Como votação aberta pode acabar dificultando punição por corrupção:casas de apostas astropay

Placarcasas de apostas astropayvotação, no plenário do Senado
Legenda da foto, Nesta terça-feira, Senado devolveu o mandatocasas de apostas astropayAéciocasas de apostas astropayvotação aberta | Foto: Marcos Oliveira/Ag. Senado

Isso porque, embora o voto secreto seja comumente apontado como catalisadorcasas de apostas astropaypráticas imorais, como acordos por debaixo dos panos e chantagens, ele pode também permitir que os parlamentares votem sem medocasas de apostas astropayrepresália dos colegas.

Para Carlos Pereira, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) no Riocasas de apostas astropayJaneiro e atualmente professor visitante na Universidade Stanford, nos Estados Unidos, isso ficou evidente nesta terça-feira, quando senadores decidiram, por 44 votos a 26, devolver o mandatocasas de apostas astropayAécio Neves - denunciado por corrupção pela Procuradoria-Geralcasas de apostas astropayRepública (PGR) e anteriormente afastado da Casa por decisão da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF). Aécio nega as acusações e se diz inocente.

"Você ir para praça pública defender que um cara poderoso tenha a cabeça cortada, sem ter certeza que a cabeça dele será cortada, é um risco muito grande", afirmou Pereiracasas de apostas astropayentrevista à BBC Brasil.

"O Aécio é poderosíssimo. Ele foi o candidato da oposição que quase derrotou o PT. Até hoje, o PSDB está com zilhõescasas de apostas astropaydificuldadescasas de apostas astropayse ver livre dele. Ele deve ter tido um papel importantíssimocasas de apostas astropayarrecadar dinheiro para o partido - vários desses esquemas ilegais que ele deve ter se engajado não deve ter sido só para ele."

O pesquisador Carlos Pereira
Legenda da foto, 'Você ir para praça pública defender que um cara poderoso tenha a cabeça cortada, sem ter certeza que a cabeça dele será cortada, é um risco muito grande', diz Pereira | Foto: Divulgação

Dirceu e Delcídio

O estudo acompanhou a tramitação "natural"casas de apostas astropayprocessos que colocam parlamentares sob suspeição - primeiro passando pelo Conselhocasas de apostas astropayÉtica e, dependendo da deliberação no órgão, a sequência ao plenário.

Os autores descobriram que um lídercasas de apostas astropaypartido tem quase duas vezes mais chancecasas de apostas astropayser absolvido quando seu processo é avaliado no Conselhocasas de apostas astropayÉtica; apenas fazer parte da Mesa Diretora implicacasas de apostas astropayuma reduçãocasas de apostas astropay39% na chancecasas de apostas astropayhaver punição no conselho.

No conselho, porém, o voto é necessariamente aberto. Quando tais processos chegam ao plenário,casas de apostas astropayvotação secreta, a influênciacasas de apostas astropaylíderescasas de apostas astropaypartido ou membros da Mesa é barrada.

"Sob votação aberta no Conselhocasas de apostas astropayÉtica, uma posiçãocasas de apostas astropayliderança, que aumenta o poder do acusado, leva a uma menor probabilidadecasas de apostas astropaypunição. No plenário, no entanto, essas variáveiscasas de apostas astropayliderança não produzem resultados estatisticamente significativos (...) sugerindo a possibilidadecasas de apostas astropayque a votação aberta no conselho pode na verdade tornar os deputados mais suscetíveis à intimidação do quecasas de apostas astropayuma votação secreta no plenário", diz um trecho do artigo.

No casocasas de apostas astropayAécio, a "profecia" se efetivou:casas de apostas astropayjulho, o Conselhocasas de apostas astropayÉtica do Senado arquivou representação contra o parlamentar. A votação desta terça ocorreu por um motivo diferente - os senadores decidiram sobre derrubar ou não medidas contra ele decididas pelo STF.

Nas vésperas da sessão que devolveu o mandato a Aécio, o caráter da votação - aberta ou fechada - foi alvocasas de apostas astropaydebates ecasas de apostas astropaydecisões judiciais.

Na semana passada, um juiz federalcasas de apostas astropayprimeira instância decidiu, por liminar, que a votação deveria ser aberta; no próprio dia da votação, o ministro do STF Alexandrecasas de apostas astropayMoraes determinou o mesmo, provocado por mandadocasas de apostas astropaysegurança ingressado pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

O senador Aécio Neves
Legenda da foto, Houve disputas para que votaçãocasas de apostas astropayplenário do casocasas de apostas astropayAécio fosse aberta | Foto: Wilson Dias/Ag. Brasil

Outros casos que ajudam a ilustrar o ponto defendido por Pereira são as cassações do petista José Dirceu - decidida pelo plenário da Câmara,casas de apostas astropay2005,casas de apostas astropayvotação secreta - e do agora ex-petista Delcídio do Amaral - pelo Senado,casas de apostas astropayvotação aberta,casas de apostas astropay2016.

"Delcídio tinha um poder político menor do que ocasas de apostas astropayAécio, com certeza. Além disso, ele foi um traidor para os políticos. Quando foi para a votação, ele já estava delatando muita gente. Em uma estrutura criminosa, a traição te torna um inimigo", afirma Pereira.

Exposição na mídia

Outra variável na equação estudada por Pereira e colegas - com basecasas de apostas astropayvotações na Câmara entre 2003 e 2006, período marcado pelos escândaloscasas de apostas astropaycorrupção dos Correios, dos Bingos e do Mensalão - foi a cobertura midiática.

Se o poder político dificulta uma eventual punição, a exposição na mídia - medida por métodos desenhados pelos autores - a favorece. Mas, considerando o cenário político atual no Brasil, Pereira diz que esta variável também mudou.

"O fator exposição na mídia diluiu. Quanto mais esta exposição da corrupção, mais a percepção do públicocasas de apostas astropayque todo mundo é corrupto", aponta o cientista político. "Um efeito perverso é a sensaçãocasas de apostas astropayque todo mundo está na lama, então a lama deixacasas de apostas astropayser importante. A corrupção é relativizada."

Nacasas de apostas astropayavaliação, mudou também neste meio tempo o instintocasas de apostas astropaysobrevivência dos parlamentares - que, diante da escolha entre o custocasas de apostas astropayretaliação dos colegas e o custo eleitoralcasas de apostas astropaydefender abertamente um político acusadocasas de apostas astropaycorrupção, acabam escolhendo o segundo.

Conselhocasas de apostas astropayÉtica da Câmara
Legenda da foto, Nos Conselhoscasas de apostas astropayÉtica, líderescasas de apostas astropaypartidos e membros da Mesa veem valer seu poder político | Foto: Zeca Ribeiro/Ag. Câmara

"Esses políticos, quando perderem o foro privilegiado, vão morrer. A sentençacasas de apostas astropaymorte deles já está estabelecida. O que você faria se estivessecasas de apostas astropayuma masmorra e soubesse da data do seu enforcamento? Iria tentarcasas de apostas astropaytodo jeito criar condições para escapar disso", diz Pereira.

"Como o riscocasas de apostas astropayuma grande somacasas de apostas astropaypolíticos irem para a forca é real, é muito mais vantajoso construir mecanismoscasas de apostas astropayproteção para o meu pescoço do que para uma potencial puniçãocasas de apostas astropayeleitor - que só vai votarcasas de apostas astropay2018 e sei lá se vai saber se eu absolvi Aécio um ano atrás."

Quem está sob a forca,casas de apostas astropayfato, influência o destino dos processos contra parlamentares, segundo métricas do artigo do qual Pereira é coautor.

Dividindo os parlamentares entre "limpos", "sob suspeição" e "sujos", a pesquisa mostra que, à medida que a composição dos deputados votantes "limpos" sobecasas de apostas astropay74% para 93%, a probabilidadecasas de apostas astropayum voto no plenário pela expulsão do acusado aumenta rapidamentecasas de apostas astropay1% para maiscasas de apostas astropay53% (chegando a 77% quando a Câmara é composta unicamentecasas de apostas astropaydeputados "limpos").

"Como existe hoje no Congresso uma grande quantidadecasas de apostas astropayparlamentares que você não sabe se são 'limpos' ou 'sujos' (portanto, estão na categoria 'sob suspeição'), as chancescasas de apostas astropaypunição diminuem vertiginosamente, porque eu posso ser o próximo da vez. A lógica não é nem corporativa, écasas de apostas astropaysobrevivência individual", ressalta Pereira.

Teoria e prática

O cientista político destaca que, ainda que mecanismos como o voto aberto, sinônimoscasas de apostas astropaytransparência pelo senso comum, acabem levando a resultados opostos ao planejado, isso não significa que eles devam ser extintos - mas sim qualificados.

"Tudo pelo nome da transparência é vendido e justificado, mesmo que o resultado inverso seja alcançado", afirma Pereira, reconhecendo que os resultadoscasas de apostas astropaysua pesquisa sobre o voto aberto são "contraintuitivos". "O problema é a interpretação inocente, pela literatura da transparência,casas de apostas astropayque a disponibilização da informação necessariamente vai tornar o eleitor mais exigentecasas de apostas astropayrelação à corrupção."

Em uma pesquisacasas de apostas astropaycurso, ainda não publicada, o cientista político está percebendo que os brasileiros colocam lentes que suavizam a percepção da conduta inadequadacasas de apostas astropayum político diantecasas de apostas astropayoutros fatores - como a identificação ideológica e uma melhoriacasas de apostas astropayvida sentidacasas de apostas astropay"primeira mão".

"A literaturacasas de apostas astropaytransparência tem que namorar com a literaturacasas de apostas astropaypsicologia política", defende.