O curso que tenta ensinar homens a não agredirem mais mulheres:fazer apostas esportivas é pecado
"Com essa mão aqui eu dei três tapas na orelha dela que fizeram sangrar. Dei chute no útero, acho que no joelho também. Agredi, sim, não vou mentir", disse à BBC Brasil. Tudo isso na frente dos filhosfazer apostas esportivas é pecadoquatro anos e dois anos.
Rubens* partiu para cima da filha. Com 60 anosfazer apostas esportivas é pecadoidade - e um corpo todofazer apostas esportivas é pecadofisiculturistafazer apostas esportivas é pecadovidradofazer apostas esportivas é pecadoacademia -, ele teve seus desentendimentos com a jovemfazer apostas esportivas é pecado18 anos.
"Eu a repreendia, controlava muito horário dela sair e chegar", conta. Um dia, avançou para a agressão e, quando a mãe, que sofrefazer apostas esportivas é pecadocâncer e estáfazer apostas esportivas é pecadotratamento, entrou na frente para defender a menina, acabou apanhando também. As duas o denunciaram.
Esses três homens agora estão sendo processados com base na lei Maria da Penha e viraram colegasfazer apostas esportivas é pecadosala no curso "Tempofazer apostas esportivas é pecadoDespertar", promovido pelo Ministério Públicofazer apostas esportivas é pecadoSão Paulo com o objetivofazer apostas esportivas é pecadoreduzir a reincidênciafazer apostas esportivas é pecadocasosfazer apostas esportivas é pecadoviolência contra a mulher.
"É uma formafazer apostas esportivas é pecadoprevenir a violência contra a mulher. Percebi que os casosfazer apostas esportivas é pecadoreincidênciafazer apostas esportivas é pecadoviolência doméstica eram muito altos,fazer apostas esportivas é pecadotornofazer apostas esportivas é pecado65%. Buscando projetos internacionaisfazer apostas esportivas é pecadosucesso, consegui achar dois que trabalhavam com o homem, com a desconstrução do machismo, da masculinidade", explicou à reportagem a promotora e criadora do curso, Gabriela Manssur.
"A pessoa mais beneficiada com esse curso é a mulher. Nas três edições (do curso) que fizemos, tivemos somente um homem que voltou a cometer violência. Ou seja, reduzimos a reincidência para praticamente zero. Portanto, se temos 17 homens aqui, vamos ter menos 17 casosfazer apostas esportivas é pecadoviolência contra a mulher no Ministério Público ano que vem", afirmou.
"O que é melhor: não é só o processo, dentro do processo tem uma vida, uma família que sofre, uma vítima que sofre. Então são menos 17 vítimas sofrendofazer apostas esportivas é pecadoviolência contra a mulher."
O curso é composto por oito aulas que,fazer apostas esportivas é pecadogeral, são realizadas a cada duas semanas. Aborda temas relacionados a gênero, direitos das mulheres, lei Maria da Penha, masculinidade, sexualidade e DSTs (doenças sexualmente transmissíveis), álcool e drogas, paternidade e afetividade, entre outros.
Participam da iniciativa homens denunciados por violência doméstica e sob investigação, cumprindo medida protetiva e/ou aguardando julgamento. O comparecimento é obrigatório e pode reduzir eventuais penasfazer apostas esportivas é pecadocasofazer apostas esportivas é pecadocondenação.
A BBC Brasil acompanhou três diasfazer apostas esportivas é pecadocurso e conversou com organizadores, participantes e mulheres vítimasfazer apostas esportivas é pecadoviolência cometida por eles.
Chegada
Quem entrasse desavisado naquela sala no fórum regional da Penha (zona lestefazer apostas esportivas é pecadoSão Paulo) dificilmente entenderia quem eram aqueles homens e o que faziam ali.
Um grupo que reunia jovensfazer apostas esportivas é pecado20 e poucos anos com óculos Rayban escorados na testa; idososfazer apostas esportivas é pecadocabelos brancos; brancos, ruivos, negros, pardos, barbudos, com dreads no cabelo; homens escolarizados, com diploma universitário; ou que mal haviam terminado o colégio; homens fortes, altos, musculosos; outros franzinos, miúdos.
"Não existe perfil do agressor. É aquele homem, aquele jovem, aquele idoso, que não respeita os direitos das mulheres. São homens que não entendem que as mulheres têm os mesmos direitos que eles, que foram criados no reflexofazer apostas esportivas é pecadouma sociedade machistafazer apostas esportivas é pecadoforma a entender que a mulher tem que servi-lo, que a mulher tem que ser controlada, que a mulher que sai com roupa curta é vadia, etc", afirma Manssur.
E, logo no primeiro diafazer apostas esportivas é pecadocurso, já era possível perceber um sentimentofazer apostas esportivas é pecadocomum: a revolta por estarem ali "sem terem cometido crime nenhum".
"Eles chegam aqui revoltados. Sem entender por que estão ali. Eles falam: 'Eu não sou criminoso, o que eu estou fazendo aqui?'. Não entendem por que as mulheres estão querendo tantas coisas, por que elas querem se igualar aos homens. Xingam até a Maria da Penha", conta Sergio Barbosa, um dos gestores do curso.
O primeiro trabalho éfazer apostas esportivas é pecadoconscientização sobre os direitos das mulheres, o feminismo e a masculinidade. Nas aulas, especialistas convidados pelos organizadores falam sobre mudanças da sociedade e conquistas recentes das mulheres, sobre a importânciafazer apostas esportivas é pecadocombater a ideiafazer apostas esportivas é pecadoque "homem tem que ser duro" oufazer apostas esportivas é pecadoque "homem não pode chorar" e tentam chamar a atenção para as razões dos erros dos participantes.
"Cheguei aqui e achava que jamais tinha sido agressivo, que nunca tinha sido agressor. Não entendia o que estava fazendo aqui. comecei a entender e aprender coisas que eu nunca tinha ouvido na vida, que existem vários tiposfazer apostas esportivas é pecadoagressão, que agressão verbal também é violência. Aí no primeiro encontro já vi que eu estava errado", relatou João.
Reflexões
Além das palestras, os homens são reunidosfazer apostas esportivas é pecadogruposfazer apostas esportivas é pecadoreflexão onde debatem como podem melhorar suas atitudes. Em um deles,fazer apostas esportivas é pecadoque o assunto era autocontrole, a reportagem acompanhou o momentofazer apostas esportivas é pecadoque a conversa passou a tratar das "roupas que as mulheres vestem".
"Minha mulher pode vestir o que quiser. Eu só aviso para ela: 'Você quer sair assim? Você sabe como os homens vão olhar'. Mas eu respeito a escolha dela", disse um deles. O outro reclamou do batom escuro e vermelho que a esposa usava - semelhante ao da repórter diante dele. "Não gosto. Acho ridículo", disse com veemência.
Sergio Barbosa, que monitorava o grupo, imediatamente tentava direcionar o pensamento delesfazer apostas esportivas é pecadooutra forma. "Mas qual é o problema do batom? E ela não pode usar?"
Um dos acusados também chegou a transparecer uma insatisfação por estar respondendo pelo crime. "No meu caso, foi só (violência) verbal, ela não precisava ter colocado na lei Maria da Penha". Ao que Barbosa rebatia: "Mas agressão verbal também é violência. Quando alguém te xinga, te rebaixa, te humilha, você gosta? Como você se sente?"
"Nós damos um panorama sobre o que é esperado da mulher na sociedade, como são colocados os direitos das mulheres na Constituição formalmente e como é isso na prática, mostrando o quanto a mulher sofre pra ter os mesmos direitos que os homens", explicou a promotora.
"Eu sempre pergunto: onde é o lugar da mulher? Eles respondem: onde ela quiser. A mulher pode trabalhar? Pode. Pode ser promotora? Pode. E eu sei que tem casos aqui que a mulher apanhou porque foi trabalhar ou foi estudar."
Alémfazer apostas esportivas é pecadopropor a reflexão sobre a questãofazer apostas esportivas é pecadogênero, o curso também traz profissionais da Justiça, para tirar dúvidas dos acusados sobre as implicações da lei Maria da Penha, e profissionais da saúde para orientá-los sobre o víciofazer apostas esportivas é pecadoálcool e drogas - muitos sofrem desse problema - e sobre DSTs.
Mudanças
No penúltimo encontro do curso, era possível perceber outra semelhança entre todos os homens que estavam ali. Se na primeira participação eles se sentiam revoltados, sem entender o motivofazer apostas esportivas é pecadoestarem ali, neste a sensação erafazer apostas esportivas é pecadoaprendizado.
"A principal mudança deles foi falar maisfazer apostas esportivas é pecadosi mesmo como responsável pelo fato que aconteceu, e não ficar mais delegando a culpa à companheira. Eles perceberam que o comportamento machista os levou a essa situação", observou Sergio Barbosa.
Rubens ainda se vê com dificuldadesfazer apostas esportivas é pecadoaceitar essas "novas regras" da sociedade que aprendeu no curso. Mas reconhece seu erro.
"Eu tenho 60 anos, é muito difícil mudar (o pensamento). Talvez eu tenha que manter minha máscara e fingir que está tudo bem. É difícil esquecer meus valores, tudo que aprendi. Mas tenho certeza que mudei", disse na reflexão com os companheirosfazer apostas esportivas é pecadogrupo.
"Eles mostraram para mim quefazer apostas esportivas é pecadograça não foi, algo eu fiz. E a partir desse dia comecei a refletir que eu não era tao bom quanto achava que fosse. Se você fica preso aos paradigmas antigos, você se torna um opressor. Um dia a gente (ele e a filha) vai se aproximar, e eu penso que serei uma pessoa mais compreensiva, melhor. Ficar preso a esses paradigmas não leva a nada."
A esposafazer apostas esportivas é pecadoJoão tem sentido na prática as mudanças. Os dois ficaram separados por quatro meses após a agressão dele, mas se reaproximaram e acabaram reatando o relacionamento. "Ele mudou bastante. Na hora que vai ficar nervoso, ele pensafazer apostas esportivas é pecadooutra coisa e acalma. Mudou a maneirafazer apostas esportivas é pecadopensar. Está mais controlado, não é tão ciumento", contou ela à BBC Brasil.
Já no casofazer apostas esportivas é pecadoPedro, o casal prefere se manter separado. Mas a relação dos dois é outra a partirfazer apostas esportivas é pecadoagora. "Mudou completamente. Até mesmo a relação com a minha família, ele não falava com a minha mãe, hoje ele vai lá, fala com a minha família. Realmente houve uma modificação, não sei se é duradoura", pontuou a esposa.
"A gente vê até pela formafazer apostas esportivas é pecadose comunicar. Ele senta, conversa, não tem aquela ignorânciafazer apostas esportivas é pecadose sentir superior, agora éfazer apostas esportivas é pecadoigual pra igual."
Pedro não esconde a vergonha pelo que fez e diz que "não se perdoa". Mas agora se compromete a transmitir aos filhos tudo o que tem aprendido com a situação.
"Se eu tivesse a cabeça que tenho hoje na época, eu não teria feito isso. O que eu fiz foi um acidente, eu nunca mais vou fazer e é algo que eu me envergonho, me arrependo, nao consigo me perdoar. Converso muito com meu filho, explico que ele não pode baterfazer apostas esportivas é pecadomulher, que não pode bater na irmã dele, tento consertar a c***** que fiz", disse.
"Acredito que tinha que ter um pouco dissofazer apostas esportivas é pecadotodas as escolas do Brasil pra essas crianças e adolescentes. Isso iria eliminar muito o tipofazer apostas esportivas é pecadohomem que vira agressor, porque ele iria entender a importância da mulher na sociedade."
* Os nomes são fictícios - os personagens conversaram com a reportagem sob a condiçãofazer apostas esportivas é pecadonão serem identificados.