De Raquel Dodge a Cármen Lúcia: o que 4 mulheres no topo representam para a Justiça:as melhores casas de apostas esportivas
"Elas prevalecem (em número), mas, à medida que a carreira avança, vão ficando pelo caminho por que veem que não vão chegar ao topo", diz à BBC Brasil Patricia Tuma Martins Bertolin, professora do Mackenzie e autora do livro recém-lançado Mulheres Advogadas: Perfis Masculinosas melhores casas de apostas esportivasCarreira ou Tetoas melhores casas de apostas esportivasVidro, baseado emas melhores casas de apostas esportivaspesquisaas melhores casas de apostas esportivaspós-doutorado.
No estudo, Bertolin investigou dez grandes escritóriosas melhores casas de apostas esportivasadvocacia do país. Em apenas dois deles encontrou números iguaisas melhores casas de apostas esportivasmulheres e homens na condiçãoas melhores casas de apostas esportivassócios. Nos demais, as mulheres são contratadasas melhores casas de apostas esportivasmaior número já no estágio, sendo também a maioria nos patamares iniciais da carreira, mas, à medida que esta avança, tendem a permaneceras melhores casas de apostas esportivasposições subalternas.
"A maioria das que ascenderam conseguiram fazê-lo antesas melhores casas de apostas esportivasserem mães", explica Bertolin.
E, quando mães, precisam se submeter a condições muito difíceis: "Abdicandoas melhores casas de apostas esportivasfinsas melhores casas de apostas esportivassemana, trabalhandoas melhores casas de apostas esportivasmadrugada, sob grandes pressões. Em troca da flexibilidadeas melhores casas de apostas esportivasnão ter um horário rígido para entrar (no escritório), elas vivemas melhores casas de apostas esportivasritmo alucinante, que gera um alto índiceas melhores casas de apostas esportivasafastamento por doença. E muitas voltam da licença-maternidade com menos chanceas melhores casas de apostas esportivasestar no páreo para serem promovidas."
Além disso, para Bertolin, no meio jurídico "existe a concepçãoas melhores casas de apostas esportivasque os cuidados com a família devem ser assumidos prioritariamente pelas mães. Ninguém na minha pesquisa questionou o fatoas melhores casas de apostas esportivas'por eu ser mãe, sou eu que sou chamada na escola, que tenho que contratar a empregada...'. É algo naturalizado e que se repeteas melhores casas de apostas esportivasoutras profissões, como mostram pesquisasas melhores casas de apostas esportivascarreiras como a medicina".
Magistratura
Na carreira jurídica pública, segundo o censo do Poder Judiciárioas melhores casas de apostas esportivas2014, há por exemplo 64%as melhores casas de apostas esportivasmagistrados homens e 36%as melhores casas de apostas esportivasmulheres.
À medida que a hierarquia sobe, a diferença aumenta ainda mais: os desembargadores brasileiros são 78,5% do sexo masculino; os ministrosas melhores casas de apostas esportivastribunais superiores e do STF são 81,6% do sexo masculino.
Para Maria da Gloria Bonelli, professora sênior do Departamentoas melhores casas de apostas esportivasSociologia da Ufscar e pesquisadora do tema, a ascensão na carreira pública é "complexa" para mulheres.
De um lado, a ingressão via concurso ajuda a neutralizar diferençasas melhores casas de apostas esportivasgênero e garantias trabalhistas, como licença-maternidadeas melhores casas de apostas esportivasseis meses. Mas quando o avanço dependeas melhores casas de apostas esportivasnomeações, há mais empecilhos.
"Muitas sentem que não foram discriminadas, porque a carreira pública neutraliza (distinçõesas melhores casas de apostas esportivasgênero). Mas outras dizem que precisaram se dedicar o dobro", diz Bonelli à BBC Brasil.
Em outros poderes, há desequilíbrio ainda maior do que no Judiciário, apesar da existênciaas melhores casas de apostas esportivascotas para candidatas mulheres.
Nas últimas eleições, por exemplo, apenas 13% dos prefeitos e 14% dos vereadores eleitos eram mulheres, segundo o Tribunal Superior Eleitoral.
"Não é algo que venha só dos homens, mas dos valores da sociedade. Muitas se escondem atrás do escudoas melhores casas de apostas esportivasprofissional irretocável para que a condiçãoas melhores casas de apostas esportivasgênero não pese demais. (...) Muitas delegam tarefas a outras mulheres, com todas as culpas que isso traz."
No Supremo, a ministra Cármen Lúcia já fez algumas vezes questionamentos a distinçõesas melhores casas de apostas esportivasgênero.
Durante sessãoas melhores casas de apostas esportivasmaio, quando a ministra Rosa Weber foi interrompida por Luiz Fux, Cármen Lúcia se queixou.
"Em todos os tribunais constitucionais onde há mulheres, o númeroas melhores casas de apostas esportivasvezesas melhores casas de apostas esportivasque as mulheres são aparteadas (interrompidas) é 18 vezes maior do que entre os ministros. (...) Em geral, eu e a ministra Rosa - não nos deixam (nem) falar, então nós não somos interrompidas."
Impacto na Justiça?
O debateas melhores casas de apostas esportivasrelação à presença feminina no Judiciário não se restringe às condiçõesas melhores casas de apostas esportivascarreira. Uma questão crucial é se a ausênciaas melhores casas de apostas esportivasmais mulheres no topo impacta a forma como a Justiça é feita e aplicada no Brasil.
Em 2010, o Conselho Nacionalas melhores casas de apostas esportivasJustiça chegou a afastar um juiz mineiro que,as melhores casas de apostas esportivassentençaas melhores casas de apostas esportivasum processoas melhores casas de apostas esportivasviolência contra a mulher, afirmou que a Lei Maria da Penha tem "regras diabólicas" e "que o mundo é masculino e assim deve permanecer".
Agregou que "uma falsa igualdade tem sido imposta às mulheres, que,as melhores casas de apostas esportivasverdade, vêm sendo constantemente usadas nos discursos políticosas melhores casas de apostas esportivascampanha".
Em 2014, ganhou as manchetes uma decisão do Tribunalas melhores casas de apostas esportivasJustiçaas melhores casas de apostas esportivasSão Paulo que inocentou um fazendeiro do interior do Estado que fora presoas melhores casas de apostas esportivasflagrante por estuprar uma meninaas melhores casas de apostas esportivas13 anosas melhores casas de apostas esportivas2011.
A conclusão dos desembargadores da Corte foias melhores casas de apostas esportivasque a menina era prostituta e isso pode ter confundido o fazendeiro.
"Podemos encontrar menoresas melhores casas de apostas esportivas14 anos que aparentam ter mais idade, mormente nos casosas melhores casas de apostas esportivasque eles se dedicam à prostituição", diz a decisão do TJ.
Para Patricia Bertolin, decisões desse teor "sãoas melhores casas de apostas esportivasmachismo explícito". "O julgador entra com o preconceito dele", afirma.
Maria da Gloria Bonelli também acredita que haveria comportamentos diferentes no Judiciário se houvesse mais mulheres no topo, mas faz ressalvas.
"É algo bastante debatido. Também há muitas mulheres que pensamas melhores casas de apostas esportivasforma binária, com critérios hegemônicos masculinos", diz.
Além disso, diz, "vimos, por exemplo, que apenas botar mulheres (para comandar) a Delegacia da Mulher não melhora. Acaba se tornando um gueto feminino, desvalorizado".
Algumas pesquisas acadêmicas debatem se o domínio masculino no Judiciário dificultaria o acesso à Justiça para vítimas mulheres.
'Ambienteas melhores casas de apostas esportivasresistência'
Em artigoas melhores casas de apostas esportivas2015 publicado na revista Direito GV, a socióloga Wânia Pasinato analisou as condiçõesas melhores casas de apostas esportivasaplicação da Lei Maria da Penha.
Umaas melhores casas de apostas esportivassuas conclusões éas melhores casas de apostas esportivasque existe "um ambienteas melhores casas de apostas esportivasresistência,as melhores casas de apostas esportivasinstituições que não se prepararam para cumprir com seus novos mandatos e nas quais o machismo institucionalizado bloqueia o avanço e a incorporaçãoas melhores casas de apostas esportivaspolíticasas melhores casas de apostas esportivasgênero".
Mas Pasinato não acredita que aumentar o númeroas melhores casas de apostas esportivasmulheres nas instâncias jurídicas necessariamente ampliaria o acesso à Justiça das vítimas mulheres.
"Existem magistradas, promotoras, defensoras, delegadas muito bem informadas sobre a gravidade da violência contra as mulheres e que atuam pela defesa dos direitos das mulheres. Portanto, contribuem para ampliar esse acesso. Contudo, há aquelas com visões diferentes", diz por email à BBC Brasil.
"Aquelas que acham que a mulher ainda provoca a violência. Aquelas que acham que é mais importante preservar a maternidade e a família, mesmo que isso coloqueas melhores casas de apostas esportivasrisco a vida da mulher."
"Isso porque o machismo que invisibiliza a violência contra as mulheres é parte do repertório culturalas melhores casas de apostas esportivashomens eas melhores casas de apostas esportivasmulheres na nossa sociedade. Não basta ser mulher para ter uma identificação imediata com os direitos das mulheres ou com a violaçãoas melhores casas de apostas esportivasseus direitos", completa Pasinato.
De qualquer modo, as pesquisadoras concordam que a existênciaas melhores casas de apostas esportivasquatro mulheresas melhores casas de apostas esportivasalgumas das mais altas instâncias jurídicas do país tem aspecto positivo na promoção da igualdade.
"A inexistênciaas melhores casas de apostas esportivasmulheresas melhores casas de apostas esportivasespaçosas melhores casas de apostas esportivaspoder se torna um funil para as outras mulheres, que acham que a ascensão não é possível", diz Bertolin.
Para Bonelli, trata-se tambémas melhores casas de apostas esportivas"uma conquista muito importanteas melhores casas de apostas esportivasuma geração, que por muitos anos cavou seu espaço" no meio jurídico, "em uma épocaas melhores casas de apostas esportivasque se dizia que precisavam trabalhar como homens,as melhores casas de apostas esportivasuma profissão masculina".
"São dimensões diferentes do acesso à justiça, mas que no somatório representam uma sociedade mais igualitária e que respeita os direitos humanos das mulheres", conclui Pasinato.