Por que 60% dos eleitoressizing cbetBolsonaro são jovens?:sizing cbet
Um consenso entre pesquisadores ouvidos pela BBC Brasil ésizing cbetque Bolsonaro é um dos principais atores políticos nas redes sociais - e que partesizing cbetsua força entre jovens pode derivar desse fato. Gabriel, por exemplo, viu o meme, pesquisou vídeos do deputado no YouTube e passou a acompanhar diariamentesizing cbetpágina no Facebook - o perfil do político tem 4,7 milhõessizing cbetseguidores.
Entre seus adversários na corrida presidencial, Lula tem 3 milhões, João Doria, 2,9 milhões. Marina tem 2,3 milhões.
Neste mês, um levantamento do Ibope mostrou que os eleitores brasileiros com acesso frequente à internet representam 68% do totalsizing cbeteleitores. Entre os que expressam preferência por Bolsonaro, no entanto, a situação é bastante diferente. "Nossa pesquisa mostrou que 90% dos eleitoressizing cbetBolsonaro têm acesso à rede", diz Márcia Cavallari, diretora do Ibope.
"Bolsonaro sabe muito bem utilizar as redes sociais, conhece a linguagem que viraliza, usa frases curtassizing cbetefeito apelativo, cria polêmica, fala o que pensa. Ele é um performer", diz Esther Solano, doutorasizing cbetciências políticas e professora da Universidade Federalsizing cbetSão Paulo.
Para Moysés Pinto Neto, professorsizing cbetfilosofia da Universidade Luterana do Brasil, Bolsonaro criou um personagem midiático que joga com a incerteza sobre o tom do que diz. "Em um vídeo (gravadosizing cbet1999), ele disse que mataria pelo menos 30 mil pessoas no Brasil. Ele está falando sério ou não? Não dá pra saber", diz o acadêmico, que vem pesquisando como movimentos sociaissizing cbetdireita atuam nas redes sociais.
Este tiposizing cbetdiscurso foi elogiado por três jovens eleitores do deputadosizing cbetentrevista à BBC Brasil.
"Vi Bolsonaro pela primeira vezsizing cbet2014,sizing cbetum vídeo no Facebook. Ele não fala nada para agradar o povo, ou para parecer politicamente correto", diz a autônoma Jéssica Melo da Silva,sizing cbet19 anos, moradorasizing cbetBelém. "Ele fala o que pensa, e isso incomoda as pessoas", diz Gabriel, que morasizing cbetMesquita, na Baixada Fluminense.
Mas soltar o verbo também deixou o político conservadorsizing cbetapuros. Em outubro, ele foi condenado pela Justiça a pagar R$ 50 milsizing cbetindenização por um comentário considerado preconceituoso sobre uma comunidade quilombola. Ele também é chamadosizing cbethomofóbico esizing cbetmisógino, por ter feito declarações com críticas a gays e piadas sobre as mulheres.
Os eleitores relativizam manifestações polêmicas do deputado: dizem que elas foram tiradassizing cbetcontexto e que há perseguição por partesizing cbetmovimentossizing cbetesquerda esizing cbetgrupos feministas e LGBT. "Sou negro e não votariasizing cbetalguém racista", diz Gabriel.
Outro eleitor, o estudantesizing cbetengenharia civil João Pedro Vital,sizing cbet18 anos, também discorda da imagemsizing cbetracista do parlamentar: "Alguém que é casado com uma mulata e tem um sogro com o nomesizing cbetPaulo Negrão não é racista", diz,sizing cbetreferência à famíliasizing cbetBolsonaro.
Bolsonaro com um 'outsider'
Segundo pesquisadores ouvidos pela BBC Brasil, o político conservador se apresenta como um "outsider", ou seja, diz que não faz parte da política tradicional, cuja imagem ésizing cbetcorrupção. Ele se mostra contra o chamado "establishment", as mais poderosas instituições e organizações políticas, midiáticas e econômicas do país. Temas como descriminalização do aborto e casamento LGBT seriam do interesse desse "establishment", na visão dos conservadores.
Para o universitário Vital,sizing cbetSalvador, o deputado se destaca por não ter nenhum escândalosizing cbetcorrupção no currículo. "Ele tem moral, é ético e não está metidosizing cbetcorrupção", diz.
Bolsonaro começou a ganhar simpatizantes depois dos protestossizing cbetjunhosizing cbet2013, quando milhõessizing cbetjovens tomaram as ruas para, primeiro, protestar contra o aumento das tarifassizing cbettransporte e, depois, contra governos e políticos.
As manifestações surgiram com o Movimento Passe Livre (MPL), gruposizing cbetesquerda que, apesarsizing cbetnão gritar contra partidos, dizia-se apartidário. Em seguida, os protestos foram "cooptados" por manifestantessizing cbetdireita, que chegaram a proibir bandeirassizing cbetpartidos.
"Eram protestos essencialmente para mostrar um descontentamento com governos progressistassizing cbetesquerda, que não conseguiram implementar reformas estruturais e que acabaram se alinhando justamente ao sistema econômico que antes criticava", explica Moysés.
Mauro Paulino, diretor do instituto Datafolha, concorda que o movimento "antipolítico" começou a mostrar as caras naquele ano. "Em 2013, as manifestações já tinham um carátersizing cbetnegaçãosizing cbetqualquer bandeira política", diz.
Em um contextosizing cbetmaissizing cbetuma décadasizing cbetgovernos federais petistas - que coincidiu com a infância e a adolescênciasizing cbetmuitos dos que hoje se assumem eleitoressizing cbetBolsonaro -, a esquerda pode ter sido encarada pelos eleitoressizing cbetformação como a força política a ser contestada.
"É uma característica do jovem ser do contra, buscar a mudança, as transformações sociais. Ele é mais receptivo aos discursos radicais, à esquerda e à direita", diz o cientista político Hilton Cesario Fernandes, professor da Fundação Escolasizing cbetSociologia e Políticasizing cbetSão Paulo (Fespsp).
Para Danilo Cersosimo, diretor do institutosizing cbetpesquisas Ipsos, o fenômenosizing cbetBolsonaro como bandeira contestadora se expressa principalmente na juventude da classe média urbana. "É um movimentosizing cbetum jovem escolarizado que não conseguiu ver as suas aspirações atendidas", afirma o analista. "Ele pode estar desempregado, ou tem um emprego ruim, tem medo da violência e da crise econômica. Então ele culpa o governo por não conseguir cumprir suas ambições. E quem estava no governo? O PT e a chamada esquerda."
Para o professor Moysés Pinto Neto, a esquerda não conseguiu se aproveitar do descontentamento mostrado nos protestos para engrossar suas fileiras. "O que aconteceu foi o inverso. A direita, que sempre foi o establishment, começou a se mostrar como crítica ao sistema, como se estivesse fora dele e fosse a solução para os problemas. Nos Estados Unidos, isso levou à eleiçãosizing cbetDonald Trump", explica Pinto Neto.
Paulino afirma ainda que há uma "crisesizing cbetrepresentação" da população brasileirasizing cbetrelação aos políticos. É o tiposizing cbetambiente favorável ao surgimentosizing cbet"salvadores da pátria". "Esse vácuo permitiu que figuras como Bolsonaro surgissem. Quando a política não resolve, ideias simples para problemas complexos parecem a melhor solução, apesar de, na prática, elas nem sempre funcionarem", diz.
Com o slogansizing cbet"gestor" e "trabalhador", o empresário João Doria também aproveitou esse sentimento antipolítico para vencer as eleiçõessizing cbet2016 e se tornar prefeitosizing cbetSão Paulo - ele é pré-candidato do PSDB à Presidência. O tucano também é bastante popular nas redes sociais, publicando vídeossizing cbetsuas ações e críticas a adversários.
A queda do PT
No meio acadêmico, uma das análises para a ascensão da direita é asizing cbetque, do outro lado do espectro político, a esquerda partidária não ofereceu nenhum novo nome com alcance parecido aosizing cbetBolsonaro. O principal expoente ainda é Lula.
Com os escândalossizing cbetcorrupção, o impeachmentsizing cbetDilma Rousseff, a condenação do ex-presidente por corrupção passiva e o desgaste acumulado pelo PT, a maior parte dos militantes da esquerda se viu "órfã"sizing cbetnomes promissores, segundo análisesizing cbetcientistas sociais.
Nessa perspectiva, a esquerda sobrevivesizing cbetgrupos sociais que não têm relação direta com partidos, como o movimento negro, o feminismo, o LGBT e os secundaristas.
Paulino diz que jovens pobres, moradoressizing cbetbairrossizing cbetperiferia, ainda preferem Lula por terem "medosizing cbetperder direitos".
Gabriel se classifica como "classe baixa", mas afirma não votar no petista "de jeito nenhum". Bolsista do Prouni, programasizing cbetbolsassizing cbetuniversidades particulares criado por Lula, ele diz que não há contradição entresizing cbetcondição econômica e o apoio a um candidato da direita. "Pobre quer crescer economicamente, melhorarsizing cbetvida. A direita prega o crescimento econômico e liberdades individuais, a esquerda quer controlarsizing cbetvida", afirma.
A violência no Brasil e a ditadura militar
Outro motivo que levou Gabriel a apoiar Jair Bolsonaro é a forma como o deputado encara a violência - ele propõe, por exemplo, extinguir o estatuto do desarmamento como maneirasizing cbeta população se defendersizing cbetbandidos.
"Precisa haver o armamento civil. O (estatuto do) desarmamento foi uma farsa, a violência só piorou, porque o cidadãosizing cbetbem ficou indefeso. O bandido continua com as armas", diz Gabriel.
Jéssica Melo,sizing cbet18 anos, cita o apoiosizing cbetBolsonaro ao regime militar que comandou o Brasil entre 1964 e 1985. "As pessoas dizem que era um tempo bom, que você podia ficar na frentesizing cbetcasa sem ser assaltado. As escolas eram tranquilas, hoje aluno batesizing cbetprofessor, as pessoas te roubam nasizing cbetcasa", diz.
Para Márcia Cavallari, do Ibope, jovens que não viveram o período da ditadura militar tendem a romantizá-lo. "O regime é uma coisa distante para elas, algo que não foi discutido a fundo. Com a corrupção e o medo da violência, os jovens procuram um discurso que promove a ordem, a lei e os bons costumes", diz.
Já Paulino, do Datafolha, afirma que Bolsonaro se aproveitasizing cbetum dos "maiores medos" da população, a violência, para alavancar seu apoio popular. "Principalmente entre a classe média, há um aumento do apoio à penasizing cbetmorte e ao enfrentamento ao crime como formasizing cbetcombater a violência. Essa é a principal bandeira dele", explica.
Youtubers influentes
Além das páginas do próprio deputado, outros canais nas redes também ajudaram a direita a chegar a mais jovens. O Movimento Brasil Livre (MBL), por exemplo, é uma das páginassizing cbetmaior influência no Facebook, com 2,5 milhõessizing cbetseguidores. Apesarsizing cbetnão declararem oficialmente apoio a Bolsonaro, os militantes do MBL também costumam repassar as propostas do parlamentar, como maior rigidez no combate ao crime.
Outro "digital influencer" é o metaleiro e professorsizing cbetguitarra Nando Moura, o mais popular youtuber da extrema-direita brasileira - ele tem 1,5 milhãosizing cbetseguidores no site e 337 mil no Facebook. Há outros com perfil parecido, mas com alcance menor.
Nas produçõessizing cbetMoura, que chegam a ter um milhãosizing cbetvisualizações, ele comenta assuntos variados, como "ideologiasizing cbetgênero", desarmamento, arte moderna e história do Brasil e do Mundo - o viés é sempresizing cbetcríticas à esquerda e apoio a Bolsonaro.
Para Moysés Pinto Neto, a direita foi "visionária" e "competente" ao usar o Facebook, YouTube e Twitter. "Há também uma estética do metaleiro youtuber, do gamer e do nerdsizing cbetdireita. Também usa-se a lógica do linchamento virtual, que a esquerda também já usou muito, para atacar a reputações dos seus inimigos públicos", diz.
Em Belém, por exemplo, Jéssica Melo da Silva e outras 150 pessoas discutem diariamente propostassizing cbetBolsonaro e ataques a adversáriossizing cbetum gruposizing cbetWhatsApp chamado "Direita Jovem Paraense". Grupos parecidos são muito popularessizing cbetoutros Estados e tentam, cada vez mais, conseguir votos para o candidato.
'Um candidato mais ao centro deve vencer'
Os diretores dos institutos Datafolha e Ipsos acreditam que,sizing cbet2018, Bolsonaro deve perder força porque, na campanha, ele terá menos temposizing cbetpropaganda na TV e no rádio do que seus adversários. "Apesar das redes sociais serem muito importantes, a televisão ainda tem um peso gigantesco. Bolsonaro está num partido pequeno, terá poucos segundos", diz Paulino.
"A minha tese ésizing cbetque provavelmente vá surgir um candidato mais ao centro, que consiga se equilibrar na polarização entre esquerda e direita", concorda Cersosimo, do Ipsos.
Diretora do Ibope, Márcia Cavallari afirma que, apesarsizing cbetser difícil prever qual será o impacto da internet nas eleições - que tem sido difusosizing cbeteleições passadas - ele não será pequeno. "No Brasil, 102 milhõessizing cbetpessoas têm acesso a esses canais. Em 2013, eram 78 milhões. As redes sociais vão ser muito mais importantes do que foram nas últimas eleições", diz.
Pesquisa do Ibope deste ano apontou que 36% dos eleitores brasileiros acreditam que a internet terá "muita importância" na horasizing cbetdecidir o voto. Para 35%, a TV e o rádio também terão influência.
Já o cientista político Hilton Cesario Fernandes, da Fespsp, argumenta que o apoio da juventude não será suficiente para a vitória da extrema-direita. "O discurso radical pega uma parcela da população específica, mas dificilmente convence a maior parte da população numa disputa majoritária, diz.
Por outro lado, Bolsonaro vem crescendosizing cbetlevantamentos do Datafolha desde dezembrosizing cbet2015, quando tinha 5% das intençõessizing cbetvoto. No último,sizing cbetoutubro deste ano, estava com 16%.
Se dependersizing cbetJéssica Melo da Silva, 19, seu candidato conservador vai crescer ainda mais. "Faço campanhasizing cbetgraça para Bolsonaro", diz ela, que gostasizing cbetandar com a camiseta do ídolo pelas ruassizing cbetBelém e compartilhar material sobre elesizing cbetsuas páginas nas redes sociais.