'Vi dois corpos queimando no meio da rua': moradores relatam alívio temporário com chegadaroleta bônusmilitares à Rocinha:roleta bônus

Militares e moradores na Rocinha

Crédito, Reuters

Legenda da foto, 'Ninguém aguentava mais', diz italiana que vive na Rocinha

Os tiroteiosroleta bônusdomingo na maior favela do Rio, na zona sul da cidade, foram os mais fortes que Olivi já ouviu. Mais ainda que osroleta bônus2004, quando,roleta bônusmaneira semelhante ao conflito atual, houve uma grande disputa pelo controle da área, e o antigo chefe do tráfico, Lulu, foi morto pelo Batalhãoroleta bônusOperações Especiais (Bope).

Na tarde desta sexta-feira, as Forças Armadas iniciaram o envioroleta bônus950 homens para cercar a Rocinha, que chegaramroleta bônustanques às partes baixas eroleta bônushelicópteros às partes mais altas da comunidade, isolando as fronteiras entre a favela e a Floresta da Tijuca - onde acredita-se que muitos traficantes tenham buscado refúgio.

Jornalistas se escondem durante operação policial

Crédito, AFP

Legenda da foto, Sexta-feira foiroleta bônustensão na região da Rocinha

'Ninguém aguentava mais'

Enquanto os soldados chegavam, Olivi cozinhava uma massa - fusilli italiano - ao receber o telefonema da BBC Brasil. "A gente tem que comer! A gente tem que continuar vivendo", justificou ela, fundadora da ONG Il Sorriso dei Miei Bimbi ("o sorriso das minhas crianças").

Para ela, há uma sensação geral na comunidaderoleta bônusque a chegada das Forças Armadas traz algum alento temporário. "Sinceramente, neste momento, a gente está aliviado. Já é o sexto dia! Ninguém aguentava mais."

Porém, ela vê a medida com desconfiança. "Acho que é muito fácil exibir todo esse poder agora. Mas e quando o povo precisa, cadê? Cadê o governo? Sinceramente, depois que dezenasroleta bônusjovens foram mortosroleta bônusum jeito cruel, depoisroleta bônusanos deixando a comunidade esquecida, chegar tocando trombetas alardeando ajuda...", diz.

"Com certeza isso não é a solução, da mesma forma que a UPP (Unidaderoleta bônusPolícia Pacificadora) não foi a solução. Só empurra o problema mais para a frente."

O governador Luiz Fernando Pezão e o secretárioroleta bônusSegurança Pública Roberto Sá solicitaram apoio militar na Rocinha na manhã desta sexta-feira, depois que a comunidade amanheceu, mais uma vez, sob fortes tiroteios - que causaram pânico entre moradores e motoristas que passavam pela favela.

Sob fortes críticas, o governo estadual afirma que tem trabalhadoroleta bônusforma integrada com as forças federais e que "vem priorizando a políticaroleta bônussegurança, apesarroleta bônustodas as dificuldades que tem enfrentado, cienteroleta bônussuas responsabilidades e da importância da preservação da vida".

Os confrontos se espalharam por pelo menos sete favelas ao longo desta sexta-feira, com tiroteios também no morro Santa Marta,roleta bônusBotafogo, nos Complexos da Maré e do Alemão, na zona norte, e na Vila Kennedy, na zona oeste, entre outras comunidades. De acordo com a Secretaria Municipalroleta bônusEducação, 7 mil alunos ficaram sem aulas. Alunos da rede privada também tiveram as aulas canceladas.

O pânico entre moradores na cidade toda pôde ser medido pelos alarmes falsos que rapidamente circularam nas redes sociais - como as notíciasroleta bônusque bandidos teriam invadido um posto do Detran eroleta bônusque um comboioroleta bônusseis carros com bandidos estaria circulando pela zona sul - desmentidos mais tarde pela Polícia Militar.

Militares policiando a Rocinha

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Segundo moradores, medo fez ruas da comunidade ficarem vazias

Impacto

Um dos projetos da Sorriso dei Miei Bimbi na Rocinha é uma escola infantil com 85 alunos. Mesmo com os confrontos que fecharam as escolas públicas locais ao longo da semana, deixando milharesroleta bônusalunos sem aula, Olivi não quis interromper as atividades - afinal, diz, os pais das crianças não poderiam abandonar seus empregos.

"Tínhamos que dar um abrigo a quem aparecesse", diz. Mas só nove crianças apareceram na segunda, e o número permaneceu nesse patamar a semana inteira.

Já Souza não quis deixarroleta bônusreceber turistas para guiá-los pela favela, como faz há 26 anos. Conhecendo a Rocinha na palma da mão, garante que mesmo com conflitos é possível percorrer os lugares-chave - "como moro aqui, conheço todos os hotspots" - antes para saber onde dá para levar turistas, e onde não dá.

Assim, mesmo no domingoroleta bônusque a favela amanheceu sob forte tiroteios, levou um gruporoleta bônusturistas para passear. Antes disso, porém, foi mapear onde levá-los ou não - e presenciou "cenasroleta bônusguerra" deixadas pelos confrontos.

"Foi uma madrugada muito ruim, quase cinco horasroleta bônustiros. Quando acordei, fui andar pela comunidade e vi cenas horríveis. Muita moto queimada, munição deflagrada, paredes e carros com marcasroleta bônustiros. Para mim, nada disso era estranho, mas vi dois corpos queimando no meio da rua, coisa que eu nunca tinha visto antes", relata.

"Foi uma cena dantesca. Me deu uma sensação muito ruimroleta bônusque jogaram vidas fora. A trocoroleta bônusfumaça. A trocoroleta bônusnada. Fiquei muito lamentoso. Quantos jovens jogam a vida fora a trocoroleta bônussucesso,roleta bônusuma novinha (uma mulher), uma moto, um colarroleta bônusouro, uma arma na mão. Ao ver essa cena, o que me tocou foi esse desperdício, essa coisa nojenta que é a nossa sociedade."

Helicóptero sobrevoa a Rocinha

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Moradores temem efemeridade do efeito da chegada dos militares

Nas mãos do Estado

Apesar do relato escabroso, Souza diz que agora, com o forte aparato policial enviado para a Rocinha e a chegada das Forças Armadas, a "situação está, entre aspas, legal". "O comércio está funcionando, e agora com a chegada do comboio do Exército, a comunidade vai ser totalmente tomada."

"Estamos com plena consciênciaroleta bônusque a polícia vai dar o seu jeito. Não tem mais tráfico no momento, eles estão todos escondidos. A polícia está toda aqui dentro. Estamos nas mãos do Estado", afirma, sem fazer críticas à ocupação.

"Pelo menos sabemos que agora vai ser impossível ter confronto, porque bandido nenhum vai enfrentar a polícia dado o montante que está na comunidade."

Nesse sentido, pondera, agora é bom para trabalhar. "Agora está ótimo para guiar."

Porém, a tensão na comunidade ainda é enorme, diz Souza - "até que se pegue esse pessoal aí", diz, referindo-se aos traficantes foragidos. Ele diz que as ruas estão vazias, com os moradores evitando sair, deixando suas casas apenas para comprar algo no mercado ou ir para o trabalho.

Exercer o direitoroleta bônusir e vir na comunidade nesta sexta foi ainda mais difícil, com a Estrada da Gávea interditada - a via principal que corta a favela - e a Autoestrada Lagoa-Barra, que conecta a Rocinha e o bairroroleta bônusSão Conrado ao resto da cidade, tendo se mantido fechada por horas.

"E hoje ônibus e vans não circularam por aqui, para que não fossem queimadas", diz Souza. "Só tinha mototáxi."

Vivendo um dia e um clima "completamente extraordinário", Souza se pergunta agora o que acontecerá nos próximos dias e horas, e na calada da noite.

"Muito provavelmente teremos confrontos na mataroleta bônusnoite. Mas agora as matas estão totalmente ocupadas pelo Exército. Então imagino no mais tardar até amanhã se resolve essa coisa. Os bandidos não têm para onde correr. Estão encurralados."