Tratamento obrigatório para viciadosblaze aposta roletacrack é ação 'ridícula', diz neurocientista americano:blaze aposta roleta

Carl Hart

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Legenda da foto, Drogasblaze aposta roletasi não são problema, afirma Carl Hart, para quem as mazelas reais são pobreza, desemprego, políticas seletivasblaze aposta roletarepressão, ignorância e negligência dianteblaze aposta roletaestudos sobre essas substâncias

As pesquisasblaze aposta roletaHart, autorblaze aposta roletaUm Preço Muito Alto - A Jornadablaze aposta roletaUm Neurocientista Que Desafia Nossa Visão Sobre Drogas (editora Zahar), inspiraram programas como o Braços Abertos, programa da gestão Fernando Haddad (PT) extinto pelo governo Doria.

No programa anticrack da gestão petista, dependentes químicos ganhavam moradiablaze aposta roletahotéis da cracolândia e R$ 15 por dia se trabalhassemblaze aposta roletaatividades como varrição e jardinagem.

No último domingo, uma grande operação policial dispersou à força dependentes químicos que se reuniam na cracolândia, fechou comércios e hotéis usados no Braços Abertos. Na terça, três pessoas se feriram durante a demoliçãoblaze aposta roletauma pensão pela prefeitura.

Usuárioblaze aposta roletacrack

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Legenda da foto, Usuárioblaze aposta roletacrack; Hart critica políticas nos EUA que nos anos 80 tornaram punições para posseblaze aposta roletacrack até cem vezes mais duras do que para posseblaze aposta roletacocaína

A gestão Doria também pediu à Justiça autorização para realizar internações compulsóriasblaze aposta roletadependentesblaze aposta roletacrack, desde que o usuário passe por análise médica e psicológica. Hoje, esse tipoblaze aposta roletaencaminhamento cabe à Justiça. A prefeitura solicitou ainda autorização para retirar dependentes da cracolândia e enviá-los para avaliação médica contrablaze aposta roletavontade, o que seria uma "última alternativa" para casos graves.

"Minha primeira impressão é que o novo prefeito está colocando a politica à frente das pessoas. Se o objetivo é ajudar outras pessoas da sociedade, é preciso descobrir um modoblaze aposta roletaincluí-las nessa sociedade", disse Hart, que deverá voltar ao Brasilblaze aposta roletasetembro para a Bienal Internacional do Livro do Rioblaze aposta roletaJaneiro.

Comportamento racional

Professorblaze aposta roletaPsicologia e Psiquiatria, Hart questiona a visãoblaze aposta roletaque as drogas tenham alto poder viciante e sejam a causablaze aposta roletadiferentes mazelas sociais. Ele diz reconhece que há quem abuse delas e sofra efeitos graves no cotidiano, mas diz que concluir que as substâncias sejam o problema - e declarar "guerra" a elas - é um erro.

Criadoblaze aposta roletaum bairro pobreblaze aposta roletaMiami e traficanteblaze aposta roletamaconha na adolescência, Hart diz que começou a estudar neurociência porque queria ajudar a resolver o problema do vícioblaze aposta roletadrogas. Ele afirma que acreditava na visão predominante nos EUA na segunda metade dos anos 1980, que explicava o crime e a pobrezablaze aposta roletacertas regiões pela disseminação do crack.

Um primeiro passoblaze aposta roletasuas pesquisas foi a descoberta, segundo ele,blaze aposta roletaque drogas como crack não são tão viciantes como se pensa. "Não há droga que vicieblaze aposta roletauma dose. Dados mostram claramente que 80%, 90% das pessoas que usam drogas não possuem um 'problema com drogas", afirmou Hartblaze aposta roletaconferênciablaze aposta roleta2014.

Alameda Dino Bueno

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Legenda da foto, Quadrilátero conhecido como cracolândia esvazia após ação do último domingo

O pesquisador costuma citar o tabaco como a droga mais viciante (33% dos fumantes, ou umblaze aposta roletacada três, ficará dependente, diz), seguida por heroína (25%), cocaína e crack (15% a 20%), álcool (15%) e maconha (10%).

"Eu mesmo achava que o problema eram as drogas, mas não é. Há pessoasblaze aposta roletaSão Paulo que têm dinheiro e bens, usam drogas e estão bem. Mas elas tem oportunidades, empregos, todas as coisas. Muitas das pessoas na cracolândia tiveram educação precária, não têm emprego, vemblaze aposta roletafamílias excluídas da sociedade. Há todos esses problemas sociais, mas é fácil para um político dizer 'vamos livrar a comunidade dessa droga' e não lidar com os problemas dessas pessoas pobres", disse à BBC.

Para estudar o comportamento dos dependentes, ele publicou anúncioblaze aposta roletarevista à procurablaze aposta roletaviciados nas ruasblaze aposta roletaNova York. Oferecia US$ 950 para que fumassem crack produzido a partirblaze aposta roletacocaínablaze aposta roletapadrão farmacêutico, desde que permanecessem vivendoblaze aposta roletaum hospital por três semanas durante o experimento.

No começoblaze aposta roletacada dia, uma enfermeira colocava uma doseblaze aposta roletacrackblaze aposta roletaum cachimbo e oferecia ao usuário - vendado, o dependente não tinha como saber o tamanho da dose. Depois, cada participante recebia novas ofertas para fumar aquela mesma dose, mas também poderiam optar por uma recompensa, que às vezes eram US$ 5 ou um vale-compra do mesmo valor.

Quando a primeira dose era alta, os dependentes normalmente optavam por uma nova dose. Mas, se a primeira havia sido reduzida, era mais provável que abrissem mão da segunda rodada.

Praça Princesa Isabel

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Legenda da foto, Expulsos da cracolândia, usuáriosblaze aposta roletadrogas se concentramblaze aposta roletapraça na mesma região

O neurocientista chegou aos mesmos resultados ao repetir o experimento com usuáriosblaze aposta roletametanfetamina. E quando elevava a recompensa alternativa para US$ 20, todos os viciados,blaze aposta roletacrack e metanfetamina, optavam pelo dinheiro, mesmo sabendo que levariam semanas para embolsar os valores.

Para Hart, isso mostrou que dependentes químicos são capazesblaze aposta roletatomar decisões racionais, desmontando a "caricatura" do viciado que não consegue resistir a uma dose.

Daí a ênfase do pesquisador na investigação das causas do vícioblaze aposta roletacada pessoa antes da "difusãoblaze aposta roletamitos sobre as explicações" e da "intervenção com soluções prontas". Se alguém está abusando do álcool ou do crack para lidar com algum trauma ou ansiedade, o tratamento efetivo, afirma, deveria se focar no transtorno psicológico.

Empatia e compaixão

Hart afirma que, embora "não fosse perfeito", o programa Braços Abertos era "um passo na direção certa" porque demonstrava, diz ele, "compaixão" com os dependentes.

"Certamente isso não é o que o atual prefeito está fazendo ao chamar a polícia e limpar a área. Isso mostra às pessoas que ele não tem compaixão e que está fazendo politica com pessoas", disse o professor, que vê o Brasil hoje na mesma situação dos EUA nos anos 1980blaze aposta roletarelação ao crack, pelo foco que vê como excessivo na repressão.

Ele cita os programas para dependentesblaze aposta roletaheroína na Suíça, onde o governo fornece duas doses diárias aos inscritos e uma renda básica aos cidadãos, como exemploblaze aposta roletapolíticablaze aposta roletadrogasblaze aposta roletasucesso e "não moralista".

"Claro que a Suíça é uma sociedade homogênea (social e economicamente), praticamente toda branca. É mais fácil para essas pessoas ver esses usuáriosblaze aposta roletadrogas como irmãos e irmãs. O Brasil é como os EUA, muito diverso racialmente. Pessoasblaze aposta roletalugares como a cracolândia são basicamente afro-brasileiras, negras. As pessoas emblaze aposta roletasociedade não as veem como irmãs, como na Suíça", avalia Hart, que foi o primeiro neurocientista negro a se tornar professor titularblaze aposta roletaColumbia.

A empatia, diz Hart, é um recurso fundamental para enfrentar a questão da dependência. "Se não lidarmos com essa questão, não resolveremos esse problema. Se isso não é tratadoblaze aposta roletaforma clara, estamos apenas fingindo tratar do problema."