Corpo carbonizado, testemunha assassinada e jornalista perseguido: o caso que expõe 'guerra' nas margens da Amazônia:saque pix sportingbet
Pela morte dos dois homens e a tentativasaque pix sportingbethomicídio contra os outros três, o Ministério Públicosaque pix sportingbetRondônia pediu a condenaçãosaque pix sportingbetum pecuarista, do gerentesaque pix sportingbetsua fazenda, do presidentesaque pix sportingbetuma associação rural local esaque pix sportingbetdois integrantes da Polícia Militarsaque pix sportingbetRondônia. Os cinco acusados, que se dizem inocentes, estão presos preventivamente.
"Esse é um dos poucos casossaque pix sportingbetviolência no campo que foi minimamente esclarecido. Chegou a júri e houve presos. É um avanço frente à impunidade existente", diz Josep Iborra Plans, da Articulação Amazônia da Comissão Pastoral da Terra. Plans já foi, ele mesmo, ameaçadosaque pix sportingbetmorte.
Para Plans, o caso também exemplifica a truculência no campo. "Os mortos foram perseguidos sem misericórdia. Uma autêntica caçada humana".
Perseguição e morte
A história do assassinato dos dois sem-terra começa com a reintegraçãosaque pix sportingbetposse da fazenda Tucumã,saque pix sportingbetCujubim, que estava ocupada pelo acampamento "Terra Nossa". O dono da área não tinha título da propriedade. Em janeirosaque pix sportingbet2016, o grupo sem-terra saiu do local por determinação da justiça. Não houve incidentes.
A tragédia ocorreusaque pix sportingbetseguida. Após a reintegração, cinco ex-ocupantes voltaram ao antigo acampamento, sob a justificativasaque pix sportingbetrecolher objetos que ficaram para trás. Era 31saque pix sportingbetjaneiro. Ao chegarem, encontraram os resquícios da ocupação destruídos. Deixaram o local e foram emboscados por um grupo armado,saque pix sportingbetacordo com testemunhas. Tentaram fugir e foram perseguidos por dezoito horas, segundo o MP.
No dia seguinte, o corpo carbonizado foi encontrado dentrosaque pix sportingbetum carro. Examessaque pix sportingbetDNA confirmaram que era osaque pix sportingbetAlysson Henriquesaque pix sportingbetSá Lopes, 23 anos. O estado do corpo não permitiu que a perícia identificasse a causa definitiva da morte. Ruan Lucas Hildebrandtsaque pix sportingbetAguiar, 18 anos, nunca foi achado, apesar das buscas, e foi dado como morto.
Em 3saque pix sportingbetfevereiro, na fazenda Tucumã, foi apreendida uma caminhonete que levava um "arsenal", nas palavras do MP: uma metralhadora, quatro espingardas, um revólver, munição, fardamento, GPS.
Ciclosaque pix sportingbetviolência
Os outros três homens fugiram da áreasaque pix sportingbetmeio às torassaque pix sportingbetmadeira transportadassaque pix sportingbetum caminhão, segundo relatos. A fuga não foi uma solução. Mais tarde,saque pix sportingbet4saque pix sportingbetmarço deste ano, Renatosaque pix sportingbetSouza Benevides foi assassinado.
Outro, sofreu um novo atentadosaque pix sportingbet2016, sobreviveu e entrou no programasaque pix sportingbetproteção a testemunhas. O terceiro teve que sair da região. Os nomes dos dois sobreviventes foram omitidos pela BBC Brasil, por questãosaque pix sportingbetsegurança.
A violência não se esgotou aí. Em fevereiro deste ano, Roberto Santos Araújo, liderança do acampamento Terra Nossa, foi morto.
A mãesaque pix sportingbetRuan, cujo nome não revelamos por questãosaque pix sportingbetsegurança, entrou no programasaque pix sportingbetproteção a testemunhas. Ela passou a procurar mais informações sobre o desaparecimento do filho e suspeitava que o corposaque pix sportingbetRuan tivesse sido atiradosaque pix sportingbetum rio, amarradosaque pix sportingbetuma pedra.
Em depoimento, a mãesaque pix sportingbetRuan informou que uma testemunha da região contou a ela que, no dia dos fatos, teria visto o rapaz saindo do mato muito cansado e pedindo água. Em seguida, apareceram pessoas que se apresentaram como policiais, o detiveram, o amarraram e o levaramsaque pix sportingbetum carro, que seria o mesmo onde o corposaque pix sportingbetAlysson foi encontrado carbonizado. A testemunha também está sob proteção do Estado.
Ivan Pereira da Costa, jornalista do nortesaque pix sportingbetRondônia que cobriu a história, foi vítimasaque pix sportingbetatentado a tiros na frente dasaque pix sportingbetcasasaque pix sportingbetCujumim,saque pix sportingbetabrilsaque pix sportingbet2016, e saiu da cidade. A BBC Brasil não conseguiu encontrá-lo. "Me calaram. Não posso continuar na cidade e nem com o site", dissesaque pix sportingbetentrevista na época, para o G1saque pix sportingbetRondônia.
Segundo o MPsaque pix sportingbetAriquemes, ainda não é possível saber se esses casos estão relacionados ao crime principal.
Defesa dos acusados
O proprietário da fazenda Tucumã, Paulo Iwakami, é um dos denunciados pelo MP pela mortesaque pix sportingbetAlysson e Ruan. Natural do Paraná, Iwakami migrou para Rondônia há maissaque pix sportingbettrês décadas. "Ele pegou mata pura e formou a fazenda", diz o advogado Marcos Vilelasaque pix sportingbetCarvalho, que representa Iwakami.
Umasaque pix sportingbetsuas fazendas, a Tucumã, foi algumas vezes ocupada por grupos sem-terra. "Na última invasão, (os sem-terra) mataram dezenassaque pix sportingbetanimais, queimaram casa, curral, trator", afirma Vilelasaque pix sportingbetCarvalho.
Em seu depoimento, Iwakami disse que Sérgio Sussumu, então presidentesaque pix sportingbetuma associação rural da região, indicou pessoas para fazerem a segurança da fazenda Tucumã. Os funcionários teriam sido orientados a procurar a polícia se houvesse qualquer ocorrência, diz a defesa. "Mas aconteceu aquela anarquia. O Paulo Iwakami é inocente. Cada um é responsável por seu CPF", afirma seu advogado, incriminando os subordinados do fazendeiro.
Já a defesasaque pix sportingbetSergio Sussumu alega que ele é inocente e quesaque pix sportingbetparticipação no caso é uma "história inventada" pelo proprietário da fazenda Tucumã. Acrescenta que ele não foi reconhecido pelos policiais denunciados pelas mortes. Ressalta ainda que Sussumu também teve uma fazenda invadida por sem-terra e que resolveu o assunto sem ocorrência policial.
O grupo contratado para fazer a segurança da fazenda Tucumã seria formado por Rivaldosaque pix sportingbetSouza, gerente e proprietário da caminhonete apreendida com armas, Jonas Augusto dos Santos Silva, cabo da PM, e Moisés Ferreirasaque pix sportingbetSouza, sargento da PM. A BBC Brasil não conseguiu contato com a defesa dos dois primeiros.
O sargento Moisés, como Souza é conhecido, também é suspeito na chacinasaque pix sportingbetColniza (MT), onde nove pessoas foram assassinadassaque pix sportingbetabril deste ano. Foi a maior chacina no campo desde Eldorado dos Carajás,saque pix sportingbet1996. Segundo a Polícia Judiciária Civilsaque pix sportingbetMato Grosso, o sargento seria o lídersaque pix sportingbetum grupo intitulado "Encapuzados". Ele estava foragido e se apresentou à justiça apenas no finalsaque pix sportingbetmaio.
A defesasaque pix sportingbetSouza diz que o sargento é inocente nos dois casos e acrescenta que tem provassaque pix sportingbetque ele estava na cidadesaque pix sportingbetJi-Paraná quando os crimes aconteceram. Portanto não poderia estar presente nas cenas dos homicídios. "No Brasil, primeiro se prende, depois se investiga. Não existem provas. Moisés tem 6 anos no Exército, 22 anos na PM, foi para a Força Nacional, tem folhasaque pix sportingbetelogios na corporação", afirma o seu advogado, Jorge Muniz Barreto.
Milícias e destruição
Assim como no casosaque pix sportingbetAlysson e Ruan,saque pix sportingbetRondônia, há outros episódiossaque pix sportingbetviolência no campo envolvendo seguranças contratados por donossaque pix sportingbetterras. Segundo Anderson Batistasaque pix sportingbetOliveira, promotorsaque pix sportingbetJustiçasaque pix sportingbetAriquemes e responsável pelo caso dos dois jovens, esses seguranças são contratados para "andarem armados e evitarem a tomada da terra". Alguns não possuem ao menos porte legalsaque pix sportingbetarmas.
"São os jagunços, chamadossaque pix sportingbetguaxebas aquisaque pix sportingbetRondônia. Andamsaque pix sportingbetpequenos grupos,saque pix sportingbetcavalos ou carros, e fazem patrulhas pelas estradassaque pix sportingbetterra. Como se fosse um estado paralelo, uma milícia", afirma Oliveira.
Casossaque pix sportingbetassassinatosaque pix sportingbetproprietários rurais ousaque pix sportingbetseus funcionários também ocorrem, segundo as fontes ouvidas pela BBC Brasil. E também há episódiossaque pix sportingbetviolência, sem morte, dos dois lados.
"Aqui há muita terra pública grilada. Quando algum grupo invade a terra, a soluçãosaque pix sportingbetambos os lados é violenta. Há casos, por exemplo,saque pix sportingbetque os invasores matam animais, queimam pasto, disparam armasaque pix sportingbetfogo nas redondezas. Até o ápice, mais raro, que é a invasão total da sede da fazenda", completa Oliveira.
As características da Amazônia dificultam o combate a esses crimes. "São fatos que ocorrem na selva,saque pix sportingbetáreassaque pix sportingbetgrandes latifúndios, a centenassaque pix sportingbetquilômetros da cidade, onde não pega celular, com muitas rotassaque pix sportingbetfuga e esconderijo e onde qualquer presença diferente é facilmente percebida. Não vai ser a investigação convencional para delitos urbanos que vai elucidar esse tiposaque pix sportingbetcrime cometido na zona rural. Infelizmente, não existe estrutura na Polícia Civil e no Ministério Público para fazer essa investigação", explica o promotorsaque pix sportingbetJustiça.
Cristiane Lima, coronel da PM do Pará na reserva e professorasaque pix sportingbetdireitos humanos, aponta um novo fatorsaque pix sportingbetconflito: "Voltou a aparecer aqui no Pará a participação do policial na violência do campo. É o ressurgimentosaque pix sportingbetum discursosaque pix sportingbetguerra. Um sentimentosaque pix sportingbetjusticeiros,saque pix sportingbetque é preciso resolver os problemas na minha área", comenta.
Reforma agrária
O delegado Mario Jorge Pinto Sobrinho, da delegaciasaque pix sportingbetconflitos agráriossaque pix sportingbetRondônia, convive diariamente com a violência no campo. Para ele, "o grande problema da violência no campo é a ausência da reforma agrária". "Se o Estado fizesse reforma agrária, Rondônia não estava nessa briga toda. O Incra está acabandosaque pix sportingbetRondônia, sem servidores", diz.
O superintendente do Instituto Nacionalsaque pix sportingbetColonização e Reforma Agrária (Incra)saque pix sportingbetRondônia, Cletho Munizsaque pix sportingbetBrito, confirmou à BBC Brasil a gravidade da situação do campo na região. "Todo dia está ocorrendo reintegraçãosaque pix sportingbetpossesaque pix sportingbetRondônia. É hoje o Estado onde mais está morrendo gente no campo. Pode ocorrersaque pix sportingbetalgum momento alguma situação que fuja do controle."
A Secretariasaque pix sportingbetSegurançasaque pix sportingbetRondônia afirmou,saque pix sportingbetnota, que vem atuando "com a Patrulha Rural e priorizando a investigação dos crimes relacionados ao conflitosaque pix sportingbetterras". Sobre a mortesaque pix sportingbetAlysson e Ruan, disse que "todas as medidas legaissaque pix sportingbetresponsabilidade das polícias como investigação e produçãosaque pix sportingbetprovas foram feitas dando suporte ao Judiciário".
O julgamento é esperado com grande expectativa por movimentos sociais do camposaque pix sportingbetRondônia. A Comissão Pastoral da Terra está organizando uma vigíliasaque pix sportingbetoração na véspera, dia 14saque pix sportingbetagosto,saque pix sportingbetAriquemes, onde será realizado.