Filósofa americana diz que protestos contra ela no Brasil são 'equívoco' e que falarapostas no ufcgênero 'causa muito medo':apostas no ufc

"Péssimo, não está investindo na cultura e no crescimento da humanidade, pelo contrário, estão pregando desconstrução, quem apoia ideologiaapostas no ufcgênero e destrói a família caiu no conceitoapostas no ufctodos nós brasileiros", diz uma usuária da rede social ao dar nota 1, a mais baixa possível, ao centro cultural.

Já o abaixo-assinado que pede o cancelamento da palestra afirma que "Judith Butler não é bem-vinda no Brasil", porque a filósofa propõe "a desconstrução da identidade humana pela desconstrução da sexualidade".

"Há um grande equívoco circulando no Brasil", diz Butler ao ser informada pela BBC Brasil do protesto.

"É estranho, porque não farei uma palestra no Sesc. Sou organizadora da conferência. Vou fazer uma palestra na Unifesp, mas será sobre meu livro sobre a Palestina e Israel", afirmaapostas no ufcreferência à obra Parting Ways: Jewishness and the Critique of Zionism (Caminhos Divergentes: Judaicidade e Crítica do Sionismo),apostas no ufc2012.

Butler esclarece que é a principal pesquisadoraapostas no ufcuma programa que busca reunir estudiosos do campo da teoria crítica -apostas no ufcinspiração neomarxista - e, "como está bem claro no site do Sesc", foi como tal que ela convidou pesquisadores internacionais a vir ao Brasil para discutir os fins da democracia, tema oficial do evento, que será realizado entre 7 e 9apostas no ufcnovembro com a participaçãoapostas no ufcacadêmicos brasileiros e estrangeiros e está com as entradas gratuitas esgotadas.

"Para muitas pessoas, os direitos básicos e instituições democráticos estão sob ameaça com a ascensão do populismoapostas no ufcdireita e a aceitaçãoapostas no ufcnovas formasapostas no ufcautoritarismo. É importante lembrar que a democracia é uma luta constante. Nunca podemos ter como algo garantido."

Teoria ou ideologia?

A americanaapostas no ufc61 anos é doutoraapostas no ufcFilosofia pela Universidadeapostas no ufcYale e dá aulas há 24 anos na Universidade da Califórniaapostas no ufcBerkley, uma das principais instituiçõesapostas no ufcensino dos Estados Unidos.

Entre 1988 e 1993, publicou trabalhos considerados hoje baseapostas no ufcáreasapostas no ufcestudos conhecidas como teoria queer eapostas no ufcgênero, segundo as quais há uma diferença entre o sexo biológico e as identidades masculina e feminina que, alémapostas no ufcserem formadas por aspectos físicos, seriam também construções sociais por receberem influências históricas e sociais.

"Sou vista como a fundadora do conceito ouapostas no ufcprincipal representante, mas meu trabalho nessa área tem 25 anos e não é o que faço atualmente", afirma Butler.

"Tinha uma carreiraapostas no ufcAntropologia e Sociologia bem antesapostas no ufccomeçar a usar o conceito, que hoje é uma ideia amplamente aceitaapostas no ufcqualquer instituiçãoapostas no ufcpesquisa internacional", diz,apostas no ufcreferência à visão sobre gênero como um fenômeno também social e não apenas biológico.

Aqueles que se opõem a estes conceitos, como os criadores da campanha contra a filósofa, afirmam se tratar nãoapostas no ufcuma teoria, masapostas no ufcuma ideologiaapostas no ufcgênero que, mascarada como uma luta contra o preconceito, buscaria subverter as noções tradicionaisapostas no ufcsexualidade e, assim, corromper institutos sociais, como a família.

O assunto já esteve antes no centroapostas no ufcoutras polêmicas no Brasil. Há três anos, houve protestos quando, na elaboração das diretrizes nacionaisapostas no ufceducação, a questãoapostas no ufcgênero foi retirada do texto.

O tema transbordou para os anos seguintes na aprovaçãoapostas no ufcplanos municipais e estaduais, com vetos a iniciativas que tratavam da promoção da igualdade, identidadeapostas no ufcgênero, orientação sexual e sexualidade nas escolas.

Em 2015, ainda gerou debate quando uma frase da filósofa francesa e expoente do feminismo Simoneapostas no ufcBeauvoir - "ninguém nasce mulher: torna-se mulher" - fez parteapostas no ufcuma das questões do Enem.

"O conceitoapostas no ufcgênero gera muito medo. É uma ideia muito mal compreendida e representada como caricatura. Até o papa Francisco condenou o 'gênero como uma ideologia diabólica'", diz Butler.

"É uma crítica feita pelo Catolicismoapostas no ufcdireita que pegou entre quem acredita que o conceito nega as diferenças naturais entre os sexos e ameaça o casamento e a família, bases da heterossexualidade. Se você baseia aapostas no ufcvisãoapostas no ufcmundo na Bíblia, então, a ideiaapostas no ufcgênero vai ser mesmo ofensiva."

'Desmoronamento da sociedade'

Butler esteve no Brasil há dois anos para um seminário sobre teoria queer, quando também houve protestos, ainda queapostas no ufcmenor dimensão. Ela acredita que a maior repercussão desta vez é explicada pelo fatoapostas no ufc"plataformasapostas no ufcdireita estarem mais desenvolvidas".

A filósofa americana diz que, ao contrário do que a acusam, não busca destruir a identidade humana e a sexualidade. Afirma ter argumentado apenas que devemos pensar sobre "como nossas identidades são organizadas e a linguagem que usamos para expressar quem somos".

O jornalista e tradutor Bernardo Pires Küster,apostas no ufc30 anos, se identifica como um dos criadores da petição e dizapostas no ufcuma postagem recente no Facebook, onde tem 38 mil seguidores, que "muitos combatem apenas os efeitos da ideologiaapostas no ufcgênero, e nãoapostas no ufcprincipal causa: a filósofa americana Judith Butler". "Ela vem ao Brasil mais uma vez para promoverapostas no ufcagenda."

Questionado sobre os argumentosapostas no ufcButlerapostas no ufcque este não é mais o focoapostas no ufcseu trabalho e que ela virá ao país com outro propósito, Küster afirma à BBC Brasil: "O fatoapostas no ufcela não trabalhar mais com esse assunto não impede que continuem a ocorrer hoje os efeitos daquelas falas".

"O protesto não é contra o que ela vai dizer, mas contra o que ela é. Se existe um problemaapostas no ufcgênero no Brasil atualmente, é por causa dela. Ela própria diz que não se pode impedir o exercício da liberdade, e é isso que fazemos ao protestar. É parte do jogo democrático", afirma.

"Ela não chama seus conceitosapostas no ufcideologia, é claro, assim como Marx não chamava suas ideias assim, mas é o que ela faz, cria um vestidoapostas no ufcideias que recobrem suas estratégias e intenções políticas na busca por quebrar as funções sociais das pessoas e, assim, levar à dissolução da família e ao desmoronamento da sociedade. Não sou contra os LGBTs, eles são pessoas como quaisquer outras, são gente. Sou contra esse projeto político."

'Questãoapostas no ufcvida ou morte'

A filósofa afirma que, na sociedade atual, as pessoas têm seu gênero designado ao nascerapostas no ufcacordo com seu sexo biológico e que isso determina a forma como são tratadas na sociedade ao longo da vida.

"Então, meninas acham que não podem progredir na ciência e meninos, que não podem ter profissões predominantemente femininas. Isso é justo? E há pessoas que crescem sem se identificar com o gênero designado, não conseguem seguir as normas impostas. Querem mudarapostas no ufcsexo ou encontrar um novo vocabulário para quem são para evitar sofrimento. A sociedade pode impedi-las?", questiona a americana.

Em entrevista recente à revista Cult, Butler explicou não ser partidáriaapostas no ufcexperiências que anulam por completo o gêneroapostas no ufcuma pessoa, porque "muitas pessoas gostamapostas no ufcter gênero, e que muitas pessoas trans buscam assegurar o gênero que são - isso significa que nem todo mundo quer transcender o gênero como categoria". "Eu tampouco gostariaapostas no ufctranscender isso", disse à publicação.

À BBC Brasil, ela esclareceu: "Claro que há aspectos nossos que são sólidos, mas também é verdade que, dependendo da forma como somos criados, da culturaapostas no ufcque vivemos, diferentes possibilidadesapostas no ufcdesejo emergemapostas no ufcnós. Ser humano é viver na interseção entre biologia e cultura".

A filósofa afirma que a metaapostas no ufcseu trabalho é criar uma sociedade "mais harmônica" ao promover a aceitação da diversidade e combater a misoginia, o racismo e a violência contra mulheres e transexuais.

"Muitos não querem flexibilizar as categoriasapostas no ufcgênero, mas, para outros, é uma questãoapostas no ufcvida ou morte", afirma Butler.

"Assim, mulheres percebem que podem fazer mais, homens podem se expressar mais, o amor gay e lésbico torna-se legítimo, as pessoas queer se veem como parte do mundo. O gênero abre para elas a possibilidadeapostas no ufcrespirar, viver, pertencer. É um espaçoapostas no ufccompaixão para a luta que enfrentam."