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'Virei pintor após ficar tetraplégico':aposta esportiva 1 real
Mas as limitações não trouxeram apenas obstáculos e fizeram o então dentista descobrir uma nova vocação: as artes plásticas.
Foi no Centroaposta esportiva 1 realReabilitação Sarah, no Rioaposta esportiva 1 realJaneiro, que Serafim entendeu que poderia ter uma vida "normal" com uma rotina diferente, porém não menos prazerosa.
"Durante a reabilitação, tem um pessoal que te mostra tudo o que você pode fazer. Lá eu vi que era possível ir para uma academia malhar, conheci o esporte que pratico hoje, o rúgbiaposta esportiva 1 realcadeiraaposta esportiva 1 realrodas. E descobri que eu poderia pintar", afirmou.
Sem controle da temperatura corporal
Ronaldo Serafim havia inaugurado seu consultório próprioaposta esportiva 1 realOdontologia no Rioaposta esportiva 1 realJaneiro apenas duas semanas antesaposta esportiva 1 realsofrer o acidente que o afastaria definitivamente da profissão. No começo, resistiuaposta esportiva 1 realse desfazer do aparatoaposta esportiva 1 realtrabalho.
"Na época, ainda no hospital, eu não entendia a gravidade. Achava que se me esforçasse bastante, com muita fisioterapia e forçaaposta esportiva 1 realvontade, seria possível reverter (o quadroaposta esportiva 1 realtetraplegia)", contou.
O primeiro choque na volta para casa veio justamente com as ações mais prosaicas. "Nos três primeiros dias depoisaposta esportiva 1 realchegaraposta esportiva 1 realcasa, fiquei sem banho. Tivemos que adaptar o banheiro para eu poder entrar. Fora o fatoaposta esportiva 1 realque, como fiquei muitos dias no hospital deitado, quando eu sentava para tomar banho, eu desmaiava. A primeira semana é bem punk, você tem que ter paciência para absorver aquilo."
Tetraplégicos não conseguem transpirar, por exemplo, e isso exige um cuidado especial com a temperatura ambiente. As necessidades fisiológicas também requerem uma atenção diferente.
"Pelo fato da lesão ser alta, ela atinge uma região da medula que faz uma regulação automáticaaposta esportiva 1 realuma sérieaposta esportiva 1 realações da gente. Então, no calor,aposta esportiva 1 realvezaposta esportiva 1 realeu ficar transpirando, eu transpiro zero e a temperatura do corpo começa a subir. Você sente um calor absurdo e não se alivia, é desesperador. Eu já saíaposta esportiva 1 realum jogoaposta esportiva 1 realrúgbi com maisaposta esportiva 1 real40 graus, por exemplo. O frio também é muito ruim, porque aaposta esportiva 1 realtemperatura abaixa muito", relata.
"Esse mesmo centro regulador é responsável por contrair a bexiga, então não há a capacidadeaposta esportiva 1 realurinar sozinho. Preciso esvaziá-laaposta esportiva 1 realtemposaposta esportiva 1 realtempos, passar a sondaaposta esportiva 1 real4 a 5 vezes ao dia. E aí é precisoaposta esportiva 1 realum lugar higiênico para não correr riscosaposta esportiva 1 realse contaminar".
Foi principalmente quando começou no rúgbiaposta esportiva 1 realcadeiraaposta esportiva 1 realrodas,aposta esportiva 1 real2012, que Serafim teve contato com outras pessoas que tinham a mesma deficiência e aprendeu estratégias para "driblar" as limitações físicas e levar uma vida independente.
"Quando você é cadeirante, parece que fica infantilizado. As pessoas começam a falar com você como se fosse uma criança. E todo mundo quer fazer tudo para você, para te ajudar. Isso acaba até te tolhendoaposta esportiva 1 realcerta forma."
"O maior ganho para mim com o rúgbi é poder estar com gente que tem o mesmo problema que eu, isso é um aprendizado constante. Eu via os caras viajandoaposta esportiva 1 realcarro para os jogos e aí fui atrásaposta esportiva 1 realentender como poderia dirigir. Você participaaposta esportiva 1 realtorneio, viajaaposta esportiva 1 realavião, vai para lugares que não são adaptados, e isso exige mais criatividade. Vai te dando segurança, autoconfiança."
Pintura
Se voltar a se exercitar e retomar atividades cotidianas trouxe alívio na rotina, a mudança mais profunda na vidaaposta esportiva 1 realSerafim veio com a redescoberta da pintura. Acostumado a exercer uma profissão que exigia habilidades motoras e fina precisão manual, ele entendeu pouco tempo depois do acidente que o trabalho como dentista era inviável. Mas o talento com as mãos ainda poderia ser explorado.
"A pintura era muito esporádica para mim (antes do acidente), se eu fizesse dois trabalhos por ano era lucro. Depois (como tetraplégico), eu não conseguia ver minha mão segurando um pincel ou um lápis. A gente não sabe nosso potencial e tem que estar com alguém que nos mostre que é possível."
Ainda no Centroaposta esportiva 1 realHabilitação,aposta esportiva 1 real2011, Serafim pode experimentar um primeiro adaptador. A ferramenta não oferecia tanta estabilidade, mas operou maravilhas na auto-estima. "Eu pensei: bom, alguma coisa na vida eu vou conseguir fazer."
Jáaposta esportiva 1 realcasa, o conhecimento como dentista lhe valeu. Ele usou as resinas que antes aplicava nos dentesaposta esportiva 1 realpacientes para moldar seu próprio adaptador. "Peguei a resina, manipulei, fingi a posição da mão segurando uma caneta. Fiz um protótipo que durou cinco anos", contou.
Com ele, Serafim passou a pintar com frequência, melhorouaposta esportiva 1 realtécnica e viu que seria possível também escrever com um traço perfeito, como fazia antes do acidente. Assim, decidiu voltar a estudar e foi fazer um cursoaposta esportiva 1 realalemão.
"Você cria uma coisa e ela te abre possibilidades que antes você não pensava, porque você estava travado", disse.
Hoje, o adaptador que ele usa é um pouco mais sofisticado e resistente. "Moldei a mão no silicone industrial e, a partir dessa empunhadura, consegui esculpir um novo adaptador com mais refinamento. Para não quebrar quando caísse, eu usei três lâminasaposta esportiva 1 realfibraaposta esportiva 1 realcarbono. Comprei material, estudei. Me acidentar e pararaposta esportiva 1 realtrabalhar como dentista me fez ver possibilidadesaposta esportiva 1 realaprender coisas novas."
Realizações
A rotinaaposta esportiva 1 realSerafim hoje é bem mais tranquila do que a que levava como dentista. Aposentado na profissão, ele sobrevive com o valor do benefício que recebe do INSS e alguns rendimentos dos investimentos que aprendeu a fazer estudando finanças pela internet após o acidente. Treina rúgbiaposta esportiva 1 realcadeiraaposta esportiva 1 realrodas duas vezes por semana, vai à academia com a mesma frequência e reserva um tempo quase diário para a pintura. E exercita a paciência a cada vez que saiaposta esportiva 1 realcasa.
Com carro próprio, ele consegue amenizar um pouco as dificuldades rotineiras pelas quais passa um cadeirante no Brasil, mas reforça que a faltaaposta esportiva 1 reallugares adaptados para pessoas com deficiência ainda é um grande impeditivo que faz com que muitos fiquem "presos".
"Quem para na vagaaposta esportiva 1 realdeficiente na rua é multado. Mas no shopping ainda não é. Eu já parei num shopping e aquela área grande do lado que é marcada com as linhas, uma moto da prefeitura parou exatamente na minha porta. O cara acha que aquela área rabiscadinha é para moto estacionar...e o carro que está ali do lado que se dane", contou.
Com 42 anosaposta esportiva 1 realidade e quase uma décadaaposta esportiva 1 realtetraplegia, Ronaldo Serafim já aprendeu alemão, morouaposta esportiva 1 realHeidelberg (a 600 kmaposta esportiva 1 realBerlim) por alguns meses, viajou o Brasil todo e visitou outros vários lugares do mundo jogando rúgbiaposta esportiva 1 realcadeiraaposta esportiva 1 realrodas. Agora, ele usaaposta esportiva 1 realmemória visual das paisagens que conheceu para transformá-lasaposta esportiva 1 realarte nos quadros que pintaaposta esportiva 1 realcasa.
"Eu gostavaaposta esportiva 1 realcorrer e jogar futebol, isso me faz falta. Mas substituindo uma coisa pela outra, eu vejo assim: antes, apesaraposta esportiva 1 realeu fazer tudo isso, eu tinha uma vida muito mais presa por causa do trabalho", pondera.
"Se existisse uma super cura, eu não voltaria para a Odontologia. Eu me profissionalizariaaposta esportiva 1 realartes plásticas. O acidente me fez enxergar isso. Que muitas vezes a gente faz opções porque a gente se escraviza com a rotina, se escraviza com a vida financeira. Não é que o dinheiro manda na gente, mas a gente pensa muito no fator dinheiro antes dos nossos sonhos. Comparando a vida que eu tenho hoje com a que eu tinha, é até difícilaposta esportiva 1 realdizer qual é melhor. "
*Edição do vídeo: Ana Terra
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