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'Temer acha que é Itamar, mas é Sarney', diz cientista político:y bet
Nay betavaliação, o partido está dividido ao meio pelo anseio do governador paulista Geraldo Alckminy betviabilizary betcandidatura presidencialy bet2018 e do pragmatismo do senador Aécio Neves, que se coloca como líder do Centrão.
E as manobrasy betbastidory betAécio, que ajudaram a garantir a vitória a Temer, aumentaram o poder político do tucano ey betredey betproteção contra os efeitos das investigações que ameaçam prendê-lo. "Aécio Neves é o novo Eduardo Cunha", diz Nobre.
Na bancada tucana, a divisão se expressouy bet21 votos a favor da denúncia, 22 contra e 4 abstenções. "Metade do PSDB, a turma do Aécio, desceu do muro ontem. E o Centrão vai forçar o resto a descer também", afirma Nobre.
Nessa entrevista à BBC Brasil, o cientista político analisa as condições atuais e futuras do campo político da centro-direita.
y bet BBC Brasil - O que o resultado da votação significa para o futuro políticoy betTemer?
y bet Marcos Nobre - O que importa não é exatamente o que aconteceu com o Temer, a rejeição da denúncia. O que estavay betcausa hoje era não só a manutençãoy betTemer, mas a própria eleiçãoy bet2018. E o resultado é o mais duro golpe que a gente pode imaginar no PSDB.
Dá pra dizer que as balizas da centro-esquerda foram definidas no impeachment da Dilma e o que foi decidido ontem é o que vai acontecer com a centro-direitay bet2018. E a situação éy betguerra no campo da centro-direita. Há uma divisão que não é só uma divisão, é uma cisão incontornável, irretrocedível.
y bet BBC Brasil - Como se dá essa divisão?
y bet Marcos Nobre - O PSDB está rachado no meio. Uma metade quer construir um polo para a eleiçãoy bet2018 que organiza o Centrão da Câmara e se liga a ele. A outra parte pensa que, se ficar pendurada ao governo Temer e ao Centrão no Congresso, não tem chance eleitoraly bet2018.
y bet BBC Brasil - Há um cálculo ideológico desse segundo grupo?
y bet Marcos Nobre - Ideológico nada, porque se o governo Temer fosse popular estaria todo mundo abraçado com ele. É um cálculo eleitoral mesmo.
Então, temos o Aécio no primeiro grupo e Alckmin no outro e não há mais acordo. Enquanto o Aécio ainda não estava morto - porque hoje ele é um morto-vivo - havia uma disputa entre ambos pela candidatura presidencial. A partir do momento que o Aécio é feridoy betmorte, Alckmin achou que ia ganhar por W.O.
y bet BBC Brasil - Mas o resultadoy betontem mostra que o jogo não vai ser fácil?
y bet Marcos Nobre - Sim. O que o Aécio fez? Ele grudou no governo Temer e grudou no Centrão. O que estamos vendo agora é uma tentativay betconstruir um novo poloy betplano nacional, juntar esse centrão do Congresso com uma parte do PSDB.
y bet BBC Brasil - Por que isso interessa a Aécio?
y bet Marcos Nobre - Para o Aécio, defender o Temer é defender a si mesmo. E o mesmo vale para a maioria dos políticos com mandato parlamentar. Quando votam sim, para impedir a denúncia, os parlamentares estão fazendo uma autodefesa. No caso do Aécio, a imagem é bastante clara até porque ele e o Temer foram pegos na mesma delação, do Joesley Batista.
Como Aécio já não tem o governo do Estadoy betMinas Gerais, ele precisa do governo federal para compensar, para ter algo para oferecer para esse grupo que ele está formando. Então você tem um grupo que vai ficar muito coeso com o governo e que esperay bettroca receber cargos e verbas, que é o Centrão.
y bet BBC Brasil - Qual é a vantagem para o Centrãoy betabraçar Temer?
y bet Marcos Nobre - Pense que a eleição do ano que vem será feita sem doação empresarial e haverá limitaçãoy betdoaçãoy betpessoa física.
Logo, estar grudado no governo significa uma vantagem enorme: se por um lado tem que carregar um governo impopular, por outro você tem cargo e recurso, tem a máquina. E ter boas condiçõesy betcampanha é essencial para se reeleger e conseguir manter o foro privilegiado, sem cair na mão do juiz Sergio Moro.
Então o sistema funciona totalmentey betautodefesa, já não tem mais nenhuma relação com representação. Então vocêy betum lado disputa pelos recursos da máquina federal, e por outro disputa pelo fundo eleitoral novo, que vai ser criado pela reforma política (em tramitação no Congresso).
É isso o que eles querem, o Centrão está parafraseando o Zagallo: "vocês vão ter que me engolir". Eles bloqueiam os recursosy betqualquer partido novo e tem o monopólio da representação, para ser candidato você precisa estary betum desses partidos.
y bet BBC Brasil - Então é improvável que o Partido Novo ou a Rede consigam viabilizar seus candidatosy bet2018?
y bet Marcos Nobre - Existe o imprevisível. Mas o que o sistema político inteiro está fazendo é impedir que o imprevisível aconteça. Todas as estratégiasy betbloqueio para que algo novo apareça estãoy betcurso. Até o momento eles estão sendo muito eficientes. Porém, se você quer ser um candidato que tenha chance na eleição presidencial, você não pode entrar nesse esquema, se não você não tem chance.
Então tem duas estratégias: a do Aécio é dizer assim "gente, o que estamos propondo são as melhores condições disponíveis para renovar mandatos parlamentares, sem mirary beteleição presidencial", ele já abandonou a pretensão presidencial e está oferecendo máquina, então não importa quem vai ser o candidato a presidente.
A do Alckmin é a seguinte: ou eu me apresento como algo diferente do que está aí ou não tenho chance na eleição presidencial. É essa a guerra.
y bet BBC Brasil - Não há espaço para esses dois anseios no PSDB?
y bet Marcos Nobre - Não. E também não há um plano B. O Alckmin criou um apêndice para si, um anexo que era o PSB, quando ele colocou o Márcio Françay betvice-governador. Mas veja a manobra do Aécio com o Rodrigo Maia: ele esvazia o PSB e faz com que os parlamentares migrem para o DEM, reforçando o Centrão. Então é um ataque especulativo fortíssimo.
Ou seja, se o Alckmin perder a briga dentro do PSDB, o PSB já não é mais uma alternativa para ele, porque ele vai ficar muito reduzido. Ao mesmo tempo o Rodrigo Maia aproveitou a posição estratégica que ele tem (como presidente da Câmara) e negociouy betentrada no acordo desde que o DEM crescesse.
y bet BBC Brasil - Aécio é o herdeiro do Eduardo Cunha na organização do baixo clero do Congresso?
y bet Marcos Nobre - Exatamente. É a coisa mais louca do mundo, mas é isso que está acontecendo. É um choquey bettal ordem, que nem sei como explicar isso. O Aécio está na posição que o Cunha estava. E quem está fazendo isso pelo Aécio na Câmara é o (ministro da Secretariay betGoverno Antonio) Imbassahy. Porque o Aécio está no Senado, então ele tem dois interlocutores na Câmara, o Imbassahy e o Rodrigo Maia.
O Aécio é o novo Cunha, vai querer construir esse polo grudado no governo, Centrão e depois eles pensamy betquem vai ser candidato, mas primeiro ele tem que consolidar esse polo e ganhar a guerra dentro do PSDB.
y bet BBC Brasil - Mas há algumas ambiguidades aí, não? O Alckmin poderia ter feito antes um movimentoy betruptura com o governo Temer e na verdade não fez. Ele e o João Doria ficaram pedindo cautela. Calcularam errado?
y bet Marcos Nobre - Eles já não estão mais fazendo isso. O Doria é meio atrasado, esquecemy betavisar para ele da mudança da correlaçãoy betforças e ele não entende sozinho. O Doria não tem a menor noção do que seja a política. Ele entendey betmídia social. De política, ele não sabe como funciona. Muito menos Brasília.
Deixando o Doriay betlado, a ideia do Alckmin era jogar parado: ele olhava o quadro e pensava que Aécio e Serra iam ser pegos na Lava Jato e que ele ia se livrar, logo bastava esperar. Ele não pensou errado. Se ele entrasse numa disputa com o governo Temer no primeiro momento, ia perder porque o Aécio era o presidente do partido e tinha o partido na mão. E perder o PSDB significava perder a candidatura presidencial. A leitura dele era que ele ia levar.
Só que o tamanho da onda que veio contra o Aécio, nem o Alckmin esperava. Quando ele viu, pensou: 'estou tranquilo, não tenho mais adversário'. E aí ele fez um acordo com o Aécio,y betnão chutá-lo enquanto Aécio estivesse caído. Deu tempo do Aécio reagir. Não a pontoy betele poder ser candidato a alguma coisa. Mas a ponto do Aécio poder construir alguma coisa, ocupar esse lugary betCunha que ele não tinha antes. E isso aí o Alckmin não viu. O Aécio deu a volta nele.
Se você prestar atenção, quantos deputados disseram: 'voto no relatório do PSDB?'. Eu contei quase 100, que realmente enfatizaram esse dado. Essa coisa que o relatório era do PSDB era para mostrar para os não aecistas o seguinte: 'agora vocês terão que descer do muro'. É o Centrão que está dizendo que vai ter que descer do muro. Esses caras arriscaram o pescoço para defender o governo e agora vão querer o pagamento, vão pedir os cargos do PSDB. Ao mesmo tempo, o governo diz que não vai punir ninguém com perday betcargos. Isso é insustentável.
Então a questão é: o racha no PSDB vai ser a pontoy bethaver migração partidária? Ou fica claro que alguém tem maioria no partido e o outro sai, que é o que não parece provável, ou eles vão passar seis meses se matando até alguém conseguir uma maioria.
Esse é o problema da centro-direita: se você grudar no governo Temer, você não tem chance presidencial, mas tem chancey betrenovar o mandato pela desigualdadey betrecursos que vão ter (em relação a) outros candidatos.
y bet BBC Brasil - Em 16 anos, essa parece ser a melhor chance da centro-direitay betganhar a eleição, no ano que vem. Ao mesmo tempo, a centro-direita está extremamente fragilizada para o jogo agora. Como explicar?
y bet Marcos Nobre - Deu muito errado o impeachment. Foi uma jogada evidentemente errada para a centro-direita. Os partidos ficaram com medo porque no mensalão eles decidiram deixar o Lula sangrar, sem tirá-lo. Ey bet2006 o Lula ganhou a eleição. Aí eles pensaram que se adotassem a mesma tática com a Dilma, vai que ela se recuperasse e o Lula fosse candidato. Resolveram liquidar a fatura.
Mas aí o problema caiu no colo deles. Não tem como você apoiar o impeachment e dizer que não tem nada a ver com o Temer. E resultouy betuma desorganização geral, tanto do campo da centro-esquerda quanto da centro-direita. Mas o Centrão já decidiu: melhor ter o dinheiro à vista do que a prazo, e candidato a presidente eles inventam na hora, porque não tem problema nenhum.
y bet BBC Brasil - Quem vai levar essa briga dentro do PSDB?
y bet Marcos Nobre - Não dá pra decidir ainda. Do pontoy betvista eleitoral, a estratégia do Alckmin parece muito mais razoável. Mas tudo dependey betcomo ele vai conseguir desembarcar do governo. Ele não pode desembarcar se o PSDB não desembarcar. Eles lidaram muito mal até agora com tudo. Mas agora chegou a horay betque eles vão ter que descer do muro por uma razão muito simples: metade do partido já desceu, a turma do Aécio.
Ele já escolheu a estratégia dele para 2018 e tem base. O Centrão são 170 deputados, mais o pessoaly betMinas, o povo que deve favor pro Aécio, dá uns 220. É uma base muito forte e que vai querer esses recursos do governo federal. O Aécio sabe operary betBrasília e o Alckmin não. A questão é que o Aécio vai querer botar o Alckmin para fora.
y bet BBC Brasil - Como avalia o pronunciamento do Temer após a votação?
y bet Marcos Nobre - Se fosse pra fazer metáfora futebolística, ele apareceu no púlpito para comemorar o título da série C e a subida para a série B.
y bet BBC Brasil - Qual passa a ser o papely betAécio no governo Temer?
y bet Marcos Nobre - As movimentações estão muito clarasy betBrasília. Aécio se tornou uma peça central da articulação do governo. É evidente que o Temer não consegue organizar um governo, ser presidente, então o Aécio vai assumir ali. Essa votação é o empoderamento final da posiçãoy betAécio no papely betCunha. Não à toa há um novo pedidoy betprisão do Janot agora.
y bet BBC Brasil - A dependência do Temery betrelação ao Centrão vai ficar ainda maior agora?
y bet Marcos Nobre - Completamente. Temer acha que é o Itamar (Franco), mas é o Sarney. E depende do Centrão.
y bet BBC Brasil - E a posiçãoy betRodrigo Maia? Em dado momento até pareceu que ele assumiria o lugar do Temer.
y bet Marcos Nobre - Durou duas semanas o sonho do Maia. O que aconteceu é interessante. Uma coisa é você usar um movimentoy betrua para fazer um impeachment. Outra coisa é o próprio sistema começar a se comer, não tem mais rua. Se tirassem o Temer, era apenas o sistema se autodevorando. Então as forças políticas perceberam que era um caminho perigoso.
y bet BBC Brasil - Mas Maia tinha pretensõesy betser presidente, não?
y bet Marcos Nobre - Desde que se elegeu presidente da Câmara, a quantidadey betreuniões que Maia faz com mercado financeiro e empresários é impressionante. Eu nunca tinha visto uma atividade comparável a essa. Ele resolveu deixar claro que era um player. Se colocouy betuma maneira diferente e construiu uma posição própria.
Quando vem a gravação do Joesley, o telefoney betMaia começou a tocar. Eram empresários sugerindo que ele assumisse e evitasse um caos. Maia permitiu que essas conversas acontecessem e aproveitou da posição familiar que tem com o ministro Moreira Franco, padrasto da mulher dele, para impedir que se disseminasse a versãoy betque ele era traidor.
Só que o Temer deu um contragolpe: chamou o pessoal do PSB para se filiar ao PMDB. A mensagem era para o Maia: "se você continuar nessa linha, eu vou te desidratar".
Maia, lembremos, estava negociando a ida desses mesmos parlamentares para o DEM. Ele topou recuar e,y bettroca, Temer não ia atrapalhar o crescimento do DEM, que vai voltar para o jogo político como um ator importante. Para Maia, foi ótimo negócio, ele se projetou e fortaleceu o partido, está bem, pode ser o candidato a governo no Rio. E nessa negociação, surge mais uma vez o Aécio.
Na formação desse blocão, além do DEM e do PMDB, é preciso ter gente do PSD e do PP. Maia entra nesse Centrãoy betAécio com capacidadey betdireção, já que distribui as pautas, como presidente tem uma posição estratégica. Ele adquiriu um status que ele mesmo jamais teria imaginado na vida.
y bet BBC Brasil - Com esse cenário, existe alguma chancey betaprovação das reformas?
y bet Marcos Nobre - Ah, não. Isso acabou. Eles já admitem que a da Previdência não vai dar. Agora é aquele momento Sarney e com essas duas estratégias dentro da centro-direita,y betgrudary betTemer ey betafastar.
As elites econômicas que imaginaram passar o poder do Temer para implementar a agenda que nenhum governante que dependey betvotos será capazy bettocar se equivocaram, foi um lance malfeito. O que passou até agora é um Frankenstein. A Reforma Trabalhista é uma loucura, metade do empresariado acha que não faz muito sentido.
A questão é como organiza o "governo Sarney" nesse último ano e meio.
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