Procuradoria foi 'ingênua e incompetente' ao aceitar áudio 'imprestável' como prova, diz perito contratado por Temer:roleta celular

Crédito, BBC Brasil

Legenda da foto, Ricardo Molina apresentou dados técnicosroleta celularanálise da gravação da conversa entre Temer e Joesley Batista

roleta celular Em entrevista coletiva na noite desta segunda-feiraroleta celularBrasília, o perito Ricardo Molina, contratado pelos advogados do presidente Michel Temer para analisar o áudio da conversa entre o peemedebista e o dono da JBS, Joesley Batista, afirmou que a gravação é "imprestável" como prova.

Após esboçar uma apresentação técnicaroleta celularsua perícia, Molina classificou a Procuradoria-Geral da República como "ingênua e incompetente" por ter aceitado o áudioroleta celularprocesso contra Temer, que tem como base a delação premiadaroleta celularexecutivos da empresa.

"Quando a gente está tratandoroleta celularprova material, não existe prova mais ou menos boa. Ou ela é boa, ou ela não presta. E essa deveria ter sido considerada imprestável desde o primeiro momento", disse.

"A pergunta que se deve fazer é: você pode garantir que essa gravação é autêntica? Um perito honesto diria não. Eu garanto para vocês: não é possível provar (que a gravação é autêntica), então ela é uma prova imprestável. A Procuradoria foi ingênua e incompetente ao aceitar essa gravação como prova."

Em quase uma horaroleta celularapresentação, Molina comparou a gravação com uma "carne podre".

"Imagine que a gente vá ao supermercado e compre picanha. E aí e tem um pedaço podre nessa picanha. A gente tira o pedaço podre e usa o resto? Eu, pelo menos, vou jogar tudo fora. Essa gravação é explicitamente corrompida."

Apresentado por representantes da defesaroleta celularMichel Temer, o perito começouroleta celularapresentação citando as inúmeras "descontinuidades" registradas na gravação, que, segundo ele, poderiam ser percebidas por qualquer "pessoa normal". Segundo ele, "o áudio tem problemas que são detectáveis até pelos leigos."

Molina criticou o gravador utilizado por Joesley Batista para registrar a conversa, dizendo que éroleta celularuma qualidade "muito pequena". O equipamento, disse, custaria "R$ 26 no Mercado Livre".

"É uma qualidade tão pequena (do gravador), que causa estranheza uma gravação tão importante ter sido feita com um gravador tão ruim."

Trechos 'ininteligíveis'

Entre os pontos apontados pelo perito para desconfiar da gravação estão inúmeros "pontosroleta celulardescontinuidade" e a quantidaderoleta celulartrechos "ininteligíveis", especialmente nas falas do presidente Michel Temer.

Ele critica a forma como partes da gravação estão sendo chamadas - "sequências lógicas" - e afirma que, diante do material divulgado, não é possível dizer que haja qualquer sequência lógica no áudio.

"Mais da metade do áudio é ininteligível da parteroleta celularum dos interlocutores - no caso, do presidente Temer. Não dá para saber se essas sequências apresentadas são 'sequências lógicas', porque eu não estou escutando um dos interlocutores. Existem trechos e mais trechosroleta celularque isso acontece", observou.

"Em um dos intervalosroleta celular17 segundos (ele cita os minutosroleta celularque justamente Joesley fala com Temer sobre (Eduardo) Cunha, e o presidente responde 'Tem que manter isso, viu'), foram detectados cinco pontosroleta celulardúvida. Existem dezenasroleta celularpontosroleta celulardescontinuidade na gravação, esses pontos são potenciais pontosroleta celularedição, ate que provem o contrário", disse.

"Se ele apresentar a (gravação) original, acabam essas dúvidas? Não, porque eu nunca vou saber identificar se uma gravação digital é a original. Qualquer outra (versão) que venha não vai me dizer nada."

Crédito, MARCOS CORRÊA/PR

Legenda da foto, Governo Temer enfrentaroleta celularpior crise

Molina citou ainda outro trecho polêmico que tem sido destacado da gravação, quando Joesley Batista teria respondido "todo mês" à fala do presidente "tem que manter isso aí, viu?" - segundo o delator, o peemedebista teria dado aval a pagamento para silenciar Eduardo Cunha, o que Temer nega.

Segundo o perito, o dono da JBS disse, na verdade, "tô no meio".

"Só para ter uma ideia da qualidade da gravação, aqui aquele famoso trecho que tem sido destacado, não é 'todo mês' o que Joesley diz, e sim 'tô no meio'. Ele não falou a palavra mês, porque procurei a palavra mêsroleta celularoutras vezesroleta celularque o Joesley falou. Não tem 's' nenhum [no final], é 'tô no meio', é isso que ele fala", disse.

O trecho destacado seria esse:

Joesley: "Eu tôroleta celularbem com o Eduardo." Temer: "Tem que manter isso, viu? [...]" Joesley: "Todo mês, também, e tô segurando as pontas, tô indo." - aqui, segundo o perito, a falaroleta celularJoesley teria sido "tô no meio".

Originais

Questionado sobreroleta celulardeclaração ao jornal Folharoleta celularS. Paulo sobre ser preciso ter acesso ao gravador original para poder analisar a gravação, Molina respondeu que "gostaria muito desse gravador até pra saber se foi ele que foi usado mesmo. Mas algumas perguntas podem ser respondidas sem ele. Com ele, a gente poderia saber, por exemplo, se ele pode ter defeito sistêmico".

O perito ainda criticou o fatoroleta celulara Procuradoria-Geral da República ter aceitado essa gravação sem pedir a original.

"O que me deixa preocupado é que, quando se recebeu essa gravação, por que não pediram a original? Porque era óbvio que ela não era original."

Ao finalizar a entrevista, Molina reiterou que "não dá pra levar uma gravação dessas a sério".

Ouvidos pela BBC Brasil, peritos britânicos afirmam ser "precipitada" qualquer análise conclusiva sobre a gravação da conversa entre o empresário Joesley Batista e o presidente Michel Temer sem o áudio original e o aparelho usado para registrá-lo.

"Idealmente, você precisa da gravação original. Caso ela não seja fornecida dentro do gravador usado para registrá-la, qualquer conclusão (sobre se houve edição ou não) fica muito suspeita", disse Adrian Phillips, peritoroleta celularfonética forense da Clarity Forensic Services, empresa registrada na Agênciaroleta celularCrime Nacional do Reino Unido (NCA, na siglaroleta celularinglês).

Na última sexta-feira, a defesaroleta celularTemer solicitou ao STF a suspensãoroleta celularinquérito instaurado para investigar o presidente por suspeitaroleta celularcorrupção passiva, organização criminosa e obstrução da Justiça até que a perícia do áudio da conversa gravada pelo empresário fosse realizada.

A investigação havia sido aberta com base no acordoroleta celulardelação premiadaroleta celularJoesley.

A presidente da corte, Cármen Lúcia, afirmou que o pedido dos advogados só será julgado pelo plenário quando todos os laudos periciais forem entregues a Fachin, ministro responsável pelo caso.