carta branca'. Ou seja, eu não podia brincar. Eu era excluído", relembra.
"Quando cresci, comecei a perceber os olhares... Eu sofri muito bullying na escola. Sofri muita discriminação, muito preconceito. Na adolescência, eu queria namorar, mas não conseguia."
Leo terminou os ensinos fundamental e médio com muita dificuldade, pela faltaforte bet sign upagilidadeforte bet sign upcopiar a matéria e dificuldadeforte bet sign upouvir o que era ditoforte bet sign upsalaforte bet sign upaula. "Às vezes o professor não tinha muita paciência. Mas eu sempre chegavaforte bet sign upcasa e revia as matérias", diz.
"Eu era muito dedicado e queria aprender. Eu queria ser uma pessoa independente, livre. Então a minha vontade ajudou muito a minha caminhada."
Com orgulho, conta que fugiuforte bet sign upcasaforte bet sign up1991 para ir ao Rock in Rio. Foi a muitos outros shows com o irmão, que organiza festivaisforte bet sign upmúsica no Centro-Oeste.
Apaixonado por andar a cavalo, Leo decidiu prestar vestibular para Veterinária. Não passou e acabou optando porforte bet sign upsegunda opção na época: Turismo.
"Com o decorrer do curso, eu fui percebendo que era uma área que discriminava muito os deficientes, porque o Turismo trabalha muito com a aparência", explica.
"Eu me senti frustrado, me senti pra baixo. Mas aí eu reagi e mudeiforte bet sign upcurso. Eu me mudei para São Paulo e comecei a fazer Direito."
Carreira jurídica: frustração e sonho
Com a mãe recém-aposentada, os gastos com a faculdade particular se tornaram insustentáveis. Depoisforte bet sign upum ano estudandoforte bet sign upSão Paulo, Leo conseguiu uma bolsaforte bet sign up70% na UniverCidade (faculdade que deixouforte bet sign upexistirforte bet sign up2014), no Rio.
Com direito a passagem interestadual gratuita por ser deficiente, ele pegava a estrada três vezes por semana para assistir às aulas.
"Eu saíaforte bet sign upSão Paulo à meia noite e chegavaforte bet sign upmanhã no Rio. Ia para a aula, ficava atéforte bet sign upnoite na faculdade e voltava para São Paulo. Fiz isso durante um ano," explica.
"Eu comecei a ter um rendimento acadêmico baixo, muitas doresforte bet sign upcoluna por causa das poltronas dos ônibus. Como não tinha dinheiro para comer, eu trazia láforte bet sign upSão Paulo um pão com queijo que a minha mãe preparava e ficava só com um lanche o dia inteiro. Mas a dificuldade me ensinou muita coisa... Me ensinou que, mesmo as coisas sendo difíceis, a gente consegue. Então isso me motivou mais ainda a viver e a correr atrás."
Leo continuou nesse ritmo até se acidentar um dia ao descer as escadas da faculdade. Ele quebrou a tíbia, passou por uma cirurgia e precisou trancar o curso enquanto se recuperava na casa da avóforte bet sign upGoiás.
Foi neste período que decidiu se mudar para o Rioforte bet sign upJaneiro. Alugou um apartamento conjugado no mesmo prédioforte bet sign upque vive hoje e morou sozinho durante dez anos.
Após a formatura,forte bet sign up2011, Leo trabalhou por quatro anosforte bet sign upuma empresaforte bet sign uptelecomunicações, onde fazia protocolosforte bet sign uppedidos judiciaisforte bet sign upquebraforte bet sign upsigilo telefônico. Foi dispensadoforte bet sign upuma demissãoforte bet sign upmassa - está há maisforte bet sign updois anos sem emprego.
"Existe uma discriminação velada. Existem leis que obrigam empresas a contratarem pessoas com deficiência, só que elas contratam, mas não procuram conhecer a capacidade desse indivíduo. Colocam ele ali e pronto, cumpriram a lei. Ainda se tem que discutir muito essa questão do respeito ao indivíduo que tem limitação, mas que tem capacidade para desenvolver uma sérieforte bet sign upatividades", diz Ruth.
Vitória contra a depressão
Frustrado por não conseguir continuar os estudos e atuar na áreaforte bet sign upque se formou, Leo teve depressão. Ao vê-lo isolado e triste,forte bet sign upirmã sugeriu que reagisse e fosse vender balas nas ruas para ter alguma renda.
"Fiquei pensando: 'Ai, mas que vergonha... Um bacharelforte bet sign upDireito sair por aí vendendo balinha? Que decadência'. E comecei a sofrer mais ainda com isso. Porque quando você se forma, você quer status. Você quer melhorar. E quando você vê que toda aquela batalha que você fez... Nadou, nadou para não chegar a lugar nenhum. Isso me deixava triste," explica ele.
Até que um dia decidiu ir para as ruas. Usou os R$ 40 que a mãe havia dado como presenteforte bet sign upNatal para comprar uma caixaforte bet sign upisopor onde cabiam dez garrafas d'água. Começou a venderforte bet sign upum cruzamento enquanto o sinal estava fechado, mas passou a sentir muitas dores nos pés por ter que andar rápido entre os carros.
Precisou, então, juntar dinheiro para comprar uma barraca para trabalhar no calçadão. Com a ajuda da sobrinha, que na época tinha 13 anos, estampouforte bet sign upcamisetas, chapéus e caixas térmicas: "Água do Leo - GELAAADA".
"Ele procura ser mais que um vendedorforte bet sign upágua. Ele não é só um ambulante, é um microempresário. Ele pensa no cliente, escolhe o melhor produto, pensa na higiene, personaliza esse atendimento e procura servir o cliente da melhor forma possível", diz a mãe.
Leo rapidamente ganhou a simpatiaforte bet sign upoutros trabalhadores da orla, como o gari e rapper João José Luiz Júnior, conhecido como Jota Jr, que o filmou para um vídeo que se tornou viral.
Ele conta com a parceriaforte bet sign upguardas municipais para manter seu pontoforte bet sign upvenda na orla, enquanto tenta se regularizar. Mas não desiste do sonhoforte bet sign upter uma carreira jurídica.
Alémforte bet sign upjuntar dinheiro para se preparar para o exame da OAB, Leo ajuda a mãe a pagar dívidas e espera poder comprar um novo parforte bet sign upóculos.
Muito arranhados, os que usa atualmente causam fortes doresforte bet sign upcabeça. O aparelho auditivo que tem - e que conseguiu apenas para um dos ouvidos - também está defasado.
"No inicio, eu me sentia humilhado. Hoje não, hoje eu tenho orgulho. Por mais humilde que seja a minha barraquinha, pelo menos estou conseguindo atingir meu ideal, que era trabalhar e ocupar o meu tempo. Eu me sinto realizado, mas não completamente, porque a gente nunca se satisfaz. A gente sempre quer mais e mais."
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