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Exclusivo: Por dentrostake bonus 200uma 'clínica secreta'stake bonus 200aborto no WhatsApp:stake bonus 200
"Acho que eu nunca senti tanta dor na minha vida!", relata a jovem, chorando,stake bonus 200áudio enviado ao grupo. Outras mulheres que também interromperam a gravidez com medicamentos tentam tranquilizá-la. "Amiga, calma. Eu senti essa dor ontem. Tem alguém com você?"
"Não tem ninguém comigo. Tem só o meu irmão. Só que ele é pequeno, ele é criança. Não sei mais o que eu faço!", responde Ana. Várias mulheres começam a se manifestar, tentando ajudá-la. "Esquenta uma bolsastake bonus 200água quente e coloca na barriga. Logo vai passar a dor."
Elas passam toda a madrugada trocando mensagens. O desesperostake bonus 200Ana, que dá detalhes das cólicas e do sangramento, continua. Às 7h, a jovem chega a cogitar chamar uma ambulância. "A dor está tão forte quanto antes. Será que eu já posso chamar uma ambulância? É muita dor, dor, dor!"
Fazer isso seria se autoincriminar por práticastake bonus 200aborto. E abrir caminho para que as mulheres que venderam o medicamento fossem denunciadas também. No Brasil, aborto é crime. Só é permitido interromper a gravidezstake bonus 200casostake bonus 200estupro, risco para a vida da mãe e feto com anencefalia.
"Espera, essa dor vai passar", diz uma das integrantes do grupo.
A voz adolescente chama a atenção das outras mulheres. "Quantos anos você tem?", pergunta uma delas. "Tenho 16", responde a garota. Ela conta que a família não sabe da gravidez. "Minha mãe deve chegar daqui a pouco. A casa está imprestável, principalmente os lençóis. Vou ter que contar para ela."
Doze horas depoisstake bonus 200começar a abortar, a jovem diz que a mãe chegoustake bonus 200casa. "Contei para ela. Ela falou que vai me levar ao médico. Vou apagar essas conversas." Logo depois, a menina deixa o grupostake bonus 200WhatsApp.
A BBC Brasil teve acesso às conversas do grupo por cinco meses para uma reportagemstake bonus 200português estake bonus 200inglês. Uma das administradoras vende os remédios, que são encaminhados pelo correio. As outras se comportam como "guias" do aborto, responsáveis por acompanhar e "instruir" virtualmente – por mensagens, vídeos e áudios – as mulheres durante o procedimento. Elas não têm formação médica. Apostam na experiência e na dicastake bonus 200enfermeiros e médicos que conhecem.
As pílulas, as mesmas usadas como um dos métodosstake bonus 200aborto legal nos hospitais, custam entre R$ 900 e R$ 1,5 mil, dependendo da dose para cada estágio da gravidez. Funcionam induzindo contrações do útero para que o feto seja expelido.
Uma "guia" é designada a cada grávida, e elas trocam mensagens diretamente durante o procedimento. As administradoras do grupo orientam que todas procurem um hospital após o aborto para verificar se é preciso fazer curetagem (limpeza do útero) e dão instruções sobre o que elas devem dizer para convencer os profissionaisstake bonus 200saúdestake bonus 200que perderam naturalmente o bebê e, assim, evitar serem denunciadas à polícia.
No grupostake bonus 200WhatsApp, as grávidas recém-chegadas compartilham medos e tiram dúvidas com outras mulheres que já abortaram. Também são comuns conversas sobre o papel do homem na gestação e criação dos filhos e as leis restritivas ao aborto no Brasil.
Entre os casos que chamaram atenção da reportagem da BBC está ostake bonus 200uma meninastake bonus 200apenas 13 anos grávida do primo e ostake bonus 200uma jovem que diz ter sido vítimastake bonus 200um estupro e que optou pelo aborto clandestino por temer ser humilhada e forçada a dar detalhes da violência que sofreu.
"Eu tô com muito medo (de o aborto não dar certo), muito mesmo, até porque a minha gravidez veiostake bonus 200um estupro, então eu não posso ter esse bebê. Eu tenho medo e vergonha", relata ela, que é confortadastake bonus 200seguida pelas outras mulheres.
"Meu anjo, se você foi estuprada você está protegida pela lei. Se você for ao hospital e contar o que aconteceu, eles farão o procedimento legal estake bonus 200graça", aconselha uma das mulheres. "Mas eu tenho muito medo. Medo e vergonha", responde a jovem.
Os nomes das mulheres que participam do grupo foram trocados nesta reportagem. Várias podem ser menoresstake bonus 200idade e algumas foram vítimasstake bonus 200violência ou estãostake bonus 200situaçãostake bonus 200vulnerabilidade.
A médica Alessandra Giovanini, coordenadora do núcleostake bonus 200Aborto Legal do Hospital Pérola Byington,stake bonus 200São Paulo, alerta para os riscosstake bonus 200se fazer aborto sem acompanhamento médico.
"Acho que elas (administradoras do grupostake bonus 200WhatsApp) têm até a intençãostake bonus 200ajudar. Mas essas pacientes correm o riscostake bonus 200ter uma hemorragia muito grande, correm o riscostake bonus 200ficar com restos ovulares e ter uma infecção que pode até levar à morte."
Abortivos pelo correio
Para verificar a veracidade das promessasstake bonus 200venda do abortivo, a repórter da BBC News Brasil pagou R$ 930 via depósito bancário (R$ 900 pelo medicamento e R$ 30 do frete) após ser aceita no grupo identificando-se como uma jovem grávidastake bonus 200quatro semanas.
Dois dias úteis depois, o remédio chegou ao endereço indicado à vendedora. Seis pílulas vieram dentrostake bonus 200uma caixastake bonus 200CD, envoltasstake bonus 200uma pequena embalagemstake bonus 200papel.
O volumestake bonus 200adesões estake bonus 200abortos feitos por meio desse grupostake bonus 200WhatsApp impressiona. Cercastake bonus 20020 grávidas entram nele a cada mês, pelas contas feitas pela BBC Brasil. Segundo uma das duas administradoras do grupo, cercastake bonus 200300 abortos foram realizadosstake bonus 200três anos.
Muitas mulheres saem do grupo depoisstake bonus 200interromper a gestação. A maioria relata sentir náuseas, fraquezas e dores durante o procedimento, mas destaca o apoio e a atenção recebida das mulheres que administram o grupo. Abortos são realizados diariamente sob a orientação das "guias". Só no dia 28stake bonus 200dezembro, pelo menos três gestantes abortaram, conforme as trocasstake bonus 200mensagens observadas pela reportagem.
Para entrar no grupo secretostake bonus 200WhatsApp, é preciso ser convidada por uma das administradoras. As novatas são recepcionadas por esta mensagem:
"Olá, seja bem-vinda! Esse é um grupo feminista destinado à vendastake bonus 200medicamentos. Nosso grupo é um espaçostake bonus 200acolhimento e auxílio, então, por motivosstake bonus 200segurança, pedimos que apaguem o histórico do grupo no mínimo uma vez por semana, podendo haver verificaçãostake bonus 200cumprimento dessa solicitação."
E todas as participantes precisam seguir regras, como não "fazer julgamentostake bonus 200cunho machista" e não compartilhar as conversas com pessoasstake bonus 200fora do grupo.
Elas recebem um PDF com instruções detalhadas sobre o procedimento, os contatos para a compra do medicamento e até o telefonestake bonus 200uma clínica clandestina na Grande São Paulo, caso prefiram fazer o aborto com um médico. Também é enviado um tutorialstake bonus 200vídeo.
O procedimento na clínica, conforme repassado pelas administradoras no grupo, custastake bonus 200R$ 4,5 mil a R$ 7,5 mil, a depender do estágio da gravidez. Só a primeira consulta custa R$ 400, segundo uma gestante que procurou o serviço.
É uma possibilidade distante para a maior parte das mulheres que optam pela clínica virtual. Em várias ocasiões, mulheres relataram dificuldade até mesmostake bonus 200juntar dinheiro para comprar o medicamentostake bonus 200R$ 900.
"Estou anunciando várias coisas pessoais para vender e fazendo doces, mas parece impossível levantar tanta grana sem que me faça falta dentrostake bonus 200casa", comentou Carolina*. "Me encontrostake bonus 200uma situação financeira terrível e sozinha com dois filhos, umastake bonus 200apenas dez meses."
As mulheres que vendem o remédio justificam o custo alto dizendo que correm riscos ao comercializar o produto. O medicamento vendido por elas é proibidostake bonus 200ser comercializado no Brasil desde 2005, justamente por causa do efeito abortivo. O uso é restrito a hospitais.
"Nosso estoque está limitado e não podemos dar desconto. Salvo casos raríssimos. Não existe isso, gente. Isso é um produto ilegal e MUITO difícilstake bonus 200conseguir. O que mais tem por aí é falsificação. Respeitem o nosso trabalho. A gente cumpre com a nossa parte direitinho e sempre", disse uma das coordenadoras do grupo.
A legislação brasileira prevê penastake bonus 200um a quatro anosstake bonus 200prisão para quem provoca aborto com o consentimento da gestante.
Segundo o advogado criminalista Conrado Almeida Gontijo, as jovens que administram o grupo também correm o riscostake bonus 200serem denunciadas pelo comérciostake bonus 200um remédio que não tem autorização da Anvisa (Agência Nacionalstake bonus 200Vigilância Sanitária) para ser vendido – a pena para esse crime variastake bonus 20010 a 15 anosstake bonus 200prisão.
Origem do grupo
A BBC Brasil entrevistou a coordenadora do grupostake bonus 200WhatsApp. A jovem contou que decidiu abrir a "clínica virtualstake bonus 200aborto" depoisstake bonus 200engravidar aos 19 anosstake bonus 200decorrênciastake bonus 200um estupro.
"Eu não consegui interromper a gravidez legalmente porque o pai era uma pessoa influente. Eu amo meu filho. Mas a maternidade não era algo que eu escolhi para mim. Eu sentia que tinha a vida inteira pela frente e roubaram issostake bonus 200mim", afirmou.
"Eu decidi criar o grupo porque eu não acho justo que as mulheres sejam obrigadas a ter um filho se elas não quiserem."
Questionada sobre ter medostake bonus 200ser presa, ela responde que sim. "Não vou dizer que não penseistake bonus 200parar. Às vezes, ainda penso. Mas quando vejo que uma mulher tem as oportunidades que eu não tive, me sinto melhor. Gostostake bonus 200ver as mulheres seguindostake bonus 200frente."
Segundo a jovem, os remédios são vendidos com uma pequena margemstake bonus 200lucro, e a receita é compartilhada com aquelas que atuam como "guias" das grávidas durante o procedimento. Uma outra parte do dinheiro, segundo ela, vai para a doação das pílulas abortivas a mulheres que não podem pagar pelo remédio.
Durante os cinco mesesstake bonus 200que a BBC News Brasil acompanhou as conversas do grupo, as administradoras não pressionaram para que as gestantes abortassem. Uma delas chegou a enviar a foto do bebêstake bonus 200uma mulher que desistiustake bonus 200interromper a gravidez.
"Bárbara* faz parte do grupo e decidiu ter. Esse é o bebê dela. Ela desistiu do procedimento", escreveu a jovem que criou o grupo.
"Que lindeza!", reagiu outra integrante. "Não é? Que fique claro que a gente apoia qualquer decisão. A que ela escolheu só é mais aceita pela sociedade. A alternativa a gente oferece, e fico felizstake bonus 200vê-las felizes, independentestake bonus 200como decidam seguir a vida", concluiu a coordenadora.
O perfilstake bonus 200quem procura o 'aborto por WhatsApp'
A grande maioria das mulheres que integram o grupo, incluindo as coordenadoras, é jovem – têm entre 18 e 25 anos.
Muitas moram com os pais e estudam – estão nos primeiros semestres da faculdade – e dizem nas conversasstake bonus 200WhatsApp que optaram pelo aborto porque não querem deixar os estudos e não têm independência financeira.
"Gente, eu tenho uma última pergunta. Eu procurei a médica pelo meu planostake bonus 200saúde, mas meus pais não sabemstake bonus 200nada que aconteceu. Vocês sabem se esses procedimentos da transvaginal e do examestake bonus 200sangue costumam aparecer na folhastake bonus 200pagamento do plano?", perguntou uma jovem do Riostake bonus 200Janeiro, preocupada com a possibilidadestake bonus 200os pais descobrirem o aborto.
Outra jovem,stake bonus 20018 anos, contou que ela própria nasceustake bonus 200uma gravidez indesejada e não tem uma boa relação com os pais. "Eu fui feitastake bonus 200um 'acidente'. Tenho 18 anos, e há dois anos estou sem contato com os meus pais. Virei um fardo para os meus avós."
"Eu tenho 23 anos e, se não fosse minha mãe, estava ferrada. Ela não vive até hoje por minha causa e do meu irmão", compartilhou outra mulher.
No dia 8stake bonus 200março, Lidiana*,stake bonus 200Goiás, entrou no grupo com a intençãostake bonus 200comprar o abortivo para a irmãstake bonus 20013 anos, que havia engravidado do primostake bonus 200primeiro grau. "Ela quer tirar e eu também aconselho, mas tenho medostake bonus 200o procedimento ser muito intenso para ela por causa da idade", contou.
"Por diversos motivos a gravidez não é desejada. Ela é muito nova, a criança é frutostake bonus 200um relacionamento com o primostake bonus 200primeiro grau, entre outros." Até a publicação desta reportagem, Lidiana ainda não havia decidido se compraria o remédio.
Outras mulheres que integram o grupo já têm filhos, e comentam entre si sobre o impacto das dificuldades da maternidade na decisãostake bonus 200interromper a segunda ou terceira gestação.
"Mando meu filho para a escola doente, porque não posso ficar com ele. Ele fica dez horas na escola todo dia. Confesso que me corta o coração", confidenciou uma mulherstake bonus 200Minas Gerais.
"Eu passo uns bocados com meu filho. Se eu tivesse tido mais coragem na época eu teria tirado, mas eu era muito ingênua, achava que era mais simples."
'Eu vou morrer?'
A primeira preocupação das mulheres que entram no grupo é saber se o remédio funciona e se "não vão morrer"stake bonus 200tanto sangrar.
Segundo a Pesquisa Nacional do Aborto,stake bonus 200pesquisadores da Universidadestake bonus 200Brasília (UnB), 500 mil interrupçõesstake bonus 200gravidez são feitas anualmentestake bonus 200forma clandestina no Brasil. Cercastake bonus 200metade terminastake bonus 200internações. Dados do Ministério da Saúde apontam que pelo menos quatro mulheres morrem por dia por causastake bonus 200complicações decorrentesstake bonus 200abortos.
"Será que preciso pegar folga no dia que eu for fazer? Sangra, tipo, muito? Aiiiii quantas perguntas", escreveu Lara*, no dia 12stake bonus 200dezembro, 15 dias antesstake bonus 200tomar os remédios. "Tenho muitas dúvidas ainda. Queria saber das meninas que fizeram. Tô ansiosa."
"Tem chancesstake bonus 200eu morrer?", perguntou outra gestante.
Várias mulheres passam a compartilhar suas experiências e tirar dúvidas, como Mariana*,stake bonus 200São Paulo, que havia abortado 11 dias antes.
"Quando eu fiz, demorou bastante pra sangrar. Fiquei morrendostake bonus 200medo, comecei a fazer o procedimento à 1h30 da madruga. Às 10h da manhã, senti cólicas absurdasstake bonus 200fortes, o líquido amniótico desceu, estake bonus 200poucos minutos o feto saiu inteiro na privada."
Ela contou que foi ao hospital fazer curetagem.
"Sangrei horrores, e saiu bastante pedaço. Continuei sangrando e com cólicas, e dois dias depois saiu um pedaço grande da placenta. Porém, continuava com muitas cólicas insuportáveis. Em uma semana fui ao hospital, fiz exames e deu abortamento incompleto (quando sobram restos do feto ou placenta). Fiz a curetagem, que teve seus péssimos momentos, mas graças a Deus me livreistake bonus 200tudo."
Bárbara*,stake bonus 200Pernambuco, contou que quase desmaiou durante o procedimento. "Tem uns momentos que dá muita fraqueza. Eu não tive diarreia, mas vomitei bastante. E fiquei fraca, quase desmaiando e com calafrios. Mas foram umas três horas sofrendo e, depois, alívio."
A BBC Brasil entrevistou uma jovemstake bonus 20028 anos que interrompeu a gravidez com auxílio do grupo.
"Eu fiz o uso dos comprimidos e, depoisstake bonus 200algum tempo, quando começaram os efeitosstake bonus 200dor,stake bonus 200cólica, eu me mantive calma, e conversei com algumas meninas. As meninas se ajudam e se apoiam ao nívelstake bonus 200não dormirem se alguém faz o procedimento na madrugada", relatou.
"O aborto não tem que ser utilizado como contraceptivo, não deve ser usadostake bonus 200forma banal. Mas, como mulher, eu tenho direito à autonomia do meu corpo."
Os riscos
A BBC Brasil consultou a ginecologista Renata Peixoto, que realiza procedimentos legaisstake bonus 200interrupçãostake bonus 200gravidezstake bonus 200um hospital públicostake bonus 200Brasília e atende lá mulheres que tiveram complicações por abortos clandestinos.
Ela disse que as doses recomendadas pelas administradoras do grupostake bonus 200WhatsApp são altas. O objetivo seria garantir eficácia, já que essas mulheres têm a possibilidadestake bonus 200fazer o procedimentostake bonus 200hospitais.
A BBC Brasil questionou as administradoras do grupo sobre as doses prescritas. As jovens disseram que a dosagem foi recomendada por médicos que conhecem. Elas afirmam que nenhuma grávida que integrou o grupo morreu, mas reconhecem que há riscos.
"Não é 100% seguro. Mas se eu não acompanhar essas mulheres, elas vão acabar fazendostake bonus 200outra forma, talvez mais insegura. Não quero deixá-las sozinhas", disse uma das administradoras.
Quando uma grávida faz aborto supervisionado na rede pública, ela toma um comprimidostake bonus 200cada vez e é observada para verificar se o procedimento foi concluído e se o sangramento está dentro do esperado. O objetivo é justamente evitar que tomem o medicamentostake bonus 200dose maior que o necessário. Em alguns casos, a interrupção da gravidez é feita por sucção, mediante anestesia, por ser um procedimento rápido e sem dor.
Nos Estados Unidos, no entanto, o aborto com medicamento é, muitas vezes, realizado legalmentestake bonus 200casa, por orientação médica. As gestantes podem entrarstake bonus 200contato com a clínica durante o procedimento e são orientadas a retornarstake bonus 200casostake bonus 200hemorragia.
A médica Renata Peixoto diz que atende todos os dias mulheres com "abortamento incompleto" e que, pelo menos três vezes por semana, recebe pacientes que tiveram claramente complicações decorrentesstake bonus 200procedimentos clandestinos.
Segundo a especialista, os riscosstake bonus 200fazer o procedimento sem supervisão médica vãostake bonus 200hemorragia – que pode levar à necessidadestake bonus 200transfusão ou morte, se a mulher não procurar ajuda – à ruptura e infecção do útero, especialmente se realizado por mulheres submetidas anteriormente a cesárea ou que estejamstake bonus 200gestação avançada, ou seja,stake bonus 200maisstake bonus 20011 semanas.
"Atendi uma vez uma meninastake bonus 20019 anos que estava com infecção tão avançada no útero que tivemos que retirar o útero dela, porque o tratamento com antibiótico não daria conta. Infelizmente, é uma menina nova que não poderá mais ter filhos", disse.
"O que a gente vê é que a proibição do aborto não impede que ele aconteça. As mulheres que realmente não querem ter acabam abortandostake bonus 200qualquer jeito, mas correm riscos."
As administradoras do grupostake bonus 200WhatsApp recomendam às mulheres irem ao hospitalstake bonus 200dois dias a uma semana depoisstake bonus 200tomarem os abortivos. O objetivo é verificar se há resquícios do feto e evitar infecções.
Paula* não seguiu as orientações, o útero dela infeccionou e ela precisou ser internada. "Eu saí do hospital (agora). Era pra começar a tomar antibióticos hoje, mas só consigo amanhã", disse ela às demais integrantes do grupo no dia 15stake bonus 200dezembro.
"Não vou morrer, né?", perguntou. Uma das administradoras tentou acalmá-la. "Vai não. Pode ficar tranquila. Mas, por favor, tome direitinho (os antibióticos) a partirstake bonus 200amanhã."
No dia seguinte, Paula voltou a dar notícias. "Eu enrolei para ir ao hospital achando que a dor ia parar, e ainda tinha restostake bonus 200material que infeccionou meu útero. Agora estou tomando antibióticos. Se você sentir dor demais, é muito importante ir ao hospital", aconselhou às outras gestantes.
Proibição legal
Além dos riscos à saúde, as mulheres que abortam clandestinamente vivem o medostake bonus 200serem denunciadas ao procurarem atendimento no hospitalstake bonus 200casostake bonus 200complicação ou para fazer curetagem (retirar eventuais resquícios do feto do útero).
O Código Penal brasileiro prevê penastake bonus 200prisãostake bonus 200um a três anos a mulheres que fizerem um aborto.
A BBC Brasil entrevistou uma jovemstake bonus 200São Paulo que foi denunciada por interromper a gravidez justamente pela médicastake bonus 200plantão que a atendeu. Ela tomou pílulas sozinhastake bonus 200casa e se desesperou com as dores. Acabou indo a um hospital público, e a médica chamou a polícia.
A mulher,stake bonus 20024 anos, contou que os policiais foram até o hospital e a interrogaram enquanto ainda sangrava stake bonus 200 .
"Assim que acabeistake bonus 200abortar o feto, eu tive uma convulsão. Eles entraram na sala falando que era para eu confessar, senão eu ficaria algemada, que eu iria para um presídio. Foi autuado crimestake bonus 200flagrante", disse. Ela teve que pagar fiança para ser liberada e hoje enfrenta um processo penal.
No grupostake bonus 200WhatsApp a que a BBC Brasil teve acesso, várias conversas giramstake bonus 200torno do medostake bonus 200ser denunciada ao procurar atendimento.
"Oi, meninas. O que vocês falaram no hospital? Tenho muito medo da curetagem. Foramstake bonus 200hospital normal, emergência?", perguntou uma das mulheres.
"Eu fui ao hospital normal. Disse que tinha acordado com sangramento e cólicas. E que estava grávidastake bonus 200seis semanas", relatou outra jovem,stake bonus 200Campinas (SP).
Um dos receios delas é que o remédio abortivo seja detectado. "Eu tô sem unha para roerstake bonus 200tão ansiosa para poder dormir sem ter pesadelo com isso. Li que se o sangramento encher quatro absorventes noturnosstake bonus 200menosstake bonus 200duas horas, é para procurar o hospital", comentou uma estudantestake bonus 200veterináriastake bonus 20023 anos que havia acabadostake bonus 200receber os remédios abortivos.
As administradoras do grupo dão uma sériestake bonus 200orientações às gestantes para evitar que sejam descobertas ao procurar ajuda. Elas dão dicasstake bonus 200como fingir um aborto espontâneo e evitar suspeitas. "Atue", resumem elas.
Problemas com métodos contraceptivos
A professora Diana Greene, da Universidade da Califórnia, que faz pesquisa demográfica sobre abortostake bonus 200todo o mundo, disse que a maior causastake bonus 200gravidez indesejada é a dificuldade das mulheresstake bonus 200encontrar métodos contraceptivos adequados para o organismo delas.
"É importante lembrar que ninguém engravida sozinha. Os homens fazem parte deste processo. E o grande problema é que muitas mulheres não encontram métodos contraceptivos adequados às necessidades delas", disse à BBC Brasil.
"Algumas sofrem com efeitos colaterais dos métodos com hormônio, os homens não aceitam usar camisinha ou o governo dificulta o fornecimento gratuitostake bonus 200outros métodos", exemplifica.
Esse é um dos principais assuntos discutidos pelas mulheres que integram o grupostake bonus 200WhatsApp. Muitas dizem que pararamstake bonus 200tomar anticoncepcional porque tinham efeitos colaterais. Outras relatam que enfrentaram burocracias ao pedir, na rede pública ou ao planostake bonus 200saúde, para implantar o DIU (Dispositivo Intra-Uterino).
"E o DIU que meu plano não deixa, porque eu não tenho filho? Só depoisstake bonus 200ter o primeiro! Absurdo. E meu direitostake bonus 200não querer ser mãe? Não sou materna", se queixou uma mulherstake bonus 200São Paulo na vésperastake bonus 200Natal.
"Eu queria muito algo sem ser hormônio. Expliquei ao médico que não queria, porque fumo e que vou passar por um procedimento cirúrgico para emagrecer. Mas ele não passou nada. Só anticoncepcional", comentou uma jovemstake bonus 200Minas Gerais.
Outra mulher, do Riostake bonus 200Janeiro, disse que o médico dela recomendou não fazer sexo como método contraceptivo. "Meu médico disse que se não quero engravidar é só eu não dar. Só porque não tenho parceiro fixo há três anos."
Também há discussões sobre a resistência dos homensstake bonus 200usar camisinha. "Sempre arrumam um jeitostake bonus 200culpar a mulher. E depois querem que ela se lasque parindo uma criança que não quer", reclamou uma participante.
Elas também questionam o fatostake bonus 200não haver anticoncepcionais masculinos no mercado. "Está muito confortável para eles. Desistem das pesquisas, porque o anticoncepcional masculino causaria os mesmos efeitos que os femininos. Mas os homens são muito egoístas para assumir essa responsabilidade."
Outro tema recorrente é a criminalização do aborto no país.
"Meninas, deixa eu falar uma coisa para as moças que ainda não fizeram por medostake bonus 200algo. Eu curso engenharia, e na minha faculdade só tem filhastake bonus 200rico. Aborto entre elas é normal. Elas debatem numa boa, e a maioria já fez, só que fora do país", comentou uma jovem do Riostake bonus 200Janeiro. "Aborto só é pecado para pobre", criticou.
Outra mulher, do Espírito Santo, disse que foi "obrigada" a ter o filho e que tentou se matar durante a gestação. "Eu tive um filho obrigada... O pai furou o preservativo. Botaram um cãostake bonus 200guarda atrásstake bonus 200mim 24h para eu não abortar. Me senti um lixo. Tentei me matar duas vezes", relatou. "Até hoje não me sinto feliz com meu filho... É um trauma olhar pra ele e lembrar daquele inferno. Amo ele, mas o trauma não some."
"Engravidei com 18 anos e, como eu era superingênua e não tinha contato com dinheiro, não pude abortar. Minha mãe até fez uns remédios caseiros para ver se funcionava, mas claro que não funcionou. Hoje tenho 26 anos, faço faculdade e trabalho, mal consigo ter tempo para meu filho exatamente para tentar garantir um futuro para ele. E poucas pessoas entendem isso", compartilhou outra jovem do Espírito Santo.
O aborto é permitido na maior parte dos países desenvolvidos, como Estados Unidos, Canadá e os integrantes da União Europeia. Na América Latina, Cuba e Uruguai permitem a prática. Na Colômbia, o aborto passou a ser permitido para resguardar a saúde mental da mulher o que, na prática, contempla a gravidez indesejada.
Apesarstake bonus 200o Brasil ter uma das legislações mais restritivas do mundostake bonus 200relação ao aborto, segundo a OMS, uma proposta, no Congresso Nacional, pode tornar a lei ainda mais rígida.
Uma comissão da Câmara aprovou no ano passado uma emenda à Constituição que estabelece a proteção da vida desde a concepção. Na prática, a proposta pode criminalizar até abortosstake bonus 200casostake bonus 200estupro e feto com anencefalia. O texto seguestake bonus 200tramitação.
Por outro lado, o Supremo vai decidir se o aborto até o terceiro mês deve deixarstake bonus 200ser crime.
Os debates nas duas casas já começaram e podem determinar o futurostake bonus 200um tema polêmico que envolve a saúdestake bonus 200milharesstake bonus 200mulheres.
"Fazer um aborto não é uma decisão fácil. Ninguém quer passar por isso. Quando eu fiz, eu tinha 17 anos. Eu fiz o aborto sozinha num quartostake bonus 200hotel. O pior sentimento é ostake bonus 200abandono", descreveu uma jovemstake bonus 20024 anos no grupostake bonus 200WhatsApp.
*Os nomes foram trocados para proteger a identidade das mulheres.
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