'Solução não é aumentar a violência contra a violência', diz arcebispo do Rio sobre crise na segurança:bet bwin

O cardeal dom Orani Tempesta
Legenda da foto, Dom Orani diz que violência no Rio deve fazer com que 'toda a sociedade se repense' | Foto: Gustavobet bwinOliveira/ArqRio

"O aumento da criminalidade e violência é muito sério e deve fazer com que toda a sociedade se repense", afirma. "A solução não estábet bwinaumentar a violência contra a violência."

O arcebispo fala com cautela sobre a intervenção federal na gestão da segurança pública no Estado do Rio. "Não sou técnico para saber o que é melhor e o que não é", afirma. "Esperamos que traga resultados. Vamos rezar para que isso aconteça", diz.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

bet bwin BBC Brasil - Como o senhor vê a intervenção federal sobre a segurança do Rio? Acha que pode ajudar a resolver a situação?

bet bwin Dom Orani - Eu não sou técnico para saber o que é melhor e o que não é. Temos que aguardar os resultados para verificar se foi bom ou não.

Estamos vendo uma guerra no Brasil e no Rio com relação à segurança, com a quantidadebet bwinarmas que estão por aqui e acolá e a quantidadebet bwinsoldados (policiais militares) mortos a cada ano. São situações que exigem que alguma coisa seja feita para ajudar a melhorar. Mas acho que só depoisbet bwinum tempo poderemos ver os resultados.

Policiais do Rio são homenageados no Diabet bwinFinadosbet bwin2017
Legenda da foto, Policiais do Rio mortos são homenageados; para Dom Orani, solução para segurança 'não estábet bwinaumentar a violência contra a violência' | Foto: Fernando Frazão/Ag. Brasil

bet bwin BBC Brasil - Sim, mas o Rio já está esperando há bastante tempo. Já houve a convocação das Forças Armadas no ano passado e a situação continuou a se deteriorar.

bet bwin Dom Orani - O Exército já esteve presentebet bwinações como a ocupação da Maré e ultimamente da Rocinha (em operações sob decretosbet bwinGarantiabet bwinLei e da Ordem). Foram momentosbet bwinque a aqueles espaços passaram a ter uma certa presença das Forças Armadas, mas agora é diferente. É algo que nunca vimos antes.

Não vai ser um momentobet bwinvir e invadir, e sim uma intervenção na organização das próprias Polícias Civil e Militar. Esperamos que traga resultados. Vamos rezar para que isso aconteça.

bet bwin BBC Brasil - Na carta pastoral que o senhor lançou para a campanha (da CNBB), o senhor diz que o Rio está "estarrecido" com tanta violência. Que impacto o senhor acha que a situação atual tem tido sobre a população?

bet bwin Dom Orani - Infelizmente a situação chegou a um absurdo tal que as pessoas estão com medobet bwinsairbet bwincasa, preocupadas com a horabet bwinvoltar, com a violência que podem enfrentar no dia a dia.

O aumento da criminalidade e violência deve fazer com que toda a sociedade se repense. Não é esse país, não é esse Estado, não é essa cidade que nós desejamos ou sonhamosbet bwinter. Desejamos uma tranquilidadebet bwinpoder ir e vir a qualquer hora do dia, poder sair com segurança, poder ter empregos e educaçãobet bwinqualidade para todos. Esse desejo é compartilhado por todos.

A solução, alémbet bwinconfiar nas autoridades e pedir que façam abet bwinparte, não estábet bwinaumentar a violência contra a violência. Desejamos que as autoridades cumpram abet bwinmissão e que cada cidadão ajude fazendo abet bwinparte.

bet bwin BBC Brasil - Mas as autoridades estão fazendo abet bwinparte?

bet bwin Dom Orani - Se estivessem, não estaria assim né? (risos). Desejamos que façam. Digamos assim, vamos pôr fogo, vamos suscitar para que façam abet bwinparte. Senão não conseguimos caminhar. Os governantes precisam ser responsáveis por aquilo que assumiram. Cuidar do bem do povo, pensar no bem da sociedade para conduzir suas ações.

A igreja quer fazer abet bwinparte. Temos poucos recursos, mas temos trabalhos sociais, educacionais, e ao mesmo tempo buscamos levar as pessoas à reflexão.

Dom Orani Tempesta faz visitabet bwinmeio a membros da Igreja e moradores
Legenda da foto, 'Para além da questão da violência física', aponta cardeal, 'existe um clima hojebet bwindia no qual as pessoas se tornaram violentas com tudo' | Foto: Gustavobet bwinOliveira/ArqRio

bet bwin BBC Brasil - O senhor passou por alguns episódiosbet bwinviolência e também sofreu na pele os efeitos dessa insegurança.

bet bwin Dom Orani - Sim, várias vezes. Eu passei por dois assaltos.

Um foi na região do Quintino (na zona norte do Rio). O carro foi parado por homens armados e o pessoal nos tirou do carro. Fiquei com arma na cabeça enquanto me revistavam e levaram tudo que eu tinha. Na segunda vez, eu estava voltando do Sumaré (onde fica a Residência Assunção, onde mora) para a Arquidiocese (na Glória, zona sul do Rio). Em Santa Teresa, o carro foi levado com motorista e tudo. Fiquei preocupado, mas acabaram soltando o motorista depois no meio do caminho.

Em outra ocasião, estava voltando do Cristo Redentor e indo para o aeroporto quando começou um tiroteiobet bwinSanta Teresa. Ficamos presos no meio dos disparos. Fiquei atrás do carro e aproveitei para responder algumas mensagens no celular enquanto esperava os tiros acabarem (risos).

Tinha um ônibus na minha frente e o pessoal me filmou. Consegui chegar no aeroporto e pegar o meu voo, e quando cheguei a Curitiba eu já tinha saído na televisão e o pessoal estava me reconhecendo, perguntando se eu estava bem.

A gente olhava para aqueles adolescentes com armas na mão. São pessoas que necessitam ser educadas, são frutosbet bwinfaltabet bwinfamílias,bet bwincarências estruturais, e tomaram esse caminho achando que seria melhor para eles. Pensam que isso é vida, mas acabam tendo uma vida bastante efêmera, logo morrendo por causa do crime. Ou podendo tirar a vidabet bwinalguém.

Manifestação na região metropolitana do Rio após assassinato
Legenda da foto, Manifestação na região metropolitana do Rio após assassinato; cardeal destaca sentimentobet bwinimpotência e, ao mesmo tempo, compromisso com a paz diante da violência | Foto: Fernando Frazão/Ag. Brasil

bet bwin BBC Brasil - E levaram abet bwincruz e seu anelbet bwincardeal, correto?

bet bwin Dom Orani - Levaram, mas não era o anel oficial. Aquele eu não uso sempre. Só saio com ele para solenidades.

bet bwin BBC Brasil - Como o senhor se sentiu ao ser assaltado a mão armada, ou ao se ver preso no meiobet bwinum tiroteio?

bet bwin Dom Orani - Por um lado, é uma sensaçãobet bwinimpotência. Você não pode fazer nada. Se você reagir, acaba levando um tiro na cabeça. Por outro lado, aquilo que eu vi não me despertou raiva das pessoas, mas sim uma sensaçãobet bwinobrigaçãobet bwintrabalhar mais pela paz, mais pelas pessoas, pelos jovens, pelos adolescentes. Uma responsabilidade aumentada. São meus irmãos que estão ali, e nós precisamos trabalhar mais para que não caiam nisso (no crime).

Acho que na hora H, quando uma pessoa sofre violência, ela se sente machucada e vê o fato enquanto tal. Pede prisão, repressão. Mas é preciso pensar tambémbet bwinpor que chegamos a esse ponto.

Militares e policiais fazem revistabet bwinhomens, deitados no chão

Crédito, AFP

Legenda da foto, Dom Orani avalia com cautela intervenção federal na gestão da segurança no Rio: 'Esperamos que traga resultados. Vamos rezar para que isso aconteça'

bet bwin BBC Brasil - A CNBB adotou como temabet bwinsua campanha o combate à violência. Como a Igreja pode ajudar?

bet bwin Dom Orani - Para além da questão da violência física,bet bwintiros,bet bwinmortes,bet bwinassaltos,bet bwintudo que acontece na cidade, existe um clima hojebet bwindia no qual as pessoas se tornaram violentas com tudo.

No WhatsApp, nas redes sociais, na vizinhança, no trânsito, brigam por qualquer coisa. Há uma culturabet bwinviolência,bet bwinódio. Nas nossas pastorais carcerárias, nos deparamos com a óticabet bwinque as pessoas têm que pagar pelo que fez, da punição,bet bwinque ninguém é recuperável. Mas nem todo mundo pensa assim. Com essa campanha, queremos dizer que as pessoas são recuperáveis, que podemos construir uma culturabet bwinpaz,bet bwinperdão,bet bwinreconciliação.

Claro que isso não isenta o Estadobet bwinresponsabilidade e fazer abet bwinparte. De promover julgamentos, investigações ebet bwindar segurança ao povo, alémbet bwinsaúde, educação, emprego. Mas é preciso desarmar não só as pessoas, mas os corações.

bet bwin BBC Brasil - O senhor acha que a crise atual é uma fase transitória?

bet bwin Dom Orani - Todos nós desejamos que isso não seja permanente, né? Que as coisas melhorem, que não possam piorar mais.

O momento ébet bwincrise, mas não podemos desanimar. Sabemos que os problemas existem, temos os pés na terra, mas ao mesmo tempo sabemos que existem soluções. Temos que fazer parte da solução.