A busca por 'cura gay' que incluiu 4 terapeutas, acampamentowhatsapp betmotionconversão, tratamento com Viagra e pensamentos suicidas:whatsapp betmotion

Mathew Shurka
Legenda da foto, Mathew Shurka chegou a ser orientado a não conversar com mulheres para não se tornar "efeminado" | Foto: Arquivo pessoal

A decisão do juiz, que causou polêmica, foi motivada por um açãowhatsapp betmotionuma psicóloga que queria oferecer serviçoswhatsapp betmotion"cura gay" e pode ser mudada nas instâncias superiores. Há quase 30 anos, a Organização Mundialwhatsapp betmotionSaúde retirou a homossexualidade da lista internacionalwhatsapp betmotiondoenças. Nos EUA, nove Estados e o Distrito Federal têm leis proibindo a "cura gay" - no restante do país, tais tratamentos são legais.

Criadowhatsapp betmotionuma pequena cidade conservadora pertowhatsapp betmotionNova York, membrowhatsapp betmotionuma família com tradição judaica, Shurka nunca havia conhecido uma pessoa abertamente gay ou casais gays.

"Meu pai me dizia que eu ia sofrer muito, e eu tinha medo desse sofrimento - já havia apanhado na escola e sofria pressão para me relacionar com meninas. Quando um homem que eu amava e confiava me disse que havia uma solução para isso, eu acreditei", afirma.

Todos os terapeutas encontrados pela família nos cinco anoswhatsapp betmotiontratamento eram profissionais graduados e registrados. "Isso dava mais credibilidade ao tratamento. Para o meu pai, era a oportunidadewhatsapp betmotiondar a mim a vida que ele imaginou."

O primeiro terapeuta lhe disse quewhatsapp betmotionorientação sexual era frutowhatsapp betmotionum traumawhatsapp betmotioninfância. "Mas eu tive uma infância maravilhosa. Não conseguia pensarwhatsapp betmotiontrauma algum. Acabei criando coisas que não haviam existido. Fiquei bravo com minha mãe por não ter me criado másculo o suficiente."

Viagra

Como parte da terapia, o jovem foi orientado a não falar com mulheres - para não se tornar efeminado - e a conviver mais com homens,whatsapp betmotionmodo a torná-lo mais "macho". Por causa do tratamento, ficou três anos sem falar com a mãe e as irmãs. "Eu virava a cara, literalmente", conta.

Sua mãe passou a ser contrária à terapiawhatsapp betmotion"conversão". "Ela chegava a me dizer: 'Filho, você é gay, não tem problema. Eu te amo'. E eu tinha muito medo e achava que, como ela era a culpada por minha homossexualidade,whatsapp betmotionaceitação só piorava as coisas."

Mathew Shurka aos 18 anos
Legenda da foto, Mathew Shurka aos 18 anos - na época, já estava no segundo ano da terapia | Foto: Arquivo pessoal

Sem que o primeiro tratamento fizesse muito efeito, Shurka e seu pai procuraram outro profissional,whatsapp betmotionLos Angeles, do outro lado do país. Viajaram para a cidade só para conhecê-lo - o tratamento continuou por telefone. "No começo uma vez por semana, mas depois quase todos os dias."

"No começo, sentia que a terapia estava funcionando. Fiz muitos amigos homens e estava pronto para me relacionar com mulheres. Tinha inventado minha heterossexualidade", conta ele. Mas, por baixo disso, ainda sentia atração por homens. Passou a se sair mal na escola, ter criseswhatsapp betmotionansiedade e ir ao hospital com frequência achando que estava sofrendo um infarto.

Admitiu então para seu terapeuta que não estava conseguindo transar com mulheres.

"Meu terapeuta ligou para o meu pai e, juntos, decidiram que eu deveria tomar Viagra. Eu tinha 18 anos, era um rapaz saudável, e passei a tomar Viagra quando saía com mulheres."

Intervenção

Aos 19, Shurka se apaixonou por um homem e tentou namorá-lo. Seu terapeuta interferiu outra vez: ele e seu pai abordaram o rapaz e o mandaram embora.

"Ao telefone, chorava com meu terapeuta, me perguntando porque era gay e porque ele (o namorado) havia me deixado. Meu terapeuta fingia não saber por quê."

Oito meses depois, seu ex-namorado lhe contou o que o pai e o terapeuta tinham feito. Foi a motivação necessária para romper o relacionamento com o pai e abandonar o tratamento com o profissional,whatsapp betmotionquem já era dependente - "eu amava, acreditava e confiava nele".

Shurka voltou a falar com a mãe, que lhe convenceu a fazer uma terapia normal. "Era bem melhor, mas não importava o quão bom era, eu sentia que não estava tentando o suficiente. Eu estava convencidowhatsapp betmotionque ser gay era uma escolha e que era minha culpa."

Sozinho, entrou e saiuwhatsapp betmotionmais dois tratamentos na linha da "cura gay".

"Aos 20, sem conseguir terminar a faculdade, confuso, entreiwhatsapp betmotionuma depressão profunda, engordei 30 kg. Ficava dias sem sair do meu apartamento, não gostavawhatsapp betmotionnada do que eu era. Me cortava, pensandowhatsapp betmotionme suicidar."

O jovem chegou a passar um fimwhatsapp betmotionsemanawhatsapp betmotionum acampamentowhatsapp betmotion"cura gay", onde cercawhatsapp betmotion60 homens eram obrigados a reencenar casoswhatsapp betmotionabuso sexual que supostamente os teriam levado à homossexualidade.

Mathew Shurka e seu pai
Legenda da foto, O paiwhatsapp betmotionMathew Shurka contratou terapeutas para tentar "curar" a homossexualidade do filho | Foto: Arquivo pessoal

Aos 21, Shurka se mudou para Manhattan,whatsapp betmotionNova York, onde trabalhou como garçomwhatsapp betmotionum restaurante gerenciado por uma lésbica. "Ela era uma mulher forte, que me inspirou muito." Também passou a ver muitos homens gays bem-sucedidos que frequentavam o restaurante.

"Basicamente, estava vendo pela primeira vez como tudo aquilo era normal", diz. Voltou a frequentar terapias, mas, dessa vez, regulares, embora fosse muito difícil confiar nos profissionais outra vez.

Aceitação

Dois anos depois,whatsapp betmotion2012, Shurka saiu do armário, ainda muito inseguro e temeroso com a reação das pessoas. Naquele ano, frequentou um curso para desenvolvimento pessoal. Voltou convictowhatsapp betmotionque teriawhatsapp betmotionfazer as pazes com o pai e com o terapeuta.

"Depoiswhatsapp betmotioncinco anos sem falar com ele ewhatsapp betmotiontê-lo processado durante o divórcio dos meus pais, fui falar com ele. Quando eu dissewhatsapp betmotionnovo que era gay e que estava feliz com isso, ele repetiu o discursowhatsapp betmotionque eu ia ser infeliz, me machucar. Não acreditei", afirma.

"Mas respondi: 'Pai, não tem com o que se preocupar. Vai ficar tudo bem. Vou viver uma vida maravilhosa'. E ele aceitou."

Hoje, conta, seu pai é um dos seus melhores amigos. Pediu desculpas por tê-lo levado a terapiaswhatsapp betmotion"cura gay" e até foi para a parada gay com o filho neste ano.

Shurka também se encontrou com o terapeuta que lhe prometera "curar" e que ministrou Viagra e interferiuwhatsapp betmotionseu relacionamento quando tinha 19 anos. "Ele chorou e admitiu ter 'tratado' outros 13 meninos. Disse que não os havia 'curado'."

O terapeuta, afirma, se arrepende e diz não acreditar maiswhatsapp betmotion"cura gay".

Falando à BBC Brasilwhatsapp betmotionseu escritóriowhatsapp betmotionNova York, Mathew Shurka, hoje com 28 anos, tornou-se um ativista contra a terapiawhatsapp betmotion"reversão sexual" nos Estados Unidos e no mundo à frente da campanha "Born Perfect" ("nascido perfeito",whatsapp betmotiontradução literal).

Segundo ele, a maior parte das pessoas que acabawhatsapp betmotiontratamentos do tipo são adolescentes, filhoswhatsapp betmotionpais assustados que veem no terapia uma solução. E o tratamento, afirma, multiplica as chanceswhatsapp betmotionsuicídio entre a população gay.

"Mesmo depoiswhatsapp betmotionsair do armário, as pessoas que passam pelo tratamento da 'cura gay' foram tão abusadas psicologicamente e têm tantos traumas que ainda têm dificuldadewhatsapp betmotionse aceitar", diz.

Ele mesmo sofrewhatsapp betmotionansiedade e ainda está se curando dos anos nas terapias pelas quais passou. "Mas estou rodeadowhatsapp betmotionpessoas que me amam e me apoiam."